quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

AO ANO QUE VAI

Certa vez, recebi uma mensagem de fim de ano que me desejava "nada"; que eu tivesse um ano "cheio de nada" e que ficasse ao meu critério as escolhas, decisões e caminhos para fazer do "nada" o "tudo" que eu bem quisesse. Desejar "nada" numa virada de ano me parece a coisa mais sensata do mundo e talvez por isso eu não me esqueça nunca destes votos. Não é uma questão de meramente deixar de criar expectativas. É muito mais que isso. É começar um novo ano, uma nova corrida pelo calendário, sem planos muito definidos ou metas a serem atingidas. Isso engessa demais aquilo que deveria ser surpresa. E acaba estragando a festa porque, provavelmente, muitos dos planos não serão alcançados tampouco as promessas cumpridas. Não falo isso como um pessimista, mas porque é a realidade dos fatos. Um ano é um ser mutante, que se transforma como um camaleão, de acordo com os eventos que vem e que vão. Desejar "nada", portanto, é absolutamente razoável. Desejo a mim, a todos, a quem interessar possa, um novo ano cheio de "nada", também. E até o ano que vem. Um ano de "tudo".

PARA VER E OUVIR: JOHN MAYER - "IN YOUR ATMOSPHERE" (LIVE IN LA)

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

ILUSTRANDO

"Napoleon I" - Toulouse-Lautrec

LINHAS QUE SE CRUZAM, SEM PUDOR

Posso dizer que somos parceiros. No crime, no amor e na guerra. Amamos e brigamos sem medo de testar os limites. Como gata e cachorro. Uma gata manhosa, misteriosa, delicada, dengosa, geniosa, temperamental. Um cachorro estabanado, sensível, ansioso, carente, de bom coração e alma pura, mas dado às preguiças e os excessos do dia. Mas que juntos funcionam, apesar dos atritos, mas que se misturam sem dificuldade. Porque somos adultos, crianças, técnicos e sonhadores. Alquimistas, astrólogos, tímidos descobridores. Sou vela, você é vento. Sou árvore, você é água. Sou flecha, você arco. Soldados e pacifistas. Somos tudo o que queremos, mesmo quando não queremos ser nada. Nem sair da cama. Adoro quando discutimos com muita categoria os assuntos de que sabemos muito pouco a respeito. Quando refletimos e argumentamos sem titubear sobre coisas que, lá no fundo, nem conhecemos muito bem. Assim discutimos muito da arte, da música, da culinária, da história, do tempo. E nunca somos falsos nem superficiais. Porque, sim, sabemos de tudo, sabemos de muito. Mas não nos ocupamos tanto com os detalhes. E jamais somos falsos. É que nós jogamos pela janela os manuais de instruções, porque preferimos os choques nos dedos às letras miúdas que dizem nada, ou quase nada, para nos guiar do ponto a ao b e então ao c. Somos o que der na telha. Mesmo que na telha não dê nada, apenas chuva. E queremos correr, para todos os lados, em todas as direções, a todos os lugares. Fugimos pela alegria de fugir. E adoramos sair à francesa, sem diplomacia. Não gostamos dos telefones nem das campanhias. Ok, às vezes até gostamos. Preferimos as sombras à luz, em alguns momentos. Em outros, tudo o que mais queremos é o sol queimando o rosto. Somos animais alados e bichinhos tímidos que adoram o calor das suas tocas. Somos heróis e mitologias. Somos signos e estrelas. Príncipes de planetas distantes. Somos cores em um quadro sem molduras. Somos linhas paralelas que se cruzam, todo o tempo, sem pudor. E assim seguimos.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

CAÇADORES DE SONHOS

Por onde começar, ao falar do "Caçador de Pipas"? Apesar de não ter lido o best-seller, já havia me interessado desde o começo pelo filme, ao saber da direção de Marc Foster ("Em busca da Terra do Nunca"). Tenho dificuldade em costurar tudo o que senti ao acompanhar uma história tão comovente, tão contundente e, ao mesmo tempo, tão encantadora. A amizade de Amir e Hassan trouxeram em mim sorriso e lágrima, sem conflito. Os dois meninos são personagens de um tempo e um lugar que parecem ter sido esquecidos por Deus. E esse conto de amizade, que atravessa anos e oceanos, é que faz de o "Caçador de Pipas" uma belíssima história de redenção, sobre o surgimento de possibilidades quando tudo parecia perdido. Numa terra desolada - Cabul, no Afeganistão - Amir retorna, para tentar desfazer equívocos infantis do passado. E o faz, com heroísmo e iluminação. Mas esse é apenas um aspecto, uma viga para sustentar os eventos que se passam. O que é mais importante, nesta história tão importante, é a idéia de que haverá sempre a esperança. E isso nos ensinam as pipas e seus caçadores inocentes. Que mesmo nos céus mais negros ainda pode voar a esperança, porta-voz de que sempre haverá um sol para todos. Essa é uma história apaixonante, sobre caçadores de um sonho. O sonho de um lugar livre, de pessoas livres, onde há música, flores e pipas voando alto, no céu.

SOBRE O AMOR INCONDICIONAL

Naturalmente, fui um dos milhões de espectadores que levaram "Marley e Eu" ao topo das bilheterias no feriado de Natal. Sendo um "dog person" incorrigível e tendo amado o livro homônimo, não teria o menor sentido se eu não fosse ver o filme (e desidratar um pouco os olhos, sobretudo nos momentos finais). A adaptação é fiel e narra belamente as peripécias do "pior cachorro do mundo". Apesar de não ser fã dos dois atores principais, acho que Owen Wilson e Jennifer Aniston não decepcionam, ainda que a estrela principal seja o cão; ou melhor, os 22 cães utilizados para representar o amadurecimento - em 13 anos - de Marley (cujo nome é inspirado no famoso cantor jamaicano). Não há nada de exepcional ali, a não ser uma história de pessoas normais e de um cachorro fora do normal que modifica - para melhor e pior - a vida de uma família inteira. Marley dá todas as provas que é uma catástrofe. Mas, também, de que é uma bênção, um tesouro, um ser que jamais será esquecido. Como não foi. O livro e o filme são provas de que as memórias desta história de amor são eternas. E as palavras do dono, John Grogan, resumem tudo muito bem quando ele nos diz que a um cão basta muito pouco, apenas um graveto. E pouco importa se somos ricos, negros, brancos, pobres. A um cão basta nossa companhia, nosso amor, que ele retribuirá eternamente, incondicionalmente. Só quem experimentou verdadeiramente essa relação tão mágica sabe o poder destas palavras. O amor, a amizade de um cão, é um fenômeno que nem as palavras conseguem explicar. É algo sentido, da alma, do coração.

SEGUNDOS SEM PREÇO


"A Família Savage" (The Savages) é um filme muito interessante. Não é dos mais fáceis de ver, passa longe de argumentos óbvios e de clichês. É dramático, sem apelar ao melodrama. É delicado e introspectivo. Uma imagem triste, de tons gris e frio de inverno, mas que se costura de forma a nos oferecer um final muito bonito. As atuações excelentes de Laura Liney e Philip Seymour Hoffman são convidativas, mesmo num cenário desconfortável: o internamento do pai deles, diagnosticado com alguma espécie de demência. Os dois irmãos, antes separados e vivendo vidas medíocres e egoístas, se vêem obrigados a atender o chamado e cuidar de um pai que foi ausente, mas que precisa de ajuda. Assim, percorremos uma história melancólica, mas com pitadas de humor e sarcasmo - aliás, como é a vida - enquanto vamos refletindo sobre como tudo é tão finito, confuso e passageiro. Existe, no entanto, uma mensagem bonita, muito silenciosa, com pouca publicidade durante o filme. A idéia de que a reinvenção de nós mesmos é possível. E que devemos abraçar mais movimento e aceitarmos a renovação por mais difícil e distante que ela possa parecer. E que cada pedaço da vida, qualquer segundo, qualquer último segundo, não tem preço. E valerá sempre ser vivido. Até o final.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

TOO COOL FOR SCHOOL


Ensaio feito com Obama, nos anos universitários. As fotos da TIME revelam o novo presidente dos Estados Unidos. O presidente da mudança. Definitivamente, "too cool for school".

OUVINDO


Sara Bareilles - One Sweet Love


Just about the time the shadows call
I undress my mind and dare you to follow
Paint a portrait of my mystery
Only close my eyes and you are here with me
A nameless face to think I see
To sit and watch the waves with me till they're gone
A heart I'd swear I'd recognize is made out of
My own devices....Could I be wrong?

The time that I've taken
I pray is not wasted
Have I already tasted my piece of one sweet love?
Sleepless nights you creep inside of me
Paint your shadows on the breath that we share
You take more than just my sanity
You take my reason not to care.

No ordinary wings I'll need
The sky itself will carry me, back to you
The things I dream that I can do I'll open up
The moon for you

Just come down soon
The time that I've taken
I pray is not wasted
Have I already tasted my piece of one sweet love?

Ready and waiting for a heart worth the breaking
But I'd settle for an honest mistake in the name of
One sweet love.
Savor the sorrow to soften the pain sip on
The southern rain
As I do, I don't look don't touch don't do anything
But hope that there is a you.
The earth that is the space between,
I'd banish it from under me...to get to you.
Your unexpected love provides my solitary's
Suicide...oh I wish I knew

The time that I've taken
I pray is not wasted
Have I already tasted my piece of one sweet love?
Ready and waiting for a heart worth the breaking
But I'd settle for an honest mistake in the name of
One sweet love

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

THE GOODBYE SONG

Posso assistir mil vezes a "Lost in Translation" e serei arrebatado mil vezes pela emoção da seqüência final. Um abraço solitário na multidão. O adeus impossível, a certeza de que tudo é efêmero e que temos que nos agarrar desesperadamente aos segundos especiais porque eles nunca mais estarão de volta. "Não voltemos nunca mais aqui; não seria tão divertido". "Encontros e Desencontros" - obra-prima de Sofia Coppola - é a compilação de tudo que me comove. Em uma hora e meia de filme estão organizadas minhas reflexões pessoais mais importantes, meus devaneios mais angustiosos. Meu eterno filme de cabeceira. Número 1 incontestável: a concretização, a materialização, pela primeira vez, de tudo aquilo que eu sempre imaginei só fazer parte do movimento das borboletas inquietas no meu peito. Eis a seqüência final, com a agridoce música do adeus, "Just Like Honey". Uma cena que coroa este filme como uma pedra preciosa incomparável. A cena que vejo, em silêncio, mil vezes.

NASCIMENTO

Faltando poucos dias para o tão aguardando Natal, tive um pensamento óbvio, mas que me comoveu profundamente, como uma epifania. Justamente isso. O "Natal". Percebi, verdadeiramente, que nos juntamos, há mais de dois mil anos para lembrar, com felicidade, o nascimento de um menino, tão pobre, que nasceu em uma manjedoura. Percebi como é poderosa e tocante essa imagem. Essa IDÉIA. E isso independe de religião, de credo, de fé. Falo da força, da importância, deste ser iluminado que um dia veio ao mundo, para mudar o mundo e definir novos parâmetros na história: antes e depois Dele. Já são mais de dois milênios e ainda nos reunimos para celebrar que Ele, um dia, nasceu. Me comove muito pensar o Natal sob essa perspectiva. E faz tudo ser ainda mais bonito.

ILUSTRANDO

"Christina´s World" - Andrew Wyeth

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

"ESTES SÃO... OS ORIGINAIS?"

Em minha opinião, eis a cena mais tocante do filme "Amadeus", sobre a vida do compositor austríaco, Wolfgang Amadeus Mozart. Nela, Antonio Salieri, seu antagonista (fã ardoroso) folheia as partituras originais de Mozart, incrédulo com tamanha beleza e perfeição. Ele se espanta ao tomar conhecimento de que as partituras em suas mãos não são cópias, mas os trabalhos originais, feitos sem uma correção sequer. "Era como se tivessem sido ditadas por Deus". Os olhos fechados, a profunda comoção, a música ecoando APENAS em seus ouvidos enquanto vira página após página, demonstram o êxtase e a surpresa absoluta de Salieri. E, principalmente, a constatação de sua profunda mediocridade; jamais, nem em outra vida, ele conseguiria compôr como Mozart e teria que se conformar com isso. Para mim, essa cena vale cada centímetro do Oscar ganhado merecidamente por F. Murray Abraham.

O MAIS BELO DE TODOS OS DISCURSOS

Para ver, ouvir (e chorar): Kenneth Branagh, no papel do jovem rei Henrique V. A cena se passa em pleno campo de batalha, onde o rei discursa de forma comovente. Trata-se da obra-prima "Henry V", baseada em peça homônima de William Shakespeare. Neste famoso discurso, o rei Henrique clama suas tropas à luta. E em lembrança do Dia de São Crispim, ele oferece palavras inspiradoras para soldados exaustos que acabam fazendo história contra o colossal exército francês na batalha de Agincourt. "We few... we happy few... we band of brothers...".

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

ILUSTRANDO

Famosa foto do protesto na Praça Tian'anmen ("Paz Celestial"), em Pequim (1989)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

"ROCKET MAN"


É tão difícil, tão doída, essa vida de astronauta, dividido entre dois mundos. Voando de um lado para outro, e de volta, sempre em busca de algo, mas sempre também deixando tanto para trás. É impossível guardar na palma da mão o que oferecem os dois cantos do infinito, ter todas as estrelas no mesmo lugar. São dois sóis e dois campos de pouso; curtas permanências, pedaços que vão sendo deixados no caminho, enquanto me esforço em guardar outros; é como se eu tivesse uma grande bolsa, com pequenos furos por onde acaba escapando parte do que eu tento guardar. Do meu horizonte solitário reflito sobre o desesperado desejo de não abrir mão de nada.

"I miss the earth so much... I miss my wife..."
"I miss the earth so much... I miss my mom..."
"It´s lonely out in space..."

No fim das contas, é solitária a viagem. E apenas ela garante a ponte entre os planetas, para que se possa fingir "ter tudo" e que tudo está sob controle, enquanto vejo os planetas, tão pequeninos, sob os meus pés. Mais perto do céu, fico também mais próximo de Deus e, assim, dou mais acesso às preces sinceras que digo em silêncio. Para que Ele ouça, quem sabe, o meu pedido de que "estejamos todos juntos, novamente, no mesmo lugar". E enquanto esse dia não chega, sigo voando, queimando combustível por entre os astros, nas viagens contínuas, de um lugar para o outro. E de volta.

sábado, 6 de dezembro de 2008

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

BLADE RUNNER

25 anos, chegava ao Brasil um dos filmes mais visionários já feitos até hoje: "Blade Runner". Ficção científica da melhor qualidade, o filme é impactante até hoje. Encanta, instiga, impressiona. Posso ver a gueixa no telão luminoso mil vezes e ainda assim vou achar a imagem um absurdo. É um conjunto de coisas perfeitas: a música incomparável de Vangelis, a fotografia, os planos, o figurino futurista e retrô, os carros voadores, os zigurates gigantescos no horizonte com pôr-do-sol. Sem contar elenco de primeira grandeza, com ninguém menos que Harrison Ford e Rutger Hauer. Até hoje acho a seqüência final um dos momentos mais especiais do cinema; coroada com o comovente discurso do androide Roy; a chuva caindo sobre os dois combatentes, tão exaustos. O céu negro, poluído. A sensação desesperada de apego à vida que está se esvaindo e com ela, memórias tão especiais. "I´ve seen things...". Primoroso e inesquecível.

TENTE OUTRA VEZ...

Eu até tento me esconder, confesso, mas ele sempre me acha. Não tem jeito. Brinco, desfarço, desconverso. Finjo não me importar - e até gostar da idéia. It´s one more, alright. E ainda (e sempre, sempre, sempre) em busca do tempo perdido. Mas tudo bem, não tem problema. Ano que vem eu tento novamente...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

ILUSTRANDO

"Noite estrelada" - Van Gogh

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

FRIENDS

Engraçado. De repente, senti imensa saudade de "Friends". E saudade do tempo em que eu via "Friends". Do contexto. Da circunstância. Da importância do seriado na minha vida de então. Pouco me importa o quão alienado ou submetido à cultura de massa isso me torne. Realmente não me importa. De repente fui tomado por saudade e nostalgia daquelas pessoas, que um dia significaram tanto para mim, e que hoje não faço a menor idéia do que têm feito de suas vidas. Quero dizer, onde quer que eles estejam, no plano dos devaneios surreais. Senti falta deles, hoje.

"SALÃO DOS OSSOS"

Retornar ao "Salão dos Ossos" é necessário, ocasionalmente, para um valioso banho de energia; para o descanso do espírito e bálsamo para a alma. É onde as armas, então fracas, ganham vida novamente. E assim é possível voltar ao combate. Até que, novamente, seja preciso voltar.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

TEMPO QUE PASSA


Esse ano vôou. Cliché inevitável. Ainda ontem eu me realizava com os pequenos mimos e caprichos de Natal, ao redor da árvore recém decorada. As filas nas lojas, as descobertas de última hora; aquela ansiedade infantil, à espera da manhã de presentes e café especial, na cama. Sem contar a esperança diante de um ano que em breve começaria. "O que traria 2008"? Ele trouxe muito. Muito. E tirou pouco, devo confessar em agradecimento. E enquanto adornamos nosso pequeno pinheiro, que se equilibra meio desajeitado sobre a cômoda egípcia, comecei a tecer pensamentos. Aos poucos vejo surgir sob os pés do pinheiro nossos pequenos desejos deste ano, que satisfazem nosso delicioso materialismo. Constato que o ano vôou. Tempo que passa. Amanhã já é ontem. Não tem jeito. E o que trará o 09? Aguardar, sem medo, aprendi.

ILUSTRANDO

"A velha cidade" - Kandinsky