quinta-feira, 31 de julho de 2008

SOMBRA E SILÊNCIO


Não é apenas uma questão de solidão. Não é APENAS solidão. É algo além, é mais que isso. É um sentimento sufocante de estar só. Verdadeiramente só. É o desamparo na chuva, no escuro, na floresta. É a impressão de estar se esvaindo, sumindo no vento, como um balão, que se vai. Porque solidão não é algo ruim, pelo contrário. Solidão é silêncio, paz, preservação, conservação. É algo profundamente humano e necessário que, na medida exata, funciona como um tônico revigorante. Auto-preservação. É da solidão-sem-solidão que falo, que me martelou a noite insone como a um prego contra a parede. É o estar-só-sem-estar; é a obrigação velada, a fraude da cortesia e da "obrigação espiritual" de servir. Farsa. É sentir-se só em meio a multidão e olhar para os lados e perceber paredes invisíveis, que te impedem de seguir por onde quer ir. É a impressão (constatada) de que não há ninguém por você. Ou, pelo menos, quem DE FATO está por você está longe. Longe demais para ofertar o cuidado, o abrigo. É o não-estar-em-casa, casa sendo lar, sendo família, sendo berço. Em nossa casa somos aquilo que quisermos ser; onde se fala alto, baixo, se fala palavrão; onde se come e se bebe o que quiser, quando quiser, onde o barulho não é crime, onde o relógio é somente acessório, onde a manifestação do desejo não é pecado; onde se pode ser feliz; onde se fica à vontade; onde não há um quartel; onde, simplesmente, é possível SER. E é quando podemos SER que descobrimos estar em casa. Por fim, reflito de alguma janela solitária, que a solução desta solidão-sem-solidão é não esperar nada, não depositar expectativas, não construir idéias sobre ninguém. Não esperar nada de ninguém. Um pequenino punhado de pessoas neste mundo nos guardam verdadeiramente em bom lugar; de forma pura, sem a crítica, sem maldade. E é apenas a ESTE pequeno grupo de pessoas, as que nos amam em essência, que devemos lealdade. Por que é apenas com ESTE pequeno grupo, neste mundo de solidão, que podemos contar. O resto é sombra e silêncio.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

SIM, Wii QUEREMOS BANANAS!


Eu tentei, confesso, ser fleugmático e blasé em relação ao frisson promovido pela chegada do Wii, o videogame interativo da Nintendo, que responde aos movimentos do corpo como se estivéssemos no jogo. Mas é inevitável, não dá para ignorar o quão legal a experiência desta interatividade futurista pode ser. Controlar um carro virtual, com movimentos reais de volante, faz de Mario Kart uma experiência totalmente nova e, certamente, ainda mais viciante. Moral da história: eu também quero. Quem não quer?

quarta-feira, 23 de julho de 2008

POESIA DE SOLIDÃO E SILÊNCIO


É absolutamente impossível não se apaixonar por Wall-e. Uma animação de imensurável sofisticação, que toca na alma pela absurda humanidade de um robô sem falas, mas que sabe e consegue dizer tudo. Poesia pura, de solidão agridoce e silêncios eloqüentes.

terça-feira, 22 de julho de 2008

A BAHIA QUE NÃO SAI (MAIS) DE MIM


"Torna-te quem tu és", diz um pensamento famoso de Nietzsche. Algo curioso aconteceu (continua acontecendo) comigo. Sinto como se meu sotaque estivesse mais característico, mais próximo do típico, ao invés de disfarçado, amenizado, como procuramos fazer ao mudar de cidade; a velha estatégia de adaptação ou coisa do gênero. "Misturar e sobreviver". E não é que eu quis assim. Aliás sempre tentei o oposto, numa busca - infantil - de ser neutro, de não vestir uma bandeira, uma regionalidade na fala, no jeito. Nos esforçamos demais em ser quem não somos, num exaustivo processo de forçada metamorfose. Mas, quando menos esperava, simplesmente me percebi voltando a falar desde jeito "diferente", de vogais abertas e expressões pitorescas; sem vergonha nenhuma de "cantar" de vez em quando na fala, como se todo o tempo do mundo estivesse disponível. E mais, eu gosto disso! Acho que faz cada vez mais sentido para mim a idéia de que quando a gente se afasta das nossas origens, elas voltam abruptamente como uma revelação; de que nós devemos ser quem somos. Eu não sou brasiliense, nem paulista, nem gaúcho. Nem mineiro. Nem carioca. Eu sou baiano e, ora, falo como se fala na Bahia, por que cresci ouvindo a língua portuguesa como ela foi fundada e amadurecida na Bahia, com suas características engraçadas, com o sotaque inigualável, com os neulogismos, com a cultura-paralela que ninguém entende e que faz da Bahia um estado como nenhum outro. Se pensarmos os estados brasileiros como conjuntos, podemos inserir São Paulo, Minas e Rio em um. Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina em outro. Os estados amazônicos em outro, os do nordeste em mais um, aliás como já estão formadas as regiões brasileiras. Mas em nenhum deles se insere a Bahia; não por que "a Bahia é linda", esse argumento caetaniano não funciona muito bem. A Bahia é linda e é triste. Mas não tem nada igual a essa coisa toda, negra, africana, mistíca, mágica, de mar, de calor, contas de santos, capoeira, especiarias, cacau, compotas, Jorge Amado, Dorival Caymmi, tabuleiro de baiana; não dá para encontrar coisa igual no Brasil. Nem parecido. Então acho que resolvi, de uma vez por todas, ficar em paz com tudo isso, aceitando "quem sou". Continuo sendo um crítico ferrenho de Salvador e suas terríveis idiosincrasias; e vou ser eternamente, mas abraço carinhosamente o estado de onde venho. E neste aspecto, abraço também meu sotaque e o meu jeito, pouco me importando se acham engraçado, preguiçoso; enfim, é quem eu sou. Não importa que lugares do mundo eu conheça, nada vai mudar o fato que, no fim das contas, é da Bahia que eu vim. E quer saber? Isso é muito legal.