domingo, 4 de julho de 2010

INSIGNIFICÂNCIAS IMPORTANTES


Confesso que me surpreendi bastante com o filme "Remember Me" ("Lembranças"), estrelado por Robert Pattinson e Emilie de Ravin. Talvez por implicância ou puro preconceito, mas a verdade é que assisti a esse filme esperando desistir dele na primeira meia hora. Não é nenhum filme especial ou memorável, absolutamente. É mediano em praticamente todos os sentidos, mas também é um filme honesto, bem intencionado e completamente despretensioso e, talvez por isso, eu tenha me deixado convencer. 

"Lembranças", em verdade, é um diamante bruto. Falta lapidação, só isso. Poderia ter uma trilha sonora mais envolvente, uma fotografia mais elaborada, direção mais ousada. Mas o elenco é bom, dedicado, e consegue inflar muita energia à história. Robert Pattinson está muito bem (talvez sua melhor atuação até hoje) e raras foram as vezes em que lembrei do vampiro que o consagrou. Consegui enxergá-lo, realmente, como um rapaz da alta sociedade novaiorquina, perdido e indeciso sobre a sua própria vida. O mesmo vale para Emilie de Ravin, a famosa Claire de "Lost". Ela também me convenceu como uma garota especial, interessante e que luta para sobreviver a um grande trauma de infância. O elenco é o grande trunfo deste filme que, por muito pouco, não é um pequeno grande filme. 

A história conta as vidas de um grupo de pessoas que, por um acaso urbano, acabam se entrelaçando. Tyler (Pattinson) é um rapaz solitário, reflexivo, e que não tem a menor ideia do que fazer da própria vida, apesar de, no fundo, ansiar muito em fazer 'algo'. Vive à sombra da morte prematura de seu irmão mais velho e se vê preso entre a necessidade de cuidar da sua irmã caçula e infernizar seu pai ausente e autoritário (interpretado muito bem por Pierce Brosnan). Tyler cita Gandhi, apropriadamente, quando diz que "tudo o que você fizer em sua vida será insignificante, mas é importante que você o faça mesmo assim". Ele conhece Ally (de Ravin), uma garota que perdeu a mãe tragicamente e que vive com seu pai (Chris Cooper), um policial que, anteriormente, havia prendido Tyler por causa de uma briga de rua. 

Os dois se envolvem e os distantes mundos em torno de ambos começam a colidir, ora pacifica, ora caoticamente. Tyler e Ally pertencem a universos que dificilmente poderiam coexistir e isso determina uma série de eventos que, potencialmente, podem afastá-los. A grande beleza deste filme é acompanhar a trajetória de seus personagens centrais - e dos interessantes personagens secundários - enquanto eles vão desenhando as soluções, encontros e desencontros da difícil arte de existir. Tudo para que, num decisivo momento final, todos percebam que é preciso viver e seguir adiante, não importam os dramas individuais. 

Mas que, nem por isso, é preciso esquecer.

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