domingo, 14 de abril de 2013

SOBRE DOR E BELEZA

A primeira coisa que eu posso - e devo - dizer sobre "De rouille et d'os" (Ferrugem e Osso) é que você não deveria perder tempo lendo esta resenha. Simplesmente vá e veja o filme. Digo isso porque eu não quero ser responsável por impedir que você demore ainda mais em ver esta história que, como algumas poucas, conseguiu me emudecer por duas horas, sem exageiro.

Não saberia por onde começar. A beleza, a dor, a sensibilidade, a profundidade, a humanidade desta história. Marion Cotillard e Matthias Schoenaerts se entregam de corpo e alma em atuações que beiram a fronteira entre fantasia e realidade numa história em que, apenas quando os mundos desabam, é que algo novo pode verdadeiramente nascer e, mais importante, frutificar.

Uma linda (e doída) história de amor entre um lutador e uma treinadora de baleias. Mão tão mais que isso...

Ali (Schoenaerts) é um homem perdido. Sabemos pouco, ou nada do seu passado. Apenas que ele é um pai solteiro, desempregado e que recorre a uma irmã no Sul da França como uma forma de tentar dar um rumo à sua vida. Pelo seu passado de trabalhador braçal (e lutador), Ali consegue um bico de segurança, momento em que conhece Stephanie (Cotillard) uma treinadora de baleias que é agredida na casa noturna onde ele trabalha. Mas este encontro é frágil e efêmero e eles acabam se perdendo.

Neste meio tempo, Ali segue com a sua vida, criando o seu filho com os meios que lhe são possíveis e se virando de todas as formas para conseguir dinheiro - entre elas um clube da luta ilegal onde ele consegue dinheiro extra de apostas. Stephanie, por sua vez, vive uma tragédia que muda a sua vida por completo. E para sempre. 

É preciso que os mundos de Ali e Stephanie desabem para eles redescobrirem a vida. E a si mesmos

Os dois acabam se reaproximando e, pouco a pouco, vão descobrindo uma estranha e delicada amizade que, lentamente, vai se transformando em um "algo" que nem eles mesmos sabem nomear. Uma relação "operacional", por assim dizer, em que eles podem satisfazer todos os desejos, sejam eles de pele ou de alma, sem o risco de causar sofrimento um ao outro. 

Mas é óbvio que as relações humanas não são simples assim...

A verdade é que Ali e Stephanie são duas pessoas em pedaços e que acham, um no outro, um meio de se curarem. Rapidamente, Ali, o bruto, descobre um refúgio na frágil Stephanie que, por sua vez, se descobre fortalecida na segurança dos braços de Ali. Eles se amam, se desejam, se querem, mas a simplicidade do mundo de Ali o impede de enxergar a realidade que Stephanie tão rapidamente descobre. Caberá a ela, então, "treiná-lo" a chegar esta conclusão? Pode-se dizer que sim. Ou não.

Uma história de amor como talvez só o cinema francês saiba contar

A relação única de Ali e Stephanie é a espinha dorsal de um filme lindamente doído que se constrói com imensa delicadeza sobre a reflexão de que não há, jamais, um fim. Para nada. Porque por mais dura, implacável e desesperadora que a vida possa se mostrar, ela também é, a cada segundo, transformação na mais pura essência. 

Dirigido por Jacques Audiard, eis aqui um pequenino e poderoso filme, destes que, quando me pegam desprevenido, me deixam absolutamente flutuante, em busca de pensamentos que parecem planar sobre a minha cabeça como folhas de papel desconexas e rebeldes. Não sei - ou não sei se quero - dizer muito mais sobre ele. É um destes filmes com cheiro, com toque, com dor que pode ser sentida. E absolutamente imperdível.

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