terça-feira, 26 de agosto de 2014

SOBRE ESTRELAS CADENTES (OU DISCOS VOADORES)



Belíssimo timelapse feito por Milton Tan no aeroporto de Changi (Singapura), um dos mais movimentados do mundo. A edição acelerada transforma os aviões em estrelas cadentes (ou discos voadores). Maravilhoso. Via Chongas.

sábado, 23 de agosto de 2014

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

UM REINO AO ACASO


O sol morno, na janela, refletia um jogo de sombras quase poético sobre os seus dedos compridos. A mão segurando delicadamente a taça de água; as unhas bem feitas, a pele lisa, os pelos curtos, dourados, quase imperceptíveis. Ela ali, em silêncio, meditando sobre o horizonte, a mão ocasionalmente amparando o queixo. 

Um suspiro. 

Os lábios roçavam gentilmente no vidro umido, revelando um brilho repentino, que contornava a planície vermelha que era a sua boca pequena. O nariz angular, quase beduíno, os olhos expressivos, cheios de curiosidade, os cabelos negros, ondulados, cascateando sobre os ombros descobertos. Um vestido discreto, florido, de verão, emoldurando o corpo nem magro, nem gordo, nem perfeito. Um corpo feminino, delicado, apoiado sobre pernas brancas que terminavam num tênis surrado. Uma fotografia mental, um momento passageiro, já desaparecendo, aquela mulher linda. 

E ele ficou ali, parado, pela duração de um tempo que ele não queria que passasse. A vontade de guardá-la numa caixa mágica, fazê-la eterna. As circunstâncias demandando um beijo roubado, sem explicação. 

Ele sorria. Ela sorria. Dedos brincando de se encostar sobre a mesa. Pés esbarrando de propósito. Pele que arrepia, vento no cabelo, borboletas de barriga. Aquela indecisão sobre o que comer; cardápios escancarados como mapas de tesouro, tudo sempre parecendo tão bom.

A vida era boa, era tudo tão simples. Naquele canto sem donos nem leis, naquele reino fundado ao acaso.

"Você desperta em mim a vontade de viver para sempre".

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

GIFS DA DEPRESSÃO

O(a) chefe ou o cliente revisam algo que eu fiz na minha frente...





domingo, 17 de agosto de 2014

AMOR(ES) PLATÔNICO(S)

American Horror Story me presenteou com não um, não dois, mas TRÊS amores platônicos. Dois deles em uma só temporada (haja coração!) e o terceiro na temporada mais recente, sobre o covil de bruxas. Três paixões arrebatadoras e irrecuperáveis... 


Alexandra Breckenridge, a "empregada" do Dr. Harmon que - por acaso - mantém o seu consultório em casa. Moira só é vista assim pelos homens, já que as mulheres a enxergam como uma velha decrépita. Acho difícil que uma mulher aceitaria os serviços da Moira... linda atriz, coisa de outro mundo.


E o que dizer de Kate Mara? Apesar do seu papel - assustador - como (ex?) amante do Dr. Harmon, é impossível resistir à beleza de Mara. Ela dá muito (muito!) medo como a jovem universitária Hayden, mas tirando esse papel, é impossível não se apaixonar por Mara. 


Por fim, a jovem bruxa Emma Roberts. Há algo... "bruto" a respeito da beleza de Emma. Não sei dizer; algo feroz, felino, incompleto, desarrumado, que eu simplesmente não consigo deixar de reparar. Sobrinha da Julia Roberts, era de esperar. Outra paixão arrebatadora, no papel da sensual (e perdida) bruxa Maddison. 

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

RESTAM APENAS OS AMANTES



Novo filme do Jim Jarmusch. "Only lovers left alive". Parece bom, bom demais...

GIFS DA DEPRESSÃO

Faço compras em dólar, na empolgação, e depois vejo a conta quando chega a fatura...

terça-feira, 12 de agosto de 2014

"GÊNIO, VOCÊ ESTÁ LIVRE"

Pena ouvir da morte trágica do Robin Williams. Mais uma alma incrível, derrotada pela depressão, álcool, cocaína. Triste; fará falta. Roubando as palavras da Academia, uma frase que diz tudo: "gênio, você está livre".

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

QUEM TEM MEDO DA JESSICA LANGE?

Eu não; me apaixonei por esta mulher incrível e atriz fenomenal. 98% do que me motiva a ver "American Horror Story". A mulher simplesmente domina este seriado.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O DESESPERO DE PERDER A SI MESMO

William Utermohlen, um artista plástico norte-americano (nascido em 1933), foi diagnosticado com o mal de Alzheimer em 1995 e morreu em 2007. Os seus auto-retratos, ao longo destes anos, mostram a gradual perda de si mesmo, num caleidoscópio melancólico, de uma beleza triste. Seu último auto-retrato é de cortar o coração.







PARA VER E OUVIR: MICHAEL BUBLÉ & LAURA PAUSINI ("YOU'LL NEVER FIND ANOTHER LOVE LIKE MINE")

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

ANTUMBRA


O dia ainda despertava preguiçoso, no horizonte. Aqueles tons tímidos, ainda lilases, o vento gelado, os últimos suspiros da noite dando lugar para o começo da manhã.

O homem caminhava, sozinho, no vasto cemitério. Aquele grande labirinto de lápides brancas, como uma grande metrópole de prédios minúsculos em que ele caminhava, sem pressa, feito um gigante. Passo ante passo, cerimonialmente, rumo ao seu destino.

Parou, então, contemplando por alguns minutos a lápide recente diante dos seus olhos. O nome, ali encravado, deixando poucas dúvidas sobre quem habitava aquela morada, sob sete palmos de terra ainda fofa.

Abriu então uma sacola plástica, de supermercado, e retirou um saco de um quilo de sal. Com um pequeno canivete, rasgou o plástico, tendo a ajuda do vento para salgar aquela cova fresca.

Fechou os olhos, um sorriso, um suspiro longo, a brisa desgrenhando seus cabelos, causando arrepio.

"Eu sobrevivi".

PENUMBRA


Meu pai era um homem esquisito. Mas no melhor sentido. Acho. Sei lá. Nós nunca duvidamos que ele nos amava, nem a nossa mãe; ou o seu interesse pela nossa vida, as nossas coisas.

Ele estava lá, sempre estava. Mas a verdade é que hoje eu consigo enxergar claramente o que, naqueles anos passados, eu via de forma embaçada. O nosso pai vivia num mundo dentro dele; e que mundo incrível devia ser, porque nós nunca pudemos entrar.

Ele era um poeta, um filósofo, um homem triste - mas não infeliz. A companhia mais engraçada e interessante que eu e meus irmãos tivemos. Nunca, nunca conheceremos outro homem como ele. Suas histórias, seu jeito, seu humor - e mau humor - nosso pai foi o epicentro da nossa juventude; não por acaso ainda o sentimos tão presente entre nós, tão vivo, após tantos anos. Suas histórias rasgando nossos rostos com risos quase geográficos.

"Ah, aquele homem...", mamãe se limitava em comentar; um suspiro, uma saudade que não passava.

Entre todas as suas manias - e não eram poucas - meu pai tinha o hábito quase religioso de folhear o jornal assim que acordava.

"Já chegou?", ele perguntava, ansioso, ainda vestindo seu pijama puído e predileto.

O que pode haver de estranho nisso?, você me perguntaria. Um homem ansioso pelo seu jornal da manhã.

Mas não é que meu pai estivesse querendo ler as notícias, os resultados esportivos ou a corrupção do governo. Não era nada disso. Meu pai pegava o jornal e se desfazia de todas as páginas, apenas para olhar nos obituários. Apenas isso; podíamos jogar fora o resto. E com a sua fiel xícara de café na mão, lia ávido os nomes ali, diante de uma platéia curiosa. Eu, meus irmãos, nossa mãe. Esperando que um dia aquele mistério fosse explicado.

Nunca foi.

"O que você tanto procura nesses obiturários, papai?", perguntávamos, eternamente intrigados com aquele hábito mórbido e curioso.

Ele ficava em silêncio e apenas sorria; jogava então a folha fora, e todos começávamos os nossos dias.

* * *

Um belo dia, numa manhã qualquer, eu despertei com um grito. Meu pai, na sala, quase saltitando, segurando o seu jornal nas mãos, como se tivesse acertado na loteria. Ele me abraçou, beijando o meu rosto.

"Avise a sua mãe que eu precisei sair", falou, lacônico.

Nunca soube o que meu pai fez daquele dia. E que diabos ele enfim achou naquele jornal.

Naquela noite, daquele dia incrível pelo qual todos esperávamos ansiosamente, o meu pai morreu.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

UMBRA


"Aceita café?", a mulher perguntou, interrompendo os seus pensamentos deslocados. Aquela mulher esquisita, os cabelos ressecados por luzes, os dentes sujos de batom, a roupa apertada demais para o seu corpo. Ela transpirava clichês. Como aquele lugar inteiro. Puro clichê.

O investigador particular saiu do banheiro, enxugando as mãos na calça, sentando-se com um suspiro curto. O cabelo ralo, os dentes amarelados por causa de cigarros em excesso, o terno barato e puído, a gravata de tom duvidoso.

"Meu Deus, que diabo eu estou fazendo aqui?".

O homem retirou um envelope pardo, de dentro da gaveta, e depositou-o quase cerimonialmente sobre a mesa. Alisava o papel com as duas mãos, como quem prepara uma massa fina numa pastelaria. Os olhos fixos no seu cliente, aquele silêncio longo demais, já constrangedor.

"Você não vai gostar de ver o que está aqui, rapaz", disse, por fim.

O sol lambia gentilmente a janela mofada daquele trágico escritório encravado no centro da cidade. Aquele cheiro de papel velho, poeira, jornal, nicotina, perfume barato. O som do ventilador velho ralhando, as flores de plástico, a pequena televisão ligada num programa popular de TV. O dia começava a dizer adeus enquanto ele estava ali, diante do investigador, e do envelope que já nem sabia se queria abrir.

Com um gesto curto, alcançou o envelope e folheou a série de fotos que havia dentro dele. Datas diferentes, dias diferentes, roupas que ele mesmo lembrava de tê-la visto usando. Sua mulher, e uma coletânea que escancarava a sua infidelidade. Chegava a ser patético. Ele. Ela. Ambos. Patéticos. 

"Um rapaz bonito que nem você", a secretária gralhou ao fundo, "ficar com uma vagabunda como essa"

Ele sorriu, amargo, em direção à mulher.

"Essa aí não vale um centavo, amigo", o investigador intercedeu. "Mais de vinte anos que trabalho nisso e nunca sei o que dizer nessas horas", suspirou. "Mas essa aí não vale nada, isso eu te garanto".

"Piranha ordinária, prostituta!", a mulher ainda gritava, inconformada.

Ele permaneceu ali, as fotos empilhadas sobre o seu colo, no que pareceu uma eternidade. Sentiu uma melancolia profunda, sentiu-se decadente, frágil. Não era o adultério em si, a sujeira, a mentira. Não era isso, necessariamente. Era o somatório das coisas, o caleidoscópio de lembranças, os arrependimentos que vinham sufocá-lo como uma onda gigante no mar. 

Olhou para o escritório, as paredes decoradas com quadros comprados em supermercado, o investigador em silêncio, com as mãos cruzadas sobre a mesa, a secretária ainda mexendo a cabeça em negativa, o som de uma discussão entre pessoas no programa de auditório. 

"A gente vê tristeza demais aqui", a mulher ainda falava, "chega uma hora que cansa!".

Ele continuou em silêncio. A verdade é que nada daquilo o surpreendia, afinal; e essa era a sua maior surpresa. Tavez fosse preciso apenas a concretude das coisas; a visão do óbvio, a imagem do que ele sempre havia suspeitado. Abriu a carteira, sacou algumas notas e pagou o que devia. O investigador pegou as notas e, sem contar, guardou na gaveta.

"Você sabe o que vai fazer com isso, rapaz?", o investigador perguntou, quase paternal.

"Por hora, nada", ele respondeu.

Apertou a mão do investigador, acenou para a secretária e, com o envelope sob o braço, caminhou em direção a porta daquele canto esquecido do mundo. Levou as fotos até uma lata de lixo, um lugar mais do que adequado, e num gesto discreto, ateou fogo na imundície.

"Por hora, nada".