Tenho ouvido falar deste novo filme, "The Darjeeling Limited" (O Expresso Darjeeling/2007), do Wes Anderson (diretor dos geniais "Excêntricos Tenenbaums" e "Vida marinha"). De tanto "ouvir o galo cantar", aos poucos fui descobrindo do que se trata a história (interessantíssima) e rapidamente se tornou um dos lançamentos que aguardo mais ansiosamente, agora. 3 irmãos numa viagem de trem semi-existencialista pela Índia. A crítica tem sido favorável, reconhecendo-o como um provável clássico cult. O elenco inclui nomes como Adrien Brody, Jason Schwartzman, Owen Wilson, além do indefectível-mais-lost-de-todos Bill Murray em, provalvelmente, algum personagem fascinante. Na produção, encontram-se alguns nomes ligados à Sofia Coppola (Roman Coppola e Milena Canonero, por exemplo). Fotografia rica e colorida, acompanhada de uma trilha sonora interessante (exótica também). Uma espécie de "road-movie", com diálogos inteligentes, comédia na medida certa e a qualidade específica de qualquer filme de Wes Anderson, que mistura com muita competência o bom humor e a melancolia. No lançamento americano (no final de setembro), o longa foi antecedido por "Hotel Chevalier", um curta estrelado por Natalie Portman e Jason Schwarztman (maravilhoso como o rei Luis XVI de Maria Antonieta), espécie de preâmbulo para a história que será contada no filme (este curta, parece, só virá no lançamento em DVD). Topo da lista, meteoricamente, dos filmes que gostaria de ver agora, nesta sexta-feira, mas que ainda não chegaram ou sequer foram produzidos. Ou imaginados.
terça-feira, 30 de outubro de 2007
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
"VOCÊ VAI PERDER ESTE AVIÃO, BABY..."
Em poucas palavras, "Antes do pôr-do-sol" (Before Sunset/2004) é a continuação perfeita. Não é melhor do que o primeiro filme, "Antes do amanhecer" (nem precisaria ser), mas é a melhor continuação (senão a única) que o clássico de 95 poderia ter. Jesse e Celine se reencontram no Café Shakespeare, em Paris, quase dez anos após a despedida inevitável, na estação de trem em Viena. Não, eles não se reencontraram seis meses depois. E como não haviam trocado telefones, endereços, sequer sobrenomes, perderam-se para sempre. E o tempo, como sempre, seguiu seu caminho e passou. A história de amor transformou-se num best-seller, escrito por Jesse, que numa pequenina coletiva de imprensa no café literário, permite que os dois se vejam novamente. Mas a vida não parou para nenhum dos dois. Certamente. Não são mais jovens inocentes, inebriados pelas múltiplas possibilidades dos vinte e poucos anos, apaixonados pela existência sem barreiras. Tornaram-se adultos convencionais, com problemas de relacionamento e exaustos de vidas medíocres. O reencontro é uma ironia, um golpe, uma punição por terem "perdido o trem", deixado escapar pelos dedos a oportunidade única de uma vida incomum. Os diálogos filosóficos continuam os mesmos, um pouco mais amargurados, com inconformação e cinismo permeando entre as frases e as pequenas provocações que se fazem. Algo permanece intocado: a vontade desesperada de prorrogar um pouco mais a despedida. Jesse tem algumas horas antes de ir embora. Um café que se torna um passeio. Um passeio que imigra para as margens do Sena. Das margens do Sena para a porta de casa. Da porta de casa para um chá e violão. Celine tem uma valsa para mostrar a Jesse (a seqüência final inteira é mágica). Mais um segundo, só mais um segundo, antes de ir embora. A essência do encontro de Jesse e Celine, que não aprenderam a dizer adeus um ao outro. Os olhos dele brilham enquanto tateia cada canto do apartamento de Celine, transbordando da personalidade pela qual ele se apaixononou. Ela dança na cozinha, enquanto imita Nina Simone, seduzindo sem seduzir: "Você vai perder esse avião, baby". Ao que Jesse responde, sem cerimônia: "Eu sei". É que sempre haverá tempo para não se perder mais tempo. Perder-se apenas para se encontrar. Para não se perder nunca mais.
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
O ADEUS IMPOSSÍVEL
Tardiamente eu encontrei tempo para assistir a "Antes do Amanhecer" (Before Sunrise/1995). Bom, "tempo" não é a palavra ideal, no fim das contas. Eu simplesmente não assisti. Talvez por falta de vontade, oportunidade ou mesmo por não ter sido atraído pelo filme por mais que tanto se falasse sobre ele e sua continuação, "Before Sunset". Lamento por isso. Terrivelmente. Tivesse eu visto em outro momento, digo bem antes, a silenciosa história, contada por Ethan Hawke e Julie Delpy (maravilhosos juntos) teria sido muito mais impactado. Não que a pele tenha ficado mais grossa e o coração mais incrédulo. É que o filme teria me acertado em cheio num momento crucial em que entendi a minha dificuldade em lidar com o adeus, com a despedida, com deixar algo, alguém, para trás. E isso me acompanhou (e acompanha) por toda a vida. Minha angústia mais constante e recorrente. Não aprendi a me despedir, não sei dizer adeus e deixar coisas no caminho é como desprender-me de pedaços que vou sentindo falta quanto mais adiante vou seguindo: amigos, lembranças da infância, momentos mágicos, viagens. Flashbacks perfeitamente editados na minha mente que parecem correr ao som de "I will remember you", da Sarah Mclachlan quando assisto a filmes como este, "Antes do Amanhecer" e tantos, tantos outros ("Encontros e Desencontros" é o expoente máximo disso). Não sei se todas as pessoas são assim. Algumas felizardas provavelmente não, por que não se dão o trabalho de serem "lost", de enxergar a vida por prismas mais coloridos, mais profundos, uma vez que a superficialidade dos dias iguais já basta. Eu, felizmente, sou fundamentado numa "lostness" tão minha, que me impede de seguir a vida sem cronicá-la e faz com que eu sucumba em pensamentos imensamente reflexivos quando assisto a um filme como "Antes do Amanhecer". Não quero dizer aqui que o filme seja algo especial, melhor de todos os tempos ou coisa assim. Não é isso. É a essência, a humanidade. A triste certeza que temos de que nada é eterno, tudo é passagem, é efêmero. A impossibilidade de eternizar tudo aquilo que nos é especial. Mesmo tendo passado algumas poucas horas juntos, o abraço de despedida de Jesse e Celine é desesperado e comovente, como se tivessem vivido uma eternidade juntos e fossem se perder para sempre. Beijos famintos para aproveitar cada segundo, cada último segundo juntos antes do trem que a leva para Paris partir. Só quem viveu um amor à distância sabe sentir esta cena. E eu sei. A trajetória solitária de Jesse, saindo da estação rumo ao aeroporto é filosofia urbana: todos os lugares que, horas antes, haviam sido habitados por eles enquanto construíam as melhores e mais inesquecíveis lembranças, agora vazios enquanto ele passa de ônibus. Por que não há mais ninguém lá, eles tampouco, e a cidade de Viena acorda para mais um dia como outro qualquer. Os dois seguem destinos opostos, solitários. Com o cheiro e a lembrança ainda muito vivos. Estão completamente perdidos na idéia de que viveram um sonho e voltaram à realidade. Viveram um tempo à parte, alheio, só deles. Um olhar à janela traz a meditação de quem se agarra desesperadamente às lembranças ainda frescas. Melancolia que traz lágrimas aos olhos, mas faz sorrir. O coração quebrado em mil pedaços, mas orgulhoso por ter vivido algo tão incomum e extraordinário. Sofrimento inevitável como contrapartida de uma lembrança especial, por que a vida segue seu rumo, como um trem, e nos acolhemos na esperança de reencontros que não aplaca a idéia angustiante de que algo ficou para trás. Algo que talvez nunca mais tenhamos de volta.
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
UM ENCONTRO IMPROVÁVEL
Uma zebra nasce destinada a correr as savanas africanas, a não ser que a levem para um zoológico. Um golfinho nasce destinado a viver no mar, a não ser que o levem para algum destes parques aquáticos e o domestiquem. Ou apareçam em filmes (isso vale para os dois). Jamais ambos os animais poderiam se ver, se conhecer. O que significa que golfinhos e zebras nascem e morrem sem nunca saber da existência um do outro. Quantos outros animais não passam pelo mesmo? Fadados a uma existência de ignorância sobre os outros seres da terra (e até sobre si mesmos)? Vi uma notícia de que o parque Six Flags Discovery Kingdom, na Inglaterra, decidiu apresentar uma zebra a um golfinho, rompendo com este ciclo de desconhecimento, vencendo o encontro que seria impossível na antureza. A zebra Grants, 8 meses de idade, teve o privilégio de "cumprimentar" Brandy, um golfinho no aquário do zoológico (segundo reportagem do Portal Terra de 25 de outubro de 2007). Isso me deixou tremendamente reflexivo... elefantes que nunca vão conhecer baleias e tantos outros encontros impossíveis... é curioso como é "lost in translation" o mundo e a existência dos animais. Que língua eles falam? Que pensamentos passam pelas suas cabeças? A única coisa que sei é que este golfinho está maravilhado com seu encontro improvável. O sorriso é um idioma universal.
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
LEMBRANÇAS QUE FICAM
Caverna do Dragão. Ou "Dungeons & Dragons", como é conhecido nos Estados Unidos. Mais um elo (fortíssimo) com a minha "infância (nem tão) perdida (assim)". Lembrar de Caverna do Dragão é associar, automaticamente, à idéia de ligar a TV no "Xou da Xuxa", quando passava de manhã, ou ao voltar da escola, quando passava à tarde. Aquela época especial em que, SIM, éramos felizes e não sabíamos, quando a grande preocupação eram as provas na escola ou amores não correspondidos. A realização, na tela, de uma das minhas mais recorrentes fantasias infantis, de aparecer, um belo dia, num mundo de lugares surreais e criaturas fantásticas, acompanhando amigos em desafios inacreditáveis, empunhando armas mágicas. Hank, Sheila, Bobby, Presto, Diana e Eric, o meu favorito. Adorava todos eles e torcia por cada um, mas aguardava ansiosamente pelas ironias e comentários deslocados do mais cranky de todos, "Eric, o cavaleiro". Com seu escudo amarelo (que eu também achava a melhor das armas), acabava por salvar toda a trupe quando as esperanças estavam perdidas. O garoto rico, mimado, individualista, que demonstrava a maior humanidade do mundo quando sabia que só ele podia ir em ajuda dos seus amigos. Cada desenho era especial e lembro de todos como se tivesse visto hoje. É uma pena que tenham deixado de produzir a série. As gerações de hoje, e as próximas, nunca vão saber o que são desenhos animados. Este é um privilégio para nós, filhos da infância inocente dos anos 80/90, que costurou em nossa mente a mais rica e colorida colcha de lembranças. Lembranças que ficam.
terça-feira, 23 de outubro de 2007
"ESCREVAM-ME DEPRESSA, DIZENDO QUE ELE VOLTOU..."
XXVII
"E agora, certamente, já se vão seis anos... Jamais contara essa história. Os camaradas ficaram contentes de ver-me são e salvo. Eu estava triste, mas dizia: É o cansaço... Agora já me consolei um pouco. Mas não de todo. Sei que ele voltou ao seu planeta; pois, ao raiar do dia, não lhe encontrei o corpo. Não era um corpo tão pesado assim... E gosto, à noite, de escutar as estrelas. Quinhentos milhões de guizos... Mas eis que sucede uma coisa extraordinária. Na mordaça que desenhei para o principezinho, esqueci de juntar a correia! Não poderá jamais prendê-la ao carneiro. E eu pergunto então: ´Que se terá passado no planeta? Pode bem ser que o carneiro tenha comido a flor...´ Ora eu penso: ´certamente que não! O principezinho encerra a flor todas as noites na redoma de vidro e vigia bem o carneiro...´ Então, eu me sinto feliz. E todas as estrelas riem docemente. Ora eu digo: ´Uma vez ou outra a gente se distrai e basta isto! Esqueceu uma noite a redoma de vidro ou o carneiro saiu de mansinho, sem que fosse notado...´ Então os guizos se transformam todos em lágrimas!... Eis aí um mistério bem grande. Para vocês, que amam também o principezinho, como para mim, todo o universo muda de sentido, se num lugar, que não sabemos onde, um carneiro, que não conhecemos, comeu ou não uma rosa... Olhem o céu. Perguntem: Terá ou não terá o carneiro comido a flor? E verão como tudo fica diferente... E nenhuma pessoa grande jamais compreenderá que isso tenha tanta importância. Esta é, para mim, a mais bela paisagem do mundo, e também a mais triste. É a mesma da página precedente. Mas desenhei-a de novo para mostrá-la bem. Foi aqui que o principezinho apareceu na terra, e desapareceu depois. Olhem atentamente esta paisagem para que estejam certos de reconhecê-la, se viajarem um dia na África, através do deserto. E se acontecer passarem por ali, eu lhes suplico que não tenham pressa e que esperem um pouco bem debaixo da estrela! Se então um menino vem ao encontro de vocês, se ele ri, se tem cabelos de ouro, se não responde quando interrogam, adivinharão quem é. Então, por favor, não me deixem tão triste: escrevam-me depressa, dizendo que ele voltou..."
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
AFASTA-ME DE TODO O MAL
Eu andarei vestido com as roupas e as armas de Jorge, para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem pensamentos possam ter para me fazerem mal. Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e espadas se quebrem, sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar. Glorioso São Jorge, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e sua grandeza. E que sob as patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. Por que eu andarei vestido com as roupas e as armas de Jorge.
PHANTASY STAR I (OU SOBRE "COISAS QUE FICAM")
Phantasy Star I. Sem a menor dúvida, um elo forte com a minha infância (nem tão) perdida (assim). Lembro dos meus primos jogando, em Phoenix, Arizona. Neve caindo lá fora, no natal de 1990 e meu primo salvando o jogo às portas de enfrentar o temido Lassic, num castelo flutuante. Isto após alimentar o gato Myau com a "Noz de Laerma", que o transformava em um ser alado gigantesco. Sério, está para nascer um RPG como o primeiro Phantasy Star. Era tudo muito bom. A música até hoje toca na cabeça, como se eu ainda acompanhasse a história de Alys, seguida por um gato amarelo, um feiticeiro e um guerreiro, pelas ruelas de uma cidade futurista, numa "cinematográfica" tela de 14 polegadas. Labirintos totalmente tridimensionais quando já vibrávamos com os gráficos 2D. Pioneiro RPG que estabeleceu inúmeros conceitos seguidos fielmente até hoje. Um grupo, um dilema, uma jornada, um inimigo a ser vencido. Equipamentos, mapas, magias, turnos, níveis, segredos. Um universo de possibilidades dentro da tão limitada capacidade do Master System. Inspiração e genialidade numa época em que o entretenimento eletrônico compreendia basicamente fazer um boneco pular e um carro ir da direita para esquerda. Phantasy Star era o máximo! Simples e, nos padrões atuais, paupérrimo em milhões de aspectos, mas um dos jogos mais completos na minha opinião até hoje. Viciante, desafiador, enigmático. A TECTOY bem que poderia lançar uma versão comemorativa do Master System com Phantasy Star na memória, ao invés de lançar e relançar todos os anos um Master com mil jogos que ninguém gosta. Onde este povo está com a cabeça? Expectativas à parte, a grande verdade é que os jogos de hoje estão praticamente vivos, sem dúvida alguma. Mas ainda acho que 10, 15 anos atrás eles tinham mais alma.
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
A CONQUISTA DO MUNDO
NAPOLEON EMPEREUR. É o que diz uma moeda muito antiga que encontrei na casa de um tio-avô, colecionador compulsivo de arte, que havia falecido. A minha vó me autorizou a escolher algo, no meio daquele monte de coisas espalhadas que iriam ser empacotadas, vendidas, guardadas. Aquela moeda me bastava. "Imperador Napoleão". Napoleão I, da França. Napoleão Bonaparte (1769/1821), imigrante, sonhador, estudante, idealista, general, imperador, legislador, arquiteto, gênio, tirano, mito. Pelo que sei, o segundo homem mais estudado e biografado depois de Jesus Cristo (se bobear o Hitler deve vir logo em terceiro, mas por motivos muito, muito diferentes...). Carisma, poder, fascínio, reinvenção dos impérios sob a bandeira tricolor francesa. Igualdade, Liberdade e Fraternidade, sons de uma revolução reinventada por ele para calçar a via que desenhava com as próprias mãos sobre uma Europa cada vez mais francesa (e como os romanos, deixou marcas que perduram até os dias de hoje). Conta a história que mesmo jovem costumava comandar guerras de bolas de neve (não me importa muito o quão histórico é esse dado, mas acho maravilhosa a idéia do pequeno-futuro-imperador sobre um pequenino monte de neve, dedo em riste apontando uma ordem de carga de bolas de neve, enquanto outra mão descansa calmamente sobre a barriga, por debaixo de botões desabotoados na camisa). Discurso em cima de um camelo diante de pirâmides no Egito, conquistas triunfais nos alpes, um colar apaixonado a uma futura imperatriz que em simples reflexão propunha o seu entendimento da vida e do futuro a seguir: "Ao Destino". Napoleão não foi "mais um tentando conquistar o mundo". Por que, se pararmos para pensar, ele o fez, como a Coca-cola e o Windows. Bonaparte se transformou em mito, símbolo, produto, objeto de consumo, desejo e estudo. Livros, miniaturas, tabuleiros de xadrez, copos, canecas, pratos, jóias, tudo se faz de sua imagem emblemática: o pequenino homem (nem tão pequeno como se pensa graças a uma confusão de medidas), com seus chapéu e capa gris inconfundíveis e uma mão característica dentro do colete para aplacar dores de estômago: a marca registrada do homem que partia em posse do globo. Seus marechais eram chamados de "apóstolos" e seu descanso eterno, o imperial túmulo em Les Invalides, em Paris, é um convite à demonstração de respeito, mesmo após sua morte. Conta-se que o visitante que desejar contemplar o seu sarcófago deve se curvar como se cumprimentando o famoso imperador francês (fato ou lenda, é uma informação deliciosa). Não conheço Paris, ainda, mas se me derem 30 minutos que sejam na cidade, Les Invalides seria meu destino único e certeiro. E, sim, eu também me curvaria ao Napoleão eterno, sem nenhum pudor de lhe fazer reverência, admirando o seu descanso contemplativo a respeito de um continente e um mundo que, até hoje, respiram sua imagem.
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
UM PEQUENO PLANETA PARA CADA UM
Acho que qualquer pessoa deste mundo, por mais pacata que seja, um dia pensou em sumir, partir, fugir, ir embora para algum lugar. Aquela (deliciosa) fantasia de sentar num trem, pegar um avião, subir num barco e desaparecer. Renascimento. Reinventar-se num espaço de anonimatos, onde ninguém te conhece (talvez nem você mesmo). Descobrir a vida em outro lugar. Para o ser humano, entendo eu, a mudança e a estagnação são igualmente importantes. Viajar é essencial. Ficar também é. Horizontes novos são necessários para se ampliar os conhecimentos e a cultura, evoluir. Criar raízes é escrever uma história, deixar algo em algum lugar. A busca ideal seria correr o mundo em 80 dias - ou 80 anos - e escolher um destes milhões de pontos coloridos para edificar uma casa. Cuidar e ser cuidado. Cães e filhos. Flores e compras de supermercado. Contas de cartão de crédito e filmes de madrugada. Despertador e café-da-manhã na cama. Café e pão de queijo. Correr e almoçar. Trânsito e feriados. Por que a rotina é boa, é a noção mais real de que estamos nos transformando em alguém que um dia imaginamos "se seríamos". A vida surge diante dos nossos olhos, a cada novo dia, e vamos aprendendo pouco a pouco que definitivamente estamos chegando em algum lugar. Por que, de fato, podemos tomar carona nas asas de pássaros imigrantes e voar para bem longe; mas como o Pequeno Príncipe, queremos mesmo é o nosso pequeno planeta de volta, eternamente, com baobás a serem combatidos e as nossas Rosas para protegermos do frio que faz no espaço. Sentar numa cadeira para ver o pôr-do-sol inúmeras vezes. Sonhar acordado, sob estrelas cintilantes, pensando em todos os lugares distantes além da linha que se estende dos olhos e a imaginação. Queremos voar. Para voltar. Sempre.
terça-feira, 16 de outubro de 2007
"THE WAR OF THE LIONS" (OU COISAS MUITO LEGAIS QUE TODO MUNDO QUER)
Minha lista de "coisas legais que todo mundo quer" é um tanto quanto extensa, devo confessar. Por enquanto, vou me limitar ao meu próximo pequeno-grande sonho de consumo moderno, acessível-mas-nem-tanto: um PSP que, entre um milhão de funções interessantes, também me permitirá jogar "Final Fantasy Tactics", no seu remake da versão clássica (PSONE), "The War of the Lions" (que só consegui jogar no PS2 após restaurar o disco, que estava danificado - um post sobre "crônicas do Mercado Livre" se faz necessário). Um jogo sobre guerras épicas e traições memoráveis (como todo bom FF - bom, o post está ficando "nerdie" demais, ainda que só a saga Final Fantasy mereça um post). Quero dizer sem mais delongas que videogames são o máximo! E, ao contrário do que "eles" pensam (outra coisa que merece um post: "THEM"), não dependem de idade, apenas de algum tempo livre para juntar alguns amigos (ou mesmo sozinho) e criar algumas horas de entretenimento eletrônico (isso meio que combina com o último post, também - não há tempo nem rigor que sirvam para legitimar uma diversão). Se a diversão é honesta, legal e ninguém se machuca nem se ofende, ora, o que importa é querer. Ponto.
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
EM BUSCA DO TEMPO "PERDIDO"
Nunca é tarde para se ir em busca do tempo perdido. Aprender, com a sua esposa, num domingo qualquer, a andar de bicicleta milhões de anos depois da "época ideal" para isso, por exemplo. Há algo de errado em ouvir a sua mulher te explicar os princípios físicos (e emocionais) que compreendem o ato de se pedalar sobre uma bicicleta? Nunca! Infância perdida? Não, não mesmo, definitivamente não! Apenas um remanejamento de memórias, o antes e o depois, misturados sem muito rigor. Buscar o tempo perdido é algo para se fazer sempre. Sem pressa. Aprendo isso todos os dias (domingos, principalmente).
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
O MAIS "LOST" DE TODOS OS HOMENS
Superman, de todos, o mais "lost" dos homens. Sempre penso nas histórias dos super-heróis, tão ricas e interessantes, cheias de dilemas e crises existenciais, na cruzada diária de cada um em lutar por aquilo que é "certo". Mas não há nenhum como o Super-homem. Primeiro por que ele é aquele herói perfeito, infalível, invencível, que ninguém jamais enxergaria como um guerreiro de coração partido, solitário atormentado, estrangeiro eterno de um planeta que precisa defender não por que o obrigaram, mas por que ELE assim o quis. Foi nele que encontrei minhas melhores fugas de realidade infantil, "make me a red cape, I wanna be Superman", quando não havia outra roupa a se vestir que não sua quase-imperial capa vermelha. Quem não queria abraçar o Super-homem? Quem não queria sê-lo? Mas ninguém nunca pergunta ao Super-homem, do topo de um arranha-céu, o que se passa em sua cabeça, coração; que angústias atormentam a sua alma, se ele chora de tristeza, quais suas paixões, ódios, o que sente quando cruza os céus da Terra. Apenas os pássaros e os aviões lhe dão alguma companhia. No resto do tempo ele é um solitário, perdido em seu próprio silêncio. O que pensa o Super-homem? Digo, lá no fundo, o que pensa o Super-homem? Talvez por isso seja ele o mais "lost" de todos os super-heróis e não por acaso seu reduto, sua maior fuga, é a "A Fortaleza da Solidão", um palácio de gelo e cristais, herdado do seu pai, um templo à meditação e ao conhecimento. Para que ele aprendesse sua história e aceitasse sua missão. Eis a sua sina. O mais amado de todos os bebês, entregue às estrelas para que guiassem o seu destino.
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
DISCOS ESSENCIAIS I
Post prometido, post cumprido. Tudo o que eu poderia dizer, em poucas linhas, sobre a melhor trilha sonora de todos os tempos: MARIA ANTONIETA, filme da Sofia Coppola (Marie Antoinette, 2007). O disco, que segue a linha estética do filme, traz uma atraente embalagem em rosa, branco e azul claro, com a imagem escancarada da rainha francesa, na pele de Kirsten Dunst, em uma incinuante posição nos seus aposentos. Imagem emblemática da Antoinette vanguardista, incompreendida e decapitada. O encarte é belíssimo (confesso que a versão importada é mais interessante que a brasileira) e traz fotos do filme. São dois discos, repletos da criatividade genial que marca a diretora Sofia Coppola, habilidosíssima em criar "um ambiente musical" (que acaba sendo sempre um dos personagens principais das suas histórias), transitando facilmente entre o clássico e o pop, o punk e o indie. As cenas se encaixam na trilha e vice-versa. E quando vemos os personagens, em seus trajes pomposos, cavalgadas e bailes temos certeza que não poderia haver outra música para aquelas cenas. Destaques apaixonados ao Radio Dept., banda sueca inacreditavelmente desconhecida e New Order (o trailer oficial do filme, ao som de "Ceremony" é o máximo). O filme é imperdível e os dois discos são essenciais. Um presente muito cool que eu adoraria ganhar (apesar de já ter).
Disco 1
1. "Hong Kong Garden" - Siouxsie & The Banshees
2. "Aphrodisiac" - Bow Wow Wow
3. "What Ever Happened" - The Strokes
4. "Pulling Our Weight" - The Radio Dept.
5. "Ceremony" - New Order
6. "Natural's Not In It" - Gang Of Four
7. "I Want Candy (Kevin Shields Remix)" - Bow Wow Wow
8. "Kings Of The Wild Frontier" - Adam & The Ants
9. "Concerto in G" * - Antonio Vivaldi / Reitzell
10. "The Melody Of A Fallen Tree" - Windsor For The Derby
11. "I Don't Like It Like This" - The Radio Dept.
12. "Plainsong" - The Cure
Disco 2
1. "Intro Versailles"* - Reitzell / Beggs
2. "Jynweythek Ylow" - Aphex Twin
3. "Opus 17" - Dustin O'Halloran
4. "Il Secondo Giorno (Instrumental)" - Air
5. "Keen On Boys" - The Radio Dept.
6. "Opus 23" *- Dustin O'Halloran
7. "Les Baricades Misterieuses"* - Francois Couperin / Reitzell
8. "Fools Rush In (Kevin Shields Remix) - Bow Wow Wow
9. "Avril 14th" - Aphex Twin
10. "K. 213" * - Domenico Scarlatti / Reitzell
11. "Tommib Help Buss" - Squarepusher
12. "Tristes Apprets.." - Jean Philippe Rameau /W. Christie
13. "Opus 36" *- Dustin O'Halloran
14. "All Cat's Are Grey" - The Cure
Disco 1
1. "Hong Kong Garden" - Siouxsie & The Banshees
2. "Aphrodisiac" - Bow Wow Wow
3. "What Ever Happened" - The Strokes
4. "Pulling Our Weight" - The Radio Dept.
5. "Ceremony" - New Order
6. "Natural's Not In It" - Gang Of Four
7. "I Want Candy (Kevin Shields Remix)" - Bow Wow Wow
8. "Kings Of The Wild Frontier" - Adam & The Ants
9. "Concerto in G" * - Antonio Vivaldi / Reitzell
10. "The Melody Of A Fallen Tree" - Windsor For The Derby
11. "I Don't Like It Like This" - The Radio Dept.
12. "Plainsong" - The Cure
Disco 2
1. "Intro Versailles"* - Reitzell / Beggs
2. "Jynweythek Ylow" - Aphex Twin
3. "Opus 17" - Dustin O'Halloran
4. "Il Secondo Giorno (Instrumental)" - Air
5. "Keen On Boys" - The Radio Dept.
6. "Opus 23" *- Dustin O'Halloran
7. "Les Baricades Misterieuses"* - Francois Couperin / Reitzell
8. "Fools Rush In (Kevin Shields Remix) - Bow Wow Wow
9. "Avril 14th" - Aphex Twin
10. "K. 213" * - Domenico Scarlatti / Reitzell
11. "Tommib Help Buss" - Squarepusher
12. "Tristes Apprets.." - Jean Philippe Rameau /W. Christie
13. "Opus 36" *- Dustin O'Halloran
14. "All Cat's Are Grey" - The Cure
terça-feira, 9 de outubro de 2007
"PERDER-SE EM BRASÍLIA"
Descobri que é possível "perder-se em Brasília", algo que os próprios brasilienses, não importando de que canto do mundo sejam (por que, sim, a excência de um brasiliense é não pertencer a lugar algum, por justamente ser de qualquer lugar) defendem ser IMPOSSÍVEL. Uma cidade plano, plana, cartesiana, matemática, geométrica, racional, encaixada como uma peça no centro do país, um quadrado de - tentada - funcionalidade objetiva. Mas quando falo em "perder-se" falo em como Brasília sabe (e pode) ser uma cidade docemente "lost", como Tóquio ou qualquer outra que traga pessoas de múltiplos pensamentos e diferentes destinos entrecruzados nos seus trajetos urbanos. Brasília é um lugar para devaneios urbanos. Não a Brasília de JK, de políticos, congresso, polêmicas, mas a Brasília-subjetiva, horizontal, do pôr-do-sol avermelhado, sem esquinas nem calçadas, onde se tem a impressão de andar em círculos. Brasília não pertence a ninguém e nem por isso é uma cidade sem lei, vê como é incrível isso! Uma pequena fronteira entre aqui e acolá, onde habitam turcos, franceses, mexicanos, holandeses, norte-americanos, paulistas, gaúchos, mineiros e baianos, todas as religiões, cultos, credos, cores, sotaques, cheiros, peles, tipos. Brasília é uma cidade de tipos, sem nunca fazer tipo. Por que não há um único dia igual a outro em Brasília. 4 estações, da hora em que acordamos até o momento de dizer boa noite. O dia, em Brasília, é de observação, contemplação e anotações mentais. A noite é para se dormir abraçado. Sorvetes são muitos, contra o calor e o clima seco - um deserto imaginário - para beduínos de múltiplas origens. Come-se toda a comida do mundo, em Brasília, por que sim, ela atende a todos os gostos. Como se ouve toda a música, a cidade não distingue preferências. Ela não se importa. É discreta, silenciosa, cosmopolita, onde os carros não têm buzinas e as pessoas até gritam mais baixo. O fundador e o arquiteto imaginaram um pássaro, de asas abertas, calmo plano planador, que voa sossegado num baixo céu de sonhos utópicos. Eu posso dizer que me "perdi em Brasília". Uma Brasília só minha. E não quero me achar nunca mais.
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
TOP 10 JOHN MAYER
Enquanto um novo disco não sai, repleto de músicas legais e letras profundas sobre como temos a filosofar sobre o fato de não termos mais 18 anos, faço meu top 10 do John Mayer (esta lista é absolutamente volúvel, devo confessar, de modo que amanhã provavelmente seria outra). Por que a verdade é que as músicas do John Mayer dizem muito sobre determinados momentos do dia, da vida, até. Às vezes estamos num momento "Stop this train", com medo do que fica para trás, da saudade, de ter que dizer adeus. Em outros, nos sentimos meio "Why Georgia", sufocados dentro de nós mesmos, com vontade apenas de seguir em frente ou então meio "Back to you", constatando que não importa aonde formos, haverá sempre alguém para quem temos, precisamos e queremos voltar. Enfim, é um tanto quanto difícil fazer um "top something" John Mayer, a não ser que seja sem compromisso com nada, apenas com o espírito do dia. Vai abaixo minha tentativa provisória:
01) WHY GEORGIA;
02) STOP THIS TRAIN;
03) BACK TO YOU;
04) WHEEL;
05) SLOW DANCING IN A BURNING ROOM;
06) 3X5;
07) SOMETHING´S MISSING;
08) MY STUPID MOUTH;
09) GRAVITY;
10) HOMELIFE;
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
A FESTA QUE DEFLAGROU UMA REVOLUÇÃO
Ok, Marie Antoinette. Ou "Devaneios Coppolianos 3". Ponto (sem final, por favor). Mas penso que se falo nos 2 primeiros filmes por que não continuar? Devo confessar, sou fascinado pelo universo cor-de-rosa (no melhor sentido) idealizado por Sofia Coppola para a sua "Marie Antoinette" (2007). A última rainha francesa, interpretada com cautelosa responsabilidade por Kirsten Dunst, é um ícone pop. O filme é um encanto, sinestésico, uma compacta explosão de sentidos, um video-clipe de pouco mais de 1h30. Doces, festas, um paraíso altista, alheio ao que estava além dos portões dourados de Versailles, um hedonismo de gastos, chapéus, leques, iguarias e um all-star azul claro. A festa que deflagrou uma revolução. A mulher que perdeu, desde muito cedo, a cabeça. Não vou sequer pontuar a trilha sonora (ok, a melhor de todos os tempos, com menção honrosa ao Radio Dept. e New Order, mas fico por aqui, só a trilha merece um post depois). O mundo é azul bebê e rosa claro, no olhar da menina que abandona o pequenino cão pug Mops para abraçar um apático futuro marido na delicada fronteira entre a Áustria e a França. Menina, Rainha, Lenda. Maria Antonieta era uma mulher à frente do seu tempo, "cool antes do cool ser cool" (quem ler a biografia de Antonia Frasier irá se apaixonar). Um filme delicado, para "contemplar limoeiros", para "dizer adeus".
"OBVIAMENTE, DOUTOR, VOCÊ NUNCA FOI UMA MENINA DE 13 ANOS"
Diz a pequena Cecilia Lisbon ao médico numa das cenas mais significativas do filme "As Virgens Suicidas", romance de Jeffrey Eugenides, adaptado magistralmente ao cinema por Sofia Coppola (99/00). Um filme de silêncios eloqüentes (aliás como todos os seus filmes) sobre as "Lisbon girls" que não cabiam em si mesmas - pensamento partilhado pela diretora, tenho certeza - venereadas como um segredo misterioso pelos garotos-perdidos do bairro. Engraçado como somos perdidos, nós, os garotos. Cecilia, Lux, Bonnie, Mary e Therese. Sussurros de socorro apenas ouvidos pelos meninos, do outro lado da rua, com seus isqueiros erguidos em doce homenagem ao momento mais marcante de suas vidas. O pior melhor. A melhor pior lembrança. Fragmento de algo muito significativo. É muito banal ouvir que esta é uma "história horrível sobre meninas suicidas". Dá vontade de responder, ainda que eu seja homem e um pouco longe de ter 13 anos, que "obviamente você nunca foi uma menina de 13 anos". No fim, tudo se resume no meu pensamento mais óbvio deste mundo: sentar num café com Sofia Coppola. E Nietzsche (ok, mas isso fica para depois).
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
PERDIDO NA TRADUÇÃO
Sabe quando você começa a pensar sobre como te sobram as idéias e pensamentos, mesmo perdidos, fragmentados, lapsos de anotações mentais? Alguns que você converte em iniciativa, outros viram histórias curtas, a grande maioria simplesmente se perde, como paisagem que fica para trás na viagem. Rosto refletido no vidro. Devaneio urbano, "minha lostness Coppoliana", para enquadrar melhor este post inicial que não poderia ter outro nome; decidi capturar alguns destes meus doces devaneios urbanos, que voam pela janela, quando me pego reparando em meu próprio reflexo no vidro, e transformá-los num blog mesmo que só eu os leia, repetidamente, como mais um exercício de catarse solitária. Deixo-os guardados. Filosofia acessível. Pequenina caixa sem tampa de idéias pensadas sem pretensão. É que sou perdido na tradução e não lamento por isso nunca. Apenas quis escrever de uma vez por todas, em algum lugar, frases de muro que eu mesmo viraria o rosto para olhar alguns instantes mais, em um dos vários "clicks mentais" que disparo pela cidade, todos os dias. Doce devaneio urbano. Como mel.
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