O sol morno, na janela, refletia um jogo de sombras quase poético sobre os seus dedos compridos. A mão segurando delicadamente a taça de água; as unhas bem feitas, a pele lisa, os pelos curtos, dourados, quase imperceptíveis. Ela ali, em silêncio, meditando sobre o horizonte, a mão ocasionalmente amparando o queixo.
Um suspiro.
Os lábios roçavam gentilmente no vidro umido, revelando um brilho repentino, que contornava a planície vermelha que era a sua boca pequena. O nariz angular, quase beduíno, os olhos expressivos, cheios de curiosidade, os cabelos negros, ondulados, cascateando sobre os ombros descobertos. Um vestido discreto, florido, de verão, emoldurando o corpo nem magro, nem gordo, nem perfeito. Um corpo feminino, delicado, apoiado sobre pernas brancas que terminavam num tênis surrado. Uma fotografia mental, um momento passageiro, já desaparecendo, aquela mulher linda.
E ele ficou ali, parado, pela duração de um tempo que ele não queria que passasse. A vontade de guardá-la numa caixa mágica, fazê-la eterna. As circunstâncias demandando um beijo roubado, sem explicação.
Ele sorria. Ela sorria. Dedos brincando de se encostar sobre a mesa. Pés esbarrando de propósito. Pele que arrepia, vento no cabelo, borboletas de barriga. Aquela indecisão sobre o que comer; cardápios escancarados como mapas de tesouro, tudo sempre parecendo tão bom.
A vida era boa, era tudo tão simples. Naquele canto sem donos nem leis, naquele reino fundado ao acaso.
"Você desperta em mim a vontade de viver para sempre".
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