sábado, 16 de junho de 2012

SILÊNCIO, PALAVRAS E SOFRIMENTO

Ocasionalmente, um filme me atropela inesperadamente. São esses filmes especiais, únicos, que eu, por uma razão ou outra, não os dei devida atenção no momento certo. "A vida secreta das palavras" (The Secret life of Words), filme de Isabel Coixet, é um desses filmes.

Com quantas palavras, com que silêncio, é possível medir o sofrimento de uma pessoa? Em que idioma? Com que imagens, com a profundidade de que cicatrizes? Onde habita a dor real, verdadeira? Essa é a pergunta que lateja durante todos os segundos deste filme. Na tela, conhecemos aos poucos a história de Hanna (Sarah Polley), uma estrangeira, fria, surda e que, pelo que entendemos, vive uma vida asséptica, desprovida de emoção. Tudo é ordem, tudo é beje, tudo é repetição.

"Obrigada" a tirar férias na fábrica em que trabalhava há quatro anos sem descanso, sem faltas nem atrasos, Hanna se vê num pequenino hotel litorâneo que, por um acaso do destino, fica próximo de uma plataforma petrolífera que passa por grave acidente. Descobrimos que Hanna também é enfermeira e, por essa aptidão, ela é levada para cuidar de um americano, Josef (Tim Robbins), que está queimado e imobilizado sobre uma cama.

Sarah Polley e Tim Robbins vivem Hanna e Josef, dois seres fragmentados, em busca de se refazerem

Josef é um homem fragmentado e infeliz. E não apenas pelos seus ossos e pele danificados pelo acidente. Ele sofre pelo mal que causou a algumas pessoas, pelas suas escolhas equivocadas. Josef é amargo, irônico, defendendo-se sob a melancolia das suas memórias. Então ele conhece Hanna, uma enfermeira anônima, que se recusa a dizer o nome, a falar de sua vida, a revelar qualquer coisa sobre si. A única coisa que Josef sabe sobre ela é que ela gosta de frango, arroz e maçãs. E só.

A plataforma, agora praticamente abandonada, abriga um punhado de almas infelizes que compartilham o desejo "de serem deixados em paz". Um não lugar, uma ilha metálica de solidão, esquecida do mundo. Esquecendo do mundo. Tentando esquecer. Inevitavelmente, Hanna e Josef trocam memórias e descobrem que estão se "envolvendo" na teia das circunstâncias que os envolvem. Hanna trata das dores de Josef. Mas... e quem trarará das suas próprias? 

Eu poderia continuar e versar sobre a vida secreta dessas palavras, dessas imagens, da mágica que esconde esse filme despretensioso. Eu, porém, escolho calar. Melhor, talvez não consiga mesmo ser muito prolixo a respeito desse filme. Faltam as palavras, sobra a emoção. Este filme não serve para ser "visto", apenas, ele deve ser vivido, sentido. É a única forma. E, por isso, nenhum texto seria eloquente o suficiente para descrevê-lo.

O que posso dizer, sim, é que esta é uma história difícil, que nos mostra como a vida pode nos afogar sob o peso das nossas lágrimas. 

Mas que, também, pode nos ensinar a nadar.


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