terça-feira, 12 de junho de 2012

À ESPERA DE UMA MENINA DE CÂNCER

Um dia me explicaram sobre elas. Tentaram, pelo menos. As deliciosamente complexas meninas de câncer. Apaixonadas, românticas incuráveis, devotas, frágeis feito porcelana, lobas mortais quando devidamente provocadas. "Esteja avisado sobre os seus beijos", assim também me instruíram. "Há algo de sereia, de ninfa, de musa em seus beijos. Algo de feitiço".

Seus segredos devem ser respeitados. Seus cantos, encantos, mistérios; seus hábitos, suas "coisas", sejam coisinhas ou coisonas. Coisas de meninas de câncer que, se tocadas de forma correta, abrem seus braços feito pétalas, suas primaveras pessoais; se tocadas de forma equivocada, porém, fecham-se feito concha. E cruzam os braços, fazem bico, fazem birra. Pura manha.

E choram, choram, choram... o fim do mundo parece cair sobre os seus olhos; olhos de mulher, menina, criança.

Elas possuem um charme tímido, coisa de gueixa, dizem. Sabem cuidar, é algo natural, interente, feito profissão. Melhor, gostam de cuidar. Não pedem muito, mas querem tudo. São donas, senhoras, proprietárias exclusivas dos corações dos seus amados. E perdoam tudo. Melhor, quase tudo. "Não traia a confiança de uma menina de câncer", explicaram, "é um caminho sem retorno".

Tampouco se critica uma menina de câncer. Ora, ela já o faz demasiadamente. "Faça o caminho oposto", me disseram. "Ela quer carinhos, quer ser cuidada, escondida da chuva, do vento forte, do perigo, mesmo os imaginários".

E não se brinca com os sentimentos de uma menina de câncer, também apontaram. A pele delas é fina, corta fácil. A armadura que elas gostam de ostentar é cênica, não é de ferro. E o coração que bate ali dentro suspira, sussurra e às vezes fica inconsolável. Elas, que parecem sempre estar em perigo. "Mas não se engane", soube. "Não confunda fragilidade e fraqueza; você se surpreenderá quando elas decidirem ir à guerra".

Estas meninas de câncer... esse magnetismo, essa beleza distinta; esse calor, um quê sem muita matemática, sem muita lógica, esse algo que elas parecem ostentar. Elas que parecem ter o dom nato de agradar e conquistam sem esforço. Países e nações inteiras tomados sem tiros.

É que há algo de especial nelas, entendi. As queridinhas dos astros. "Não é complicado", concluíram. "É só não brincar com elas; a não ser que elas queiram brincar. Leve-a no bolso, pertinho do coração, e tudo estará bem".

Por fim, me perguntaram, "e então, o que você faria se encontrasse uma menina de câncer"?

A ela eu entregaria o meu mundo.

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