segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

SAUDADE


O que é SAUDADE, afinal? Para mim, é algo esquisito, estranho, alheio, alienígena e, curiosamente, intrínseco, pessoal, íntimo, naturalmente meu. É um sentimento, uma sensação, um momento, uma idéia. Comove, faz sorrir, chorar, cala e até mata. Saudade é algo completamente abstrato e subjetivo e, ao mesmo tempo, palpável, como se fosse possível apontar com o dedo este ALGO sem cor nem cara que pesa sobre os ombros e mantém constante a sensação de que algo está faltando e que nada neste mundo será capaz de preencher o vazio. É uma solidão diferente; meio carente, meio silenciosa, como se experimentássemos algo de que não podemos falar, não podemos dividir. Como explicar nossa saudade a alguém? É algo nosso, genuinamente nosso, que ninguém tem condição de entender. Saudade é uma espera. Uma espera conformada, por alguém que foi para longe mas volta, alguém que escolheu não voltar ou alguém que não poderá voltar nunca mais. Saudade é uma caixa de sensações: amor, paixão, calor, desejo, dor, fome, angústia, impaciência, falta. É um relógio batendo constante, em contagem regressiva, com ponteiros que demoram a mudar de lugar. Saudade é um momento perfeito para auto-reflexão, em verdade. Rever aquilo que parecia gratuito e que, por algum período de tempo, não se tem mais. Tudo fica mais importante, mais valioso, mais precioso. Cheiro, pele, corpo, alma, jeitos, gênios, olhares, boca, beijo, toque, cabelo, perfume. Fotografias, músicas, textos, filmes, livros, imagens, lembranças; tudo é um conjunto complexo de encaixes de peças que nos levam aquela pessoa amada, tão distante. Queremos perto, queremos na hora, queremos para sempre. É uma espera desesperada, uma sede que não passa, um silêncio. Mas vale à pena. Por que há o retorno. E, com o retorno, janelas fechadas, portas trancadas, lençóis e travesseiros, telefone fora do gancho, e um tempo lá fora que pouco importa se é frio, chuva, noite ou dia. Há sempre o retorno. . .


* * *


"Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer


É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É nunca contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder


É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É ter com quem nos mata lealdade


Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?"


Luís de Camões


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