terça-feira, 11 de março de 2008

UM FILME QUE FICA


Dizem que as maiorias e unanimidades são burras. Não tenho certeza disso. Mas se de fato são, então sou um burro feliz, por que eu também irei dizer que "Juno" é uma preciosidade, um sopro de frescor e renovação para o desgastado cinema da atualidade, que parece ter se engessado na "arte" das explosões e invasão de seres de outros planetas. O celebrado filme indepentente de Jason Reitman, com roteiro original de Diablo Cody (a propósito ex-stripper e blogueira), é uma equação funcional e perfeita do universo indie: temática adolescente, diálogos rápidos e inteligentes (quick-witted aos extremos), personagens carismáticos, dilema de pais e filhos, conflitos pessoais e uma trilha sonora absolutamente adequada para encerrar todo o contexto cult. É uma pequena jóia, uma pedra a ser lapidada. Aliás, como a sua protagonista, Juno Mcguff, interpretada brilhantemente por Ellen Page. A heroína-grávida, de 16 anos, é um amaranhado de emoções e reações, que fazem dela a mais frágil e indefesa menina e uma garota metida a mulher que acha ter todas as respostas para tudo (como todo bom adolescente, aliás). No fim das contas, sentimos o desejo inevitável de entrar na tela e tomar conta de seus problemas, auxiliá-la, cuidar dela por que, do contrário ao que pensa, ela não sabe tanto assim das coisas, da vida. Naturalmente. Ela só tem 16 anos. O filme é recheado de momentos maravilhosos, diálogos memoráveis e atuações singulares (todos os coadjuvantes estão perfeitos e funcionais, em especial atenção ao amigo/amor de Juno, Paulie Bleeker, interpretado com doçura pelo talentoso Michael Cera). Não existe em "Juno" nenhum desejo de crítica, não é um filme politizado, tampouco quer promover reações em nós. É uma história, simples, doce, delicada, sobre pessoas que parecem reais, como o cinema deveria ser. Uma história a ser contada, apenas isso. É um lindo filme, com o qual podemos nos identificar e nos enxergar ali, nas situações e conflitos atravessados por esta pequena-grande mulher que, não por acaso, recebeu o nome da mulher de Zeus, da mitologia. Uma heroína incomum, não convencional e solitária na certeza (equivocada) de sua independência e capacidade de resolução. Um diálogo inesquecível resume tudo, quando Juno responde ao seu pai que a questiona por onde ela andava: "estava por aí, resolvendo assuntos que estão além da minha maturidade". "Juno" é, inevitavelmente, um filme que fica.

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