Posso dizer que somos parceiros. No crime, no amor e na guerra. Amamos e brigamos sem medo de testar os limites. Como gata e cachorro. Uma gata manhosa, misteriosa, delicada, dengosa, geniosa, temperamental. Um cachorro estabanado, sensível, ansioso, carente, de bom coração e alma pura, mas dado às preguiças e os excessos do dia. Mas que juntos funcionam, apesar dos atritos, mas que se misturam sem dificuldade. Porque somos adultos, crianças, técnicos e sonhadores. Alquimistas, astrólogos, tímidos descobridores. Sou vela, você é vento. Sou árvore, você é água. Sou flecha, você arco. Soldados e pacifistas. Somos tudo o que queremos, mesmo quando não queremos ser nada. Nem sair da cama. Adoro quando discutimos com muita categoria os assuntos de que sabemos muito pouco a respeito. Quando refletimos e argumentamos sem titubear sobre coisas que, lá no fundo, nem conhecemos muito bem. Assim discutimos muito da arte, da música, da culinária, da história, do tempo. E nunca somos falsos nem superficiais. Porque, sim, sabemos de tudo, sabemos de muito. Mas não nos ocupamos tanto com os detalhes. E jamais somos falsos. É que nós jogamos pela janela os manuais de instruções, porque preferimos os choques nos dedos às letras miúdas que dizem nada, ou quase nada, para nos guiar do ponto a ao b e então ao c. Somos o que der na telha. Mesmo que na telha não dê nada, apenas chuva. E queremos correr, para todos os lados, em todas as direções, a todos os lugares. Fugimos pela alegria de fugir. E adoramos sair à francesa, sem diplomacia. Não gostamos dos telefones nem das campanhias. Ok, às vezes até gostamos. Preferimos as sombras à luz, em alguns momentos. Em outros, tudo o que mais queremos é o sol queimando o rosto. Somos animais alados e bichinhos tímidos que adoram o calor das suas tocas. Somos heróis e mitologias. Somos signos e estrelas. Príncipes de planetas distantes. Somos cores em um quadro sem molduras. Somos linhas paralelas que se cruzam, todo o tempo, sem pudor. E assim seguimos.
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
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