quinta-feira, 7 de agosto de 2014

ANTUMBRA


O dia ainda despertava preguiçoso, no horizonte. Aqueles tons tímidos, ainda lilases, o vento gelado, os últimos suspiros da noite dando lugar para o começo da manhã.

O homem caminhava, sozinho, no vasto cemitério. Aquele grande labirinto de lápides brancas, como uma grande metrópole de prédios minúsculos em que ele caminhava, sem pressa, feito um gigante. Passo ante passo, cerimonialmente, rumo ao seu destino.

Parou, então, contemplando por alguns minutos a lápide recente diante dos seus olhos. O nome, ali encravado, deixando poucas dúvidas sobre quem habitava aquela morada, sob sete palmos de terra ainda fofa.

Abriu então uma sacola plástica, de supermercado, e retirou um saco de um quilo de sal. Com um pequeno canivete, rasgou o plástico, tendo a ajuda do vento para salgar aquela cova fresca.

Fechou os olhos, um sorriso, um suspiro longo, a brisa desgrenhando seus cabelos, causando arrepio.

"Eu sobrevivi".

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