Sonho, mente, alma, espírito. Um emaranhado de pensamentos e idéias, conexões desconexas de reflexões com e sem fundamento; com e sem propósito. O princípio da angústia, como eu a entendo, é a incapacidade de dialogar com a nossa própria cama-de-gato psiquica, que elaboramos meio intencionalmente, meio espontaneamente e da qual não conseguimos escapar com muita facilidade. Quando menos percebemos, um pensamento conduz a outro, que conduz a outro, que conduz a outro. E, afinal, erguemos um muro em volta de nós mesmos. Fechado, sem porta nem janelas. Sufocante claustrofobia na prisão que montamos ao redor de nós mesmos. E ficamos sem saber como nos libertar. Escalar, pular, arrebentar os tijolos, nunca é um processo fácil. Há sempre alguma dor, alguma marca, alguma perda decorrente do esclarecimento. Compreender a origem da angústia é constatar uma realidade - boa ou ruim - que nos permite fugir de dentro do muro, do aprisionamento. Nessa luta contra o inimigo invisível, perde-se a fome, o sono, o humor. Mas é tudo perdoável. Vale tudo na guerra. Mas e o ônus deste exercício tão árduo? Podemos emular a felicidade, como se fosse um narcótico, ao ponto de a sentirmos plenamente. Mas é como se, passada a euforia, ficássemos sem um alento imediato, no abrupto retorno à realidade. Voar e cair. Não sei. Idéias desconexas, anotações mentais, reflexões, auto-análise. A pele deve ficar mais fina nesta época do ano, com as festas e todos os ritos de passagem que elaboramos. E, como num sonho, viajamos por algumas horas à inocência infantil, à Terra do Nunca, de simplicidade pura e alegrias palpáveis, despida de preocupações, mas quando menos percebemos, estamos de volta. O encontro com a realidade, o dia que amanhece sem uma festa à tarde. Encarar os fatos, sermos adultos, pagarmos contas, irmos ao trabalho, seguirmos em frente. Flertamos perigosamente com o sonho e talvez esteja aí o nosso entendimento sobre a felicidade. Não que ela seja falsa ou irreal. Pelo contrário. Ela é bem real, genuína, confortante. É o trânsito, entre as realidades, que confunde e angustia. Por isso colecionamos tanto. Aglomeramos tanto, juntamos tanta coisa, tanta "tralha", em nossos armários mentais, reais e virtuais. São nossas cápsulas constantes, ao alcance da mão e dos olhos, a pílula vermelha para o maravilhoso mundo de Alice, o passaporte para um mundo onde as alegrias superam os medos. Colecionamos para mantermos o sonho "ON". Colesonhamos.
quarta-feira, 26 de dezembro de 2007
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