segunda-feira, 24 de março de 2008

A SECRETA SOCIEDADE DOS SIMPSONS


"The Simpsons Movie" é um filme competente na tarefa de levar aos cinemas o mundialmente consagrado seriado animado americano, mesmo com o atraso de uma década. O grande desafio do filme é parecer "fresco" e, neste aspecto, é infalível em alguns momentos e incompetente em muitos outros. Como um episódio inédito de uma hora e vinte minutos, o filme possui toda a essência cômica e irônica do desenho, mas abusa de piadas internas que, mesmo quem é um fã de longa data irá ter dificuldade em acompanhar. Afinal, são dez anos de desenho e um filme que distribui referências sobre seus episódios como uma metralhadora corre o risco de oferecer momentos enfadonhos. Infelizmente, é o que acontece. A história é interessante e divertida, misturando consciência ecológica com ebulição social, Homer está impagável como sempre, Lisa, Bart, Marge, Meggie, Flanders, Moe, Burns, enfim, todas as centenas de personagens estão ali, garantindo a funcionalidade da ópera amarela dos Simpsons, que passam mais uma vez a sociedade americana em revista. Mas os Simpsons se tornaram uma sociedade secreta, fecharam-se em torno de si mesmos ao longo destes anos e somente os verdadeiros fãs se mantiveram fiéis, acompanhando o desenrolar da pacata (mas nem tanto) vida em Springfield (coisa que não acontece com FUTURAMA, também do Matt Groening, que é infinitamente mais acessível mesmo para telespectadores de primeira viagem). Assim, o filme dos Simpsons é inegavelmente feito para eles, membros desta sociedade, que certamente se deliciaram num farto banquete de piadas escondidas nas entrelinhas de uma comédia inteligente que para nós, meros mortais, passou despercebido. Vale à pena e diverte, certamente, mas uma enciclopédia de referência faz muita falta.

terça-feira, 18 de março de 2008

FAMÍLIA


"Lar é onde está o coração", dizem. Concordo. E nem sempre é onde a família está. Lar e família em lugares diferentes. Quase sempre é assim. Aliás, é melhor e saudável, até, que seja assim, já que deixamos a família para seguir um caminho próprio, achar companhia, e assim fundar uma nova família. Isso confirma a idéia de que "lar é onde está o coração". A família fica para trás, como um evento natural de amadurecimento. Mas permanece, intocada, num lugar do qual não pode ser removida: berço original, fábrica da nossa personalidade, pátria de onde nascemos para ganhar o mundo. Um lugar onde não ficamos sozinhos, de pessoas com quem podemos contar a grande parte do tempo. Laços de sangue e destino que acompanham a nossa jornada solitária na terra e amenizam a sufocante solidão do caminho. Família é a certeza na pedra de que não estamos tão sós quanto imaginamos. Assim, se "lar é onde está o coração", família é a terra natal, lugar indiscutível das nossas origens, de onde tivemos cunhados o caráter e a moral, nossa educação e preparação para a vida. Família é uma instituição falha e problemática, não há a menor dúvida. Mas por mais complexos que sejam a sua constituição, sistema e política ela é NOSSA, como bandeira, cultura e idioma do país de que viemos. Família pode ser dor de cabeça, pode ter intrigas, mágoas, mas é onde encontramos lembrança, memória, referência, espelho do que somos, do que nos tornamos. Família é quem nos ama apesar dos nossos defeitos e enxerga a melhor essência das nossas qualidades. É onde somos verdadeiramente queridos por aquilo que somos. Família, a nossa família, será eternamente uma ilha perdida-achada, o porto-seguro das nossas inseguranças, onde seremos eternamente "o número 1". Então refaço o meu pensamento original. Se "lar é onde está o coração", família é onde ocupamos o primeiro lugar.

sexta-feira, 14 de março de 2008

SOBRE OS CÉUS DA ARCADIA

Se eu tivesse que escolher apenas 1 entre todos os RPGs que tive a oportunidade de jogar até hoje, não pensaria duas vezes em ficar com "Skies of Arcadia Legends" (GC), que é o mesmo jogo lançado originalmente para o Dreamcast só que mais completo, com bônus e extras que ficaram fora do original. É uma fórmula completa: heróis carismáticos, jogabilidade fácil e estratégica, gráficos razoáveis (para a época), trilha sonora impecável, recrutamento, construção de base, aperfeiçoamento de navio de combate, um vasto território repleto de ilhas e descobertas, história envolvente e para coroar tudo isso, batalhas memoráveis entre "navios" que cruzam os céus com o poder das seis luas. São pelo menos 45 horas de entretenimento épico, com aventuras sem fim dos piratas do céu, "Blue Rogues", na busca de impedir que o mal assole mais uma vez o planeta. Há elementos de todos os jogos consagrados, de Zelda a Final Fantasy, com toques de Suikoden. No fim das contas não há nada de inovador por assim dizer, o que não impede este de ser um daqueles jogos especiais e inesquecíveis, que são inegavelmente um produto de amor e dedicação. Merecia uma continuação - e há rumores a respeito. Quem sabe a nova geração - de consoles e jogadores - não têm a sorte de descobrir o que há de tão especial sobre os céus da Arcadia?

terça-feira, 11 de março de 2008

UM FILME QUE FICA


Dizem que as maiorias e unanimidades são burras. Não tenho certeza disso. Mas se de fato são, então sou um burro feliz, por que eu também irei dizer que "Juno" é uma preciosidade, um sopro de frescor e renovação para o desgastado cinema da atualidade, que parece ter se engessado na "arte" das explosões e invasão de seres de outros planetas. O celebrado filme indepentente de Jason Reitman, com roteiro original de Diablo Cody (a propósito ex-stripper e blogueira), é uma equação funcional e perfeita do universo indie: temática adolescente, diálogos rápidos e inteligentes (quick-witted aos extremos), personagens carismáticos, dilema de pais e filhos, conflitos pessoais e uma trilha sonora absolutamente adequada para encerrar todo o contexto cult. É uma pequena jóia, uma pedra a ser lapidada. Aliás, como a sua protagonista, Juno Mcguff, interpretada brilhantemente por Ellen Page. A heroína-grávida, de 16 anos, é um amaranhado de emoções e reações, que fazem dela a mais frágil e indefesa menina e uma garota metida a mulher que acha ter todas as respostas para tudo (como todo bom adolescente, aliás). No fim das contas, sentimos o desejo inevitável de entrar na tela e tomar conta de seus problemas, auxiliá-la, cuidar dela por que, do contrário ao que pensa, ela não sabe tanto assim das coisas, da vida. Naturalmente. Ela só tem 16 anos. O filme é recheado de momentos maravilhosos, diálogos memoráveis e atuações singulares (todos os coadjuvantes estão perfeitos e funcionais, em especial atenção ao amigo/amor de Juno, Paulie Bleeker, interpretado com doçura pelo talentoso Michael Cera). Não existe em "Juno" nenhum desejo de crítica, não é um filme politizado, tampouco quer promover reações em nós. É uma história, simples, doce, delicada, sobre pessoas que parecem reais, como o cinema deveria ser. Uma história a ser contada, apenas isso. É um lindo filme, com o qual podemos nos identificar e nos enxergar ali, nas situações e conflitos atravessados por esta pequena-grande mulher que, não por acaso, recebeu o nome da mulher de Zeus, da mitologia. Uma heroína incomum, não convencional e solitária na certeza (equivocada) de sua independência e capacidade de resolução. Um diálogo inesquecível resume tudo, quando Juno responde ao seu pai que a questiona por onde ela andava: "estava por aí, resolvendo assuntos que estão além da minha maturidade". "Juno" é, inevitavelmente, um filme que fica.

segunda-feira, 10 de março de 2008

(DES)CONSTRUÇÃO DA PENA


A Queda! ("Der Untergang"), do diretor Oliver Hirschbiegel é um brilhante e perigoso filme. Sob inúmeras perspectivas. Há ali uma narração enxuta e objetiva das horas derradeiras do III Reich, no fim da II Guerra Mundial, que culmina com o suicídio de Adolf Hitler - e sua esposa Eva Braun - nos porões do bunker da Chancelaria. Sob o ponto de vista de uma secretária, Traudl Junge, tomamos conhecimento do dia-a-dia de um Führer em frangalhos, comandando divisões inexistentes, meio senil, meio demente, mas ainda gritando a plenos pulmões sobre um Estado em pedaços que parece escapar de suas mãos trêmulas. Vemos ali, intimamente, o senhor da morte e da guerra, responsável pela dizimação de milhões de pessoas, direta e indiretamente. Mas vemos também um homem velho, acabado, arrastando-se pelos cômodos e corredores de um abrigo úmido e abafado. E aí está o perigo. Um perigo ideológico para observadores menos esclarecidos. A atuação de Bruno Ganz (que interpreta Hitler) é um fenômeno, um primor, uma incorporação. Quando ele está na tela vemos diante de nós uma aparição, um fantasma do passado em cores vivas. Ele É Adolf Hitler em todos os aspectos. A fala ora mansa ora insandecida, os gestos, o comportamento de um gentil homem da Alta Áustria, está tudo ali, para que nos familiarizemos com o temido e idolatrado chefe e guia da Alemanha. E, quando menos percebemos, somos pegos desprevenidos por um inexplicável sentimento de simpatia e pena daquele homem velho, decadente, trêmulo e doente. Por que, por alguma razão, o filme nos faz conviver pacificamente com a idéia de construção e desconstrução do mito. Vemos Hitler, mas não o enxergamos. E por alguns instantes nos afastamos da sua representação e papel na História. Por fim, uma história de guerra, verídica, absurdamente e abissalmente verdadeira, sobre o caos, a destruição, o fanatismo ideológico, a devastação de um continente, uma cicatriz irreparável na civilização. Uma queda, sem dúvidas, para a qual todos somos e fomos levados. E da qual provavelmente nunca conseguiremos levantar.

quinta-feira, 6 de março de 2008

"MAKE ME A RED CAPE..."


Eu sinto saudades. Não importa o que vem depois desta frase. Eu sinto saudades. Nada contra o estágio atual em que a minha vida se encontra, longe disso, gosto de como os fatos se encaminharam para que eu esteja onde estou hoje, sob todos os pontos de vista. Por que não tenho dúvidas de que estou onde gostaria de estar. Mas naturalmente isso não exclui a minha intrínseca nostalgia de tempos passados em que a minha noção de mundo era mais limitada, mais inocente e, portanto, mais simplificada. Não é o medo de "crescer, procriar e morrer". Bom, talvez até seja, mas está além disso. É uma saudade "do que passou", como um sabor, cheiro, sensação que fica apenas na memória, apenas como lembrança de algo que não se pode ter, uma vez que é um tempo ao qual não se pode retornar. Sinto uma mistura de melancolia com a dificuldade em dizer adeus, desapegar de pedaços do caminho que certamente me fizeram ser quem sou mas que lamento estarem tão longe hoje em dia. Não se trata (totalmente) de uma "crise de 1/4 de vida", mas é que as prioridades, as obrigações e as dificuldades da vida adulta tomam conta da existência como conseqüência do amadurecimento e os prazeres também são outros, bem como os jogos e toda a política de "ser adulto". Nada contra isso também. Afinal, há um sem número de ganhos interessantes também - dormir com alguém, dividir a vida, ter a companhia de alguém é um exemplo. Mas faz falta, lamentavelmente, aquele tempo em que as complicações da vida se resumiam em férias, lanches, tarefas de escola e corações partidos. Não havia contas a pagar nem o trabalho, os compromissos, ter que fazer a média, os sapos a serem engolidos crus. Lembro com saudade carinhosa, inevitavelmente, dos meus anos de capa vermelha - literalmente - em que ter 6 anos de idade era basicamente a minha única obrigação. E sinto saudade, às vezes, deste tempo, desejando que a vida adulta fosse um pouco mais como 1985.

HÁ UMA GUERRA LÁ FORA


Fico com essa impressão, vez ou outra, num dia qualquer. Uma mistura de reflexão-reação imediata ao mundo conforme a construção do meu dia. Tudo termina bem quando começa bem, dizem. E o mesmo vale para o contrário? Possivelmente. E tenho quase certeza que é justamente nestes casos em que as lentes para a percepção das coisas me dá os meios para enxergá-las como são. E aí me vem a certeza: há uma guerra lá fora. As músicas no tocador de MP3 não são as que quero ouvir naquele determinado momento e a passagem ininterrupta das faixas geralmente me leva ao quase atropelamento. Bom, infeliz casualidade. As poças ficam mais fundas e a sujeira da caminhada na rua parece ficar mais barrenta. Ok, vejo um dálmata velhinho e isso me conforta, produzindo um riso de canto de olho. Sinto alguma fome, alguma sede e a cota de café parece não ter atingido o ponto mínimo. Meio como andar na reserva. Mais ou menos isso. Então percebo que o calor do sol está mais intenso e o suor resultante mais insuportável. E com isso a paciência vai desaparecendo como mágica, e pelo ralo, com ela, a tolerância às pessoas diversas que, como eu, também estão tentando atravessar a guerra. Vejo, então, como ninguém está nem aí para ninguém. Pessoas idosas sem auxílio, pastas caídas que espalham documentos no chão sem que ninguém se manifeste em ajudar, cortadas irresponsáveis no trânsito e uma onda constante de mau-humor que vai coagulando no tal inconsciente-consciente-onisciente coletivo, como uma amálgama de má vontade e irritação. E eu faço parte dela. Ora, há uma guerra lá fora e faço parte dela. A conseqüência direta disso é que às vezes sinto como se eu, também, não me importasse. Pelo menos, não o suficiente. E protejo os meus ombros, e daí o que acontece aos lados? Mas luto contra isso, verdadeiramente. Por que há a guerra dentro da guerra, em que sou espião e contra-espião de mim mesmo, de meu próprio espírito dividido esquizofrenicamente entre o pacífico e o bélico. E cedo lugares, e dou passagem, e me ofereço, prontifico, ajudo a carregar. Dou "bom dias" gratuitos e sorrisos sem pretensão. E abandono a ironia e a observação cáustica e venenosa das coisas. É a contra-guerra. Contra-regra. E oscilo entre o bem e o mal, entre as duas metades que tenho em mim, que se completam como dia e noite, numa luta desequilibrada de pesos na balança das minhas reações. Mas sou bom a maior parte do tempo. Sei disso. Mas é inevitável e impossível não ceder aos extremos. Por que assim é na guerra. Vamos aos extremos da nossa humanidade e animalidade conflitantes; a guerra em nós. E isso é apenas um dia entre 365. Am I getting sour with age?

segunda-feira, 3 de março de 2008

NO FIM, O SILÊNCIO


Eis o que nos dá Norman Mailer ao final de sua última obra, "O Castelo na Floresta". Narrado pelo demônio de segundo escalão, "Dieter", o romance nos apresenta a infância e adolescência de Adolf Hitler e tempos anteriores até o seu nascimento. No caminho, discussão sobre a perversão, o incesto, desvios morais e de caráter e a pura e simples maldade em sua essência. O diabo, "o Maestro", possuia um interesse no jovem Hitler e o que ele faria nos anos por vir para auxiliar os planos do Mal na terra. A narrativa envolvente de Mailer é uma montanha-russa de sensações que vão da euforia ao asco em uma mesma página. E quando menos esperamos, talvez até ingenuamente aguardando respostas, ele encerra sua história como se batendo uma porta contra a nossa cara. E para nós, leitores, que recebemos os educados agradecimentos do melancólico demônio Dieter pela leitura, a reflexão que nos parece mais adequada, quando tentamos parar para entender o que foi Adolf Hitler:

“O que permite a sobrevivência dos demônios é que eles são suficientemente sábios para compreender que não há respostas, apenas perguntas”.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

À JANELA

Corri bem cedo para a janela para te esperar chegar.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

VERMELHO

A primeira vez que te "vi", por que vi sem ver, fui roubado - naquele instante - pelo vermelho dos seus cabelos. E ainda hoje te sinto e te vejo ruiva, pouco importando que cor você decidiu tingir o cabelo mais cheiroso do mundo, que é esse que adorna a sua cabeça como uma coroa. Por que você ainda é a minha ruiva. E sempre será. Minha. E te amarei vermelha, escolha você ser Marilyn ou Callas, ou Frida, pouco importa, haverá sempre algo de vermelho emanando dos seus poros, não importa que tom decida colorir sua caixa de pensamentos. Por que você é vermelha, fato inquestionável, em todos os aspectos da vida, sua, nossa, minha, você é vermelha. E foi por essa cor que me apaixonei e que lhe é inerente, sua de direito. Você merece esta cor, ela a pertence e você a ela. E nunca senti tanta falta deste vermelho em minha vida, como nestes últimos tempos em que você se avermelhou tão longe de mim, nas suas aventuras perdidas-na-tradução deste mês que demorou oito anos para passar. 8, exatamente, que lembra o eterno, e que é um dos nossos números. 5,6,7 e 8. Engraçado, isso. Uma seqüência lógica e racional que corre para o infinito, como o rio para o mar. E o mar é vermelho. E parece se abrir, para que passemos por ele, na nossa caminhada juntos que, como sempre gosto de brincar, é marcada por uma louca habilidade que temos - juntos - de conquistar as coisas, concretas ou subjetivas. Nós empreendemos juntos. E na união das nossas "forças sagitáries" conhecemos campo de batalha e de girassóis. Num mesmo dia. E, por sua causa, até eu me torno vermelho também. Vermelho de amor, de fogo, de briga, de guerra, paixão. Vermelho de Marte, morango e violino. Vermelho de Rosa, que me faz principezinho, para te cuidar e proteger do sol e dos tigres. Então, nestes dias que passaram, em que estive azul como nunca, ou roxo, prefiro dizer, percebi que já não vivo mais sem o vermelho, que é esta cor de movimento e realização, que você sopra em minha vida, como um vento de renovação e descoberta. O vento escarlate que transforma meu barco de papel na caravela de Colombo, assim é você em minha vida. E ando contando os segundos, como criança espera o Natal, para que você se traga de volta, meu sonhado presente, embalada como laço de fita e papel. Vermelhos.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

WE COULD BE HEROES

"and we kissed as though nothing could fall"
*
Estes últimos dias de solidão involuntária têm sido decisivos para a tal percepção da realidade como ela é de fato ou como desejaria que ela fosse. Manhãs, tardes e noites se arrastam na passagem das horas enquanto me transporto do ponto A para o ponto B na minha expectativa infantil de ser capaz de mobilizar o tempo para tê-la mais perto, como se tentando apagar com uma borracha metafísica os dias que ainda precisam passar para que se encerre a contagem no meu calendário melancólico sobre a mesa onde guardamos os nossos livros. Cada canto da nossa casa, cada espaço, eu a vejo ali, caminhando entre os cômodos, tocando detalhes que te interessam. E vou lembrando do seu cheiro doce e sua pele delicada, quando a abraço na cozinha enquanto fazemos café para o começo de mais um dia ou cozinhamos para aplacar a fome noturna que às vezes bate durante as nossas sessões caseiras de filme. Enquanto te guardo nos braços, seu cabelo costuma passear desordenadamente sobre as minhas bochechas ao passo que minhas mãos procuram sua cintura. E suspiramos juntos, abraçados em silêncio, com a certeza sublime que nos amamos, que não precisamos de mais nada naquele momento e que, por aqueles instantes, somos eternos. Somos heróis. É uma solidão diferente, a destes últimos dias, por que trata de uma incompletude que eu sequer sabia existir. Somos incompletos, fato, "live together, die alone", mas descobri o prazer de ser pleno e nela ter a parte que me falta - a minha melhor parte. E perder, momentaneamente, meu melhor pedaço, me deixa perdido, desorientado, como uma nau à deriva, sem sua luz de farol. São dias vazios, dias em branco, estes que passo sem minha amiga, senhora, mulher e amante. Dias de auto-conhecimento, reflexão, devaneios poéticos e filosofia de chuveiro, na minha anotação silenciosa das horas, para que mais um dia se encerre e o seguinte aponte logo à janela, até o fim da contagem, até que ela chegue. Por que não vejo a hora de voltarmos a dormir juntos, por que começa a doer a sua ausência. Por que a quero de volta, a sua voz reclamando dos meus erros e seus afagos quando a pego no colo para sentarmos preguiçosamente na poltrona da sala. Quero vê-la se arrumar diante do espelho do quarto, enquanto desenho a cartografia do seu corpo perfeito com os meus olhos curiosos, sem que ela perceba. É que quero nossas mãos enlaçadas novamente, enquanto nos aventuramos na esquina. Quero o sabor dos seus beijos e o calor do seu corpo. Te quero de volta.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

ANJOS ENTRE NÓS


Os anjos estão por toda parte, entre nós, em sua tarefa diária e dedicada de nos proteger dos perigos, afastar-nos das tragédias, acalentar nossos corações nos momentos de desespero e cuidar de nossos pensamentos para que eles não se tornem sombrios. Eles estão por toda parte, entre nós, e não fazem questão de serem vistos, por que isso não importa. É preciso acreditar na bênção, numa força maior, de fé, esperança e bondade, que está sobre todos nós que é infalível durante grande parte do tempo. Os anjos estão por toda parte, entre nós, e tudo estará bem. Acreditar é possível. Acreditar é preciso.

HITLER EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA (?)

Saiu na imprensa internacional (Reuters) uma notícia de que desenhos de Adolf Hitler retratando personagens da Disney (Anões da Branca de Neve e o Pinóquio) foram encontrados e comprados pelo diretor do museu de guerra da Noruega, William Hakvaag. As imagens são supostamente assinadas pelo "führer", com "A.H." e "A. Hitler" e teriam sido feitos durante a II Guerra Mundial (em 1940, provavelmente). É sabido que Hitler possuia uma cópia da "Branca de Neve", que considerava um dos melhores filmes da história. Bom, os desenhos foram comprados em leilão por trezentos dólares, um preço relativamente pequeno para esse suposto tesouro histórico e genuína peça de interesse psicanalítico. Afinal, o que levaria Adolf Hitler, senhor da Europa, chefe máximo do III império alemão e um dos homens mais poderosos do mundo, responsável pela morte de milhões de pessoas, desenhar personagens da Disney em seu tempo livre? O que isso poderia nos dizer sobre a personalidade desta que é uma das mais estudadas e ainda assim mais obscuras personalidades da história? Fica mais essa lacuna no quase infinito labirinto de perguntas sem resposta que é a figura de Adolf Hitler.

ALICE MATA O COELHO


Ok, "The Brown Bunny", filme de Vincent Gallo. Por onde começar? Não vou simplificar dizendo se é um filme bom ou ruim, se gostei ou não gostei. Por que acho que está além disso. É um filme brutalmente silencioso, lento e melancólico. Tudo se arrasta na tela, como se fosse um filme inteiramente rodado em câmera lenta e mudo. E, nesse aspecto, o personagem principal (o motoqueiro Bud Clay, vivido pelo próprio Vincent Gallo) se mistura com a história e o próprio filme, de maneira que o que vemos na tela é uma grande massa uniforme de tristeza e resvalamento quase viscerais. Como obra de cinema, o filme não possui grandes genialismos, apesar de ter algumas belas cenas e trilha sonora razoável. O enquadramento é intencionalmente amador em muitos momentos, reforçando a idéia que não há ninguém ali, além de Bud Clay (e nós, que o observamos dormir, comer, tomar banho, e dirigir em silêncio). Por este ponto de vista, "The Brown Bunny" é infalível: temos a quase desconcertante impressão de estarmos acompanhando Bud em sua jornada solitária pelas estradas dos Estados Unidos até a Califórnia, como se dividíssemos a sua van ou o quarto de hotel. E passamos a nos interessar pelo que Bud tem em mente, a obsessão com sua ex-namorada Daisy Lemon, reflexo de que ele não se refez da devastação que ela parece ter promovido em sua vida. No caminho, Bud conhece três mulheres completamente perdidas, também elas com nomes de flores (Violet, Lilly e Rose) e as deixa no caminho. Uma jovem vendedora, uma mulher solitária num parque e uma prostituta. Descobrimos que ele busca desesperadamente por companhia, por alguma companhia. É como se ele estivesse tentando se soltar de algo que é mais forte que sua vontade (o pensamento em Daisy) que o mantém no caminho, deixando tudo para trás, até ele mesmo, sua alma e essência. O filme ganhou notoriedade e gerou uma grande polêmica devido à explicidade de uma seqüência de sexo oral e, francamente, não tenho uma opinião definida sobre a gratuidade (ou não) desta cena, tampouco acho que seja grande coisa ou, pelo menos, algo que merecesse tanto estardalhaço. Acho que Gallo tinha algo em mente com esta cena de sexo escancarado e acredito que está relacionado ao nosso papel de expectador-extremo da vida (ou falta dela) ali retratada. De expectadores passamos a fantasmas que acompanham um homem que vaga quase sem rumo, ele mesmo como um fantasma. Então talvez, neste sentido, a cena de sexo do final tenha sentido. Por que não há nada ali, naquele filme, para amenizar o nosso desconforto. "The Brown Bunny" não é um filme que deseja nos poupar em nada, pelo contrário. Bud Clay é um homem perdido, transtornado, consumido por um remorso inexplicável e que, apesar da tranqüilidade que emana dos seus olhos azuis, de uma carência quase infantil, ele parece gritar por dentro. Uma reinvenção perdida de Alice, uma "Alice em transe", numa jornada melancólica através de um país transtornado, sem nenhuma maravilha, apenas sombra, solidão e silêncio. Por que Alice matou o coelho.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

MINHA GAROTA URBANA



O sol brilha com timidez, quando levanto todas as manhãs para uma rotina solitária, silenciosa, com o compasso de um relógio enguiçado. Uma coreografia simples, relativamente mal ensaiada, de gestos, passos e ações repetidas. Uma sinfonia pouco criativa de sons, sabores e aromas, que mistura o cheiro do café ao barulho do relógio que bate na parede da cozinha, ao perfume, às bolachas não muito frescas, à água do banho, ao toque da roupa no corpo, ao barulho da porta que se tranca atrás de mim. Se escolhesse uma trilha sonora para estes dias-perdidos-na-tradução ela certamente sairia das mãos da Sofia Coppola ou comodamente plagiaria a compilação mágica e melancólica da sua obra prima, "Lost in Translation". É como se a manhã começasse preguiçosa - como todas - ao som de "Girls", do Death in Vegas e terminasse com "City Girl", do Kevin Shields. Ao longo do caminho, na seqüência das horas, algumas passagens mais animadas, outras mais suaves, até o momento de o sol se pôr no horizonte, numa esplanada azul, vermelha e roxa, onde o solo fofo sob os meus pés parece me conduzir no automático, como se houvesse um fio, como se eu fosse um bonde de um só passageiro, na viagem dos meus devaneios perdidos, para o encerramento de mais uma página do livro que me esforço em contar. Nestes momentos de passagem, fico imaginando onde ela está, se está vendo o mesmo pôr-do-sol ou as mesmas estrelas, sentindo a água da chuva ou que roupa escolheu vestir. Minha garota urbana, perdida-na-tradução ela mesma, na sua Tóquio verde e amarela. Algo está faltando. Algo que motiva a travessia do dia, a vontade de voltar para casa, para o brilho de seus olhos e o calor de suas pernas, que descobri (ou simplesmente constatei) que não consigo mais viver sem. É que sinto falta de cada centímetro do seu corpo e não consigo aceitar - mais - a distância. Fato. Por que fiquei farto dos dias e dos quilômetros e hoje tolero apenas metros e minutos. É que os dias sem minha garota urbana são vazios, sem cor, em vão. Por que ela é linda, por que eu a amo, e por que a espero, todas as noites, para que ela me visite novamente nos meus sonhos.

TODOS POR OBAMA


Esperança, Ação, Mudança. São os lemas da campanha de Barrack Obama, pré-canditato democrata à presidência do país mais poderoso do mundo. Jovem, negro, veterano de guerra, de sobrenomes muçulmanos, filho de pai queniano, em outras palavras, uma onda de frescor contra à antiquada locomotiva americana, engessada nos trilhos do tradicionalismo de raízes anglo-americanas dos "pais fundadores", nortistas, brancos, puritanos, conservadores. A campanha do carismático Obama começou de maneira silenciosa e foi ganhando músculo na internet, sobretudo com o apoio do eleitorado jovem norte-americano, sedento, em espera angustiosa por ALGUMA mudança. Orador eloqüente, que silencia as massas com suas palavras de impacto, nasceu no Havaí, em 1961, filho de uma americana com um queniano (ambos os pais já falecidos), advogado renomado por Harvard, escreveu um livro chamado "Os sonhos de meu pai". Que a esperança, a ação e a mudança se mantenham e fortaleçam, e que os "sonhos de Obama" sejam de renovação e anúncio de um novo tempo no império norte-americano, que já sofre com suas estruturas enfraquecidas. Alguns arriscam a chamá-lo de um "novo Kennedy". É cedo para especular, certamente. Mas toda a euforia é um reflexo imediato da necessidade de mudança na empoeirada política norte-americana. O momento é esse. Uma chance que não se pode deixar escapar. Alguns parecem não se importar, afinal, "de que nos interessa quem ganha ou quem perde nos EUA?". A verdade é que devemos nos importar por que nos interessa e muito qualquer transformação no país-império que fiscaliza e dá as regras do jogo no mundo.


* * *


"I´m asking you to believe. Not just in my ability to bring about real change in Washington. I´m asking you to believe in yours".
(Barrack Hussein Obama)
*

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

SAUDADE


O que é SAUDADE, afinal? Para mim, é algo esquisito, estranho, alheio, alienígena e, curiosamente, intrínseco, pessoal, íntimo, naturalmente meu. É um sentimento, uma sensação, um momento, uma idéia. Comove, faz sorrir, chorar, cala e até mata. Saudade é algo completamente abstrato e subjetivo e, ao mesmo tempo, palpável, como se fosse possível apontar com o dedo este ALGO sem cor nem cara que pesa sobre os ombros e mantém constante a sensação de que algo está faltando e que nada neste mundo será capaz de preencher o vazio. É uma solidão diferente; meio carente, meio silenciosa, como se experimentássemos algo de que não podemos falar, não podemos dividir. Como explicar nossa saudade a alguém? É algo nosso, genuinamente nosso, que ninguém tem condição de entender. Saudade é uma espera. Uma espera conformada, por alguém que foi para longe mas volta, alguém que escolheu não voltar ou alguém que não poderá voltar nunca mais. Saudade é uma caixa de sensações: amor, paixão, calor, desejo, dor, fome, angústia, impaciência, falta. É um relógio batendo constante, em contagem regressiva, com ponteiros que demoram a mudar de lugar. Saudade é um momento perfeito para auto-reflexão, em verdade. Rever aquilo que parecia gratuito e que, por algum período de tempo, não se tem mais. Tudo fica mais importante, mais valioso, mais precioso. Cheiro, pele, corpo, alma, jeitos, gênios, olhares, boca, beijo, toque, cabelo, perfume. Fotografias, músicas, textos, filmes, livros, imagens, lembranças; tudo é um conjunto complexo de encaixes de peças que nos levam aquela pessoa amada, tão distante. Queremos perto, queremos na hora, queremos para sempre. É uma espera desesperada, uma sede que não passa, um silêncio. Mas vale à pena. Por que há o retorno. E, com o retorno, janelas fechadas, portas trancadas, lençóis e travesseiros, telefone fora do gancho, e um tempo lá fora que pouco importa se é frio, chuva, noite ou dia. Há sempre o retorno. . .


* * *


"Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer


É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É nunca contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder


É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É ter com quem nos mata lealdade


Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?"


Luís de Camões


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

GRITOS NO SILÊNCIO DOS BOSQUES

Continuo a leitura do hipnotizante e - contraditoriamente - de difícil digestão "O Castelo na Floresta", de Norman Mailer, que narra a juventude de Adolf Hitler. A história transita pela especulação do incesto nas comunidades rurais da Áustria, as influências de infância e a sinistra observação do Diabo, chamado no livro de "Maestro" pelo narrador (um demônio de segundo escalão), daquela criança que mudaria muita coisa nos anos por vir. São socos sucessivos no estômago, mas é um livro que parece pulsar sobre a mesa, quando deixamos a leitura de lado; é difícil abandonar a narrativa, rápida e envolvente, que nos deixa cada vez mais curiosos e intrigados em saber a onde esta história nos levará, o que deveremos descobrir. Pistas no caminho, naturalmente, mas um desfecho que parece guardado sob sete chaves. Agarrados pelas vísceras e até mesmo a alma, por que não?, continuamos o estranho diário que se desdobra sob os nossos olhos. E como todo diário, inundado por confissões e segredos que talvez não desejaríamos saber. . .

"GEEK WEDDING"


Achei por aí, na vastidão da net, esta foto INACREDITÁVEL deste bolo de casamento bem criativo, fazendo referência ao universo do SUPER MARIO, com tubos, cogumelos, estrelas, plantas carnívoras e visual bem colorido, com o Mario e a Princesa Peach ao topo, representando os noivos. Mais geek impossível. Quem será que convenceu quem? O noivo ou a noiva? Ou seriam ambos geeks? Bom, eu queria este bolo para o meu casamento, confesso. Só não deixaria NINGUÉM triscar a mão nele! Imagina? Nunca!

"GEEK TIME"

Está à venda por aí este incrível relógio "geração 8-bit". Uma idéia genial e um presente perfeito para quem viveu o nascimento dos games em fins dos anos 70 e começo dos 80. Nostalgia pura, fazendo referência aos gráficos tortos e os pixels imensos dos jogos que tanto amávamos. Fora o design original e muito cool. Trata-se do "Icon Watch", desenvolvido pela empresa ABS, e custa US$ 82 na Coréia do Sul. Muito, muito legal.

GLÓRIA PARA UM PEQUENO BEAGLE


Uma história interessante e quase histórica. Pela primeira vez desde 1939 (!) um BEAGLE conseguiu vencer um concurso de cães (daqueles que a gente vê na tv, cheios de pompas, desafios e frescuras afins). Ele se chama UNO, um lindo e engraçado beagle tri-color, que ganhou o primeiro lugar no concurso de Westminster. Os juízes não resistiram aos "olhos dourados" do carismático cãozinho Uno, que conseguiu conquistar todo mundo com simpatia e competência nas provas. Ele foi definido como "um cãozinho feliz, um cãozinho do povo" e venceu todos os favoritos da competição, no total 2,627 cães (!), recebendo votos de uma platéia entusiasmada no Madison Square Garden, em Nova York (alto estilo, ainda por cima!). Os especialistas dizem que os Beagles têm certa dificuldade nestas competições formais e rigorosas por serem cães "honestos" demais. . . Como um ex-dono de beagle, suspeito que a palavra que os especialistas pensam ao dizerem "honestos" é bem outra; mas enfim. Eles são lindos, cheios de personalidade, engraçados e fazem companhia como ninguém. É o que importa. Dogs and Angels, é para isso que vieram ao mundo. Todo o resto é perdoável. Em tempo: ao ser "entrevistado", após a vitória consagradora, Uno se contentou em mordiscar o microfone. Bom, um pequeno passo para um cão, um grande salto para esta raça tão cheia de polêmica e controversia.


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

"FEBRUARY LOST"


Pelas próximas semanas, "eu vou estar odiando" muito SÃO PAULO. Nada pessoal. Aliás, é bem pessoal, sim.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

REALIDADES (IM)POSSÍVEIS(?)


Alison Jackson é uma artista interessante, fotógrafa britânica famosa pelas suas curiosas e inusitadas imagens que simulam momentos estranhos com diversas "personalidades". A fórmula é simples. A artista caça sósias de famosos mundo a fora. E por "sósia" entenda-se um quase gêmeo, com feições, olhar, cabelo, tudo assustadoramente similar. A partir daí, monta um cenário, uma idéia, uma cena curiosa, às vezes íntima, às vezes até constrangedora, em alguns casos até ofensiva. Moralismo de lado, esquecendo o tal-do-politicamente-correto por alguns segundos, o seu trabalho merece atenção. Misturando voyerismo e surrealismo, grande parte das suas fotos parece ser fruto de um momento verdadeiro e o resultado é incrível. Temos certeza que ali está uma celebridade genuína e não um sósia (na capa do seu livro - foto acima - está a Madonna em momento dona de casa). O extremo do fake parece fazer uma volta de 360 graus e se traveste de realidade nua e escancarada. Não há como ficar indiferente às suas realidades inventadas. No seu site é possível conferir um pouco do seu trabalho absolutamente original e inventivo. O que ela não poderia fazer com as personalidades brasileiras. . .

"George W. Bush" e suas decisões estratégicas


"Angelina Jolie" amamenta



Uma sedutora "Camila Parker"


"Príncipe William" flertando com a coroa



"Elizabeth II", rainha do trono da Inglaterra

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

A BATALHA PELA TERRA MÉDIA


Caiu recentemente em minhas mãos o elegante e - quase - indefectível jogo de RTS (real time strategy) "The Lord of the Rings: Battle for Middle Earth" (PC). O universo de Tolkien e Peter Jackson está perfeitamente decalcado ali, com cuidado, minimalismo e detalhismo no limiar da obsessão. Tolkien ficaria orgulhoso. E palmas e louros para a Eletronic Arts, que fez um trabalho primoroso na adaptação dos 3 filmes em um jogo só, que é competente e preciso na difícil tarefa de entreter, sem comprometer a adaptação convincente. Francamente, de cara é o melhor jogo de todas as adaptações do Senhor dos Anéis feitas até hoje. As três histórias se costuram com fluidez e não há ruptura da narrativa em nenhum momento. O primeiro minuto de jogo nos oferece o controle da Sociedade do Anel nas Minas de Moria e o suspiro final é diante dos Portões Negros, com a angustiosa espera para saber se Frodo e Sam conseguirão lançar o anel no fogo para que Aragorn retorne como rei ao trono de Gondor. No caminho, inúmeras horas de jogo, controlando heróis em missões individuais e/ou exércitos completos, como Rohan, Gondor, Mordor e Isengard (é possível seguir uma "Campanha do Bem" ou uma "Campanha do Mal"), com todas as nuances e aspectos específicos de cada facção. Batalhões de rohirrim, elfos arqueiros, cavaleiros armados, soldados, Orcs, Uruks, Goblins, fazendas para a geração de recursos, estábulos para produzir cavaleiros, torres de combate, uma meia dúzia mais de construções militares para a construção de um exército. E está tudo lá: a retomada dos rohirrim expulsando as forças de Isengard de Rohan, a defesa de Helm´s Deep com o quase-infinito exército de Saruman sedento por romper a parede da fortaleza, as forças de Gondor sendo atacadas em Osgiliath, a épica batalha de Minas Tirith, tudo lá, permeado por missões rápidas envolvendo os heróis em provações pessoais. A dose de dificuldade é equilibrada (ainda é possível escolher o modo, fácil, normal ou difícil) e, por mais que os exércitos inimigos continuem marchando incansáveis, não perdemos a sensação de controle e evolução das nossas próprias tropas no caminho. Os exércitos evoluem e os levamos adiante por dezenas de missões. Heróis e soldados ganham níveis, equipamentos aprimorados, todos ficam visivelmente mais fortes e capazes de suportar os desafios adiante. A verdade é que é um daqueles jogos que vez ou outra aparecem e não há quase nada que se possa dizer contra. Talvez o grande defeito do jogo - amplamente discutido em fóruns na rede - seja o conjunto de requisitos "mínimos". Apesar do que dizem as informações técnicas, os requisitos passam LONGE de serem mínimos. São máximos. E é preciso ter o Anel do Sauron dentro da CPU para rodar o jogo em alta resolução. Uma máquina poderosa, superando de longe os requisitos mínimos, ainda assim provavelmente precisará deixar o jogo em baixa resolução. Do contrário, a Batalha pela Terra Média fica em câmera lenta. E o grande perigo passa a ser morrer de sono. Isso à parte, o jogo é um tesouro, com nota máxima em replay, ainda que mereça, por pequenas e significantes questões inoportunas, receber um 9.2 no geral. Exepcional, não há a menor dúvida, e vale cada real pago. Diversão garantida. E sempre digo que é isso que importa, no fim das contas.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

FUTURAMA: "BENDER RULEZ"

Existe um milhão de motivos que me fazem idolatrar tudo a respeito do seriado FUTURAMA. A qualidade da animação, as cores vivas, os efeitos 3D, personagens engraçados, texto inteligente e politicamente incorreto (aos extremos!), tosqueiras e insanidades memoráveis, enfim, é uma das mais inspiradas animações dos últimos tempos e, para mim, supera em anos luz "Os Simpsons" (ambos os desenhos são do mesmo criador, o Matt Groening). É o tipo de desenho que faz a gente repetir sem cansar os diálogos loucos, as vozes dos personagens e dar risada das mesmas coisas, sem cansar. Mas, de tudo que há de bom no desenho, uma coisa se destaca: Bender, o maravilhoso e inigualável robô mal caráter, batedor de carteira, alcóolatra, fumante, viciado em jogos, bebida e prostitutas. O sotaque malandro da dublagem brasileira é infinitamente mais engraçado que a voz original em inglês. Vale à pena conferir os episódios só para rir com as falcatruas do Bender e as aventuras loucas que a equipe do Planeta Expresso passam. Imperdível e fundamental em qualquer coleção. Uma pena que só tenha durado 4 temporadas. A audiência americana, definitivamente, não estava pronta (ainda) para esta louca animação que, de fato, parece ter vindo do ano 3000. O que pouco importa. "Futurama" angariou uma legião de fãs que forçaram o lançamento, além dos (benvindos!) episódios em DVD, a produção de longas-metragem para o cinema. Contra os críticos e aqueles que fizeram cara feia para o desenho (levando a FOX a cancelá-lo) o Bender poderia bem dizer: "Eu não preciso de vocês! Vou criar meu próprio desenho animado futurista com álcool e prostitutas!"

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

GEEKS DO MUNDO, UNI-VOS!

Encontrei este curioso "gráfico" na internet. Um panorama sobre os inúmeros tipos de "geeks" espalhados por aí: games, cosplay, Apple, colecionadores, Star Wars, enfim, representantes da milhares de "geekness" possíveis. Vale conferir (e se encontrar, claro!): eu ficaria com um híbrido do games/movies geek. Ainda que eu não tenha nada contra (pelo contrário!) às geekness da Apple, Star Wars, RPG. . . bom, é melhor ficar por aqui. Um brinde à geekness que há em nós!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

JOHN MAYER INTROSPECTIVO (?)


John Mayer apagou todos os posts do seu blog. Ao que parece, isso aconteceu logo após de ter se envolvido na defesa da Jessica Simpson que vinha sendo estigmatizada pela torcida de um time de futebol americano do Texas (por causa do envolvimento da ex-musa do JM com um dos jogadores). Enfim. O último post do John Mayer defendia que o Texas devia deixá-la em paz por que ser uma "boa e orgulhosa texana" era o que Jessica Simpson tinha de melhor. O que sucede depois disso é mistério. Tudo apagado e a misteriosa mensagem (foto) além da citação de estratégia militar (possivelmente de Klauswitz):
*


"There is danger in theoretical speculation of battle, in prejudice, in false reasoning, in pride, in braggadocio. There is one safe resource, the return to nature..."


*

Uma tradução próxima seria: "É perigosa a especulação teórica da batalha, em prejulgamentos, em razão infundada, no orgulho, na arrogância. Só há um recurso seguro, o retorno à natureza". O que virá deste momento de reclusão reflexiva? Um novo álbum, talvez? "De volta ao trabalho", diz sua mensagem. John Mayer, além de um músico fenomenal, é considerado uma mente criativa sem par, como um novo Bob Dylan. Esperar para ver. Tenho certeza que valerá a pena - afinal, a poesia mais inspirada nasce dos momentos mais turbulentos. Nunca da calmaria. Deixemos o John trabalhar, então.


sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

COMO NÃO AMAR J.R.R. TOLKIEN?

J.R.R. TOLKIEN

Amar Tolkien é uma obrigação. John Ronald Reuel Tolkien, nascido na África do Sul, filólogo, professor, poeta, profundo conhecedor da alma anglo-saxã. Em outras palavras, é impossível não reverenciá-lo. E isso é possível em inúmeras esferas: literária, cultural, pop, cinematográfica, histórica, artística, eletrônica. Um dia ele teve uma idéia, uma simples idéia: uma jornada para um "hobbit" aventureiro. E deste pensamento nasceu uma quase reinvenção de valores, história e mitologia ocidental. Tolkien fundou um universo paralelo, rico como o nosso, com geografia própria, idiomas e alfabetos, seres fantásticos, bravos heróis, lugares místicos e misteriosos, mitos, lendas, guerras e perigos. Sua história mais famosa, "O SENHOR DOS ANÉIS", tornou-se uma mina de ouro que rendeu preciosidades como a trilogia de filmes de Peter Jackson, jogos eletrônicos, brinquedos, tribos a idolatrar a dura jornada de uma sociedade de pessoas tão diferentes, mas unidas pelo ideal comum de salvar o mundo onde vivem. O fardo do jovem hobbit Frodo é uma provação com a qual podemos - e conseguimos - nos identificar. E torcemos por ele. E por todos os companheiros, tão heróicos, em seus dramas e desafios pessoais. É tudo perfeito, preciso, mágico, lírico, onírico. Os detalhes são enciclopédicos e, fôssemos de outro mundo, poderíamos entender essa incrível história como uma possível versão - e compreensão - de uma realidade passada. Como um competente arauto, Tolkien nos oferece sua história, envolvente como um feitiço, que nos comove, encanta e atravessa gerações. Ali está fundada, oficialmente, a essência dos "Role Playing Games" e tantos ícones que hoje muitas pessoas discutem sem sequer saber que suas origens estão em Tolkien, uma das mais inventivas mentes da nossa história recente, que viu a guerra de perto, e entendeu a certeza de que ORCs, Trolls e aliança de homens não é fantasia e ficção, mas um reflexo da nossa civilização ambiciosa, individualista, belicosa. Não importa muito o meio pelo qual somos capturados ao vasto mundo da TERRA MÉDIA, se por música, filmes, livros ou games. Já estamos lá. Sua história nos levou. E certamente, não queremos mais voltar.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

MAIS UM DAQUELES CLIQUES ETERNOS

Louis Armstrong tocando trompete para sua mulher nos arredores das pirâmides e a esfinge de Gizé, no Egito (1961). Mais um daqueles cliques felizmente eternizados.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

ESPERANDO CIVILIZADAMENTE

Na minha modesta opinião, a franquia CIVILIZATION do Sid Meier é uma das mais bem sucedidas (e divertidíssimas) série de jogos estratégicos de todos os tempos. Tudo muito simples e extremamente eficiente: conduzir uma civilização desde o seu nascimento na idade da pedra até a corrida espacial. No meio do caminho, tecnologias a serem descobertas, maravilhas e exércitos construídos, territórios a serem explorados e conquistados, cidades, administração de recursos, política, religião, cultura, diplomacia e, naturalmente, a arte da guerra. A civilização que começa no arado chega à produção de armamentos nucleares. É o máximo. E, definitivamente, temos a sensação de estarmos conduzindo um grupo de pessoas a algum lugar, seja ele o desenvolvimento ou a ruína. Um lançamento para 2008 (em princípio) promete uma verdadeira revolução neste já quase-perfeito jogo de estratégia: CIVILIZATION REVOLUTION, que deve chegar desta vez aos consoles PS3, XBOX e Nintendo DS. Só a interface inteligente e os gráficos cartunescos - que já podem ser conferidos em imagens e vídeos na web - dizem muito a respeito de como esse jogo vai ser fenomenal. A questão agora é encontrar paciência milenar para esperar civilizadamente pelo seu lançamento.

JANELA PARA UM SONHO

Acredito no poder de uma foto como janela para um sonho. Um ponto de fuga ou retorno. Uma ponte para a imaginação sem limites, sem censura, sem fronteira. Essa árvore solitária, banalmente decorando o meu desktop, foi registrada de verdade por alguém, um dia, em algum lugar. Onde fica essa árvore? Como se faz para chegar até ela? Ou melhor, estará ela ainda aí? Continua solitária? A imagem de imediato me traz a lembrança de 2 personagens curiosamente de mesmo nome e que para sempre guardo com carinho, como uma louca saudade de pessoas que sequer conheço - ou melhor - que sequer existem, uma saudade metafísica: 1) Claire Colburn, de "Elizabethtown" e, em sua lembrança, fico com vontade de chamar esta árvore de "A Árvore Sobrevivente, minha preferida em todo mundo - e eu gosto de árvores"; 2) Claire Abshire, de "A mulher do viajante do tempo" (mágico livro que conta a história de duas pessoas que se conhecem por fendas no tempo), que desde pequena corria para encontrar seu futuro marido viajante em uma de suas ida e vindas nos campos da casa onde cresceu. É como se a fotografia fosse um artefato encantado. Ela guarda em si um momento, eterniza uma idéia, uma experiência. Tudo passa, tudo fica para trás, mas é como se a fotografia fosse um portal permamente de retorno a algo que um dia nos foi precioso. Amigos e amores que desaparecem na linha do tempo, parentes que se vão, paisagens inesquecíveis, momentos de festa e descontração, animais, seja lá o que mais desejemos guardar nestas finas caixas que possuem a surpreendente capacidade nos deixar para sempre em contato com aquilo que não queríamos que ficasse para trás mas que, inevitavelmente, ficou. O último bálsamo contra o tempo. A janela para um sonho.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

FANTASIA SEM FINAL


Sou um fã inverterado da saga FINAL FANTASY. Como tive o raro privilégio de acompanhar a série desde longa data (NES, lá em fins dos anos 80), posso dizer que conheço a tal "fantasia final" um pouco, razoavelmente bem; como fã comportado, sem exageiros religiosos. Não sei os detalhes das trivias, tampouco sei costurar a complexa teia de eventos que unem personagens e histórias nos jogos que, supostamente, não possuem relação alguma. Não faço idéia de como se processa a cronologia, tampouco tenho muita noção da geografia ou história. Sei do que importa: a alma épica, da experiência, e o prazer incomparável de ingressar numa (quase sempre) boa aventura de um novo (ou velho) jogo Final Fantasy. Está tudo sempre lá: personagens inesquecíveis e carismáticos, vilões com poderes de semi-deuses, perigos apocalípticos, cidades vivas, cavernas misteriosas e florestas densas, naves e veículos incríveis, armas e equipamentos que valem os riscos corridos para obtê-los, mundos e universos distintos e riquíssimos a serem explorados, por fim, histórias dignas de livro, repletas da mais pura humanidade, sempre adornada de paixão, amor, ódio, vingança, ambição, amizade, traição e reviravoltas surpreendentes. É impossível não se deixar capturar pelo mundo de Final Fantasy, não importa muito qual jogo em si ou o quão familiarizado se é com as tramas. Basta um e a picada é definitiva. Final Fantasy é algo viral e todos os jogos partilham desta essência meio mitológica, meio onírica, que faz com que a mina de ouro da Square-Enix não seja mais uma série de jogos. Os RPGs da longa trajetória Final Fantasy definiram muita coisa e continuam a promover revolução, a cada lançamento. Final Fantasy XII (PS2), o capítulo mais recente (além do Revenant Wings, para o DS), é nada mais que uma obra-prima. Não saberia por onde começar a elogiar, descrever, apontar o que há de maravilhoso no jogo. É simplesmente tudo tão bom, tão bom, que ficamos com pena de avançar no jogo. Não queremos que ele acabe. E a música final, "Kiss me goodbye", da artista japonesa Angela Aki, no ocaso da história, que vem nos falar de despedida, seria dura ironia se não fosse (mais uma) melodia tão tocante e comovente para aqueles que partilharam da aventura, dos perigos, e conseguiram chegar até o final. Mas não é apenas o indefectível FFXII que separo como memorável. Faço honras ao (não muito popular) FFIX (PSone), também os complementares FFX/X-2 (PS2), Final Fantasy Tactics Advance (GBA) e o RPG-mor, Final Fantasy VII (PSone), naturalmente. Afinal, não importa quantos anos passem, Final Fantasy VII será sempre o diamante deste baú de tesouros e Cloud nosso herói mais querido. Post bem geek, confesso. Mas, não há meio de melhor saborear o que este universo tão plural de FF tem a oferecer sem abraçar a mais genuína "geekness" que há em nós. E agora, o que resta? Esperar por FINAL FANTASY XIII parece ser a resposta mais adequada (enquanto bolamos um meio humanamente possível de comprar um PS3, obviamente). Nesta angustiosa espera (que o lançamento não seja tão atrapalhado como o de FFXII!), vale conferir o trailer oficial de FFXIII (de tirar o fôlego!!) aqui.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

A PODEROSA TRILOGIA

É impossível não se render ao poder dos filmes que compõem a trilogia "O Poderoso Chefão" (The Godfather). É inútil resistir: temos ali cinema como não é mais feito, que nos propõe "uma oferta que não somos capazes de resistir". Os três inesquecíveis filmes (honras máximas ao primeiro, naturalmente) se completam com maestria e parecem nos transportar para aquele contraditório universo masculino de brutalidade e ternura, paixão e violência. São histórias apaixonadas sobre os extremos do homem, a importância da família (do ponto de vista italiano, claro), a revolução de valores, vida e morte como parte de um jogo perigoso de ambição e poder. Marlon Brando desponta, nesta ópera em três atos, como rei inquestionável. Sua figura na tela é um ícone: a voz rouca, calma, pausada, o clássico rosto-máscara (quase) impávido, a imponente figura paterna que nos desperta amor e medo. Queramos beijar sua mão, quando ele nos aparece de smoking com rosa vermelha adornando a lapela. Queremos abraçá-lo quando o vemos combalido numa cama de hospital, condoendo-se com a perda de um filho. Um padrinho, um pai, um chefe, a quem todos querem servir e agradar por meio de uma confusa e distorcida (twisted) ação apostólica. Coppola, gênio indiscutível, feiticeiro na composição elegante e silenciosa dos seus filmes, nos faz sentir como parte da família. Somos Corleones, pelo menos pelas horas que seguem os filmes, e adoramos cada minuto da experiência: sentimos na pele o desejo de vingança e reparação, o calor, a lealdade, a devoção a uma causa que sequer refletimos o quão questionável pode ser. Tornamo-nos gângsters de Nova York, em nossos carros escuros, com nossas casacas e chapéus bem cortados, numa vida ao som de música simples, cheiro de pólvora e sabor de molho de tomate. Somos coadjuvantes da ópera de tiros e tapas, em que amamos, odiamos, somos traídos, mas seguimos em frente, pela família. Não há muito o que elaborar sobre a perfeição destas três obras-primas do cinema. Muitas vezes, é verdade, sequer sabemos apontar claramente o quê ou por que gostamos tanto destes filmes tão visceralmente agressivos. E talvez não haja mesmo uma maneira, ou uma necessidade, de explicar o fascínio que temos pelo chefão. Amamos, seja lá por quê, amamos. E pouco importa.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

A DISCRETA LUBRIFICAÇÃO DOS OLHOS


Lembrei hoje, com imensa riqueza de detalhes, de um dos livros mais queridos da minha infância: "Sylvester and the magic pebble" (Silvester e o seixo mágico), do autor William Steig. O burrinho Silvester, que adorava pedrinhas, resolve passear sozinho no bosque. No caminho, encontra uma pedrinha que ele descobre ser mágica, capaz de realizar os desejos de quem a segurar. Assustado por um leão que aparece de repente, o inocente burrinho Silvester, incapaz de uma idéia melhor, deseja "transformar-se numa pedra". E, assim, em forma de pedra o leão o ignora. Com o seu sumiço repentino, seus pais ficam desesperados, procurando pelo filho em todos os lugares sem sucesso. Ninguém sabe o paradeiro de Silvester. Conformando-se com a dor da saudade e toda a dificuldade de viver sem o filho, o casal de burrinhos decide fazer um piquenique na floresta. Ao encontrar uma enorme pedra, decidem usá-la como mesa e arrumam todas as guloseimas sobre ela. O pai de Silvester, então, acha a pedrinha mágica que havia caído ao chão, quando o Silvester virou pedra, e diz que seu filho iria adorar tê-la. Ele decide colocar a pedrinha sobre a toalha. Silvester, percebendo que enfim ali estavam os seus pais, começa a voltar a ter seus pensamentos de burrinho (ele havia se acostumado em ser pedra) e deseja "ser um burrinho novamente". Quando todos nem imaginavam, sob a toalha do lanche surge magicamente o burrinho Silvester, cercado pelos seus pais, que o abraçam com muito carinho e todos matam a saudade dançando e chorando abraçados, felizes ao redor da bagunça toda da "mesa" desfeita. Decidem guardar a pedrinha em bom lugar, não havia mais nenhum desejo que quisessem fazer por que o maior deles já havia sido realizado: Silvester estava de volta. Não sei por que razão, concretamente, fui resgatar do meu inconsciente essa história que me encantava e comovia tanto, quando eu era pequeno. Lembrei dos detalhes, das gravuras, do desejo de ver todo aquele mal entendido desfeito. Por algum motivo, fui visitado hoje por essa deliciosa e tocante lembrança, eficaz como todas, na discreta lubrificação dos olhos.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

KINGDOM HEARTS

Por trás do forte(íssimo) apelo infantil da franquia KINGDOM HEARTS da Square-Enix há, inegavelmente, histórias sólidas e jogos de diversão inquestionável. Na minha opinião, Kingdom Hearts consegue ser uma saga ainda mais carismática do que a milionária série de jogos FINAL FANTASY. Os três jogos lançados até hoje, KINGDOM HEARTS (PS2), KINGDOM HEARTS CHAIN OF MEMORIES (GBA) e KINGDOM HEARTS 2 (PS2) construiram uma misteriosa e intrigante teia de eventos que faria inveja a qualquer best-seller. Acompanhamos a saga do menino Sora, morador de uma ilha no meio do nada, que se vê inexplicavelmente separado dos seus amigos numa jornada enigmática pelos reinos encantados dos desenhos e filmes da Disney. Acompanhado pelo Pato Donald (que no jogo é um feiticeiro) e o Pateta (um cavaleiro), Sora combate inimigos chamados "Heartless" (sem coração), em busca de auxiliar o Mickey (Rei), que havia partido anteriormente em expedição. Eu sei que soa infantil, bobo e lame, mas não é!! No caminho, o grupo encontra personagens inesquecíveis dos jogos Final Fantasy, como Cloud e Aerith, heróis e vilões memoráveis da Disney, até se depararem com os reais mistérios por trás de tantos eventos sem explicação. Essa história continua em suas 2 seqüências de maneira que os três jogos se unem como um quebra-cabeça: descobrimos as múltiplas relações entre Sora, o universo da Disney, a "Organização", o menino Roxas, a silenciosa Naminé, Riku, Kairi, as conexões entre Traverse Town e Twilight Town e os significados que antes pareciam tão obscuros. Horas e horas de puro entretenimento e satisfação plena numa série de RPGs inovadores e cativantes. De alguma maneira, nós passamos a nos preocupar com aquelas pessoas ali e só um jogo muito competente é capaz de gerar tamanha empatia. Esse é o grande diferencial de Kingdom Hearts: a união da doçura e o encantamento do mundo Disney com a grandiosidade épica de Final Fantasy num jogo que faz qualquer marmanjo voltar a ser criança sem perder o desafio em nenhum momento. Não são jogos fáceis e previsíveis, pelo contrário. Todos os jogos Kingdom Hearts transpiram originalidade e dificuldade na medida certa. De qualquer modo, uma franquia longe de ter um fim definitivo. Quem assistiu ao final secreto de KH2 se deparou com uma das mais misteriosas seqüências da história dos games: três guerreiros num campo de batalha desolado no qual pode ser visto a "keyblade" (chave com aqual Sora lutava) encravada no chão. Uma batalha fora travada ali. Nada parece ter sobrado. O que isso quer dizer? Para a nossa eterna inquietação, a frase: "Birth by slumber", algo como "nascimento pelo sono". Uma referência ao despertar de Sora, mais velho, em KH2? Como saber. A verdade é que a franquia Kingdom Hearts é um grande e inquestionável produto genuíno de amor para todas as idades, que sem dúvidas terá marcado para sempre a nossa geração e a história dos jogos.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

INSUSTENTÁVEL SAUDADE


O filme "P.S. Eu te amo" (P.S. I love you) merece ser visto: renova, acalma, inspira, faz sorrir e chorar sem pudor, sem medo. Não é o filme mais original do mundo, não deve ser indicado à nenhum OSCAR e, provavelmente, passará batido por muitas pessoas com pouco tempo de sobra (como tantos grandes filmes negligenciados injustamente, como "Elizabethtown" e "Lost in Translation"). É apenas um filme para "lavar a alma". Definitivamente, não é o melhor filme já feito, mas quem se importa?! É uma história comovente, sensível, encantadora e conta com atuações muito sinceras dos seus personagens principais, Hillary Swank e Gerard Butler (Cathy Bates está maravilhosa, como sempre, também). Uma história de amor, um encontro de almas gêmeas, que é subtamente interrompido por uma doença terminal, que leva Gerry (Butler) embora, deixando Holly (Swank) uma jovem e perdida viúva tentando aprender a redescobrir a vida sem seu marido tão essencial, que funcionava em sua vida como um louco farol irlandês, ajudando-a incansavelmente em sua desorientação e falta de planos. Gerry a fazia rir. Eles se amam e se odeiam como todo jovem casal no começo de uma vida juntos e se separam por uma triste fatalidade. A mágica do filme começa quando Holly passa a receber cartas que seu marido Gerry escreveu antes de morrer: orientações, conselhos, instruções sobre o que fazer, onde ir. Ele deixa para Holly um mapa de como viver sem ele, o que fazer da sua vida mas, principalmente, vivê-la verdadeiramente, sem culpas, sem medos, sem dor, abraçando sua nova existência até para se apaixonar novamente, quem sabe. "Não tema", pode-se resumir. Sua jornada solitária é acompanhada por engraçadas amigas, possíveis flertes, uma viagem de sonhos pela Irlanda e as inusitadas "visitas metafísicas" do seu marido que a fazem compreender que ela possui uma história pela frente para viver. Ele havia sido apenas um capítulo. Mais um capítulo, mas um capítulo do qual Holly não quer se desfazer. Uma página que ela se recusa a fechar. A delicada história (baseada no livro homônimo de Cecelia Ahern) fala da impossibilidade da despedida, da insustentável saudade de quem nunca mais vai voltar, de como é difícil abrir mão, deixar para trás, um pedaço de nós, alguém que amamos e que para sempre terá modificado a nossa vida. Um doce, simples e inesquecível filme. "P.S. Eu te amo" é uma história sobre saudade, o adeus necessário, a lembrança de quem para sempre iremos amar e a importância de vivermos cada momento como se fosse o último. Por que a verdade é que pode, mesmo, ser.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

LONGE DOS CANTOS DOS OLHOS


Adoro este texto (abaixo) da Fernanda Young. Uma confissão que liberta, cativa, com a qual é possível encontrar familiaridade. Podem amá-la ou odiá-la, mas acho que a Fernanda Young merece ser ouvida. Não pela celebridade, totalitarismo ou a polêmica pura e simples, mas por que ela tem opiniões que nos fazem enxergar o que quer que seja por outra(s) perspectiva(s). She´s gotta point, é o que quero dizer, em resumo. Eu sou daquele time imcompreendido dos que "adoram a Fernanda Young" e simplesmente amo o seu texto sobre corrida. Por que eu mesmo sou um eterno combatente de mim mesmo, da minha preguiça genuína, intrínseca, da minha tendência imediata ao comodismo dos dias que nos conduzem por uma trilha mais fácil de ser percorrida. E que engorda, esgota o organismo e envelhece. Então, como a Fernanda Young, eu corro para correr "de mim mesmo", da minha depressão, se assim quiserem chamar. Ainda que não tenha uma alma triste, pelo contrário, sou também um kantiano, já que traio a minha natureza original, transformando-me em algo que não sou em essência, em nome de um benefício maior. Maior do que a inércia. Corro, como ela, para deixar "coisas" para trás, seja lá o que for. Corro para me libertar, me livrar, me pacificar. Corro para me fazer acreditar que o meu corpo é possível, que o sangue está correndo nas veias, o coração bate desesperado, essa máquina ainda jovem me leva a algum lugar. E como ela, não corro para ser belo; mas para me sentir inteiro, para me sentir vivo e é isso que me faz sair da cama no raiar do dia. É um movimento, uma catarse, que pode levar ao êxtase, é verdade, acredito no que ela diz. Por que correr é nos despedir de alguma coisa, a cada metro vencido. E toda despedida é um processo de renovação e amadurecimento. Então, eu corro para amadurecer. E, fortalecendo músculos e ossos, encontro paz com espírito, mente e balança. Se a Lua em Peixes conduz aos vícios, a Lua em Câncer conduz às lágrimas. Então, corro delas também. Para esquecê-las. Ou simplesmente guardá-las em melhor lugar, longe dos cantos dos olhos.


* * *


“Corro porque sou kantiana. Não sigo os instintos da minha natureza, mas, sim, torno-me aquilo que não sou por uma razão maior. Procuro sempre dominar minhas deficiências, sendo a preguiça a maior delas. Poderia estar perfeitamente preguiçosa, mas não estou. Outra ressalva, em minha alma, é que ela é triste. Só que não posso estar triste, pois devo, à minha obra, maior discernimento e, às minhas filhas, a força para criá-las fortes. Então também corro porque o contrário disso seria chorar, reclamar sem nada fazer e fumar mil cigarros. Dizem que quem tem a lua em Peixes, no zodíaco, como eu, tem tendência aos vícios. Corro, portanto, dessa queda para a autodestruição, pois não existe melhor química contra depressão do que a endorfina. Correr, assim, é meu remédio. A minha meditação. Correndo sozinha, estou em minha melhor companhia. Faz mais de dez anos que sigo fiel a essa saudável rotina. Já adquiri até uma sesamoidite crônica, mas tenho um bom médico de pés, e palmilhas especiais. Dizem, os invejosos, que correr envelhece. Bom, o tempo envelhece. E eu prefiro enfrentá-lo na minha melhor forma. Nunca tendo sido gostosa, correndo, jamais ficarei caída. Há os que garantem que correr é um modismo urbano. Não sinto dessa maneira, ou jamais teria me tornado adepta. Sou avessa a coisas “in”. E, como também não sou dada a coletividades, sequer costumo correr em grupo. Mesmo nas corridas dos circuitos, das quais eventualmente participo, quando não estou sozinha, estou com um amigo silencioso. Corro, acima de tudo, porque gosto. Às vezes, chego quase a chorar, tamanha a emoção. A sensação é de que estou deixando o que fui – meu passado é um resíduo que defendo, mas não carrego – para trás; e meu corpo agradece, renovado. Todos os músculos bem preparados para minha defesa, ou daqueles que de mim precisarem. Sim, corro porque posso. Agradeço aos bons joelhos que possuo, que me sustentam sem reclamar. Claro, tenho métodos, tenho cuidados, tenho as minhas trilhas prediletas. Dou o melhor de mim nesse projeto, pois dependo dele para viver. Porque corro, não fumo mais. Porque corro, alimento-me melhor. Porque corro, não perco as sextas na biritagem – adoro correr aos sábados. Concluindo, corro para não preencher perfis óbvios. Pois correr, no meu caso, é praticamente uma contradição. Porém insisto nisso, encarando como uma manifestação política, talvez mais significativa que votar. Corro, por causa disso, com toda a elegância e humildade. Aprendendo a cuidar bem desse corpo que Deus habita. Por fim, eu corro porque acho bonito gente correndo, e quero que as minhas filhas vejam que todos somos capazes de mudar. E porque não suporto fazer regimes – é isso: corro porque adoro comer pizza à noite.” (Fernanda Young)