segunda-feira, 29 de outubro de 2007

"VOCÊ VAI PERDER ESTE AVIÃO, BABY..."


Em poucas palavras, "Antes do pôr-do-sol" (Before Sunset/2004) é a continuação perfeita. Não é melhor do que o primeiro filme, "Antes do amanhecer" (nem precisaria ser), mas é a melhor continuação (senão a única) que o clássico de 95 poderia ter. Jesse e Celine se reencontram no Café Shakespeare, em Paris, quase dez anos após a despedida inevitável, na estação de trem em Viena. Não, eles não se reencontraram seis meses depois. E como não haviam trocado telefones, endereços, sequer sobrenomes, perderam-se para sempre. E o tempo, como sempre, seguiu seu caminho e passou. A história de amor transformou-se num best-seller, escrito por Jesse, que numa pequenina coletiva de imprensa no café literário, permite que os dois se vejam novamente. Mas a vida não parou para nenhum dos dois. Certamente. Não são mais jovens inocentes, inebriados pelas múltiplas possibilidades dos vinte e poucos anos, apaixonados pela existência sem barreiras. Tornaram-se adultos convencionais, com problemas de relacionamento e exaustos de vidas medíocres. O reencontro é uma ironia, um golpe, uma punição por terem "perdido o trem", deixado escapar pelos dedos a oportunidade única de uma vida incomum. Os diálogos filosóficos continuam os mesmos, um pouco mais amargurados, com inconformação e cinismo permeando entre as frases e as pequenas provocações que se fazem. Algo permanece intocado: a vontade desesperada de prorrogar um pouco mais a despedida. Jesse tem algumas horas antes de ir embora. Um café que se torna um passeio. Um passeio que imigra para as margens do Sena. Das margens do Sena para a porta de casa. Da porta de casa para um chá e violão. Celine tem uma valsa para mostrar a Jesse (a seqüência final inteira é mágica). Mais um segundo, só mais um segundo, antes de ir embora. A essência do encontro de Jesse e Celine, que não aprenderam a dizer adeus um ao outro. Os olhos dele brilham enquanto tateia cada canto do apartamento de Celine, transbordando da personalidade pela qual ele se apaixononou. Ela dança na cozinha, enquanto imita Nina Simone, seduzindo sem seduzir: "Você vai perder esse avião, baby". Ao que Jesse responde, sem cerimônia: "Eu sei". É que sempre haverá tempo para não se perder mais tempo. Perder-se apenas para se encontrar. Para não se perder nunca mais.

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