Esses dias cheguei à conclusão que "Indiana Jones e a Última Cruzada" é o filme perfeito. Claro, adoro filmes cult, indie, metidos às filosofias; profundos, repletos de devaneios melancólicos; comédias inteligentes; filmes complexos, esquisitos e difíceis de entender. Adoro. Mas, para mim, ao final do dia, não dá para errar com "A Última Cruzada". Porque está tudo ali. Pelo menos, tudo o que é preciso para duas horas do mais puro, profundo e verdadeiro entretenimento (ajuda muito, também, ser fã das aventuras do famoso arqueólogo).
O famoso arqueólogo nascendo das estripulias de um escoteiro irresponsável
No primeiro ato, vemos o jovem Indy em uma de suas primeiras errâncias como escoteiro. Ao esbarrar, acidentalmente, em ladrões que acabam de encontrar uma relíquia "que deveria estar num museu" ele não pensa duas vezes em enfrentá-los de igual para igual. No percurso extremamente acidental, afunda num poço cheio de serpentes (referência à sua fobia maior no futuro), machuca o rosto com um chicote (duas referências imediatas à famosa arma e à cicatriz no queixo de Harrisson Ford) e acaba vencido por um homem que, entendemos, será para sempre uma referência central no imaginário de Indiana: um destemido aventureiro que tenta consolá-lo ao depositar seu próprio chapéu (mais uma referência) na cabeça do menino derrotado enquanto diz: "não é porque você perdeu hoje, garoto, que precisa se acostumar com isso". Com o pai - presente/ausente - estudando no escritório, naquele instante são formadas as bases do herói incrível que ele viria a se tornar: um menino solitário, órfão de mãe, que descobre em sua independência prematura o caminho não apenas da sua liberdade, mas da sua própria carreira.
Sean Connery e Harrisson Ford como uma das melhores duplas que o cinema já viu
Em seguida, já no tempo presente (década de 30), vemos o sempre assediado professor universitário diante de uma nova aventura: seu pai, o famoso professor Henry Jones (interpretado magistralmente por Sean Connery), desaparece enquanto investigava o mistério do Santo Graal, em Veneza. Indy recebe o diário de seu pai, com valiosas anotações de toda uma vida, e parte para a Itália em companhia do sempre adorável e desorientado Marcus Brody, que rende, mais adiante, uma cena simplesmente hilária. Em Veneza, os dois são recebidos pela charmosa femme fatale Elza Schneider, a professora alemã que ajudava o pai de Indiana Jones e a última pessoa que o viu antes do seu desaparecimento. Indiana e a perigosa loira naturalmente se envolvem amorosamente e partem para a Áustria onde, supostamente, o velho professor está sendo mantido prisioneiro. Mal sabe Indy que Elza está levando-o para uma armadilha já que ela, como era de se suspeitar, é uma agente do III Reich.
Indy sabia que não deveria confiar em ninguém em Veneza. Elza parecia "confiável".
Num castelo medieval Indy encontra seu pai, vivido por Sean Connery, e que é responsável pela maioria das cenas inesquecíveis do filme. Primeiro, ao arrebentar um vaso chinês na cabeça do filho (achando que ele era um nazi) e, mesmo com Indiana cambaleando pela dor, o velho fica radiante ao constatar que se tratava de uma imitação. Depois, na fuga de moto, seu rosto de orgulho ao ver o filho empunhar uma lança como um cavaleiro medieval. E, mais adiante, a famosa cena em que ele espanta pássaros na praia para derrubar um caça alemão que os perseguia. Feliz da vida, com o guarda-chuva nos ombros (como uma espada), ele completa sua atuação com a frase famosa de Carlos Magno: "que meu exército sejam as pedras no chão e os pássaros no céu". O deleite de ver Sean Connery e Harrisson Ford como pai e filho é impagável.
Indiana Jones frente a frente com ninguém menos que o próprio Adolf Hitler que, numa das cenas mais emblemáticas do filme, interpreta que Jones estava li apenas para pedir um autógrafo.
O terceiro ato começa com a fuga da Áustria. Não antes de Indy tentar despistar os nazis ao dizer que Marcus Brody, que "fala mais de 12 idiomas e conhece todos os costumes", já está há dois dias no Egito, provavelmente com o cálice em mãos. E eis que vemos o pobre Brody em Iskanderum, sendo assediado por vendedores de galinhas e perseguido por temíveis agentes da Gestapo. Indy quer ir ao seu encontro, mas seu pai o convence a voltar justamente para Berlim, no meio da boca do leão, para recuperar o seu diário onde ele anotou as respostas para os desafios do Graal. Na capital alemã, Indy se vê engolido por uma parada do orgulho ariano e inevitavelmente esbarra no próprio Hitler que, ao pegar o diário em mãos, pensa que Jones é mais um jovem oficial em busca de um autógrafo. É simplesmente bom demais para ser verdade.
Um cavaleiro espera por 700 anos para passar adiante a responsabilidade de proteger o Santo Cálice
Quando saem (ou melhor, fogem) de Berlim, Indiana Jones e seu pai tomam o caminho para o Oriente Médio onde, supostamente, está o Graal. No caminho, uma batalha aérea e uma corrida desesperada contra um tanque em pleno deserto: a famosa cena que culmina com a "morte" de Indiana Jones, que retorna para ver seu pai, Brody e Sallah, lamentando a perda em mais um momento engraçado e inesquecível. É o começo do ato final, em que todos chegam ao templo para enfrentar os três desafios mortais que aguardam quem tenta encontrar a taça utilizada por Jesus Cristo em seu último encontro com os apóstolos.
Já perdi as contas de quantas vezes vi esse filme e ele me emociona como na primeira vez, quando minha mãe me levou ao cinema para vê-lo em 1989. E nunca, em nenhum momento, o filme perde ritmo, fica chato ou sem propósito. Ele transpira, exala, esse humor inocente e o amor de atores que se entregam sem medo na tela. São os atores, as cenas, os diálogos memoráveis, a música emblemática, o conjunto perfeito, afinado como uma orquestra impecável, que me faz ver tudo aquilo, ali na tela, com um sorriso em 180 graus no rosto. Verei tudo - ou quase tudo - que surgir no cinema e que me pareça minimamente interessante. Choro, rio, me angustio e gargalho com filmes que me marcam, me marcaram e que ainda me marcarão no futuro. Mas, não tem jeito, é na "Última Cruzada" que encontro sempre a minha primeira opção quando quero, simplesmente, me perder para me achar numa sessão de cinema sem pretensão. Imperdível. Inesquecível.
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