sábado, 19 de julho de 2014

'GREETINGS FROM INDIA'


"Trouxe a máquina fotográfica?", você perguntou, os olhos fixos na janela do taxi, aquela atmosfera amarga e esquisita entre nós. 

"Esqueci", menti; eu deixei a máquina no hotel, apenas para te irritar. 

* * *

Nós subimos juntos a escadaria daquele templo. Os degraus imundos, o ar lilás circulando ao nosso redor, você sem me deixar segurar a sua mão. Você queria ir a Índia; lá estávamos nós, riscando o item da lista. Subindo juntos a escadaria do templo.

A verdade é que eu nem sei como explicar a cronologia da nossa história; é como se ela fosse lenda, sem fatos comprovados, sem a cadência correta de eventos. Apenas um emaranhado de lembranças que se sobrepõem até formar uma mistura sem cor nem graça. Como quando misturamos todas as massas de modelar, para criar aquela bola horrorosa, marrom, que acabamos jogando fora.

Esta bola marrom, este caleidoscópio às avessas. Isso somos nós.

Nós. Era tudo o que restava, o que nos mantinha juntos, mesmo ali, cercados por aquelas pedras seculares, aquele pôr-do-sol violeta, aquele lugar mais velho que o tempo. Apenas os nós. As pendências, as soluções práticas. A divisão dos valores. O aperto de mão final. 

Você caminhava mais rapidamente, intencionalmente, escolhendo outros focos de atenção. Eu caminhava lentamente, propositadamente evitando te alcançar. Nada mais naquilo havia sentido, nossa lua de mel ao contrário; nós dois, quase em resistência magnética, empurrando um ao outro o mais longe possível. 

Os sorrisos contrastavam com a nossa presença. Como se nós não servíssemos ali, como se incomodássemos. Dois fantasmas, assombrando aquele templo. É a coisa mais curiosa - e misteriosa - essa alquimia do desfazimento do amor. É impossível traçar os passos, entre a paixão e o desprezo. A gente sente, acho, sei lá. Suspeita, sem enxergar. E então, um belo dia, numa manhã qualquer, olhamos nos olhos um do outro e nada mais faz sentido.

"Eu não amo mais você". 

Aquelas passagens compradas há tanto tempo, triste ironia. Viajamos como inimigos, desde o momento em que sentamos no avião. Aqueles silêncios constrangedores, as palavras inevitáveis, a cama pequena demais para dois corpos que, num passado recente, não se desencaixavam. 

Você me deixou segurar a sua mão no caminho de volta. Talvez por cansaço, talvez por carência. Nem eu sei porque fiz isso, também, para te ser sincero. Talvez pelas mesmas razões que você. Que importa? A verdade é que, ainda hoje, sinto o cheiro do seu cabelo molhado, quando você me abraçou ao sair do banho, do toque da sua pele em volta do meu pescoço, os seus olhos úmidos no meu peito. Aquela última noite.

Estávamos dizendo adeus.



Porque você foi um sonho doce, uma doce ilusão. Uma ideia que se desfez no vento, que perdeu o sentido, que virou decepção. E aqui estou eu, tanto tempo depois, ainda costurando os pedaços embaçados destas memórias agridoces, e sem nenhuma foto daquele templo para recordar.

E quem devo culpar?

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