quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A DELICIOSA COMBINAÇÃO GATOS+INTERNET

Para quem, como eu, não se cansa do delicioso combo gatos+internet, um dos melhores refúgios online sem dúvidas é o icanhascheezburger. Vale pelo menos uma visita por dia para descobrir fotografias e vídeos, tudo com um humor muito peculiar. É o panteão que celebra os bichanos como os verdadeiros donos da internet. Não tem jeito, os gatos são os reis do mundo virtual.

ILUSTRANDO

Retrato de Mao Tsé-Tung, de Andy Warhol, com contribuição de Dennis Hopper (dois tiros devidamente registrados por Warhol como parte da obra)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

DIÁRIO DE GATO


"Cat Diaries", filme da Friskies filmado inteiramente por... gatos. Vale cada segundo.

ÀS VEZES, TUDO O QUE A GENTE MAIS PRECISA...

...após um longo dia de trabalho, é de um bom banho.

MINHAS APOSTAS (OU SERIAM TORCIDAS?)

Com a divulgação dos indicados para o Oscar de 2011, registro aqui minhas apostas que são, na verdade, uma torcida. Porque não levo em consideração as questões técnicas ou políticas. É, meramente, quem eu gostaria que vencesse.
Melhor ator: Colin Firth, por "O Discurso do rei"
Melhor atriz: Michelle Williams, por "Blue Valentine"
Melhor ator coadjuvante: Geoffrey Rush, por "O Discurso do rei"
Melhor atriz coadjuvante: Helena Bonham Carter, por "O Discurso do rei"
Melhor roteiro original: "Minhas mães e meu pai"
Melhor roteiro adaptado: "A rede social"
Melhor diretor: Darren Aronofsky, por "Cisne Negro"
Melhor filme: "O Discurso do rei"

Injustiças: como em todas as edições, sempre há algumas injustiças. Lamento por "Blue Valentine" não concorrer a melhor filme, bem como "Never let me go". E, naturalmente, fiquei na expectativa que "Somewhere" pudesse concorrer como roteiro original, filme, direção para Sofia Coppola ou mesmo atriz coadjuvante para Elle Fanning. Fica para a próxima. Agora, é torcer.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

"O SONO É UM TIPO DE ABANDONO"

Desenho de Amarílis Lage, do Blog Cartolina. Lindo demais. Como sempre.

UMA ROADTRIP PARA NÃO ESQUECER TÃO CEDO

Nem todos sabem, mas Joe Hill, um novo autor que tem ganhado muita notoriedade no mundo da ficção de terror, é filho de ninguém menos que Stephen King, o mestre do gênero. Em seu romance de estreia, "A estrada da noite" (já na lista dos mais vendidos do New York Times), Hill constroi uma história eletrizante e absolutamente impossível de largar. Com um texto dinâmico e altamente atmosférico, ele cria cenários, personagens e situações com grande realismo capaz de nos pregar sustos. O personagem principal é Judas Coyne, um ex-roqueiro que aproveita a sua fortuna colecionando objetos mórbidos relacionados a algum tipo de tragédia ou crime. Jude é um eterno solitário, que chama as suas namoradas pelo nome do estado onde nasceram e ignora o seu pai que está no leito de morte. Não é, definitivamente, o herói ideal.

Um belo dia, seu assistente encontra um fantasma à venda num site de leilões. Trata-se de um paletó velho que, segundo o anúncio, vem com o fantasma de brinde. Imediatamente, Jude decide comprar o paletó e, a partir deste momento, sua vida nunca mais será a mesma. Com a chegada da encomenda, vem também o espírito, que Jude encontra sentado numa cadeira de sua casa. De olhos fechados, o fantasma parece cochilar enquanto o roqueiro caminha por um corredor. O fantasma está lá, ele percebe. É real.

Pouco a pouco, Jude descobre que o visitante não foi algo tão acidental quanto ele imaginava e que, talvez, seja hora de pagar pelos erros do passado. Uma dívida a ser acertada. E assim, na companhia do fantasma e de Jude, vamos todos nós por uma estrada de fuga, perigos, sacrifícios e muita tensão que parece não ter fim. Ou, pelo menos, não um final feliz. O que está reservado para Jude, do outro lado da estrada da noite?

Quem ler vai descobrir. Surpreendente e obrigatório para fãs do gênero.

sábado, 22 de janeiro de 2011

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O AMOR QUE MORRE DIANTE DOS NOSSOS OLHOS

Se um filme como "The Notebook" (Diários de uma paixão) é uma linda (porém completamente fantasiosa) história sobre um amor eterno, "Blue valentine" (me recuso a reproduzir o título brasileiro) é o extremo oposto. Porque é uma história que transpira realidade e não tem pudor em dizer que, sim, o amor nasce como uma explosão que parece durar para sempre, mas como todo ser vivo definha até morrer. Curiosamente, ambos os filmes são estrelados pelo sempre competente Ryan Gosling. Este mais novo conta também com a atuação de Michelle Williams, que está melhor a cada dia que passa.

Apesar de guardar "The Notebook" com imenso carinho entre meus filmes preferidos, tenho que admitir que "Blue Valentine" está mais de acordo como enxergo as relações amorosas hoje em dia. Nós nos apaixonamos, achamos sempre que é para sempre, e nos surpreendemos com a (triste) constatação de que tudo aquilo, antes tão especial e único, também pode ruir sob os nossos pés.

Dirigido belamente por Derek Cianfrance, com muito uso de paralelos e flashbacks para contar a história de um jovem casal quando se apaixona (passado) e o inferno do casamento (presente); este é um lindo filme triste sobre como duas almas podem se encontrar, sentir-se gêmeas, e então se depararem com a estagnação e infelicidade da vida real. Um campo estéril onde o amor não sobrevive e os "tristes namorados" se vêem testemunhas impotentes disso.

No começo do namoro, o desejo incontrolável de Dean (Gosling) em fazer tudo por Cindy (Williams) é apaixonante e corajoso, algo que a encanta imediatamente. Ele toca violão para ela na rua, submete-se à investigação de sua família, apanha e guarda tudo o que ganha de maneira a prometê-la algum futuro.

No entanto, todas estas qualidades que encantaram Cindy, seis anos antes, são praticamente intoleráveis para ela nos dias atuais. Ela não tem mais paciência para ele, até as suas brincadeiras como pai a irritam; ela quer que ele faça algo de sua vida, construa algo, torne-se algo. Dean pareceu, um dia, o melhor rapaz que ela poderia conhecer. Hoje, para Cindy, ele é o pior. E assim é costurada essa melancólica - e muito verdadeira - história: com a ideia de que o amor nasce e morre diante dos nossos olhos.

Dean e Cindy dividem um amor que será para sempre. Não, infelizmente, não.

Não há muito o que contar a respeito do filme. Melancólico, real, mais real do que gostaríamos que fosse. Não está aqui somente a história dos pobres namorados, Dean e Cindy. É a história de todos nós. O relato na tela da nossa dificuldade (ou incompetência) de fazer o amor sobreviver à passagem do tempo. É um filme doído, humano, impossível de não se identificar.

Estamos todos nós ali, inertes, diante de um passado que um dia foi tão bom mas que já não conseguimos lembrar direito. Como Dean e Cindy, naturalmente, não gostaríamos de estar. Queremos os filmes perfeitos, as histórias de amor do cinema, onde tudo é eterno.

Mas a vida real é feita destas lágrimas que ninguém quer chorar, das palavras duras que acabamos dizendo; mágoas, arrependimentos e das fotografias que registram o que parece impossível de se recordar. 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

QUANDO UM PAÍS MAIS PRECISOU DE UMA VOZ...

...Descobriu que o seu rei era gago e que tinha, como adversário, ninguém menos que o tremor que reverberava, da Alemanha, em todo o continente europeu no amanhecer da II Guerra Mundial. Aqui está a maravilhosa - e inacreditável - história real do rei George VI, da Inglaterra, interpretado magistralmente por Colin Firth.

A história é famosa. Na década de 30, o príncipe de Gales abdicou do trono inglês para se casar com uma jovem americana (de passado duvidoso). Isso fez com que o herdeiro seguinte, o duque de York (príncipe Albert), assumisse o trono. Albert, desde jovem, era conhecido pela gagueira que o imobilizava em público, o que fazia com que qualquer apresentação fosse uma tragédia antecipada.

Mas eis que surge, dos confins da Alemanha, uma sombra que se alastra pela Europa como uma doença. Inevitavelmente, a guerra de Hitler chega à Inglaterra e a nação, mais do que nunca, precisa de um líder que os conforte, oriente e guie nos dias negros adiante.

Neste momento surge Lionel Logue (Geoffrey Rush), um ator de teatro frustado que ganhou notoriedade em Londres por suas habilidades com a oratória. Num último recurso da futura rainha Elizabeth I (vivida lindamente por Helena Bonham Carter), Albert se consulta com Lionel e rapidamente descobre seus métodos nada ortodoxos.

Começa assim uma relação conturbada e afetuosa - quase uma terapia - em que Lionel ajuda Albert a descobrir - e derrotar - seus fantasmas: a formalidade, as obrigações, a impossibilidade de abraçar a naturalidade. Albert é tenso, reprimido, marcado pela sina de viver à sombra do irmão (futuro rei). Aos poucos, a terapia rende frutos e cenas memoráveis que nos dão a certeza que, de uma maneira ou de outra, o rei conseguirá realizar seu discurso.
Colin Firth dá vida, com beleza, elegância e honestidade, ao rei gago, George VI, nesta história real do nosso passado recente

"The king's speech" (O discurso do rei), filme de Tom Hooper, é, essencialmente, de Colin Firth, que a cada novo trabalho parece chegar ainda mais longe. Sua atuação, como o rei gago, é comovente, engraçada, honesta. Ele se entrega, de corpo e alma, para dar vida a este homem atormentado por uma "deficiência" e que se vê diante de uma responsabilidade para a qual jamais foi treinado. Numa cena emblemática do filme, o rei e seu treinador entram em embate. "Por que eu tenho que perder meu tempo com você?", questiona o sempre impertinente Lionel. "Porque eu tenho uma voz!", responde o rei com veemência. "Sim, você tem" sorri Lionel diante do óbvio que só o rei parece não querer entender.

Nós torcemos por ele, como se fossemos um daqueles milhares de cidadãos britânicos, às vésperas da guerra, sem a menor ideia de como seriam os dias seguintes. E suas palavras, afinal, acalmam e encorajam a todos nós.

Sou encantado com a história de "heróis contundidos" e este não é exceção. Ao final, tive vontade de bater palmas para o sr. Firth e torcerei pelo seu Oscar esse ano. Será mais do que merecido.

Em poucas palavras, este é um daqueles filmes que nos fazem chorar de alegria.

Absolutamente imperdível.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

PARECE MENTIRA...

Mas eis que assim, do nada, a Square-Enix anunciou uma continuação direta de Final Fantasy XIII. Lightning estará de volta, ainda em 2011, em FFXIII-2.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

ILUSTRANDO

Jack Levine - "Girl with red hair" (1962)

sábado, 15 de janeiro de 2011

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A SEGUNDA IMPRESSÃO

O filme "O casamento de Rachel" (Rachel getting married) é um ótimo exemplo de que nem sempre a primeira impressão é a que fica. Os filmes têm disso. Estão vinculados a uma série de fatores que podem implicar em gostarmos ou não deles: momento, estado de espírito, maturidade, experiência. Por isso é tão comum rever um filme que havíamos detestado e nos surpreendermos ou, então, um filme que havíamos adorado na primeira vez para descobrir que ele não era tão bom assim. Coisa de momento. Isso acontece comigo com grande frequência, para o bem e para o mal. Perco e ganho filmes na mesma proporção e, deste quase constante 0 x 0, (re)descubro filmes especiais. E fico feliz por isso.

Com "O casamento de Rachel" foi assim. Achei o filme intragável na primeira tentativa. Não gostei do ritmo do filme, ainda que tenha notado - desde a primeira vez - que o roteiro, atuações e direção mereciam uma segunda chance. Anos depois, revendo o filme, percebi como a minha interpretação inicial havia sido equivocada. Este não é um filme ruim, absolutamente. Mas ele precisa, sem dúvidas, de um pouco mais de esforço. Não é tão palatável ou fácil de assimilar sem alguma reflexão.

A questão toda, imagino, está na concepção de uma família disfuncional. Todos nós, de uma forma ou de outra, temos uma família disfuncional. São irmãos problemáticos, primos, tios, avós, mesmo pais. Acho impossível encontrar alguma família que não tenha os seus "esqueletos no armário". Isso para mim é um fato. No cinema, porém, as famílias - quando não são perfeitas - são "charmosamente disfuncionais", o que geralmente é algo cômico ou dramático sempre com um toque destinado a comover o espectador.

Isso, em hipótese alguma, acontece aqui. A família retratada em "O casamento de Rachel" é disfuncional, problemática e verdadeira como as nossas. E, justamente por isso, seja difícil - em imediato - apreciar os personagens ali. Ninguém sente prazer em observar seus defeitos no espelho, correto? Isso cria aquele desconforto e um desejo desesperado de mudar de assunto, de ares.

Esse é o verdadeiro trunfo do filme de Jonatham Demme ("Silêncio dos inocentes") e estrelado - de forma muito honesta - por Anne Hathaway. A história, como o título sugere, narra o casamento de Rachel. No entanto, a questão toda por trás do casamento (seus preparativos e expectativas) é a angustiosa espera pela filha problemática, Kym (Hathaway), que em breve retornará de uma clínica de reabilitação. A família, na medida do possível, é alegre, amorosa, todos tentando viver ao seu jeito, respeitando as diferenças e seguindo em frente (percebam como a questão racial JAMAIS é tema de discussão aqui).

Mas há um passado trágico do qual Kym é protagonista. Aos 16 anos, completamente entorpecida pelo uso de remédios, Kym sofreu um acidente de carro que acabou matando seu pequeno irmão, Ethan. Ninguém se recuperou verdadeiramente deste trauma e Kym, especialmente, carrega-o como um fardo pessoal que, justamente, acabou levando-a para um precipício ainda mais profundo.

A chegada de Kym deixa a família em constante estado de pânico e expectativa

Por conta disso, a "presença" de Kym é desconcertante. Ácida, agressiva, intransigente, impertinente, egoísta; ninguém sabe o que esperar dela e sua presença pesada na casa cria um constante ambiente de pânico e expectativa. Ela é imprevisível, instável, inconstante, volátil. Num momento, ri, abraça, ama sua irmã e família. Num outro, quase imediatamente, é irônica e violenta. "Você está tão magra; poderia jurar que voltou a vomitar", Kym diz a Rachel enquanto ela prova o vestido de casamento.

Inevitavelmente, Kym provoca um turbilhão de emoções na sua breve estadia em casa. Ela chega, como um furacão, mas sabe do seu prazo de validade. Ela sabe que quer - e precisa - ir embora. Este reencontro provoca uma catarse familiar, uma troca de confissões veladas, a abertura de um baú de mágoas e lembranças que ninguém queria abrir, muito menos na véspera de um casamento. Mas esse parlamento coletivo, de uma forma ou de outra, também se mostra necessário e frutífero sob inúmeros prismas. Kym fere aqueles que ama, para ser ferida de volta e, talvez assim, enxergar mais claramente os seus fantasmas. É o seu jeito e, certamente, o faria diferente se pudesse. Isso é o que faz a atuação de Hathaway tão comovente.

Kym sabe, perfeitamente, dos seus defeitos e da sua capacidade (auto)destrutiva. Ela só não é capaz de fazer diferente, é como se isso estivesse realmente além da sua capacidade. Podemos ver isso em cenas emblemáticas em que ela, alguém tão incrédula e sarcástica, fecha os olhos para repetir - como num ato de fé - as reflexões de auto-ajuda do seu grupo de dependentes anônimos. Kym deseja ser diferente, "normal", se ajustar. Ela só não sabe como fazê-lo.

Anne Hathaway desfila um show de interpretação neste papel caótico, profundo, atormentado - quase "feia" - tão diferente das personagens delicadas e encantadoras com as quais ficou famosa. Dando vida à uma Kym tão perdida, Hathaway mostra outras cores e isso é parte da alma deste filme. Os olhares, sorrisos, lágrimas; o desejo desesperado de viver - mesmo que isso implique em atentar contra a própria vida - Kym é um ser nu, caminhando solitário entre aquelas pessoas que não a compreendem e que, provavelmente, nunca compreenderão.

Mas, como nas nossas famílias disfuncionais (e verdadeiras), há espaço para a mágoa, sim, e para a redenção. Porque nós também amamos aqueles familiares que nos fazem mal, que nos ferem. É parte do contrato, da lógica que sustenta qualquer família disfuncional. Não há exílio, longe disso, mantemos perto aquelas pessoas que, normalmente, iríamos querer longe. Isso é ilustrado lindamente numa cena de cortar o coração em que Rachel dá um banho em sua irmã, Kym. Um momento comovente, imensamente delicado, decisivo. "Estou tão feliz de você estar aqui, com a gente", diz Rachel para sua irmã.

Se Kym pudesse, se fosse capaz disso, ela feria tudo diferente

Não, definitivamente, não é fácil gostar de "O casamento de Rachel". Como a própria Kym, o filme se esforça para que não gostemos dele. Basta não ceder a esse jogo para descobrir um filme, mais que bonito, honesto e muito bem feito. Um filme realmente necessário.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

PARA VER E OUVIR: GILBERTO GIL ("DRÃO")

"SOMEWHERE ONLY WE KNOW"


Em breve, nos cinemas, uma animação inédita (felizmente 100% 2D) da clássica história infantil "Winnie the Pooh". É simplesmente bom demais para ser verdade...

PARA VER E OUVIR: ANGELA AKI ("KISS ME GOODBYE")

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A DUALIDADE DO CISNE

"Cisne negro" (Black Swan), novo filme de Darren Aronofsky e forte candidato ao Oscar, é muito mais que cinema. É filosofia pura, psicologia em forma de nitroglicerina, um filme que parece pulsar na tela como um ser vivo. É mais que arte, é um acontecimento. Natalie Portman dá vida - gloriosamente - à frágil bailarina Nina, que se vê repentinamente diante da maior oportunidade de sua vida: viver a cisne rainha de "O lago dos cisnes".

Com o desafio, fronteiras pessoais a serem vencidas: ela precisa dar graça ao cisne branco, Odette, algo que imediatamente consegue fazer. Igualmente, precisa dar vida ao cisne negro, o que exige imensa libertação física e quase sexual. Aqui, para Nina, parece haver uma muralha impedindo-a de encontrar o sucesso. Nessa jornada, extremamente visceral, de mutiliação física e emocional, ela precisa ser princesa e monstro até um ponto em que tudo parece fugir ao controle.

Num jogo brilhante de espelhos e constantes dualidades - sendo branco e preto a mais óbvia - Aronofsky constrói uma trama imensamente complexa em que acompanhamos não somente a trajetória de Nina, como bailarina, mas o caminho da sua própria loucura. Para se transformar em Odile, o cisne negro, ela precisa recorrer a extremos, dando vida - quase literalmente - a um alter ego sombrio e transgressor. Vagarosamente, a história de Nina começa a se misturar com a história dos próprios cisnes e, quando menos percebemos, já não é possível separar ficção e realidade, vida e espetáculo, inocentes e culpados. Diante do espelho, Nina e seu reflexo parecem se mover em compassos distintos.

Natalie Portman vive Nina, uma frágil bailarina que precisa quase renascer para dar vida aos cisnes de Tchaikovsky.

Este é um filme que, como a dança, é banhado em lágrimas, suor e sangue. Difícil de ser relatado, não há palavras suficientes; este filme precisa ser visto, vivido. É uma experiência quase interativa, uma vez que as cenas costuradas com maestria parecem torcer e contorcer os músculos do próprio espectador. Natalie Portman é uma aparição e seu ponto máximo - a final metamorfose no lindo pássaro negro - é uma cena que permanecerá em minha mente por muitos anos.

Perfeccionista, Nina quer viver seu papel da forma mais intensa e verdadeira possível. Uma dança perigosa com ela mesma sobre um palco que parece construído em cima de cacos de vidro e espelhos quebrados. Esses fragmentos - que parecem ressoar uma alma igualmente fragmentada - revelam imagens confusas, ora nítidas ora camufladas; dia e noite entrelaçados em passos ágeis que parecem surgir não de um, mas de dois pares de pernas. E asas. É a dualidade do cisne.

Palmas incessantes, incansáveis, para o sr. Aronofsky.

Ele merece cada uma delas.

sábado, 8 de janeiro de 2011

ELES TÊM TUDO. MENOS TEMPO

Este é, possivelmente, um dos filmes mais tristes que vi em muitos, muitos anos. Estou falando de "Never let me go", dirigido por Mark Romanek, baseado no livro homônimo de Kazuo Ishiguro que foi considerado pela Time o "melhor romance da década". A história, que mistura realidade e ficção científica, transpira melancolia ao longo de todo o filme. É tudo muito simples e restrito, num minimalismo percebido em diálogos contidos e enquadramentos de câmera que tentam muito mais ser fotografias do que movimento. Ao mesmo tempo, é tudo tão complexo, tão profundo, que emudecerá a muitos. Emudeceu-me imensamente.

No elenco, Keira Knightley, Carey Mulligan e Andrew Garfield. Eles dão vida a três crianças que habitam um imponente orfanato no interior da Inglaterra. Tommy (Garfield), Ruth (Knightley) e Kathy (Mulligan) são amigos de infância e, rapidamente, desenvolvem um complexo triângulo afetivo que não se romperá com a passagem dos anos. 

Acontece que o belo orfanato é, na verdade, um "celeiro" onde clones são criados de forma íntegra e saudável para prover seus "originais" com os órgãos que precisarão eventualmente. Assim, sem segredos, sem mistérios, essas crianças são encarceradas - ainda que muito bem cuidadas - e apresentadas a uma missão de vida pré-determinada. Todos precisam se preparar para "completarem" (o eufemismo elaborado pela organização responsável por todo o processo) e, assim, deixarem de existir em função dos seus originais. A missão máxima, o sacrifício final.

Para alguns, há ainda a possibilidade de trabalhar como assistentes, cuidando dos demais doadores, o que prorroga um pouco o tempo até "completarem". Mas, inevitavelmente, esses jovens se deparam com as mesmas dores, descobertas, dúvidas e deleites de uma vida normal, "real": sonhos, desejo, paixão, ciúmes. Mas o que fazer com essas vidas "de segunda categoria"? É tudo em vão? 

Eis aqui um filme muito difícil de explicar, resenhar. Tenho reflexões silenciosas, pessoais, que não consigo converter em palavra escrita. Essa é uma história erguida, fundamentalmente, na (angustiosa) reflexão sobre "o que estamos fazendo com o nosso tempo?". Todos ali estão vivendo, esperando o momento de "completar", para garantir a continuidade de uma outra vida. Uma é mais importante que a outra. Mas o que dizer do tempo? Ele passa para todos. E todos, sem exceção, "completamos" não é mesmo?

Muitos vão odiar este filme. Muitos vão se perder nele.

Para mim ele é devastador.

Lindamente devastador.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

HAPPY NERD YEAR

Começo o ano assistindo cada minuto da trilogia extendida de "O Senhor dos Anéis" que, além de oferecer os filmes em novas versões com mais de 3 horas de duração (cada), ainda está recheada com mais de 12 horas de material extra, entre documentários, imagens, vídeos e segredos da produção. Vale cada real e cada segundo investidos. É como viver a experiência na Terra-Média novamente; sofrer com o fardo e a responsabilidade daquelas pessoas que deixaram tudo para trás por "algo que valia se lutar". E me preparo, desde já, para a coroação de Aragorn. "Meus amigos, vocês não se ajoelham para ninguém", diz o novo rei aos pequeninos hobbits. Choro todas as vezes.