terça-feira, 31 de março de 2009

PARA VER E OUVIR: PINK FLOYD - "US AND THEM" (MÁGICO DE OZ)

ILUSTRANDO

"Mosaico do Sol" do Parque Güell em Barcelona - Antoni Gaudi

sexta-feira, 27 de março de 2009

UMA HISTÓRIA SOBRE SAUDADE

A estréia literária da americana Audrey Niffenegger é um tesouro imediato e precioso para a cultura. "A mulher do viajante do tempo" (The time traveler´s wife) narra a história de Henry e Claire, que se conhecem em seus vinte e poucos anos e se apaixonam. Ele é bibliotecário, ela, estudante de arte. Os dois se casam e seguem juntos a vida. Tudo isso seria absolutamente comum se Henry não sofresse de um raro distúrbio genético: ocasionalmente, seu organismo se projeta para o futuro ou o passado, de maneira que ele viaja no tempo - literalmente e contra a sua vontade - fazendo com que (re)visite momentos emocionalmente importantes de sua vida, inclusive "conhecer" sua futura mulher aos 6 anos de idade. Os deslocamentos são imprevisíveis e fazem com que Claire precise se acostumar com o fato de que seu marido desaparece, de tempos em tempos. Essa é uma história de beleza arrebatadora, comovente em cada página. Uma história sobre o amor e a saudade. Nas palavras do Publishers Weekly, "uma sublime história de amor... Deixa no leitor a sensação da riqueza e da estranheza da vida".

PARA VER E OUVIR: CHICO BUARQUE - "JOÃO E MARIA"

quinta-feira, 26 de março de 2009

(QU)EM BUSCA DO CONTO DE FADAS(?)

Não sei ao certo o quanto busco - ou se já me cansei - do conto de fadas. A primeira pergunta que me faço é: existe? é viável? A verdade é que não há (mais) contos de fadas, na medida em que não há príncipes nem princesas, castelos ou dragões. Os contos permanecem nos livros, desenhos, filmes e histórias de ninar, onde são intocados, onde toda a mágica é possível, onde não há a carga absurda de expectativas (e decepções), inseguranças, trabalho frustrante e contas a pagar. Reis pagam aluguel? Princesas lavam roupa? Príncipes chegam exaustos do trabalho? Castelos se limpam sozinhos? Carruagens andam sem gasolina? É por essa e tantas razões que estou cada vez mais certo de que ninguém deve correr em busca dos contos de fadas, porque eles não estão em canto algum para serem achados. Eles existem, apenas, nos corredores dourados do nosso imaginário, seduzindo maliciosamente os nossos desejos mais sinceros sobre a vida real. Não é que me tornei um pessimista - acho nem ser capaz de sê-lo - mas aqui, no mundo de asfalto tão longe dos bosques, tudo funciona de forma diferente. Como outra dimensão. Uma realidade meio crua e insossa, onde a Branca de Neve seria considerada promíscua; a Bela Adormecida, preguiçosa; Cinderela seria uma oportunista e Alice, uma viciada em alucinógenos. A Bela não iria se apaixonar pela Fera, da lâmpada só iria sair azeite e Chapeuzinho Vermelho estaria ocupada demais para visitar sua avó. João veria crescer uma tímida muda de feijão e Peter Pan, por fim, estaria perdendo noites de sono sem saber como fechar o mês fora do vermelho. Longe de tantas páginas coloridas e imagens encantadoras, a coisa mais sensata a se fazer é viver com o desprendimento de espírito e a serenidade de tentar a "vida possível", como ela realmente é: com toda a beleza e toda feiúra, com alegrias fugazes e rotina massante. Com todas as falhas perdoáveis entre raras qualidades. Com a consciência de que somos sós e, portanto, a solidão deve ser abraçada e não combatida. Com a certeza de que os dias serão parecidos mesmo e que caberá a cada um de nós sobreviver a costura entre eles, que podemos procurar fazer de forma um pouco mais colorida. Sem tanto "era uma vez", mas, sim, "tente outra vez".

terça-feira, 24 de março de 2009

quarta-feira, 18 de março de 2009

PARA VER E OUVIR: SARA BAREILLES - "FAIRY TALE"

FLERTANDO COM O IMPOSSÍVEL

O maravilhoso filme "Albergue Espanhol" (L´auberge espagnole), de Cédric Klapish, é uma daquelas histórias deliciosas que nos convidam a flertar com o impossível. Ao ser uma metáfora competente da Europa, um micro-continente, de múltiplas culturas, idiomas e personalidades, o filme nos propõe a idéia de que é possível viver de forma mais simples, mais desapegada, descomplicando a existência que - em teoria - deve ser fundamentada em empregos enfadonhos e pagamento de contas. O "Albergue Espanhol" é, essencialmente, uma fuga de tudo. Primeiro, fuga do protagonista, Xavier Rousseau, que sente a urgência de deixar Paris em busca de expandir seus horizontes. Segundo, fuga para nós, expectadores exaustos da mediocridade das nossas vidas banais, que nos sentimos parte daquele grupo de pessoas, de vida livre e boêmia, no coração pulsante de Barcelona. Barcelona, em si, é outra metáfora: calor, sangue, paixão, sol, para uma vida que precisa vibrar e não ser consumida pelo frio das insuportáveis responsabilidades da vida adulta. Acompanhamos, quase de forma voyerista, jovens estudantes de todos os cantos, com suas crises, dúvidas, inquietações e alegrias, enquanto festejam juntos a satisfação de serem justamente jovens, de estarem vivos, e de terem todo o tempo do mundo em suas mãos. Tornamo-nos íntimos. De tudo. E naturalmente nos comovem a despedida, o avião de retorno, o fim da festa que sabemos que não pode ser para sempre. E assim encaramos o retorno à realidade, que é lúgubre, que está distante da felicidade vivida, dos amigos que passam a ser memórias e fotografias. O reencontro de Xavier Rousseau com Paris tem um desfecho que nos é quase previsível. Sentimos absoluta cumplicidade com sua reação ao retorno e nos pegamos, mais uma vez, flertando com o impossível.

terça-feira, 10 de março de 2009

AUTO-RETRATO


O AUTO-RETRATO
Mário Quintana
(Apontamentos de História Sobrenatural)

No retrato que me faço - traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco - pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!

sexta-feira, 6 de março de 2009

PARA VER E OUVIR: SHERYL CROW - "ALWAYS ON YOUR SIDE"

MICROCOSMOS


Curioso imaginar que algo que um dia poderia ter sido do tamanho do infinito também poderia caber numa caixa. Seria tudo assim, tão simples? "My yesterdays are all boxed up and neatly put away, but every now and then you come to mind; ´cause you were always waiting to be picked to play the game, but when your name was called, you found a place to hide; when you knew that I was always on your side".

quinta-feira, 5 de março de 2009

quarta-feira, 4 de março de 2009

THE SECOND COMING


The Second Coming
William Butler Yeats
*
Turning and turning in the widening gyre
The falcon cannot hear the falconer;
Things fall apart; the centre cannot hold;
Mere anarchy is loosed upon the world,
The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere
The ceremony of innocence is drowned;
The best lack all conviction, while the worst
Are full of passionate intensity.
Surely some revelation is at hand;
Surely the Second Coming is at hand.
The Second Coming! Hardly are those words out
When a vast image out of Spiritus Mundi
Troubles my sight: a waste of desert sand;
A shape with lion body and the head of a man,
A gaze blank and pitiless as the sun,
Is moving its slow thighs, while all about it
Wind shadows of the indignant desert birds.
The darkness drops again but now I know
That twenty centuries of stony sleep
Were vexed to nightmare by a rocking cradle,
And what rough beast, its hour come round at last,
Slouches towards Betlhem.

SAILING TO BYZANTIUM


Sailing to Byzantium
William Butler Yeats

That is no country for old men. The young
In one another's arms, birds in the trees
- Those dying generations - at their song,
The salmon-falls, the mackerel-crowded seas,
Fish, flesh, or fowl, commend all summer long
Whatever is begotten, born, and dies.
Caught in that sensual music all neglect
Monuments of unageing intellect.
*
An aged man is but a paltry thing,
A tattered coat upon a stick, unless
Soul clap its hands and sing, and louder sing
For every tatter in its mortal dress,
Nor is there singing school but studying
Monuments of its own magnificence;
And therefore I have sailed the seas and come
To the holy city of Byzantium.
*
O sages standing in God's holy fire
As in the gold mosaic of a wall,
Come from the holy fire, perne in a gyre,
And be the singing-masters of my soul.
Consume my heart away; sick with desire
And fastened to a dying animal
It knows not what it is; and gather me
Into the artifice of eternity.
*
Once out of nature I shall never take
My bodily form from any natural thing,
But such a form as Grecian goldsmiths make
Of hammered gold and gold enamelling
To keep a drowsy Emperor awake;
Or set upon a golden bough to sing
To lords and ladies of Byzantium
Of what is past, or passing, or to come.

terça-feira, 3 de março de 2009

GENGIS KHAN E O FALCÃO

Num dia qualquer, Gengis Khan e sua corte saíram para caçar. Enquanto os guerreiros carregavam arcos e flechas, Gengis Khan levava consigo seu fiel falcão ao braço. Segundo o imperador mongol, aquela ave era mais precisa do qualquer flecha, porque via o que os homens não eram capazes de ver. Aquele, porém, não fora um bom dia para caçar e o grupo acabou voltando de mãos vazias. Frustrado com a caçada sem resultados, Gengis Khan decidiu caminhar sozinho e, após um longo tempo, estava exausto e com sede. Sem encontrar água corrente para beber - os rios haviam secado por causa do verão rigoroso - Gengis Khan encontrou um filete de água que gotejava num rochedo. Rapidamente soltou o falcão e sacou uma taça de prata que demorou muito tempo para encher. Quando ele preparava-se para beber, o falcão lançou-se contra sua mão, fazendo a taça voar longe. Mesmo furioso, Gengis Khan imaginou que também a ave estivesse com sede. Caminhou em direção à taça e voltou a enchê-la, pacientemente. Quando a água estava já na metade, o falcão voltou a atacar sua mão, derramando a taça chão novamente. Gengis Kahn amava aquele animal, mas não podia mais perdoar aquele desrespeito. Sacou a espada da cintura e com um golpe certeiro, atravessou o falcão em seu peito. Ainda decidido a matar sua sede, Gengis Khan subiu o rochedo em busca da fonte. E para a sua surpresa, descobriu uma serpente venenosa morta na nascente. Se ele tivesse bebido daquela água, teria morrido em instantes. O falcão tentava protegê-lo. Ele voltou ao acampamento com o falcão morto em seus braços e mandou fazer uma reprodução em ouro da ave. Nas suas asas mandou gravar: "qualquer ação motivada pela raiva é uma ação condenada ao fracasso".

segunda-feira, 2 de março de 2009

O MEU MUNDO FLUTUANTE

Me pergunto tanto - mesmo mentalmente - a que mundo pertenço. "A que mundo pertenço?". Esse inquieto questionamento é banhado num desejo desesperado de habitar um espaço de segurança plena. Se é que isso é possível. Lar, na essência absoluta da palavra. Home. "Home is where the heart is"(?). Já não sei. É como se pulsasse em mim uma ausência do conforto inegável. O conforto espiritual, físico, emocional. O conforto de poder ser, pensar, dizer, ir, fazer ou não o que bem se quiser. O conforto de um planeta distante das mesquinharias mundanas. Onde o que importa é o plano maior. O conforto de ser amado pelo que se é; melhor, o conforto de não precisar se adequar tanto. Então sinto como se estivesse angustiosamente aprisionado entre dois mundos aos quais não consigo pertencer verdadeiramente. Um, onde há conforto e estagnação. Outro, onde há solidão e movimento. "A que mundo pertenço?". Então descubro que pertenço a esse meu mundo flutuante. Pertenço a mim mesmo. E a jornada é solitária. Sempre solitária.