segunda-feira, 8 de setembro de 2014

QUE DESTINO SERÁ ESSE?!

Amanhã é o lançamento de "Destiny", nova franquia que promete ser um novo marco no mundo dos jogos eletrônicos. A verdade é que, apesar dos testes alfa e beta, ninguém sabe muito bem ao certo qual que é a deste jogo, tirando elementos divulgados aqui e ali. Em princípio, "um shooter de mundo compartilhado" onde cada um terá uma identidade e, possivelmente, um "destino", no que restou do que um dia foi o planeta Terra. Fato é: parece bom (demais) e esse trailer embalado pelo Led Zepelin é coisa de outro mundo! Está no meu radar.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A MESMA PERGUNTA, A MESMA RESPOSTA


aí uma pergunta que eu me faço todos os dias.
E a resposta é sempre a mesma: NÃO.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

ASSUNTO: A MINHA CONFISSÃO


Sempre houve algo tão feminino ao seu respeito. Tão frágil, tão misterioso. Eu acho que já havia me apaixonado por você desde o primeiro segundo, essa é a grande, fatal e inegável verdade. 

Eu me pego lembrando das coisas mais banais; como você vindo me buscar no trabalho, no meio do dia, para comermos um sanduíche rápido, numa esquina qualquer. Você descia da direção do seu carro, a chave ainda na ignição, e sem dizer nada se sentava no banco do carona. Eram coisas assim; era esse tipo de coisa que você fazia. Sempre tão feminina. Você fazia meu coração em pedaços, todos os dias. Mas ele se refazia, na madrugada. E lá estava eu, te esperando, novamente, no dia seguinte.

Que raio de vida é essa que cria essas histórias incoerentes que temos que seguir, dançar conforme a música? Que papéis são esses que a gente precisa desempenhar, sem reclamar? Quem está dirigindo isso aqui?

Mas eu apenas sorria, enquanto ouvíamos a música que você queria me mostrar, o ar-condicionado deixando os pêlos do seu braço arrepiados, você observando a janela, perdida nos seus pensamentos curiosos. 

"Deus, como você é linda". 

Eu controlava a minha vontade - aquele desejo desenfreado de segurar na sua perna, de acariciar o seu cabelo no trânsito lento, de beijar a sua boca, de olhos fechados, até uma buzina me despertar do transe. 

Pensamento desfeito no ar, feito mágica. 

E eu permanecia com as mãos em posição segura, 10h10, sem cometer deslizes, sem romper barreiras. Brincando de ser cavalheiro, dilacerando a minha alma, afogado no perfume do seu corpo, na imagem do seu cabelo moreno amarrado num rabo preguiçoso, no retrato do seu rosto refletido no vidro. O seu sorriso gentil, a pele suave, os gestos delicados, o seu cheiro. 

Há quanto tempo a gente se conhece? Nem eu sei responder. Não tenho registro de um tempo órfão da sua presença. É sempre você, sempre você, ali, estampada em cada fotografia mental. Porque você não habita nenhum centímetro de uma memória coadjuvante. Por trás das cortinas fechadas, dos meus olhos noturnos, você é a estrela.

Cadente. Incandescente.

E então desapareciam aqueles minutos fugidios. E lá estava eu, "são e salvo!", de volta ao trabalho. Você sumindo na esquina, eu caminhando a passos lentos de volta para o prédio, o seu beijo inocente latejando no canto do rosto, feito queimadura recente. 

Toco a minha pele e você está ali, vibrando; como tatuagem.

Há tanta coisa errada ao seu respeito que chega a ser cômico, eu penso. Suas manias, suas ideias bizarras, sem pé nem cabeça; seus planos indecisos de dominar o mundo ou fazer bolo de chocolate. A forma como você defende os seus ideais. Os seus gostos que, ora se encaixam nos meus como chave e fechadura, ora parecem óleo e água. O seu humor afiado, impiedoso. Seus olhos felinos que tiram as minhas armas. Você, que me pacifica. 

Mas então chega o primeiro raio de sol na minha janela insone e ele me diz, todos os dias, a mesma coisa: para mim, você é perfeita.

"Você realmente vai se casar com ele?", eu te perguntei, sem cerimônia. Os seus olhos escancarados, sem reação. A sua boca entreaberta, ainda em busca de palavra. A água da chuva despencando sobre as nossas cabeças, escondendo a minha fragilidade.

"É isso mesmo que você quer?"

Você me beijou, pelo que pareceu uma eternidade; as minhas mãos enlaçadas na sua cintura molhada, sentindo o seu corpo por baixo do vestido. E desapareceu assustada, feito conto de fadas às avessas. E assim perdemos o caminho de volta um para outro. Eu compreendi que você fez uma escolha. Mas essa é uma dor com a qual eu não quero mais conviver. E é por isso que eu estou indo embora, para o outro lado do mundo, sem deixar vestígio. Nem rastro, nem sombra, nem endereço, nem aviso. 

Você foi a coisa mais linda que aconteceu na minha vida. E esta é a memória que eu escolhi guardar. A minha confissão, afinal; eu te amo, com a alegria inocente de quem recupera algo perdido. E eu te carrego comigo, neste coração rasgado por cicatrizes, que será, até o meu último dia, o seu lar inquestionável.

Seu, eternamente.

* * *

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"Não".

terça-feira, 2 de setembro de 2014

PARA VER E OUVIR: SUMMER GIRLFRIENDS ('LOST BOYS")

PARA VER E OUVIR: GEMINI CLUB ("SPARKLERS")

COISA DE CRIANÇA

Entre uma caneca e outra de cerveja, decidimos lembrar dos shows que víamos quando crianças; uma conversa nostálgica, regada a risos garimpados como pedras preciosas. Os desenhos, os programas, as canções inocentes, os seriados que marcavam as nossas tardes. Histórias incríveis com as quais crescemos, por anos.

Então, de repente, como uma onda, eu me senti afundado numa lembrança abrupta. Um programa, que passava todas as tardes, sobre uma bruxa que trocava de cabeça. Lembro de como aquilo era aterrorizante. Aquela mulher estranha, sem rosto, os dedos compridos como garras, caminhando por salões do que parecia ser um castelo decrépito, manipulando todo o tipo de cabeças, para então escolher uma e encaixar no seu corpo, como um manequim. 

E então ela gargalhava, satisfeita.

Aquele pensamento aterrorizante gelou a minha espinha de ponta a ponta. A lembrança daquela mulher monstruosa flutuando pelas sombras, como um fantasma. E, sempre ao final, ela olhava para a tela, os olhos negros, fundos, vazios, dizendo numa voz gutural de que ela viria à noite para buscar a nossa cabeça. Senti cada pelo no corpo arrepiar. 

"Vocês lembram deste show?!", eu perguntei, tentando lembrar mais detalhes. "Vocês lembram qual era o nome?", eu insistia.

"Lembro da bruxa, com certeza", alguém comentou. 
"E as cabeças espalhadas pelo corredor", outra pessoa complementou.
"Meu Deus, era tão assustador", outro intercedeu.
"Como os nossos pais deixavam a gente ver aquilo?!", um finalizou a conversa.

Ficamos em silêncio, a alegria desaparecendo junto com os últimos goles. Pedimos a conta e fomos embora. 

Eu me sentia desolado. Aquela lembrança repentina me acompanhando no trajeto de volta para casa. Corri para o computador, assim que abri a porta, em busca de alguma resposta. Após horas de pesquisa, eu me convenci de que não havia nada na rede sobre aquele programa. Nenhum site, nenhuma foto, nenhum verbete, nada, absolutamente nada sobre a bruxa que trocava de cabeças e nos ameaçava todos os dias. 

Não consegui dormir. Aquelas imagens vindo me devorar, de forma sistemática. A sensação desesperadora de que ela estaria ali, de pé, no quarto me olhando dormir. Sentia o coração a galope no peito e testemunhei cada hora da noite passar, até o dia começar a colorir a janela; e um alívio gradual invadir o meu corpo exausto.

Com uma xícara de café na mão decidi ligar para a minha mãe. Ela se lembraria, eu sei que ela se lembraria. Ela ficava em casa, enquanto o meu pai saia para trabalhar. Ela se lembraria, eu sei.

* * *

Minha mãe ficou em silêncio, do outro lado da linha. 

"Mãe? Mãe, você se lembra?", eu insistia, o café esfriando na mão.

Ela suspirou. 

"Lembro, filho, eu lembro".

Sorri.

"Lembro de você sentado, por horas, diante da TV estática", ela continuou. "Falando sozinho, acenando com a cabeça".

Fiquei em silêncio.

"Você era tão pequeno, eu simplesmente achava que era coisa de criança".

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

AMOR PLATÔNICO

Lana Del Rey. Conhecia de nome, já há algum tempo. Sem dar muita bola. De repente uma voz, um rosto, um cabelo escarlate, uma melancolia com cara de coisa antiga, de coisa quebrada. Atropelamento total, completo e absoluto.

PARA VER E OUVIR: LANA DEL REY ("ONCE UPON A DREAM"

O PROBLEMA DE "MALEFICENT"


Não é que a adaptação do clássico da Disney, "A Bela Adormecida", seja ruim. Não é. O filme tem alguns efeitos especiais legais, a fotografia (em especial) me agradou muito e acho inclusive que a Jolie representa bem a famosa vilã "Malévola"; ela faz as caras, os olhares, os movimentos discretos, o jeito de caminhar flutuante, quase imperial, a fala lenta, pausada, aterrorizante. Até aí tudo bem: check!, check! check!. 

Mas o grande problema de "Maleficent" (do filme, não a Jolie) é o que eles fizeram com a personagem. A bruxa é, sem sombra de dúvidas, uma das mais terríveis do plantel da Disney - de longe! Malévola TRANSPIRA maldade e o faz da forma mais cativante e elegante o possível, como boa vilã. Em outras palavras, ela é uma das vilãs mais badass de todos os tempos. É inegável seu poder, fato que a permite controlar um reino sob a mera possibilidade da sua presença. Todos, sem exceção, temem Malévola. E, quando desafiada, ainda por cima se transforma num dragão descomunal para provar que ela não tem tempo a perder. 

Pois bem. A Malévola da Jolie tem a estética - sem dúvidas - e encarna isso bem. Mas jogaram a deliciosa personalidade da verdadeira Malévola no lixo, já que a bruxa do filme é provavelmente a mocinha, a bruxa boazinha, em busca de redenção e de fazer o bem. Não gostei. Destruiram a personagem.

Isso aqui É a Malévola. Ponto final: 




terça-feira, 26 de agosto de 2014

SOBRE ESTRELAS CADENTES (OU DISCOS VOADORES)



Belíssimo timelapse feito por Milton Tan no aeroporto de Changi (Singapura), um dos mais movimentados do mundo. A edição acelerada transforma os aviões em estrelas cadentes (ou discos voadores). Maravilhoso. Via Chongas.

sábado, 23 de agosto de 2014

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

UM REINO AO ACASO


O sol morno, na janela, refletia um jogo de sombras quase poético sobre os seus dedos compridos. A mão segurando delicadamente a taça de água; as unhas bem feitas, a pele lisa, os pelos curtos, dourados, quase imperceptíveis. Ela ali, em silêncio, meditando sobre o horizonte, a mão ocasionalmente amparando o queixo. 

Um suspiro. 

Os lábios roçavam gentilmente no vidro umido, revelando um brilho repentino, que contornava a planície vermelha que era a sua boca pequena. O nariz angular, quase beduíno, os olhos expressivos, cheios de curiosidade, os cabelos negros, ondulados, cascateando sobre os ombros descobertos. Um vestido discreto, florido, de verão, emoldurando o corpo nem magro, nem gordo, nem perfeito. Um corpo feminino, delicado, apoiado sobre pernas brancas que terminavam num tênis surrado. Uma fotografia mental, um momento passageiro, já desaparecendo, aquela mulher linda. 

E ele ficou ali, parado, pela duração de um tempo que ele não queria que passasse. A vontade de guardá-la numa caixa mágica, fazê-la eterna. As circunstâncias demandando um beijo roubado, sem explicação. 

Ele sorria. Ela sorria. Dedos brincando de se encostar sobre a mesa. Pés esbarrando de propósito. Pele que arrepia, vento no cabelo, borboletas de barriga. Aquela indecisão sobre o que comer; cardápios escancarados como mapas de tesouro, tudo sempre parecendo tão bom.

A vida era boa, era tudo tão simples. Naquele canto sem donos nem leis, naquele reino fundado ao acaso.

"Você desperta em mim a vontade de viver para sempre".

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

GIFS DA DEPRESSÃO

O(a) chefe ou o cliente revisam algo que eu fiz na minha frente...





domingo, 17 de agosto de 2014

AMOR(ES) PLATÔNICO(S)

American Horror Story me presenteou com não um, não dois, mas TRÊS amores platônicos. Dois deles em uma só temporada (haja coração!) e o terceiro na temporada mais recente, sobre o covil de bruxas. Três paixões arrebatadoras e irrecuperáveis... 


Alexandra Breckenridge, a "empregada" do Dr. Harmon que - por acaso - mantém o seu consultório em casa. Moira só é vista assim pelos homens, já que as mulheres a enxergam como uma velha decrépita. Acho difícil que uma mulher aceitaria os serviços da Moira... linda atriz, coisa de outro mundo.


E o que dizer de Kate Mara? Apesar do seu papel - assustador - como (ex?) amante do Dr. Harmon, é impossível resistir à beleza de Mara. Ela dá muito (muito!) medo como a jovem universitária Hayden, mas tirando esse papel, é impossível não se apaixonar por Mara. 


Por fim, a jovem bruxa Emma Roberts. Há algo... "bruto" a respeito da beleza de Emma. Não sei dizer; algo feroz, felino, incompleto, desarrumado, que eu simplesmente não consigo deixar de reparar. Sobrinha da Julia Roberts, era de esperar. Outra paixão arrebatadora, no papel da sensual (e perdida) bruxa Maddison. 

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

RESTAM APENAS OS AMANTES



Novo filme do Jim Jarmusch. "Only lovers left alive". Parece bom, bom demais...

GIFS DA DEPRESSÃO

Faço compras em dólar, na empolgação, e depois vejo a conta quando chega a fatura...

terça-feira, 12 de agosto de 2014

"GÊNIO, VOCÊ ESTÁ LIVRE"

Pena ouvir da morte trágica do Robin Williams. Mais uma alma incrível, derrotada pela depressão, álcool, cocaína. Triste; fará falta. Roubando as palavras da Academia, uma frase que diz tudo: "gênio, você está livre".

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

QUEM TEM MEDO DA JESSICA LANGE?

Eu não; me apaixonei por esta mulher incrível e atriz fenomenal. 98% do que me motiva a ver "American Horror Story". A mulher simplesmente domina este seriado.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O DESESPERO DE PERDER A SI MESMO

William Utermohlen, um artista plástico norte-americano (nascido em 1933), foi diagnosticado com o mal de Alzheimer em 1995 e morreu em 2007. Os seus auto-retratos, ao longo destes anos, mostram a gradual perda de si mesmo, num caleidoscópio melancólico, de uma beleza triste. Seu último auto-retrato é de cortar o coração.







PARA VER E OUVIR: MICHAEL BUBLÉ & LAURA PAUSINI ("YOU'LL NEVER FIND ANOTHER LOVE LIKE MINE")

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

ANTUMBRA


O dia ainda despertava preguiçoso, no horizonte. Aqueles tons tímidos, ainda lilases, o vento gelado, os últimos suspiros da noite dando lugar para o começo da manhã.

O homem caminhava, sozinho, no vasto cemitério. Aquele grande labirinto de lápides brancas, como uma grande metrópole de prédios minúsculos em que ele caminhava, sem pressa, feito um gigante. Passo ante passo, cerimonialmente, rumo ao seu destino.

Parou, então, contemplando por alguns minutos a lápide recente diante dos seus olhos. O nome, ali encravado, deixando poucas dúvidas sobre quem habitava aquela morada, sob sete palmos de terra ainda fofa.

Abriu então uma sacola plástica, de supermercado, e retirou um saco de um quilo de sal. Com um pequeno canivete, rasgou o plástico, tendo a ajuda do vento para salgar aquela cova fresca.

Fechou os olhos, um sorriso, um suspiro longo, a brisa desgrenhando seus cabelos, causando arrepio.

"Eu sobrevivi".

PENUMBRA


Meu pai era um homem esquisito. Mas no melhor sentido. Acho. Sei lá. Nós nunca duvidamos que ele nos amava, nem a nossa mãe; ou o seu interesse pela nossa vida, as nossas coisas.

Ele estava lá, sempre estava. Mas a verdade é que hoje eu consigo enxergar claramente o que, naqueles anos passados, eu via de forma embaçada. O nosso pai vivia num mundo dentro dele; e que mundo incrível devia ser, porque nós nunca pudemos entrar.

Ele era um poeta, um filósofo, um homem triste - mas não infeliz. A companhia mais engraçada e interessante que eu e meus irmãos tivemos. Nunca, nunca conheceremos outro homem como ele. Suas histórias, seu jeito, seu humor - e mau humor - nosso pai foi o epicentro da nossa juventude; não por acaso ainda o sentimos tão presente entre nós, tão vivo, após tantos anos. Suas histórias rasgando nossos rostos com risos quase geográficos.

"Ah, aquele homem...", mamãe se limitava em comentar; um suspiro, uma saudade que não passava.

Entre todas as suas manias - e não eram poucas - meu pai tinha o hábito quase religioso de folhear o jornal assim que acordava.

"Já chegou?", ele perguntava, ansioso, ainda vestindo seu pijama puído e predileto.

O que pode haver de estranho nisso?, você me perguntaria. Um homem ansioso pelo seu jornal da manhã.

Mas não é que meu pai estivesse querendo ler as notícias, os resultados esportivos ou a corrupção do governo. Não era nada disso. Meu pai pegava o jornal e se desfazia de todas as páginas, apenas para olhar nos obituários. Apenas isso; podíamos jogar fora o resto. E com a sua fiel xícara de café na mão, lia ávido os nomes ali, diante de uma platéia curiosa. Eu, meus irmãos, nossa mãe. Esperando que um dia aquele mistério fosse explicado.

Nunca foi.

"O que você tanto procura nesses obiturários, papai?", perguntávamos, eternamente intrigados com aquele hábito mórbido e curioso.

Ele ficava em silêncio e apenas sorria; jogava então a folha fora, e todos começávamos os nossos dias.

* * *

Um belo dia, numa manhã qualquer, eu despertei com um grito. Meu pai, na sala, quase saltitando, segurando o seu jornal nas mãos, como se tivesse acertado na loteria. Ele me abraçou, beijando o meu rosto.

"Avise a sua mãe que eu precisei sair", falou, lacônico.

Nunca soube o que meu pai fez daquele dia. E que diabos ele enfim achou naquele jornal.

Naquela noite, daquele dia incrível pelo qual todos esperávamos ansiosamente, o meu pai morreu.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

UMBRA


"Aceita café?", a mulher perguntou, interrompendo os seus pensamentos deslocados. Aquela mulher esquisita, os cabelos ressecados por luzes, os dentes sujos de batom, a roupa apertada demais para o seu corpo. Ela transpirava clichês. Como aquele lugar inteiro. Puro clichê.

O investigador particular saiu do banheiro, enxugando as mãos na calça, sentando-se com um suspiro curto. O cabelo ralo, os dentes amarelados por causa de cigarros em excesso, o terno barato e puído, a gravata de tom duvidoso.

"Meu Deus, que diabo eu estou fazendo aqui?".

O homem retirou um envelope pardo, de dentro da gaveta, e depositou-o quase cerimonialmente sobre a mesa. Alisava o papel com as duas mãos, como quem prepara uma massa fina numa pastelaria. Os olhos fixos no seu cliente, aquele silêncio longo demais, já constrangedor.

"Você não vai gostar de ver o que está aqui, rapaz", disse, por fim.

O sol lambia gentilmente a janela mofada daquele trágico escritório encravado no centro da cidade. Aquele cheiro de papel velho, poeira, jornal, nicotina, perfume barato. O som do ventilador velho ralhando, as flores de plástico, a pequena televisão ligada num programa popular de TV. O dia começava a dizer adeus enquanto ele estava ali, diante do investigador, e do envelope que já nem sabia se queria abrir.

Com um gesto curto, alcançou o envelope e folheou a série de fotos que havia dentro dele. Datas diferentes, dias diferentes, roupas que ele mesmo lembrava de tê-la visto usando. Sua mulher, e uma coletânea que escancarava a sua infidelidade. Chegava a ser patético. Ele. Ela. Ambos. Patéticos. 

"Um rapaz bonito que nem você", a secretária gralhou ao fundo, "ficar com uma vagabunda como essa"

Ele sorriu, amargo, em direção à mulher.

"Essa aí não vale um centavo, amigo", o investigador intercedeu. "Mais de vinte anos que trabalho nisso e nunca sei o que dizer nessas horas", suspirou. "Mas essa aí não vale nada, isso eu te garanto".

"Piranha ordinária, prostituta!", a mulher ainda gritava, inconformada.

Ele permaneceu ali, as fotos empilhadas sobre o seu colo, no que pareceu uma eternidade. Sentiu uma melancolia profunda, sentiu-se decadente, frágil. Não era o adultério em si, a sujeira, a mentira. Não era isso, necessariamente. Era o somatório das coisas, o caleidoscópio de lembranças, os arrependimentos que vinham sufocá-lo como uma onda gigante no mar. 

Olhou para o escritório, as paredes decoradas com quadros comprados em supermercado, o investigador em silêncio, com as mãos cruzadas sobre a mesa, a secretária ainda mexendo a cabeça em negativa, o som de uma discussão entre pessoas no programa de auditório. 

"A gente vê tristeza demais aqui", a mulher ainda falava, "chega uma hora que cansa!".

Ele continuou em silêncio. A verdade é que nada daquilo o surpreendia, afinal; e essa era a sua maior surpresa. Tavez fosse preciso apenas a concretude das coisas; a visão do óbvio, a imagem do que ele sempre havia suspeitado. Abriu a carteira, sacou algumas notas e pagou o que devia. O investigador pegou as notas e, sem contar, guardou na gaveta.

"Você sabe o que vai fazer com isso, rapaz?", o investigador perguntou, quase paternal.

"Por hora, nada", ele respondeu.

Apertou a mão do investigador, acenou para a secretária e, com o envelope sob o braço, caminhou em direção a porta daquele canto esquecido do mundo. Levou as fotos até uma lata de lixo, um lugar mais do que adequado, e num gesto discreto, ateou fogo na imundície.

"Por hora, nada".

quinta-feira, 31 de julho de 2014

PARA VER E OUVIR: SARAH MCLACHLAN ("I LOVE YOU")



Não tem jeito, basta ouvir a Sarah Mclachlan para eu lembra o quanto - ainda hoje - eu amo esta mulher.

TRAILER DE INTERSTELLAR



Novo do Christopher Nolan. Naturalmente que já está na lista.

TRAILER DE "O HOBBIT - A BATALHA DOS CINCO EXÉRCITOS"



"Um dia eu lembrarei de tudo...". Você vai, Bilbo. Ah, e como vai.

terça-feira, 29 de julho de 2014

AMERICAN HORROR STORY


Pérola do NETFLIX. Recomendo - demais. Histórias excelentes, personagens ricos, atmosfera, música, sem contar a Jessica Lange que simplesmente destrói, domina. Série que descobri ao acaso e não consegui mais parar de ver. E que só vai ficando melhor.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

GIFS DA DEPRESSÃO

O que eu tenho vontade de fazer no restaurante quando o prato demora uma vida para chegar e ainda vem errado...

segunda-feira, 21 de julho de 2014

sábado, 19 de julho de 2014

'GREETINGS FROM INDIA'


"Trouxe a máquina fotográfica?", você perguntou, os olhos fixos na janela do taxi, aquela atmosfera amarga e esquisita entre nós. 

"Esqueci", menti; eu deixei a máquina no hotel, apenas para te irritar. 

* * *

Nós subimos juntos a escadaria daquele templo. Os degraus imundos, o ar lilás circulando ao nosso redor, você sem me deixar segurar a sua mão. Você queria ir a Índia; lá estávamos nós, riscando o item da lista. Subindo juntos a escadaria do templo.

A verdade é que eu nem sei como explicar a cronologia da nossa história; é como se ela fosse lenda, sem fatos comprovados, sem a cadência correta de eventos. Apenas um emaranhado de lembranças que se sobrepõem até formar uma mistura sem cor nem graça. Como quando misturamos todas as massas de modelar, para criar aquela bola horrorosa, marrom, que acabamos jogando fora.

Esta bola marrom, este caleidoscópio às avessas. Isso somos nós.

Nós. Era tudo o que restava, o que nos mantinha juntos, mesmo ali, cercados por aquelas pedras seculares, aquele pôr-do-sol violeta, aquele lugar mais velho que o tempo. Apenas os nós. As pendências, as soluções práticas. A divisão dos valores. O aperto de mão final. 

Você caminhava mais rapidamente, intencionalmente, escolhendo outros focos de atenção. Eu caminhava lentamente, propositadamente evitando te alcançar. Nada mais naquilo havia sentido, nossa lua de mel ao contrário; nós dois, quase em resistência magnética, empurrando um ao outro o mais longe possível. 

Os sorrisos contrastavam com a nossa presença. Como se nós não servíssemos ali, como se incomodássemos. Dois fantasmas, assombrando aquele templo. É a coisa mais curiosa - e misteriosa - essa alquimia do desfazimento do amor. É impossível traçar os passos, entre a paixão e o desprezo. A gente sente, acho, sei lá. Suspeita, sem enxergar. E então, um belo dia, numa manhã qualquer, olhamos nos olhos um do outro e nada mais faz sentido.

"Eu não amo mais você". 

Aquelas passagens compradas há tanto tempo, triste ironia. Viajamos como inimigos, desde o momento em que sentamos no avião. Aqueles silêncios constrangedores, as palavras inevitáveis, a cama pequena demais para dois corpos que, num passado recente, não se desencaixavam. 

Você me deixou segurar a sua mão no caminho de volta. Talvez por cansaço, talvez por carência. Nem eu sei porque fiz isso, também, para te ser sincero. Talvez pelas mesmas razões que você. Que importa? A verdade é que, ainda hoje, sinto o cheiro do seu cabelo molhado, quando você me abraçou ao sair do banho, do toque da sua pele em volta do meu pescoço, os seus olhos úmidos no meu peito. Aquela última noite.

Estávamos dizendo adeus.



Porque você foi um sonho doce, uma doce ilusão. Uma ideia que se desfez no vento, que perdeu o sentido, que virou decepção. E aqui estou eu, tanto tempo depois, ainda costurando os pedaços embaçados destas memórias agridoces, e sem nenhuma foto daquele templo para recordar.

E quem devo culpar?

sexta-feira, 18 de julho de 2014

QUANDO UM FILME MARCA A PELE

Alguns filmes marcam a pele, feito tatuagem (ou cicatriz). Embora hoje em dia muitos dos meus filmes queridos - para a minha supresa - tenham morrido (decoberta melancólica ao tentar revê-los), outros surgem para conquistar o lugar vago. "August Osage: County" é um deles. Eu simplesmente sou apaixonado por esse filme, que já vi três vezes, e a vontade que tenho, sempre que começam a subir os letreiros, é voltar para o começo e ver tudo de novo. Não sei dimensionar, claramente, a razão. Se o texto de Tracy Letts, se a música, se os personagens, se a possibilidade de ver tanta coisa ali com a qual me identifico. Não sei. Amo esse filme, perdidamente, e sinto-o vibrante na pele. 

terça-feira, 15 de julho de 2014

SEM PALAVRAS


Sem Palavras
Florbela Espanca

Brancas, suaves mãos de irmã
Que são mais doces que as das rainhas,
Hão de pousar em tuas mãos, as minhas
Numa carícia transcendente e vã.

E a tua boca a divinal manhã
Que diz as frases com que me acarinhas,
Há de pousar nas dolorosas linhas
Da minha boca purpurina e sã.

Meus olhos hão de olhar teus olhos tristes;
Só eles te dirão que tu existes
Dentro de mim num riso d’alvorada!

E nunca se amará ninguém melhor;
Tu calando de mim o teu amor,
Sem que eu nunca do meu te diga nada!...

PARA VER E OUVIR: JOHN MAYER ("BACK TO YOU")

15 DE JULHO - DIA DE SÃO SWITHIN


Saint Swithin's day if thou does rain
For forty days it will remain
Saint Swithin's day if thou be fair
For forty days it will rain no more


Será que chove?

domingo, 13 de julho de 2014

CASA DE AREIA


- "Eu não queria te acordar, eu sei que é cedo, mas é que eu não tinha ninguém mais para ligar..."

* * *

O assoalho da casa ainda fervia sob os seus pés descalços; o suficiente para machucar, mas ele caminhava, alheio à dor, sobre os escombros da velha casa de praia que havia pertencido aos seus avós. O resto dos móveis, ainda fumegando, madeiras e tijolos expostos, negros, pedaços de cortinas dançando no vento como bandeiras arrasadas num campo de batalha, tendo o mar emoldurando aquela cena de caos. Infinito, assustador, gigantesco e indiferente. 

As ondas quebrando na areia, para frente e para trás, para frente e para trás.

Era possível ver pedaços de coisas, aqui e ali, mas não havia restado nada inteiro, que pudesse contar alguma história. Retratos queimados, roupas, objetos de valor e sem valor algum, objetos de arte completamente modificados, um aglomerado de coisas sem forma, como um buraco no tempo e espaço, de destruição compacta. 

Seus pés doíam, os dedos lascados por pedaços de vidro e madeira, a barra da calça de pijama já levemente chamuscada, o rosto marcado por fuligem e sombra, como um guerrilheiro camuflado, os olhos petrificados, as mãos penduradas como cordões mortos, o ar salino, curto, suficiente para mantê-lo de pé, o seu corpo guiado pela incredulidade.

E então lá estava ela, sua mulher, o que havia restado dela, sobre os escombros, os restos de pele, osso e pano unidos com o caos, numa amálgama que desenhava o fim, o terrível fim, o seu fim. Ele ficou ali, de pé, observando os restos mortais da mulher que, horas antes, estava sentada na areia, os olhos fixos no mar, questionando-se sobre o sexo dos peixes. Aquela mulher infeliz, que viera habitar o mundo dos vivos por uma triste casualidade, e que há tanto tempo se esforçava em ir embora.

E levar tudo consigo, como uma bomba.

Ele acocorou-se e sentiu o cheiro forte de coisa queimada sufocando o seu rosto. Não havia mais nada ali, não havia mais forma, apenas restos, misturados; o que era casa, o que era areia, o que era mulher? Não sabia dizer. Encostou a ponta dos dedos, sentindo a superfície ainda quente, as unhas enegrecendo com a sujeira. 

Adeus.

Quando os bombeiros, a polícia, e todo o circo de vizinhos e autoridades se formou em torno da casa destruída, encontraram o homem sentado, sereno, sobre uma cadeira sobrevivente, no que um dia fora uma varanda. 

Sentiu mãos em torno do seu corpo, rosto, paramédicos agasalhando-o com um lençol térmico, máscara de oxigênio, luzes e sirenes. Perguntas, tantas perguntas.

Caminhou com os bombeiros para uma ambulância estacionada na grama e sentou-se numa maca. Luzes nos seus olhos, dedos em suas pálpebras, pulso, pescoço. Toques, olhares, perguntas, perguntas, tantas perguntas.

"O que você está sentindo?", o paramédico perguntou, ainda examinando o seu corpo. 
"Alívio".

Ficou em silêncio.

Então viu o carro, cortando o horizonte em velocidade, a mulher deixando o veículo as pressas, a porta aberta, o motor ligado. Ela correu para a ambulância, onde o encontrou deitado, levemente entorpecido. Abraçaram-se.

Um pranto silencioso, um beijo delicado.

"Obrigado por ter vindo", ele conseguiu sussurrar. "Obrigado".

Era hora de construir sobre os escombros da casa de areia.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

GIFS DA DEPRESSÃO

Todo mundo no trabalho não pára de falar na derrota do Brasil para a Alemanha...

segunda-feira, 7 de julho de 2014

O MUNDO PRECISA SER GRATO POR KRISTEN WIIG


Kristen Wiig é, na minha opinião, uma das melhores coisas que aconteceram ao cinema (e à comédia) nos últimos tempos. E eu nem me refiro às insanidades que ela faz no SNL. Eu já havia rachado de rir com ela no (surpreendente) "Bridesmaids", mas esse "Girl most likely" é simplesmente demais para mim. Não aguento as caras, as situações, os diálogos. É bom demais para ser verdade. Ri do começo ao fim. Simplesmente hi-lá-ri-o.

PARA VER E OUVIR: AZURE RAY ("SLEEP")

sábado, 5 de julho de 2014

quinta-feira, 3 de julho de 2014

CAMISAS DOS AMANTES


"Lovers Shirts" é um interessante ensaio/projeto fotográfico da Carla Richmond Coffing e Hanne Steen sobre a "triste beleza das separações". Quando o amor se vai e tudo se acaba mas, por alguma razão, resta algo como uma camiseta velha e surrada. E a razão pela qual essa camisa simplesmente, 'fica'.

terça-feira, 1 de julho de 2014

"TODAS AS NOITES EU ARRANQUEI O MEU CORAÇÃO...

"...para perceber que ele voltou a crescer na manhã seguinte". Eu sempre defendi que os bons filmes (pelo menos alguns) são como vinhos. Rever "O Paciente Inglês", recentemente, me deu mais uma prova para esta teoria. Está aí um filme que beira - sem esforço - a perfeição. É  beleza demais, poesia demais, em torno da dor e do sofrimento de um homem que, nem nos últimos suspiros de vida, consegue esquecer a mulher da sua vida. Ralph Fiennes dá um show como o misterioso conde Almássy e é cercado por um elenco estelar, com destaque para Kristin Scott Thomas e Juliette Binoche. Sem contar a direção brilhante de Anthony Minghella, a fotografia belíssima, a trilha sonora, diálogos comoventes que só quem amou intensamente poderá entender, o figurino que parece retirado de um catálogo da Richard's. Lembro de ter me apaixonado perdidamente por esse filme, milhões de anos atrás; me espanta como a paixão é igualmente arrebatadora hoje em dia. Belo além da beleza, perfeito além da perfeição. 

sexta-feira, 20 de junho de 2014

DIVA

Dia 22 de Junho é aniversário da grande dama que representa o significado da palavra "diva". Meryl Streep. Incomparável, insuperável, insubstituível.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

GIFS DA DEPRESSÃO

Tento interagir com as pessoas ao meu redor que estão falando da Copa o dia inteiro...

segunda-feira, 16 de junho de 2014

ADEUS A WESTEROS

Ontem foi dia de dizer adeus a Westeros, com o final da quarta temporada de 'Game of Thrones'. Achei que os produtores tinham uma carta na manga que ía deixar os fãs - que não leram os livros - de queixo caído; não aconteceu, fica para a quinta temporada. Mesmo assim, o seriado chegou ao fim ontem e eu só tenho uma palavra para resumir o último episódio: ÉPICO. Agora é esperar por 2015.


Acabou a quarta temporada de 'Game of Thrones' e eu lembro que só verei novos episódios em abril de 2015...


domingo, 15 de junho de 2014

GIFS DA DEPRESSÃO

Ligo a televisão no domingo e vejo que está passando Domingão do Faustão...

sexta-feira, 13 de junho de 2014

UM CAFÉ E A CONTA

amor que dura,
há amor que mole.
E, mole, morre.
de morte morrida,
ou de morte matada.
Simples, sem mistério.
Tem gente que faz a gente
deixar de gostar de gente.
E da gente.

"Eu me tornei um homem amargo", 
alguém poderia dizer.

Mas também o é o café.
E eu fico feliz em ser café.

GIFS DA DEPRESSÃO

Tento interagir com as pessoas empolgadas por ser Dia dos Namorados E início da Copa do Mundo (COM jogo do Brasil NO Brasil)...


Não dá... é mais forte que eu.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

GIFS DA DEPRESSÃO

Minha reação (e empolgação) ao chegar no trabalho e ver que 11 de 10 pessoas estão vestindo camisa do Brasil...

terça-feira, 10 de junho de 2014

PARA VER E OUVIR: LORDE ("EVERYBODY WANTS TO RULE THE WORLD")



Eu não tenho arrepios suficientes dentro de mim para esta versão da Lorde para uma das minhas músicas preferidas...

VIVA A REVOLUÇÃO



Absurdo, incrível esse trailer do novo "Assassin's Creed" em plena Revolução Francesa. E O QUE É esta versão de "Everybody wants to rule the world"?!

segunda-feira, 9 de junho de 2014

PARA VER E OUVIR: DUSTIN O'HALLORAN ("OPUS 37")

O CORPO


Os seus olhos abriram abruptamente, como se ele tivesse levado um choque elétrico. De repente se viu parado, de pé, numa rua anônima. O ar ao seu redor era espesso, o ceú com contornos lilases, pessoas vagando por todas as direções, como seres num microscópio. Após um olhar mais aguçado ele percebeu que nenhuma delas tinham olhos, apenas esferas vazias. 

Sentiu medo.

Olhou para o corpo estirado no chão, aos seus pés. Aquele homem mergulhado numa poça de sangue e lama. Aproximou-se, já se preparando para ser tomado por um cheiro sufocante, e se surpreendeu por não sentir cheiro algum. 

Tocou no braço do homem afundado naquele charco de humanidade e saltou para trás, assustado, quando se deu conta de que aquele homem era ninguém menos que ele mesmo. Então ficou ali, paralisado, o seu corpo apoiado nos cotovelos, incapaz de concatenar qualquer pensamento.

"Meu Deus, eu estou morto".

Não tinha recordação, registro, de nada anterior aquele instante. Apenas sabia que aquele, aquele corpo abandonado no chão era seu. E se deu conta que aquele mundo ali, ao seu redor, era o mundo dos fantasmas. Não havia céu, nem inferno, nem anjos, nem nuvens; nem jardins, nem crianças, nem luzes. Apenas um caldeirão de seres sem rosto, errantes, povoando uma cidade fantasmagórica, submersa em meia-luz; nem dia nem noite. Uma existência em sépia e sombra.

Sentiu vontade de chorar; não conseguia. Queria tocar o coração em seu peito, mas não havia mais nada lá. Olhava para o seu corpo, tentava tocar o seu rosto, mas era como se ele inteiro fosse um borrão; como se fosse fumaça, como se fosse nada. 

Abandonou o corpo, estirado no chão, e caminhou, sem rumo, como os outros ao seu redor. Tentava interagir com os outros errantes, com os objetos, mas era tudo em vão. Gritava a plenos pulmões mas percebia que não havia voz saindo da sua boca. Conformado, fechou os seus olhos inexistentes, num pranto inexistente, entrecortado por suspiros inexistentes.

"Hora de assombrar algumas pessoas".

GIFS DA DEPRESSÃO

Estou de dieta e vejo massa no buffet...


sexta-feira, 6 de junho de 2014

"O ERRO NAS NOSSAS ESTRELAS"



Estreia hoje "A culpa é das estrelas" ('The fault in our stars'), baseado no livro homônimo do John Green. O livro é delicado, comovente e agridoce - e uma leitura gostosa, que recomendo a todos. Tenho a sensação de que o filme não será ruim e levará multidões às lágrimas. Há alguns anos, uma história assim me deixaria de cama - livro e filme, não importa. Hoje, não mais; a pele grossa feito uma parede de couro, até sinto aquela pontada no estômago e na garganta - que insiste em me fazer acreditar que ainda bate um coração neste peito de lata - mas não mais que isso, infelizmente. Mas é uma história linda, para quem ainda acredita na pureza do amor que pode nascer entre duas almas gêmeas, cujas estrelas parecem fora de órbita.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

"SOMEDAY I'LL FLY"



Maravilhoso documentarário de Eastwood Allen sobre o John Mayer. Imperdível para quem é fã.