Assistir a todos os episódios das (infelizmente apenas) 2 temporadas de Twin Peaks é como tirar férias. Mas não férias comuns, longe disso. Férias marcadas por muita excentricidade, chuva na janela, café fumegante, pessoas pitorescas e muitas fatias de torta de amora. Porque chega um ponto em que já nem importa mais tanto o mistério em torno do assassinato de Laura Palmer, ou das esquisitices que orbitam a pequena cidade americana que, por alguma razão mágica, física ou por mera coincidência, é um imã para todo o tipo de gente estranha. Acompanhar Twin Peaks até o final - mergulhando de cabeça no "sentido sem sentido" de David Lynch - é de alguma forma se sentir parte daquela comunidade que parece habitar um tempo próprio, uma dimensão própria. É como se conhecêssemos aquelas pessoas e lugares: a lanchonete da Norma, a serraria, a delegacia, o hotel Great Northern, as andanças do agente Cooper, personagem impossível de não adorar. Aliás, vale assistir aos episódios de Twin Peaks simplesmente para acompanhar Kyle Maclachlan que está perfeito no papel do excêntrico agente do FBI. Chega um ponto, sobretudo nos episódios finais, em que a cidade se torna uma ópera do absurdo, com paixões repentinas, alienígenas, possessões espirituais, portais dimensionais, projetos secretos das forças armadas, anões que falam de trás para frente e mapas rupestres. E até desejamos descobrir - ou não - se toda essa teia sem pé nem cabeça chegará a algum lugar. Mas esta é uma curiosidade menor, se comparada ao sentimento de empatia que inevitavelmente desenvolvemos por aquelas pessoas e situações. Nos tornamos vizinhos e, de uma maneira ou de outra, cúmplices da insensatez de Lynch. E é uma surpresa, quando sobem os créditos finais; a saudade que fica. Porque somos obrigados a ir embora de Twin Peaks. As férias chegam ao fim. Mas, como o próprio Dale Cooper, tudo o que mais queremos no mundo é ficar por lá.
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