Leitura
Adélia Prado
Era um quintal ensombrado, murado alto de pedras,
As macieiras tinham maçãs temporãs, a casca vermelha
de escuríssimo vinho, o gosto caprichado das coisas
fora do seu tempo desejadas.
Ao longo do muro eram talhas de barro.
Eu comia maçãs, bebia a melhor água, sabendo
que lá fora o mundo havia parado de calor.
Depois encontrei meu pai, que me fez festa
e não estava doente e nem tinha morrido, por isso ria,
os lábios de novo e a cara circulados de sangue,
caçava o que fazer pra gastar sua alegria:
onde está meu formão, minha vara de pescar,
cadê minha binga, meu vidro de café?
Eu sempre sonho que uma coisa gera,
nunca nada está morto.
O que não parece vivo, aduba.
O que parece estático, espera.
2 comentários:
Eu usei esse texto para exercício de fala para teatro, pra controlar as vírgulas e pontos sem levar em conta a troca de versos.
Tem uma coisinha errada nesse texto (eu acho), no "cadê minha pinga, meu vidro de café?". Não é "pinga" é "binga" que significa esqueiro, rs.
Obrigado, Rafaela, já corrigi!
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