domingo, 14 de abril de 2013

EM BUSCA DE UM PLANO [SE É QUE HÁ ALGUM]


O melhor de "Kicking and Screaming" é, sem dúvidas, o texto de Noah Baumbach (que também o dirige). Em meados da década de 90, um grupo de amigos acaba de se formar e enfrenta o estranho limbo que antecede o "começo" da vida. Eles falam em futuro, carreira, expectativa, incertezas, tudo cercado por um ambiente de tiradas sarcásticas, referências culturais pretensiosas e muita ironia (para não dizer certa amargura). Basicamente, nenhum deles parece querer, de fato, começar a vida e, por conta disso, permanecem orbitando o antigo campus, frequentando os mesmos bares e festas como se isso, de alguma forma, pudesse impedir o tempo de passar.

"Eu queria já estar aposentado", um deles diz em determinado momento. "Ou que nós estivéssemos indo para a guerra". A beleza de Kicking and Screaming é que ele não possui uma trama, como se, a cada segundo, o filme, como seus protagonistas, esperasse algo acontecer. Algum evento, algum acontecimento que pudesse definir pelo menos uma direção qualquer. Todos estão perdidos.

Mas entre cervejas, referências a poetas românticos e sexo sem compromisso, há espaço para o desenrolar de uma história de amor mais elaborada. Grover parece não conseguir se recuperar da separação de sua namorada, Jane, que decidiu ir morar em Praga. Suas reflexões e angústias a respeito deste nó (mal) desfeito rendem alguns dos melhores momentos do filme, como a linda argumentação de Grover sobre o motivo que simplesmente o obrigava a, naquele momento aleatório, embarcar no primeiro voo para Praga. "Para que os meus netos saibam que eu fiz algo, que eu realmente fiz algo". 

Entre a realidade cinzenta e incerta e os saudosos flashbacks de Grover a respeito de Jane, qualquer um em torno dos 30 também conseguirá sentir o angustioso conflito da nossa geração, sufocada pela obrigação de ser, fazer, construir e como esse fardo - às vezes - simplesmente é pesado demais.

O futuro parece mais atraente, já que o presente é difícil demais de se decifrar

"Eu queria que nós fossemos um casal de velhinhos, quando eu poderia te beijar repentinamente e você não se importaria", diz Grover a Jane quando eles se conhecem. "Porque se eu te beijasse antes, você se assustaria e se eu beijasse agora, talvez você me julgasse ousado demais". É um diálogo que define o filme; a ideia de cobiçar o futuro (confortável e resolvido), já que o presente talvez seja complicado demais para decifrar.

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