terça-feira, 9 de outubro de 2007

"PERDER-SE EM BRASÍLIA"


Descobri que é possível "perder-se em Brasília", algo que os próprios brasilienses, não importando de que canto do mundo sejam (por que, sim, a excência de um brasiliense é não pertencer a lugar algum, por justamente ser de qualquer lugar) defendem ser IMPOSSÍVEL. Uma cidade plano, plana, cartesiana, matemática, geométrica, racional, encaixada como uma peça no centro do país, um quadrado de - tentada - funcionalidade objetiva. Mas quando falo em "perder-se" falo em como Brasília sabe (e pode) ser uma cidade docemente "lost", como Tóquio ou qualquer outra que traga pessoas de múltiplos pensamentos e diferentes destinos entrecruzados nos seus trajetos urbanos. Brasília é um lugar para devaneios urbanos. Não a Brasília de JK, de políticos, congresso, polêmicas, mas a Brasília-subjetiva, horizontal, do pôr-do-sol avermelhado, sem esquinas nem calçadas, onde se tem a impressão de andar em círculos. Brasília não pertence a ninguém e nem por isso é uma cidade sem lei, vê como é incrível isso! Uma pequena fronteira entre aqui e acolá, onde habitam turcos, franceses, mexicanos, holandeses, norte-americanos, paulistas, gaúchos, mineiros e baianos, todas as religiões, cultos, credos, cores, sotaques, cheiros, peles, tipos. Brasília é uma cidade de tipos, sem nunca fazer tipo. Por que não há um único dia igual a outro em Brasília. 4 estações, da hora em que acordamos até o momento de dizer boa noite. O dia, em Brasília, é de observação, contemplação e anotações mentais. A noite é para se dormir abraçado. Sorvetes são muitos, contra o calor e o clima seco - um deserto imaginário - para beduínos de múltiplas origens. Come-se toda a comida do mundo, em Brasília, por que sim, ela atende a todos os gostos. Como se ouve toda a música, a cidade não distingue preferências. Ela não se importa. É discreta, silenciosa, cosmopolita, onde os carros não têm buzinas e as pessoas até gritam mais baixo. O fundador e o arquiteto imaginaram um pássaro, de asas abertas, calmo plano planador, que voa sossegado num baixo céu de sonhos utópicos. Eu posso dizer que me "perdi em Brasília". Uma Brasília só minha. E não quero me achar nunca mais.

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