quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

AO ANO QUE VAI

Certa vez, recebi uma mensagem de fim de ano que me desejava "nada"; que eu tivesse um ano "cheio de nada" e que ficasse ao meu critério as escolhas, decisões e caminhos para fazer do "nada" o "tudo" que eu bem quisesse. Desejar "nada" numa virada de ano me parece a coisa mais sensata do mundo e talvez por isso eu não me esqueça nunca destes votos. Não é uma questão de meramente deixar de criar expectativas. É muito mais que isso. É começar um novo ano, uma nova corrida pelo calendário, sem planos muito definidos ou metas a serem atingidas. Isso engessa demais aquilo que deveria ser surpresa. E acaba estragando a festa porque, provavelmente, muitos dos planos não serão alcançados tampouco as promessas cumpridas. Não falo isso como um pessimista, mas porque é a realidade dos fatos. Um ano é um ser mutante, que se transforma como um camaleão, de acordo com os eventos que vem e que vão. Desejar "nada", portanto, é absolutamente razoável. Desejo a mim, a todos, a quem interessar possa, um novo ano cheio de "nada", também. E até o ano que vem. Um ano de "tudo".

PARA VER E OUVIR: JOHN MAYER - "IN YOUR ATMOSPHERE" (LIVE IN LA)

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

ILUSTRANDO

"Napoleon I" - Toulouse-Lautrec

LINHAS QUE SE CRUZAM, SEM PUDOR

Posso dizer que somos parceiros. No crime, no amor e na guerra. Amamos e brigamos sem medo de testar os limites. Como gata e cachorro. Uma gata manhosa, misteriosa, delicada, dengosa, geniosa, temperamental. Um cachorro estabanado, sensível, ansioso, carente, de bom coração e alma pura, mas dado às preguiças e os excessos do dia. Mas que juntos funcionam, apesar dos atritos, mas que se misturam sem dificuldade. Porque somos adultos, crianças, técnicos e sonhadores. Alquimistas, astrólogos, tímidos descobridores. Sou vela, você é vento. Sou árvore, você é água. Sou flecha, você arco. Soldados e pacifistas. Somos tudo o que queremos, mesmo quando não queremos ser nada. Nem sair da cama. Adoro quando discutimos com muita categoria os assuntos de que sabemos muito pouco a respeito. Quando refletimos e argumentamos sem titubear sobre coisas que, lá no fundo, nem conhecemos muito bem. Assim discutimos muito da arte, da música, da culinária, da história, do tempo. E nunca somos falsos nem superficiais. Porque, sim, sabemos de tudo, sabemos de muito. Mas não nos ocupamos tanto com os detalhes. E jamais somos falsos. É que nós jogamos pela janela os manuais de instruções, porque preferimos os choques nos dedos às letras miúdas que dizem nada, ou quase nada, para nos guiar do ponto a ao b e então ao c. Somos o que der na telha. Mesmo que na telha não dê nada, apenas chuva. E queremos correr, para todos os lados, em todas as direções, a todos os lugares. Fugimos pela alegria de fugir. E adoramos sair à francesa, sem diplomacia. Não gostamos dos telefones nem das campanhias. Ok, às vezes até gostamos. Preferimos as sombras à luz, em alguns momentos. Em outros, tudo o que mais queremos é o sol queimando o rosto. Somos animais alados e bichinhos tímidos que adoram o calor das suas tocas. Somos heróis e mitologias. Somos signos e estrelas. Príncipes de planetas distantes. Somos cores em um quadro sem molduras. Somos linhas paralelas que se cruzam, todo o tempo, sem pudor. E assim seguimos.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

CAÇADORES DE SONHOS

Por onde começar, ao falar do "Caçador de Pipas"? Apesar de não ter lido o best-seller, já havia me interessado desde o começo pelo filme, ao saber da direção de Marc Foster ("Em busca da Terra do Nunca"). Tenho dificuldade em costurar tudo o que senti ao acompanhar uma história tão comovente, tão contundente e, ao mesmo tempo, tão encantadora. A amizade de Amir e Hassan trouxeram em mim sorriso e lágrima, sem conflito. Os dois meninos são personagens de um tempo e um lugar que parecem ter sido esquecidos por Deus. E esse conto de amizade, que atravessa anos e oceanos, é que faz de o "Caçador de Pipas" uma belíssima história de redenção, sobre o surgimento de possibilidades quando tudo parecia perdido. Numa terra desolada - Cabul, no Afeganistão - Amir retorna, para tentar desfazer equívocos infantis do passado. E o faz, com heroísmo e iluminação. Mas esse é apenas um aspecto, uma viga para sustentar os eventos que se passam. O que é mais importante, nesta história tão importante, é a idéia de que haverá sempre a esperança. E isso nos ensinam as pipas e seus caçadores inocentes. Que mesmo nos céus mais negros ainda pode voar a esperança, porta-voz de que sempre haverá um sol para todos. Essa é uma história apaixonante, sobre caçadores de um sonho. O sonho de um lugar livre, de pessoas livres, onde há música, flores e pipas voando alto, no céu.

SOBRE O AMOR INCONDICIONAL

Naturalmente, fui um dos milhões de espectadores que levaram "Marley e Eu" ao topo das bilheterias no feriado de Natal. Sendo um "dog person" incorrigível e tendo amado o livro homônimo, não teria o menor sentido se eu não fosse ver o filme (e desidratar um pouco os olhos, sobretudo nos momentos finais). A adaptação é fiel e narra belamente as peripécias do "pior cachorro do mundo". Apesar de não ser fã dos dois atores principais, acho que Owen Wilson e Jennifer Aniston não decepcionam, ainda que a estrela principal seja o cão; ou melhor, os 22 cães utilizados para representar o amadurecimento - em 13 anos - de Marley (cujo nome é inspirado no famoso cantor jamaicano). Não há nada de exepcional ali, a não ser uma história de pessoas normais e de um cachorro fora do normal que modifica - para melhor e pior - a vida de uma família inteira. Marley dá todas as provas que é uma catástrofe. Mas, também, de que é uma bênção, um tesouro, um ser que jamais será esquecido. Como não foi. O livro e o filme são provas de que as memórias desta história de amor são eternas. E as palavras do dono, John Grogan, resumem tudo muito bem quando ele nos diz que a um cão basta muito pouco, apenas um graveto. E pouco importa se somos ricos, negros, brancos, pobres. A um cão basta nossa companhia, nosso amor, que ele retribuirá eternamente, incondicionalmente. Só quem experimentou verdadeiramente essa relação tão mágica sabe o poder destas palavras. O amor, a amizade de um cão, é um fenômeno que nem as palavras conseguem explicar. É algo sentido, da alma, do coração.

SEGUNDOS SEM PREÇO


"A Família Savage" (The Savages) é um filme muito interessante. Não é dos mais fáceis de ver, passa longe de argumentos óbvios e de clichês. É dramático, sem apelar ao melodrama. É delicado e introspectivo. Uma imagem triste, de tons gris e frio de inverno, mas que se costura de forma a nos oferecer um final muito bonito. As atuações excelentes de Laura Liney e Philip Seymour Hoffman são convidativas, mesmo num cenário desconfortável: o internamento do pai deles, diagnosticado com alguma espécie de demência. Os dois irmãos, antes separados e vivendo vidas medíocres e egoístas, se vêem obrigados a atender o chamado e cuidar de um pai que foi ausente, mas que precisa de ajuda. Assim, percorremos uma história melancólica, mas com pitadas de humor e sarcasmo - aliás, como é a vida - enquanto vamos refletindo sobre como tudo é tão finito, confuso e passageiro. Existe, no entanto, uma mensagem bonita, muito silenciosa, com pouca publicidade durante o filme. A idéia de que a reinvenção de nós mesmos é possível. E que devemos abraçar mais movimento e aceitarmos a renovação por mais difícil e distante que ela possa parecer. E que cada pedaço da vida, qualquer segundo, qualquer último segundo, não tem preço. E valerá sempre ser vivido. Até o final.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

TOO COOL FOR SCHOOL


Ensaio feito com Obama, nos anos universitários. As fotos da TIME revelam o novo presidente dos Estados Unidos. O presidente da mudança. Definitivamente, "too cool for school".

OUVINDO


Sara Bareilles - One Sweet Love


Just about the time the shadows call
I undress my mind and dare you to follow
Paint a portrait of my mystery
Only close my eyes and you are here with me
A nameless face to think I see
To sit and watch the waves with me till they're gone
A heart I'd swear I'd recognize is made out of
My own devices....Could I be wrong?

The time that I've taken
I pray is not wasted
Have I already tasted my piece of one sweet love?
Sleepless nights you creep inside of me
Paint your shadows on the breath that we share
You take more than just my sanity
You take my reason not to care.

No ordinary wings I'll need
The sky itself will carry me, back to you
The things I dream that I can do I'll open up
The moon for you

Just come down soon
The time that I've taken
I pray is not wasted
Have I already tasted my piece of one sweet love?

Ready and waiting for a heart worth the breaking
But I'd settle for an honest mistake in the name of
One sweet love.
Savor the sorrow to soften the pain sip on
The southern rain
As I do, I don't look don't touch don't do anything
But hope that there is a you.
The earth that is the space between,
I'd banish it from under me...to get to you.
Your unexpected love provides my solitary's
Suicide...oh I wish I knew

The time that I've taken
I pray is not wasted
Have I already tasted my piece of one sweet love?
Ready and waiting for a heart worth the breaking
But I'd settle for an honest mistake in the name of
One sweet love

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

THE GOODBYE SONG

Posso assistir mil vezes a "Lost in Translation" e serei arrebatado mil vezes pela emoção da seqüência final. Um abraço solitário na multidão. O adeus impossível, a certeza de que tudo é efêmero e que temos que nos agarrar desesperadamente aos segundos especiais porque eles nunca mais estarão de volta. "Não voltemos nunca mais aqui; não seria tão divertido". "Encontros e Desencontros" - obra-prima de Sofia Coppola - é a compilação de tudo que me comove. Em uma hora e meia de filme estão organizadas minhas reflexões pessoais mais importantes, meus devaneios mais angustiosos. Meu eterno filme de cabeceira. Número 1 incontestável: a concretização, a materialização, pela primeira vez, de tudo aquilo que eu sempre imaginei só fazer parte do movimento das borboletas inquietas no meu peito. Eis a seqüência final, com a agridoce música do adeus, "Just Like Honey". Uma cena que coroa este filme como uma pedra preciosa incomparável. A cena que vejo, em silêncio, mil vezes.

NASCIMENTO

Faltando poucos dias para o tão aguardando Natal, tive um pensamento óbvio, mas que me comoveu profundamente, como uma epifania. Justamente isso. O "Natal". Percebi, verdadeiramente, que nos juntamos, há mais de dois mil anos para lembrar, com felicidade, o nascimento de um menino, tão pobre, que nasceu em uma manjedoura. Percebi como é poderosa e tocante essa imagem. Essa IDÉIA. E isso independe de religião, de credo, de fé. Falo da força, da importância, deste ser iluminado que um dia veio ao mundo, para mudar o mundo e definir novos parâmetros na história: antes e depois Dele. Já são mais de dois milênios e ainda nos reunimos para celebrar que Ele, um dia, nasceu. Me comove muito pensar o Natal sob essa perspectiva. E faz tudo ser ainda mais bonito.

ILUSTRANDO

"Christina´s World" - Andrew Wyeth

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

"ESTES SÃO... OS ORIGINAIS?"

Em minha opinião, eis a cena mais tocante do filme "Amadeus", sobre a vida do compositor austríaco, Wolfgang Amadeus Mozart. Nela, Antonio Salieri, seu antagonista (fã ardoroso) folheia as partituras originais de Mozart, incrédulo com tamanha beleza e perfeição. Ele se espanta ao tomar conhecimento de que as partituras em suas mãos não são cópias, mas os trabalhos originais, feitos sem uma correção sequer. "Era como se tivessem sido ditadas por Deus". Os olhos fechados, a profunda comoção, a música ecoando APENAS em seus ouvidos enquanto vira página após página, demonstram o êxtase e a surpresa absoluta de Salieri. E, principalmente, a constatação de sua profunda mediocridade; jamais, nem em outra vida, ele conseguiria compôr como Mozart e teria que se conformar com isso. Para mim, essa cena vale cada centímetro do Oscar ganhado merecidamente por F. Murray Abraham.

O MAIS BELO DE TODOS OS DISCURSOS

Para ver, ouvir (e chorar): Kenneth Branagh, no papel do jovem rei Henrique V. A cena se passa em pleno campo de batalha, onde o rei discursa de forma comovente. Trata-se da obra-prima "Henry V", baseada em peça homônima de William Shakespeare. Neste famoso discurso, o rei Henrique clama suas tropas à luta. E em lembrança do Dia de São Crispim, ele oferece palavras inspiradoras para soldados exaustos que acabam fazendo história contra o colossal exército francês na batalha de Agincourt. "We few... we happy few... we band of brothers...".

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

ILUSTRANDO

Famosa foto do protesto na Praça Tian'anmen ("Paz Celestial"), em Pequim (1989)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

"ROCKET MAN"


É tão difícil, tão doída, essa vida de astronauta, dividido entre dois mundos. Voando de um lado para outro, e de volta, sempre em busca de algo, mas sempre também deixando tanto para trás. É impossível guardar na palma da mão o que oferecem os dois cantos do infinito, ter todas as estrelas no mesmo lugar. São dois sóis e dois campos de pouso; curtas permanências, pedaços que vão sendo deixados no caminho, enquanto me esforço em guardar outros; é como se eu tivesse uma grande bolsa, com pequenos furos por onde acaba escapando parte do que eu tento guardar. Do meu horizonte solitário reflito sobre o desesperado desejo de não abrir mão de nada.

"I miss the earth so much... I miss my wife..."
"I miss the earth so much... I miss my mom..."
"It´s lonely out in space..."

No fim das contas, é solitária a viagem. E apenas ela garante a ponte entre os planetas, para que se possa fingir "ter tudo" e que tudo está sob controle, enquanto vejo os planetas, tão pequeninos, sob os meus pés. Mais perto do céu, fico também mais próximo de Deus e, assim, dou mais acesso às preces sinceras que digo em silêncio. Para que Ele ouça, quem sabe, o meu pedido de que "estejamos todos juntos, novamente, no mesmo lugar". E enquanto esse dia não chega, sigo voando, queimando combustível por entre os astros, nas viagens contínuas, de um lugar para o outro. E de volta.

sábado, 6 de dezembro de 2008

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

BLADE RUNNER

25 anos, chegava ao Brasil um dos filmes mais visionários já feitos até hoje: "Blade Runner". Ficção científica da melhor qualidade, o filme é impactante até hoje. Encanta, instiga, impressiona. Posso ver a gueixa no telão luminoso mil vezes e ainda assim vou achar a imagem um absurdo. É um conjunto de coisas perfeitas: a música incomparável de Vangelis, a fotografia, os planos, o figurino futurista e retrô, os carros voadores, os zigurates gigantescos no horizonte com pôr-do-sol. Sem contar elenco de primeira grandeza, com ninguém menos que Harrison Ford e Rutger Hauer. Até hoje acho a seqüência final um dos momentos mais especiais do cinema; coroada com o comovente discurso do androide Roy; a chuva caindo sobre os dois combatentes, tão exaustos. O céu negro, poluído. A sensação desesperada de apego à vida que está se esvaindo e com ela, memórias tão especiais. "I´ve seen things...". Primoroso e inesquecível.

TENTE OUTRA VEZ...

Eu até tento me esconder, confesso, mas ele sempre me acha. Não tem jeito. Brinco, desfarço, desconverso. Finjo não me importar - e até gostar da idéia. It´s one more, alright. E ainda (e sempre, sempre, sempre) em busca do tempo perdido. Mas tudo bem, não tem problema. Ano que vem eu tento novamente...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

ILUSTRANDO

"Noite estrelada" - Van Gogh

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

FRIENDS

Engraçado. De repente, senti imensa saudade de "Friends". E saudade do tempo em que eu via "Friends". Do contexto. Da circunstância. Da importância do seriado na minha vida de então. Pouco me importa o quão alienado ou submetido à cultura de massa isso me torne. Realmente não me importa. De repente fui tomado por saudade e nostalgia daquelas pessoas, que um dia significaram tanto para mim, e que hoje não faço a menor idéia do que têm feito de suas vidas. Quero dizer, onde quer que eles estejam, no plano dos devaneios surreais. Senti falta deles, hoje.

"SALÃO DOS OSSOS"

Retornar ao "Salão dos Ossos" é necessário, ocasionalmente, para um valioso banho de energia; para o descanso do espírito e bálsamo para a alma. É onde as armas, então fracas, ganham vida novamente. E assim é possível voltar ao combate. Até que, novamente, seja preciso voltar.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

TEMPO QUE PASSA


Esse ano vôou. Cliché inevitável. Ainda ontem eu me realizava com os pequenos mimos e caprichos de Natal, ao redor da árvore recém decorada. As filas nas lojas, as descobertas de última hora; aquela ansiedade infantil, à espera da manhã de presentes e café especial, na cama. Sem contar a esperança diante de um ano que em breve começaria. "O que traria 2008"? Ele trouxe muito. Muito. E tirou pouco, devo confessar em agradecimento. E enquanto adornamos nosso pequeno pinheiro, que se equilibra meio desajeitado sobre a cômoda egípcia, comecei a tecer pensamentos. Aos poucos vejo surgir sob os pés do pinheiro nossos pequenos desejos deste ano, que satisfazem nosso delicioso materialismo. Constato que o ano vôou. Tempo que passa. Amanhã já é ontem. Não tem jeito. E o que trará o 09? Aguardar, sem medo, aprendi.

ILUSTRANDO

"A velha cidade" - Kandinsky

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

29

O 29 já começa a despontar no horizonte. O céu é parcialmente nublado - como era de se esperar - mas os sinais de crise são mínimos. Chuva passageira, no máximo. E ainda que seja eterno o desejo de nunca crescer, nada impede que se celebre a parada em mais uma estação de trem. Com direito a quilos de pó mágico que fazem voar, por meio da combustão espontânea de pensamentos felizes que nos levam, sem medo, à Terra do Nunca. Pó mágico ou mantega de amendoim. Dá no mesmo. E continuo criança, mesmo que seja apenas - e infelizmente - em pensamento, coração e espírito.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

UM DAQUELES FILMES...


Sabe um daqueles filmes que dificilmente daríamos algum crédito? Ou que ouvimos apenas críticas negativas a respeito? E que, assim, acabam esquecidos nas prateleiras ou em promoções de "R$ 9,90" nas lojas? "Diário de uma louca" (Diary of a mad black woman) é um desses filmes. Tyler Perry, que interpreta diversos papéis (especialmente o da velha louca Madea) é um comediante que deveria receber mais atenção. Ele é ótimo. O filme é adaptação de uma peça homônima (escrita pelo próprio Perry) e trata da volta por cima (com pitadas de vingança e humor escrachado) de uma mulher que sofreu 18 anos com um casamento ruim. No fim das contas, nada de novo: uma família esquisita, milhões de estereótipos manjados, um romance repentino, redenção religiosa e um final feliz. Parece bobo e comum. E é. Mas também não é. Essa é a graça, porque consegue ser um filme interessante, que garante boas risadas e em nenhum minuto das suas quase duas horas, se perde. É, simplesmente, "um daqueles filmes".

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

ILUSTRANDO

"Nighthawks" - Hopper

ATUAL E ASSUSTADOR. SEMPRE.


É impressionante como "O silêncio dos inocentes" (Silence of the lambs) é sempre tão atual e assustador, todas as vezes o assisto. Por mais que a história já esteja decorada do primeiro ao último minuto, com a costura afiada das entrelinhas e pequenas surpresas, o olhar frio e magnético de Hannibal Lecter, interpretado com maestria por Anthony Hopkins, por detrás da parede de vidro, ainda é absolutamente aterrorizante. Muito já se fez, depois do sucesso do filme - que mereceu cada um dos seus cinco Oscars (melhor ator, melhor atriz, melhor diretor, melhor roteiro adaptado e melhor filme), mas pouco se conseguiu. Aquele frio na espinha, o corpo contraído de tensão, a incerteza angustiante sobre o que irá acontecer no próximo segundo. O filme comunica isso aos expectadores. Considero como uma história completa em si e não parte de uma trilogia (ou quadrilogia, sei lá). Assisti os dois filmes seguintes (fracos e gratuitos) e não tive chance de ver o filme mais recente, sobre a juventude de Lecter. Mas algo me diz que é mais um desnecessário prolongamento de algo que já havia sido encerrado, desde o começo. "O silêncio dos inocentes" é uma miríade de coisas, sensações, imagens, estilos. É drama, terror, policial. Transborda tensão, sarcasmo, perigo. Denuncia fragilidade, complexidade e imperfeição. Questiona nossas formas, métodos e padrões. Uma bola de demolição nas nossas estruturas de segurança que, por fim, deixa-nos em silêncio. Como cordeiros.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

NUM DIA RUIM


Te encontrar em casa quando volto faz do meu pior dia um bom dia.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

ILUSTRANDO

"Outono na Bavária" - Wassily Kandinsky

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

UM ACONTECIMENTO


Acho que a crítica cinematográfica criou rejeição gratuita ao diretor M. Night Shyamalan. Concordo que "O Sexto Sentido" é um dos seus melhores trabalhos e que, após ele, houve uma sucessão de fracassos, a exemplo de "Corpo fechado", "Sinais", "A vila" e "A dama na água". Mas uma série de erros não deve engessar a nossa percepção e nos impedir de aceitar um sucesso. Isso é resistência infantil. É birra. O último filme de Shyamalan, para mim, é um triunfo, clássico instantâneo. "Fim dos Tempos" (The Happening) é absolutamente aterrorizante e cumpre seu papel de chocar, angustiar e mexer com nossa subjetividade. A trama é original, e como todo filme do gênero um pouco hiperbólica, claro. Mas todos os exageiros (e superficialidades) podem ser perdoados em nome do todo. Acompanhamos um surto de suicídios sem explicação no leste dos Estados Unidos. Pessoas que se atiram dos prédios, enforcam-se, jogam-se sob máquinas. Por alguma razão, todos perderam o senso de auto-preservação. E qual o motivo aparente disso? Uma resposta da natureza. Uma rápida evolução química para revidar contra à devastação do planeta. Existem, naturalmente, lacunas aqui e ali, mas o filme é competente, não faz rodeios, é visionário. A vontade de abraçar alguém, ao final, é praticamente obrigatória; um desejo desesperado de proteção e amparo, de encontrar a certeza de que aquilo ali é apenas ficção. E não é qualquer filme que consegue fazer isso. Para mim, "The Happening" é um acontecimento e o retorno triunfal de um diretor que se cansou de errar.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

PARABÉNS, SR. MICKEY MOUSE


são 80 anos, desde a primeira aparição do camundongo mais amado do mundo. Em 18 de novembro de 1929, "Steamboat Willie" chegava às telas e fundava um dos ícones eternos da nossa cultura moderna. Portanto, parabéns, sr. Mickey Mouse. O senhor, agora, é um octagenário!

NEM O CÉU É O LIMITE


Quem disse que Biologia não daria um bom game? Spore é a prova inegável disso. É impossível não se render à explosão criativa, de idéias tão originais, que esse aguardado projeto da EA oferece. Até onde sei, foram quase 10 anos de preparativos e expectativas. E o resultado justifica. Que jogo oferece a chance de começar como um organismo microscópico, cuja única finalidade é comer (e não ser comido) e permite conduzir esse ser até batalhas interplanetárias? Nenhum! Não há nada, absolutamente nada, como Spore. A trajetória é incrível e, em nenhum momento, superficial. Da poça à terra. Da terra ao ninho. Do ninho à tribo. Da tribo à sociedade. Da sociedade à guerra. Da conquista de um território à conquista do planeta. E, por fim, à busca por outros planetas. É o jogo definitivo, com elementos interessantes de estratégia, coroado com a melhor investigação genética. Criar patas, bicos, asas; está lá. Mais altura, mais capacidade de interação; também está lá. Paz ou violência, carne ou planta. Como deuses da nova criação, as possibilidades são infinitas. É um mundo ao alcance dos dedos. E as decisões sobre o que será feito dele, nossas. Um jogo que precisa ser jogado. E ainda que a brincadeira seja maravilhosa, levado à sério.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

DIETA MEDITERRÂNEA


Após uma linha descendente de filmes (com exceção de "Matchpoint" e, com um pouco de boa vontade, "Scoop"), Woody Allen faz um filme memorável novamente. Um filme que fica. "Vicky Cristina Barcelona" é delicioso. Uma tragicomédia equilibrada, com a dose certa de humor, sarcasmo, comédia, romance e drama. Um filme que, se fosse comida, faria parte da melhor dieta mediterrânea. Tem inspiração, frescor, inovação, risco, com há um bom tempo parecia faltar a Woody Allen. O elenco formado por Javier Bardem, Scarlett Johansson e Penélope Cruz está à vontade, como se a câmera filmasse a trajetória de suas vidas reais. É a impressão que passa, de que todos estão muito à vontade. Não há muita invenção nem reviravoltas inteligentes. É uma história simples, sobre duas amigas americanas que acabam se envolvendo num triângulo (ou seria quadrado?) amoroso. No meio tempo, reflexões muito pertinentes sobre escolhas, futuro, desejo e o amor. Uma revisão de padrões. Ou melhor, o exercício de se questionar "porque não?". Isso até parece refletir o que o próprio Woody Allen fez consigo mesmo. "Vicky Cristina Barcelona" é uma revisão de seu trabalho, em que ele se permite, com muita categoria, transitar por territórios diferentes e com muito sucesso. Seus personagens (extremamente reais e convincentes) levam isso para a tela sem esforço. Por fim, nem percebemos o tempo que passa, enquanto nos deliciamos em férias de quase duas horas na calorosa cidade de Barcelona. Pacote com direito a um final de semana inesquecível em Oviedo.

ESTÁ TUDO LÁ


John Cusack, no filme "Must love dogs" define com muita precisão a obra-prima cinematográfica que é "Dr. Jivago", baseado na obra de Boris Pasternak: "it´s all there, man". E é basicamente isso. Um filme completo, mágico, que narra uma história dolorosa de encontros e desencontros na Rússa em ebulição social. Acompanhamos a vida de Jivago, jovem médico idealista, que ganha vida pela atuação (sempre) magistral de Omar Sharif, uma aparição em tela. Uma vida cheia de altos e baixos, na qual Jivago é empurrado de um lado para outro como se fosse um náufrago à deriva. E à deriva ele vê sua vida escorrendo por entre seus dedos, nas errâncias pelos Urais. Uma luta pelo retorno. "Está tudo lá": amor, paixão, tragédia, separação, expectativa, preservação. É uma linda e comovente história sobre a necessidade de se construir e se preservar os laços. Laços de amor, de sangue, de família, que nem a guerra e a morte podem desfazer. Absolutamente eterno e indispensável.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

LAMENT OF A YELLOW KITE


LAMENT OF A YELLOW KITE


The Yellow Kite searched for Wind, but found no answer. "Where are you today, my sweet, sweet wind?", she asked softly. But the wind was not there anymore. "Why have you left me? Why can´t I go with you through skies, and oceans and forests?", she cried out. But the wind didn´t even bother to answer her. "Don´t you fancy me, anymore? Come back to me, let me be faithful to you forever", she begged. But the wind barely looked her in the eyes. "Can´t you remember our promises? We would fly countries and kingdoms!", she shouted, alone. But the wind appeared to have no interest in her. "I see, my sweet wind, you don´t love me anymore", she concluded sadly. But the wind kept running without noticing her cries. "My delicate silks and bamboo sticks did not tame your heart", she dropped a few tears.
*
And then the wind decided to look at her."My sweet innocent Kite, don´t you ever believe a Wind´s promise. Your fate is to paint the skies with your yellow skin, cutting clouds, making kids laugh. You can´t have me. No one can. Yesterday you were my dedicated lover and bride. But today, I want to run mountains, skirts and dent-de-lions. And tomorrow I shall run papers, leafes and drying clothes. Yesterday I flew with you. And you flew with me. Tomorrow I might want to go to African lands or Chinese fields. For I have no home, just desire, just paths. I could never promise to love you. Forgive me, then. I must depart now", he answered.
*
And the Kite looked at Wind, as he flew away. She had tears on her eyes, while she kept dancing like a sad fairy. And she cried, and cried, and cried. And her tears soked her completely, making her body heavy like a stone. And no longer she could fly, quickly descending to her kite´s grave on the ground.
*
The green grass embraced her gently, happily holding her with love and devotion."I always looked at you from down here, but you were nothing but an impossible dream, always chasing Wind. I shall love you, dear Kite, because now we are one with the earth", the grass whispered on her ears.
*
The Kite smiled.
And she felt like home.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

ILUSTRANDO

"Baía de Marselha, vista de L´Estaque" - Cézanne

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

SOMETHING ELSE

Não seria esse um pensamento comum a todas as pessoas? Praticamente coletivo? "Tentar outra coisa"; "tentar algo novo"; "tentar algo diferente". Porque chega uma hora que é como se essa idéia gritasse dentro de nós. É o pensamento que nos acorda, junto com o alarme das 8h da manhã, quando abrimos os olhos, perplexos e incrédulos que o dia já amanheceu: "outra coisa". É inevitável o aborrecimento diante da rotina ou o esgotamento da máquina humana que não é máquina, é carne e se desgasta. E sentimos como se as engrenagens, eixos e correias orgânicas estivessem exaustas, sedentas por lubrificação e reparo. É por isso que nós, máquinas humanas, celebramos as tardes de sexta-feira, os feriados e as sonhadas férias. E maldizemos as noites de domingo e as manhãs de segunda-feira. Não pela preguiça mas simplesmente pela vontade DESESPERADA de "fazer outra coisa". Quem inventou, afinal, que a vida se resume em trabalhar, com curtos espaços (curtíssimos) para a resolução de outras coisas? E os 99% restantes da existência? Sim, para mim, trabalho representa apenas "1%". Eu me recuso a dar ao trabalho mais importância do que ele merece. Porque trabalho é apenas um meio para um fim; garimpar recursos em troca do nosso produto subjetivo e pagar contas, compras e caprichos. 1% é mais do que suficente. Porque é o resto que realmente importa: amor, arte, lirismo, silêncio, sono, lazer, viagem, memória, música, cinema, entretenimento bobo, ócio. Perdemos tempo demais nos dedicando ao estresse, como se fosse algo a ser cultuado. Porque inventaram que deveria ser assim e ninguém parece ter se atrevido a dizer o contrário. E assim, pagamos todos os dias o preço de sonhar com "algo diferente". Something else.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

VITÓRIA DA ESPERANÇA

E todos gritaram, o tempo todo, "yes, we can".

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

ILUSTRANDO

"A liberdade guiando o povo" - Delacroix

EUROPA EM DUAS HORAS


É adorável o filme "Bonecas Russas" (Les poupées russes), uma espécie de continuação sem compromisso do "Albergue espanhol". Resumidamente, é um filme gostoso de se ver. O elenco é encantador, os lugares explorados (em Paris, Londres e São Petersburgo) são maravilhosos, a direção é atraente. Emenam charme, sensualidade, musicalidade. Uma história da qual é possível sentir saudade. Sentimos como se conhecessemos aquelas pessoas; como se fossem amigos de longa data que o destino nos dá uma chance de reencontrar. E é tudo muito favorável: diálogos, situações, cenários. Conhecemos um pouco mais sobre Xavier Rousseau, escritor cheio de possibilidades que se vê dividido entre os dois lados do Canal da Mancha. No caminho, paixões, decepções, descobertas e um casamento a se realizar em São Petersburgo. Ao final, fica a reflexão - bem vinda - sobre as escolhas que fazemos na vida e o desejo urgente de subir no primeiro avião com destino ao outro lado do Atlântico. Na falta de tempo e recursos financeiros, "Bonecas Russas" serve perfeitamente como uma breve visita de alguns dias ao continente europeu, com direito, ainda por cima, a ótimas companhias.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

HERÓI DE MUITAS CAPAS

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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

LONGE, LONGE DAQUI


Quero assistir, novamente, ao filme "Come early morning" (me recuso chamá-lo por seu nome brasileiro, "Encontros ao Acaso"). Essa birra se deve à incoerência - recorrente - do "abrasileiramento" sem critério que muitas vezes recai sobre bons filmes, cometendo injustiças imperdoáveis. Esse filme, em que Ashley Judd brilha, é mais uma vítima. A história fala do desejo humano, genuíno, de se encontrar, de uma mulher desorientada que vive cada dia como a repetição do anterior, pulando entre relacionamentos de uma noite, na sua impossibilidade de se entregar, de se envolver. É um filme melancólico, silencioso, de cenários decadentes que ilustram vidas medíocres no sul dos Estados Unidos, perdido no tempo. Nada há de especial, além de boa fotografia e a atuação sempre impactante de Ashley Judd (como é de se esperar). É um desses filmes reflexivos, sobre a investigação do "que diabos estamos fazendo aqui, nessa vida?"; a briga que travamos com nossa história, nossa identidiade, o que herdamos de nossos pais. E, sob essa lente, é um filme que merece ser visto. Mas aqui há o grande problema: expectativa. Ao escolher esse filme, em nossas prateleiras verde-amarelas, encontramos a promessa de uma comédia romântica ensolarada, como tantas por aí, em que a mocinha, por pior que seja sua jornada, encontrará um final feliz. E, esperando que isso aconteça, deixamos de apreciar o filme. Porque não haverá final feliz. Pagamos por esse desespero da indústria cultural do nosso país que força, a qualquer custo, para oferecer o consumo do óbvio. E assim se permite pecar, de forma tão tosca, como no caso deste filme. "Come early morning" é um filme valioso (eu percebo semelhanças interessantes com "Flores Partidas"). E merece ser visto. Só não aqui.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

"DÁ-ME PENSAMENTOS NOVOS"


Converso comigo todos os dias sobre isso. Acho que ando sentindo falta de novos pensamentos. O cansaço do dia, o trabalho que consome, a rotina tão cheia de rituais automáticos; um conjunto de coisas que vão sufocando a criatividade e pouco a pouco tirando aquela poeira misteriosa que nos ajuda formular pensamentos novos. Não sei. Talvez seja um mês mais cansativo, também, acontece. Dias melhores virão, não é? Os pensamentos não são uma indústria, procuro me consolar; não dá para fabricar, plantar para colher. É uma combustão espontânea. Um balão que estoura, a lâmpada que acende, como nos desenhos animados. Mas acredito que eles às vezes ficam mais arredios, mais distantes; meio magoados, sem querer mostrar a cara; e se escondem, em cantinhos mal iluminados da nossa cabeça, como se não existissem. Ou talvez fiquem doentes, de cama, como nós, e decidam não vir trabalhar. Ou também fiquem eles sem inspiração. De repente os pensamentos têm vida própria, são de lua, agem conforme o tempo e a maré. E é preciso respeitá-los. Mas é que sinto falta deles, quando os percebo longe. E fico a procura, à espera que cheguem, ansiosamente. E corro os campos abertos do meu imaginário, como se gritando ao meu cérebro, por entre os vales e colinas, que vão surgindo sob os meus pés: "dá-me pensamentos novos".

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A REINVENÇÃO DO FORDISMO


Às vezes acho que estamos correndo contra a maré das tendências. E reinventando o passado, corrempendo nossos valores, ficando mais arcaicos, escolhendo ser ultrapassados. Honestamente, adoro trabalhar. Acho que é um benefício para o corpo, mente e espírito; como amar, alimentar-se, dormir, aprender. Faz parte da vida. E não apenas por uma questão de obrigatoriedade - "temos contas a pagar" - mas porque a sensação de produtividade, de fazer parte de um processo criativo que transforma o nada em algo é valioso. O cansaço ao final do dia é a prova que colocamos nossa máquina humana para exercitar-se a pleno vapor. Mas essa é a parte bonita da história. É o que todo mundo diz e quer acreditar. Mas a verdade é que esse é o "trabalho como o idealizamos", porque a realidade sempre nos obriga a acreditar o contrário: que o trabalho é a escravidão e a tortura da vida moderna; que reprime, sufoca, esmaga nossas idéias mais originais, nossa liberdade; que nos afasta da família, que suprime nosso lazer e prazer; que nos impede de viajar, de expressar nossa individualidade: porque temos um horário, um prazo e alguém, acima de nós, para responder pela origem de todos os nossos problemas. Trabalho deveria estar em sintonia como aquilo que funciona em nossas vidas: sendo algo que nos trouxesse prazer e não ansiedade. Somos questionados, cobrados e exigidos em transformar a nossa subjetividade em concreto, moldar nosso espírito a padrões que não são nossos e nos adequar a um sistema falido que parece querer reinventar o fordismo, todos os dias. As pessoas erradas estão no poder, é a conclusão que chego todos os dias. Onde estão os detentores das melhores idéias, libertárias, renovadoras? Onde eles estão, que não assumem seus postos de lideranças dos novos tempos? Não. As pessoas erradas estão no poder. No poder de gritar, de demandar o impossível, de questionar o absurdo, de exercer a desumanidade travestida de autoridade. O trabalho, como atividade espartana, tem sido abandonado gradualmente em todo mundo esclarecido. No nosso país, talvez por herança cultural, dependemos de uma estrutura infeliz, onde ainda somos escravos do café e do açúcar. E assim trabalhamos, aquartelando nossa indignação, transformando-a em pólvora, no anoitecer das nossas revoluções pessoais escondidas. Guardamos nossa revolta, sob a capa de cidadãos comprometidos. Mas ela está lá, como capoeira que nos fortalece as pernas. E um dia, mais uma vez, tudo queimará nas cinzas da renovação. E talvez, quem sabe, as pessoas certas atendam ao chamado.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

VOANDO LONGE DA SUA ATMOSFERA

Brincamos, às vezes, de indagar se "seríamos amigos, caso tudo desse errado". E eu sempre te digo que eu simplesmente não conseguiria; seria impossível. E você ri e questiona a minha inflexibilidade. Afinal, perderíamos tanta coisa, não? Mas eu simplesmente não conseguiria, porque envolveria imaginar o dia, a minha vida sem a idéia de voltar para você. Ou pior, saber de você sem poder voltar. Eu veria as ruas e os lugares, por onde passamos algum dia, vazios. E, para mim, você estaria em toda parte. E meu coração sentiria um aperto a cada esquina. E então eu me descobriria refém das fotos de uma história inesquecível que iria me perseguir até o fim. Eu teria que "voar longe da sua atmosfera", para sobreviver, para não me queimar por completo, para não me desfazer em mil pedaços a cada momento em que o acaso te trouxesse de volta ao alcance dos meus olhos. É como a música, que tenho ouvido no carro. É exatamente como a música.

A mim seria destinada uma vida de errâncias sem sentido. E todas as curvas da cidade me diriam "esqueça, deixe passar, a vida é assim...", algo que não seria possível. Porque eu atravessaria os dias e as noites imaginando em que lugar de sua vida eu (ainda) estaria ou se eu teria ficado, para sempre, como uma lembrança de algo bom que passou e ficou para trás. E, como uma maldição, carregaria comigo esse pensamento.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

PARA TODAS AS IDADES (E COLEÇÕES)

É praticamente uma obrigação, para qualquer amante de cinema, assistir "A Bela Adormecida", o 19º longa-metragem de animação produzido pela Disney inspirado na obra de Tchaikovsky. Aliás, é simplesmente uma obrigação, não importa. Acaba de ser lançada uma edição especial, com dois DVDs, que merece constar em qualquer coleção. O desenho é um marco (certamente um dos meus preferidos, juntamente com "Cinderela" e "Branca de Neve e os sete anões"), com belíssimos traços góticos, de tom medieval. Os cenários são detalhadíssimos, demonstrando o cuidado e a riqueza do trabalho artesanal de animação, numa época em que o amor era mais importante que computadores de ponta. A música é inesquecível (utiliza melodias da própria obra de Tchaikovsky). E a história é absolutamente clássica: a princesa amaldiçoada, que adormece numa torre enquanto espera pelo príncipe encantado que, antes de acordá-la com um beijo, precisa derrotar um dragão em um labirinto de espinhos. Malévola, a mais interessante de todas as vilãs Disney, está lá, roubando a cena sempre, com sua voz e olhar inconfundíveis. Ao assistir essa obra de arte viva, dá para entender o porquê de ter demorado 6 anos para se finalizada. E até hoje, "A Bela Adormecida" é um marco na animação, servindo como referência de técnica e poética. Um, entre tantos, presentes eternos de Walt Disney para todas as gerações.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

UM NOVO RAPAZ NO PEDAÇO


Ele é mais charmoso e mais engraçado que eu. Chegou de surpresa, como quem não quer nada, e agora somos dois homens na casa, dividindo o amor e a atenção da mesma mulher. Desleal competição. Mas é inevitável morrer de amores pelo entruso miúdo que veio roubar um cantinho das nossas vidas. Filho felino. Não tem problemas, pequenino Nietzsche. Seremos um trio, agora.