A música destruía os seus ouvidos com aquele compasso eletrônico, martelando seus pensamentos sem piedade. Bum, bum, bum, bum, bum.
Mas ela continuava ali, dançando, de olhos fechados, sentindo o suor escorrer pelo seu pescoço encharcando a gola da sua blusa apertada parecendo estrangular o seu corpo de uma forma nenhum pouco confortável. As luzes frenéticas cobrindo o lugar com todo o tipo de tom psicodélico, causando-a vertigem.
Ela sentia as pessoas esbarrando, passando por ela, aquele cheiro sufocante de gente demais em espaço de menos e, de repente, ela não conseguia mais se concentrar; a música exageradamente alta, aquelas pessoas feias, suadas, espremendo o seu corpo. As luzes deixando-a tonta; claustrofobia. Foi quando ela viu um rosto conhecido, parado, ali, a poucos metros.
"Você não tem a menor ideia de onde está, não é mesmo?", ele questionou com um sorriso amargo.
E então ela percebeu que realmente não tinha ideia de como havia parado ali. Nem onde estava, nem que horas eram, nada, absolutamente nada. Como se ela tivesse sido engolida por uma fenda.
"Porque você não olha para os seus braços?", o rosto familiar balbuciou lentamente.
Com um susto, ela saltou para trás, esbarrando em algumas pessoas que a empurraram de volta com agressividade. Seus braços, dilacerados, os pulsos cortados de ponta a ponta.
"Su-i-ci-da", ele sussurrou em seus ouvidos.
E então desapareceu. Ela ficou ali, a cabeça girando, olhando em todas as direções, aquele amontoado de pessoas anônimas, esfregando-se umas nas outras, como numa orgia de fúria e fogo. Questionou-se onde estava, mais uma vez, sem sucesso.
E então viu um homem esguio, caminhando vagarosamente ao seu encontro. Ele vestia um terno cor de cobre, bem cortado, justo ao corpo, o colarinho desabotoado, o cabelo bem cortado, a barba escura, aparada rente; um ar elegante, sofisticado, quase europeu.
E então viu um homem esguio, caminhando vagarosamente ao seu encontro. Ele vestia um terno cor de cobre, bem cortado, justo ao corpo, o colarinho desabotoado, o cabelo bem cortado, a barba escura, aparada rente; um ar elegante, sofisticado, quase europeu.
Ele sorriu, ao parar de frente para ela.
"É sempre assim. Vocês nunca sabem que vieram parar aqui", ele disse, suspirando.
Ela o olhava fixamente, um ar de incredulidade e medo gritando pelos seus poros.
"Mas", ele apontou o dedo indicador, "se aqui você está, então aqui você deve estar. Eles nunca erram". O homem sorria, de forma maternal, a cabeça levemente inclinada para o lado.
E ela permaneceu ali, muda, enquanto a música continuava a estourar no grande salão inundado pelas luzes coloridas. O calor insuportável fazendo-a desesperar por tirar a roupa, por beber água, por tomar banho.
"Chegou a hora de acertar as contas, minha cara", ele falou, olhando-a seriamente. "E não por esta bobagem aí nos seus braços; isso é irrelevante. Digo pelo que você causou aos outros e a si mesma". Sorriu, os lábios cerrados, algo de sarcasmo.
Foi quando ficou claro, enfim, para ela. Ali era o inferno. E imediatamente uma cascata de lágrimas começou a escorrer pelo seu rosto, sem parar, evaporando nos cantos dos olhos, fazendo o seu rosto defumar.
"Sim", ele acenou de forma afetada, "você está no inferno".
Ela olhou para o homem bonito, seus olhos encharcados, incrédula.
"E não", ele disse entediado, olhando para algo que parecia um smartphone, "eu não sou o diabo", completou. "Ele é ocupado demais para lidar com essas trivialidades". Sorriu. "Em verdade, na hierarquia da nossa... empresa, eu sou pouco mais que um estagiário". Olhou fixamente para ela, os olhos amarelados, felinos, invadindo-a como um farol, e enunciou as palavras, como se saboreando o que viria a dizer:
"É ESTA a sua importância".
Ela saiu correndo, saltando, empurrando as pessoas para os lados até compreender que sequer saía do lugar. Para onde ela corresse, rapidamente via que continuava no mesmo lugar.
"O inferno é a repetição, minha cara", o homem surgiu na sua frente.
Ela sentia as pernas doerem e notou que os seus pés, descalços, sangravam. Mas, por alguma razão, não conseguia sentar, nem deitar, nem levantar os pés do chão, nem parar de mexer o seu corpo.
"E também um lugar onde você fará sempre a última coisa que mais desejar fazer", ele completou. "Gostaria de alguns exemplos?", ele questionou, tocando o seu ombro de forma amigável. "Anseie por água, e ela vai aparecer na sua frente, mas você não vai conseguir beber; queira fechar os olhos e eles permanecerão abertos; queira, anseie, peça, sinta fome, cansaço, dor, e este lugar te recompensará com exatamente o oposto". Sorriu, novamente inclinando a cabeça para o lado.
"O inferno é isso também".
Ela chorava, em desespero, constatando que já não tinha mais senhoria sobre o seu corpo. Era uma escrava, agora, de uma força sem explicação que se apoderara dos seus atos e pensamentos. Olhava para os lados e via aquelas pessoas em sofrimento, os atos repetitivos, no compasso da música eletrônica que, até onde ela sabia, já tocava a horas.
"Não, não", ele falou de forma afetada. "A música já está tocando há anos!"
Ela olhou para ele, sem saber o que dizer.
"Há um prazo, uma punição, você deve estar se perguntando", ele indagou, novamente sério.
Ela simplesmente o olhou, sem responder.
Ao que ele sorriu, abanando a cabeça numa negativa.
"O inferno é a repetição, minha cara".
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