quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

A PODEROSA TRILOGIA

É impossível não se render ao poder dos filmes que compõem a trilogia "O Poderoso Chefão" (The Godfather). É inútil resistir: temos ali cinema como não é mais feito, que nos propõe "uma oferta que não somos capazes de resistir". Os três inesquecíveis filmes (honras máximas ao primeiro, naturalmente) se completam com maestria e parecem nos transportar para aquele contraditório universo masculino de brutalidade e ternura, paixão e violência. São histórias apaixonadas sobre os extremos do homem, a importância da família (do ponto de vista italiano, claro), a revolução de valores, vida e morte como parte de um jogo perigoso de ambição e poder. Marlon Brando desponta, nesta ópera em três atos, como rei inquestionável. Sua figura na tela é um ícone: a voz rouca, calma, pausada, o clássico rosto-máscara (quase) impávido, a imponente figura paterna que nos desperta amor e medo. Queramos beijar sua mão, quando ele nos aparece de smoking com rosa vermelha adornando a lapela. Queremos abraçá-lo quando o vemos combalido numa cama de hospital, condoendo-se com a perda de um filho. Um padrinho, um pai, um chefe, a quem todos querem servir e agradar por meio de uma confusa e distorcida (twisted) ação apostólica. Coppola, gênio indiscutível, feiticeiro na composição elegante e silenciosa dos seus filmes, nos faz sentir como parte da família. Somos Corleones, pelo menos pelas horas que seguem os filmes, e adoramos cada minuto da experiência: sentimos na pele o desejo de vingança e reparação, o calor, a lealdade, a devoção a uma causa que sequer refletimos o quão questionável pode ser. Tornamo-nos gângsters de Nova York, em nossos carros escuros, com nossas casacas e chapéus bem cortados, numa vida ao som de música simples, cheiro de pólvora e sabor de molho de tomate. Somos coadjuvantes da ópera de tiros e tapas, em que amamos, odiamos, somos traídos, mas seguimos em frente, pela família. Não há muito o que elaborar sobre a perfeição destas três obras-primas do cinema. Muitas vezes, é verdade, sequer sabemos apontar claramente o quê ou por que gostamos tanto destes filmes tão visceralmente agressivos. E talvez não haja mesmo uma maneira, ou uma necessidade, de explicar o fascínio que temos pelo chefão. Amamos, seja lá por quê, amamos. E pouco importa.

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