quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

MINHA GAROTA URBANA



O sol brilha com timidez, quando levanto todas as manhãs para uma rotina solitária, silenciosa, com o compasso de um relógio enguiçado. Uma coreografia simples, relativamente mal ensaiada, de gestos, passos e ações repetidas. Uma sinfonia pouco criativa de sons, sabores e aromas, que mistura o cheiro do café ao barulho do relógio que bate na parede da cozinha, ao perfume, às bolachas não muito frescas, à água do banho, ao toque da roupa no corpo, ao barulho da porta que se tranca atrás de mim. Se escolhesse uma trilha sonora para estes dias-perdidos-na-tradução ela certamente sairia das mãos da Sofia Coppola ou comodamente plagiaria a compilação mágica e melancólica da sua obra prima, "Lost in Translation". É como se a manhã começasse preguiçosa - como todas - ao som de "Girls", do Death in Vegas e terminasse com "City Girl", do Kevin Shields. Ao longo do caminho, na seqüência das horas, algumas passagens mais animadas, outras mais suaves, até o momento de o sol se pôr no horizonte, numa esplanada azul, vermelha e roxa, onde o solo fofo sob os meus pés parece me conduzir no automático, como se houvesse um fio, como se eu fosse um bonde de um só passageiro, na viagem dos meus devaneios perdidos, para o encerramento de mais uma página do livro que me esforço em contar. Nestes momentos de passagem, fico imaginando onde ela está, se está vendo o mesmo pôr-do-sol ou as mesmas estrelas, sentindo a água da chuva ou que roupa escolheu vestir. Minha garota urbana, perdida-na-tradução ela mesma, na sua Tóquio verde e amarela. Algo está faltando. Algo que motiva a travessia do dia, a vontade de voltar para casa, para o brilho de seus olhos e o calor de suas pernas, que descobri (ou simplesmente constatei) que não consigo mais viver sem. É que sinto falta de cada centímetro do seu corpo e não consigo aceitar - mais - a distância. Fato. Por que fiquei farto dos dias e dos quilômetros e hoje tolero apenas metros e minutos. É que os dias sem minha garota urbana são vazios, sem cor, em vão. Por que ela é linda, por que eu a amo, e por que a espero, todas as noites, para que ela me visite novamente nos meus sonhos.

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