domingo, 26 de fevereiro de 2012

MINHAS DUAS HORAS COM MARILYN

Estou apaixonado. É assim que me sinto enquanto sobem os créditos de "Sete Dias com Marilyn" (My week with Marilyn), a história de um rapaz inglês que se envolveu com a produção de um filme da estrela. Mais, a história de um rapaz inglês que se envolveu COM a estrela. A trama relata os bastidores de um filme com Marilyn Monroe e Laurence Olivier e retrata um pedaço da personalidade forte e fragmentada da diva americana já mundialmente famosa e cada vez mais afundada na dependência de remédios.
Há algo que assusta na personificação de Michelle Williams. Ela não atua, ela é

Dirigido por Simon Curtis, o filme reúne um elenco estelar que inclui Kenneth Branagh, Judi Dench e Julia Ormond. E Michelle Williams no papel principal. E o que dizer de Michelle Williams... em alguns momentos já não é possível distinguir uma da outra. Um absurdo a atuação desta moça que há anos vem mostrando ser um dos tesouros do cinema contemporâneo (ela está imperdível no papel principal de "Blue Valentine", por exemplo).
Michelle Williams, no papel de Marilyn: uma aparição

Bom, a história. Marilyn acaba de chegar ao Reino Unido, provocando um furacão de emoções e revirando egos e fantasias. O encontro com Sir Olivier é complicado, uma espécie de Davi e Golias da dramaturgia: de um lado, um mito Shakespereano; de outro, uma linda moça que apenas sabe ser linda. Mas as arestas vão sendo aparadas e o filme vai sendo produzido. Em paralelo, Marilyn começa a se envolver com o jovem Colin, um rapaz que sempre sonhara em trabalhar com cinema. Mais um de tantos brinquedos de Marilyn, ele pula de cabeça e é completamente devorado pela atriz que, como lhe é habitual, despensa-o com a mesma velocidade com que o seduziu.
Ela destruiu os nossos corações enquanto se destruía por dentro. A vela queimando em ambos os lados

É um filme simples, sem grandes pretensões. A direção é elegante, marcada por lindos planos e bela trilha sonora. As atuações são sinceras e há um aroma inegável de homenagem em cada cena, como uma declaração tardia de amor. Mas nada disso daria certo não fosse a atuação magistral de Michelle Williams. Porque ela não está interpretando Marilyn. Ela, simplesmente, É Marilyn de uma maneira que chega a ser desconcertante. É preciso algum esforço, vez ou outra, para enxergar a atriz e não o papel. Ela está perfeita, absolutamente perfeita: o olhar sensual e infantil; os gestos, as poses que a imortalizaram; a voz rouca, os trejeitos. É como se Marilyn estivesse de volta. E, por essas raras horas, ela de fato está.
Muitas mulheres e atrizes a imitaram com muito sucesso. Michelle Williams deu vida à Marilyn

Eis aqui um filme lindo, na ausência de adjetivo melhor. Um filme sobre a beleza que envolvia esse mito. Uma mulher que seduziu o mundo enquanto ruía por dentro. Marilyn se especializou em fazer corações em pedaços na mesma proporção em que se fazia em pedaços. E essa aura melancólica permeia o filme com muita sutileza. Como Marilyn, é um filme incandescente, que brilha em todos os seus segundos, mas escondendo algo que jamais saberemos ao certo. A tristeza de Marilyn, a profunda melancolia que a matou.
O que mais dizer... acho que estou apaixonado. Como nossos pais, como nossos avós estiveram um dia

No fim das contas, um retrato fiel de um encontro real, efêmero e impossível como um sonho. Que me fez acreditar que Marilyn está viva e que somos contemporâneos. E que, quem sabe, poderei vê-la novamente. E assim, cá estou eu, como um dos milhares de rapazes dos anos 50. Perdidamente apaixonado por aquela estrela radiante na tela. Aquele objeto inatingível, inalcançável. Aquela deusa imperfeita, preciosa. Cá estou eu, suspirante, inocente, sonhando acordado com estas duas horas inesquecíveis que passei com Marilyn...

Quanta saudade.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

ILUSTRANDO

Steve Kaufmann - "Napoleon"

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A COR QUE ME ROUBA OS OLHOS

Há uma cor. Entre todas as cores. Uma cor que me rouba o sono, os olhos, a serenidade. Uma cor que me quebra o pescoço e me faz mudar o caminho. Uma cor que me corta, feito faca, feito relâmpago. Uma cor que me palpita a caixa guardada dentro do peito. Que me faz tremer, feito criança. Que me desarma, me tira o mistério, me transparece feito vidro. A cor do meu desejo, da sede que habita o meu corpo. A cor da minha voracidade, paixão, entrega. Que me cega. Me doma, me domina, me conquista. A cor que me pacifica, me civiliza, me aprisiona. Vermelho.

PARA VER E OUVIR: CHICO BUARQUE ("TROCANDO EM MIÚDOS")



Uma música que, trocando em miúdos, me desnuda. Um retrato recente do que eu sou. Um retrato de meu tempo de "reparo".

"Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim
Não me valeu
Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim!
O resto é seu

Trocando em miúdos, pode guardar

As sombras de tudo que chamam lar
As sombras de tudo que fomos nós
As marcas de amor nos nossos lençóis
As nossas melhores lembranças

Aquela esperança de tudo se ajeitar
Pode esquecer
Aquela aliança, você pode empenhar
Ou derreter

Mas devo dizer que não vou lhe dar
O enorme prazer de me ver chorar
Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago
Meu peito tão dilacerado

Aliás

Aceite uma ajuda do seu futuro amor
Pro aluguel
Devolva o Neruda que você tomou
E nunca leu

Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde".

Trocando em miúdos, senhor Chico Buarque, as palavras mais perfeitas que li em um bom tempo.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

sábado, 18 de fevereiro de 2012

A MINHA CONDIÇÃO

Eu não faço nenhuma exigência. Não peço nada em troca. A minha única condição é que você entre na minha vida de repente e me faça esquecer tudo, absolutamente tudo, até você aparecer.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

13 DE MARÇO

Dia de me perder.

AMIZADES PROIBIDAS

Com delay de 12 anos, enfim tive o prazer de ver esse imperdível pequeno-grande filme: "JSA: Joint Security Area" ("Zona de Risco", no Brasil e "Gongdong gyeongbi guyeok JSA", original na Coréia do Sul). Dirigido por Chan-wook Park (mesmo de Oldboy) e estrelado pelos atores sul coreanos mais conhecidos no ocidente, Kang-ho Song e Byung-hun Lee, eis aqui um filme absolutamente surpreendente.
Que segredos, que microscópicos segredos, estão guardados na fronteira entre as duas Coréias?

A trama é simples: na tensa fronteira entre as duas Coréias (uma fina extensão de terra não muito maior que meio quilômetro), os dois países possuem plantaram duas torres que se observam o dia inteiro. Numa noite, um incidente mal explicado resulta na morte e ferimentos de oficiais. E, para investigar a situação, uma junta militar suíça (neutra) é convocada para ouvir os dois lados da história. Pouco a pouco, vamos costurando a série de eventos que levaram aos trágicos acontecimentos.

Até então, há uma atmosfera séria, de típico filme de guerra. Mas um giro de 360 graus nos mostra os bastidores do misterioso acontecimento. E então descobrimos que JSA também é um filme sobre amizade - verdadeira amizade - formada por laços proibidos. As duas duplas de soldados que se observavam dioturnamente eram, na verdade, amigos que passavam infinitas horas de tédio juntos, fortalecendo um encontro improvável (impossível) e que acabou resultando numa escalada de sérios eventos que poderiam abalar a situação geopolítica da península.
O filme sobre o mais improvável encontro de todos: o de inimigos jurados

Mas JSA é um filme muito maior que essa breve descrição. É um filme dramático, intenso e muito convincente. Ao mesmo tempo, é leve, doce, inocente e genuinamente engraçado. Um filme para rir e chorar, em iguais proporções, sem exageiro. Absolutamente imperdível.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

PARA VER E OUVIR: SARA BAREILLES ("UNCHARTED")

ILUSTRANDO

Tarsila do Amaral - "A Negra"

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

NAUFRÁGIO

A canção desesperada
Pablo Neruda


Aparece tua recordação da noite em que estou.
O rio reúne-se ao mar seu lamento obstinado.

Abandonado como o impulso das auroras.
É a hora de partir, oh abandonado!

Sobre meu coração chovem frias corolas.
Oh sentina de escombros, feroz cova de náufragos!

Em ti se ajuntaram as guerras e os vôos.
De ti alcançaram as asas dos pássaros do canto.

Tudo que o bebeste, como a distância.
Como o mar, como o tempo. Tudo em ti foi naufrágio!

Era a alegre hora do assalto e o beijo.
A hora do estupor que ardia como um faro.

Ansiedade de piloto, fúria de um búzio cego
túrgida embriaguez de amor, Tudo em ti foi naufrágio!

Na infância de nevoa minha alma alada e ferida.
Descobridor perdido, Tudo em ti foi naufrágio!

Tu senti-se a dor e te agarraste ao desejo.
Caiu-te uma tristeza, Tudo em ti foi naufrágio!

Fiz retroceder a muralha de sombra.
andei mais adiante do desejo e do ato.

Oh carne, carne minha, mulher que amei e perdi,
e em ti nesta hora úmida, evoco e faço o canto.

Como um vaso guardando a infinita ternura,
e o infinito olvido te quebrou como a um vaso.

Era a negra, negra solidão das ilhas,
e ali, mulher do amor, me acolheram os seus braços.

Era a sede e a fome, e tu foste à fruta.
Era o duelo e as ruínas, e tu foste o milagre.

Ah mulher, não sei como pode me conter
na terra de tua alma, e na cruz de teus braços!

Meu desejo por ti foi o mais terrível e curto,
o mais revolto e ébrio, o mais tirante e ávido.

Cemitério de beijos,existe fogo em tuas tumbas,
e os racimos ainda ardem picotados pelos pássaros.

Oh a boca mordida, oh os beijados membros,
oh os famintos dentes, oh os corpos traçados.

Oh a cópula louca da esperança e esforço
em que nos ajuntamos e nos desesperamos.

E a ternura, leve como a água e a farinha.
E a palavra apenas começada nos lábios.

Esse foi meu destino e nele navegou o meu anseio,
e nele caiu meu anseio, Tudo em ti foi naufrágio!

Oh imundice dos escombros, que em ti tudo caía,
que a dor não exprimia, que ondas não te afogaram.

De tombo em tombo inda chamas-te e cantas-te
de pé como um marinheiro na proa de um barco.

Ainda floris-te em cantos, ainda rompes-te nas
correntes.

Oh sentina dos escombros, poço aberto e amargo.
Pálido búzio cego, desventurado desgraçado,
descobridor perdido, Tudo em ti foi naufrágio!

É a hora de partir, a dura e fria hora
que a noite sujeita a todos seus horários.

O cinturão ruidoso do mar da cidade da costa.
Surgem frias estrelas, emigram negros pássaros.

Abandonado como o impulso das auroras.
Somente a sombra tremula se retorce em minhas mãos.

Ah mais além de tudo. Ah mais além de tudo.
É a hora de partir. Oh abandonado.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A FOTOGRAFIA

Com um susto, a caixa despencou sobre sua cabeça curiosa e seu frágil e desocupado corpo. Não havia razão para mexer naquela pilha de caixas há tanto esquecidas. Aquele amontoado de papelão que fedia à abandono. Mas eis que o tédio foi mais importante e ele se viu coberto por uma chuva de fotografias que caiu sobre seu corpo e se espalhou pelo chão. Então ele parou, abaixou-se sobre um joelho que rangeu melancolicamente, denunciando aquelas boas décadas que já haviam sugado quase todo o azeite de suas engrenagens antigas.

Pegou uma foto com suas mãos meio trêmulas. Não sabia quem estava ali. Quem era aquela mulher? Ele se perguntava, em curiosidade angustiada. O que era aquela mulher? Aquela mulher estranha, pensava. Aquela mulher esquecida, perdida; aquele fragmento de memória. Aquela peça que já não encaixava em canto algum de suas lembranças. Como um lapso, algo que não se sabe ao certo se foi ou se não foi. Algo que lhe tocava, feito ferida velha, cicatrizada de forma grosseira.

Aquela mulher. Ele não sabia quem era.

Até que... como um raio, sentiu seu corpo tomado por segundos de franca lucidez. E seu rosto se contorceu, com amargura.

Era ela. Aquela abandonadora de animais.

PRETTY MUCH IT

PARA VER E OUVIR: DUSTIN O'HALLORAN ("OPUS 37")

ALGUNS FILMES PRECISAM DE AR

O que dizer de "Elizabethtown"? Alguns filmes precisam de ar. Esse é um deles. Eu carrego ele comigo, para sempre, onde eu for, quando, com quem eu for. É parte integrante da minha alma, do meu coração, da minha existência. Esse filme que ninguém parece dar muita bola. Esse filme tão essencial para mim. Vejo-o, todas as vezes, como se fosse a primeira vez com a expectativa de que, quem sabe um dia, as pessoas vão entender do que ele se trata. É sempre uma experiência nova para mim ver "Elizabethtown"; é como se o filme se apresentasse com outras cores. Melhor, o meu humor dita que perspectiva vai me interessar ali.

Algo nunca muda, porém. Quero mudar para o Kentucky. Quero casar com a Claire. Sempre.

THE ONE THAT GOT AWAY

Na próxima vez que alguém me perguntar "quem é você?", eu responderei sem titubear:

"Eu sou aquele que conseguiu fugir".

sábado, 11 de fevereiro de 2012

UM FILME PARA SE ABRAÇAR

Que deleite. Não há palavra melhor para definir "O Artista" (The Artist). Um lindo filme que parece brincar com o nosso imaginário. Preto e branco - e mudo - este meta-filme conta a história de um ator de cinema americano da década de 20 e a transformação de sua vida quando a sétima arte se renova e os filmes passam a ter diálogos. O artista, George (vivido magistralmente por Jean Dujardin - aliás por quem já torço pelo oscar de melhor ator), não se conforma com essa transição e se aprisiona no desejo da imutabilidade - algo que acarreta numa escalada de eventos quase trágicos. E, assim, vemos a trajetória deste homem encantador que descobre, em pouquíssimo tempo, o céu e o inferno. Ele que tinha tudo, como um semi-deus, transforma-se num objeto obsoleto, esquecido, desprezado. E sofre tanto. A queda do Olimpo preto e branco, feito um pesadelo irreal. "Os filmes falados não são o futuro", pensa George. Um absurdo de belo. Um absurdo. Um filme para se abraçar. Simples assim.
Um filme lindo, iluminado, genial. Um filme para se abraçar

O QUE HÁ POR TRÁS DAS JANELAS INVENTADAS?

Martin é um jovem webdesigner, que padece de todos os males urbanos como pânico, solidão, sedentarismo, fobia. Todos, menos o suicídio. Mariana é uma linda arquiteta, vivendo um momento de limbo, perdida entre dois mundos, sem saber exatamente o que quer ou que o fazer. Os dois habitam Buenos Aires e partilham muito mais do que jamais imaginariam. Essa é a trama de "Medianeras", filme escrito e dirigido com muita propriedade por Gustavo Taretto.

Martin (Javier Drolas) e Mariana (Pilar López de Ayala) gostam das mesmas músicas, dos mesmos filmes. Ocupam suas respectivas solidões com as mesmas brincadeiras, passatempos e relacionamentos vazios e ocasionais. Mais, os dois moram no mesmo bairro, mesma rua, em prédios que ficam de frente um para o outro.

Os dois habitam os tais "monoambientes", as famosas "quitinetes" do Brasil: ambientes pequenos ("caixas de sapatos"), escuros e claustrofóbicos. Modernos prisioneiros de uma grande metrópole que, com sua arquitetura caótica e opressiva, é a grande vilã do filme e a principal responsável pelos dois - que são perfeitos um para o outro - jamais se encontrarem. Ainda que se cruzem todo o tempo.
Como Wally, Mariana é uma solitária perdida entre a multidão. De sua janela inventada, procurando algo que nem ela sabe exatamente o que é

O nome do filme é uma referência a uma controversa (e mal seguida) lei local. Esses prédios recheados de micro-apartamentos não permitem a existência de janelas, de maneira que as pessoas habitam cavernas escuras, úmidas e desoladas. Até que, pouco a pouco, essas janelas vão surgindo de forma desordenada e ilegal, sem nenhuma regra ou padrão nas paredes cegas que separam esses prédios. As tais medianeras. Centenas de milhares de olhos abertos a marretadas nestes grandes blocos residenciais. Uma desesperada ação de busca à luz. Algo que tanto Martin quanto Mariana fazem e, naturalmente, ao mesmo tempo. 
Martin é outro refém da moderna solidão urbana; em busca diária de reinventar a sua vida

Medianeras é um filme sobre a solidão urbana. Sobre as pessoas solitárias, trancadas em seus apartamentos, vivendo uma vida que, muitas vezes, não se descola do plano virtual. Pessoas perdidas, desencontradas, que sonham todos os dias em esbarrar em algo; ainda que ninguém saiba exatamente o quê. Martin anseia por algo; uma renovação, um reaprendizado, uma reinvenção. Mariana, de sua janela inventada, caça o Wally na cidade. O único mapa, de seu livro predileto, que ela não conseguiu solucionar. E ficamos na expectativa, torcendo por eles, lamentando seus erros e simpatizando com suas dores, na fé de que as coisas acabem se resolvendo ao final. No caminho, um emaranhado de ruas, acasos e desencontros. 
Um delicado filme sobre a solidão, recheado de pinceladas mágicas que só os mais ávidos contempladores de janelas perceberão com a devida profundidade

Um lindo pequeno-grande filme. Uma história delicada sobre o amor moderno que, quase literalmente, invade as nossas vidas pela janela. Um filme sobre a real solidão e a luta desajeitada em vencê-la. Um filme que fica.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

ILUSTRANDO

Debret - "Premiere distribution des decorations de la Legion d'honneur"

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

CONFESSO


Confesso que os filmes românticos não me tocam mais. Ou, pelo menos, não como antes. Algo de mim que morreu, acho; que se perdeu no caminho. Mas confesso também que "Like Crazy" é um dos filmes mais bonitos, especiais, tocantes, comoventes que vi em muito, muito tempo. Um mosaico de coisas perfeitas. Atores perfeitos, trilha sonora perfeita, fotografia, roteiro, direção. Um filme perfeito que me atinge como um raio e me desnuda por completo. Confesso que não acredito muito mais nessas coisas. Confesso.

Confesso também que choro todas as vezes.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

PARA VER E OUVIR: JOHN MAYER ("CITY LOVE")


"Ela deixa sua escova de dente em meu apartamento, como se eu tivesse espaço livre; ela rouba minhas roupas para ir trabalhar. E eu sorrio porque achei um amor urbano. E não lembro mais como era a vida antes dela". Uma dessas obscuras músicas do John Mayer, destas que a gente não dá muita bola. Uma música sobre se apaixonar pela pessoa errada, mas pelas razões certas. Acho que ando num momento em que também procuro uma Lydia.

Um caos calmo, digo.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

AMOR PLATÔNICO

Brit Marling, que descobri ao acaso, pelo seu papel em "Another Earth". Confesso que, contrário à maré, não tenho um fraco por loiras. Mas fui tomado de assalto por Brit Marling, com sua voz doce, quase sussurrada e os olhos mais tristes que já vi. Porque, aí sim, confesso, tenho um fraco por olhos tristes. Sinto uma vontade imediata, meio desesperada, de fugir com Brit Marling, para a "outra" Terra ou para onde ela deseje ir. Queria ouvir seus segredos e sanar as suas dores. Ou me perder para sempre nesse olhar de oceano, que transpira uma paz e uma serenidade que jamais vi em canto algum. Queria fugir para os olhos de Brit Marling. Me esconder, me exilar neles. Queria deitar a cabeça em seu colo, por toda a extensão de um dia, e sentir o toque delicado de suas mãos em meu cabelo. Sei que seria assim. Só não sei que tempestade ela carrega por trás deste semblante. Provavelmente ela carrega. Mas eu não temeria, nem por um segundo, em me afogar nesta tempestade. Nem que isso me levasse embora para sempre. Nem que isso me desaparecesse. Algumas mulheres comunicam algo de fortaleza e de porcelana que me apaixona perdidamente. Algumas mulheres como Brit Marling, meu novo, recente e perdido amor platônico.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

PRECISAMOS FALAR SOBRE ESSE FILME

Mas, por onde começar? Este é mais um daqueles casos de "atropelamento cinematográfico", o fabuloso filme "Precisamos falar sobre o Kevin" (We need to talk about Kevin). Infelizmente, ainda não li o bestseller homônimo, de Lionel Shriver, mas tenho certeza que deve ser igualmente brutal, se não mais.

A verdade é que há pouco espaço para palavras aqui. Esta é uma história constituída de segredos e absurdos, levada magistralmente à tela por Lynne Ramsay. No papel principal, de Eva Khatchadourian, está a gloriosa Tilda Swinton, que parece sentir na carne os acontecimentos que vemos diante dos nossos olhos. Completando o elenco o sempre competente John C. Reiley, no papel do marido abobalhado, e uma escolha impecável de atores para interpretar Kevin. Desde um menino de olhos perturbadores ao rapaz que comete uma atrocidade inominável.
O filme é baseado no livro homônimo de Lionel Shriver

Basicamente, o filme narra a vida - ou o despedaçamento da vida - de Eva. Uma mulher que vemos em vários atos, vários momentos, sobrepostos como panquecas. Uma hora ela é uma jovem, depois uma mulher feliz e bem sucedida, em outro momento é uma mãe exausta e desesperada e, num tempo presente, um fiapo de ser humano, uma mulher pobre financeira e sentimentalmente, sobrevivendo a algo que ainda não sabemos o que. 

Ela engravida e dá luz a um bebê que não pára de chorar, nem por um instante, o que vai pouco a pouco conduzindo-a à exaustão. A cena da britadeira na rua é um absurdo de perfeita; aquela mulher parando para escutar a britadeira, de olhos fechados, como se fosse música, só para ouvir outra coisa que não aquele choro constante. O bebê cresce e se transforma num menino estranho, ausente, distante, que se recusa a interagir com a sua mãe. O menino, por fim, vira um rapaz que comunica perigo em cada gesto, palavra e segundo de sua presença estranha. A verdade é que Eva deu luz a um psicopata. E a recusa de enfrentar essa constatação conduz a vida de todos a um buraco negro, sem fim, sem fundo. Um buraco inteiramente vinculado à existência destrutiva de Kevin. 
"Mamãe era tão mais feliz até o Kevin aparecer", diz Eva num momento de desespero

A grande beleza deste filme está em sua direção e edição. A narrativa é caótica, fragmentada, despedaçada. Não há nem um fio de linearidade e isso nos dá a total sensação de como está a alma daquela mulher atormentada que vemos na tela. O que nos é apresentado é um emaranhado de imagens, lembranças, reflexões, sobre acontecimentos passados e recentes. Pouco a pouco vamos juntando os pedaços deste quebra-cabeças e entendendo o que, de fato, aconteceu. Sabemos, desde os segundos iniciais, com a festa da Tomatina, em Barcelona, que há um banho muito vermelho, muito vivo, por vir no qual Eva será realmente afogada. Aliás essa metáfora é de uma genialidade que chega a comover.

Sabemos que há um vazio, um algo sem nome, que Eva tenta de uma forma ou de outra enfrentar. Sabemos que todo o caos está ligado a Kevin, mas não temos muito com o que trabalhar, até que o filme levanta a cortina e nos revela todos os segredos que, até então, eram apenas murmurados. Um absurdo, algo irreal, a personificação da destruição. E do mal.
Tilda Swinton é uma aparição. Ela personifica esta mãe arrasada ao ponto de nos fazer esquecer que o que vemos é um filme. Não há dúvidas que esta mulher é um dos tesouros artísticos do nosso tempo

Há uma reflexão obrigatória, inevitável. Até onde pode ir o amor de uma mãe? Ele é, de fato, infinito e inabalável? Como uma mãe consegue amar um monstro? Melhor, aceitar, entender, perdoar? Não há sombra de dúvida de que precisamos falar sobre Kevin. Mas, principalmente, precisamos falar sobre este filme que, dificilmente, deixará a minha mente.

UM MÉTODO PODEROSO

"Daqui há 100 anos, nós ainda seremos hostilizados", diz o sempre sereno professor Freud a um entusiasmado Carl Jung. "Como Colombo, não sei que continente é esse que estou pisando. Mas sei que ele existe", termina Freud.

Quando Sabina Spielrein (Keira Knightley) foi levada para tratamento num asilo psiquátrico jamais faria ideia dos eventos que estavam por vir. Ela antecipava - com desespero - o "tratamento" comum à época e  se deparou com o nascimento - a explosão - de uma das mais importantes revoluções científicas da modernidade: o surgimento da Psicanálise. Sabina encontra o jovem médico Carl Jung que pretende utilizá-la como cobaia para um novo experimento, surgido em Viena, e que o já famoso professor Freud batizou de "a cura pela palavra". 

"Nós vamos somente conversar?", pergunta Sabina já com os braços erguidos, em defesa, esperando algum choque ou agressão física. "Sim",  responde Jung, posicionando-se atrás dela. "Converse comigo e, em hipótese alguma, vire-se para me ver". Rapidamente, os dois vão costurando o tecido que envolvia a "loucura" de Sabina; uma série de espancamentos quando ela era criança. O pai de Sabina batia em seus filhos constantemente. Mas, surpreendentemente, isso causava prazer e não horror a ela.
Jung e Sabina começam um tratamento polêmico e perigoso. Eventualmente, tornam-se amantes

A trama de "Um Método Perigoso" (A Dangerous Method), novo filme de David Cronenberg, discute - com uma levemente exagerada parcialidade - o nascimento da Psicanálise, bem como a eventual ruptura entre Freud e Jung interpretados, respectivamente, por Viggo Mortensen e Michael Fassbender. Mas, de um modo geral, o tom do filme é mais biográfico, retratando Jung como "o mais importante psicólogo de todos os tempos". Será?

De qualquer forma, o filme é bem dirigido e conta com uma bela fotografia e boas atuações. Há uma atmosfera de virada de século muito convincente e, quase sempre, é possível se perder ali como se realmente víssemos Freud e Jung debatando os primeiros passos daquela jovem ciência. 

Duas linhas narrativas começam a se desenhar em paralelo. A relação entre Jung e Sabina que, eventualmente, tornam-se amantes. E a relação entre Jung e Freud que passam de amigos (ainda que a energia seja mais de "pai e filho") para rivais. Numa cena emblemática, os dois estão conversando sobre sonhos, num navio rumo aos Estados Unidos, e Freud analisa detalhadamente o sonho de Jung. Eis que Jung pergunta a Freud: "Então, você não vai me contar o seu, agora?". Ao que Freud responde, charuto sempre aceso: "Não. Temo que isso prejudicaria a minha autoridade".
Freud defende a sua Psicanálise, como um artista defende a sua arte. E rompe com Jung, ao recusar misturar sua nova ciência ao "misticismo de 2a categoria" proposto por Jung

Do encontro entre Jung e Sabina, surge a primeira psicanalista feminina que, rapidamente, escolheu cuidar de crianças. Do encontro entre Jung e Freud nasce uma mágoa irreparável. Jung não aceita a teimosia de Freud, que parece se apegar aos seus conceitos de forma ferrenha. Já Freud se recusa a aceitar "o xamanismo e o misticismo de 2a categoria que Jung quer introduzir num método já amplamente questionado". Para Freud, era hora de manter a Psicanálise dentro das fronteiras científicas. Cruzar essa fronteira seria o fim daquela ciência.

"Um Método Perigoso" é um filme belo e sobre a coragem desses homens que não se acovardaram, em nenhum momento, em discutir questões "absurdas" para época; sobretudo quando propunham que a psiquê humana estava intimamente relacionada a pulsões sexuais reprimidas. "Você é Galileu", diz Jung a Freud em um momento. "E está convidando o mundo a olhar pelo seu telescópio". Uma história envolvente, um lindo retrato histórico e um registro dos bastidores de um tratamento médico que mudaria a humanidade para sempre.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

ILUSTRANDO

Van Gogh - "Retrato do Dr. Gachet"

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

VENCENDO A GRAVIDADE

"As mesmas coisas que te prendem ao chão vão te levar mais e mais para cima!" 
(Timothy Q. Mouse - "Dumbo")

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

2 DE FEVEREIRO

Há anos eu tirei o pé desta areia que hoje tanto me faz falta. Há 2 Bahias em minha vida. Uma que escolhi esquecer, outra que carrego na alma, na ponta da língua, quando decido - de boa vontade - estalar entre os dentes o sotaque cantado que hoje me orgulha e me faz sorrir, especialmente em companhia conterrânea. Porque sou e serei de todos os lugares, e também sou de lá, desta Bahia mística, misteriosa; desta areia que hoje piso os pés em pensamento, ansioso pelo que as lindas águas azuis me trarão de presente. Hoje estou lá.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

E FOI-SE JANEIRO...

E veio fevereiro. Deste ano que começou ontem. Me assusta o quanto a vida muda em 30 dias. Mas é um susto bom, com um quê de... gratidão. E honesta felicidade.