sexta-feira, 23 de julho de 2010

A FITA E A SEMENTE DO ABSURDO

Por onde começar para falar deste filme tão inacessível? "A Fita Branca" (Das Weisse Band), de Michael Haneke, não é um filme fácil em nenhum sentido. É difícil falar sobre ele; explicá-lo; muito menos recomendá-lo. Na tela, vemos uma explosão silenciosa, letárgica, num preto e branco austero, gélido, onde um narrador conta eventos macabros que se passaram num vilarejo alemão do começo do século XX. A pequena vila vive sob o domínio de um barão, rico fazendeiro que emprega metade dos cidadãos e, por causa disso, é temido e respeitado como um senhor feudal. As mulheres são inexpressivas donas de casa, os homens respondem pelo trabalho braçal e as crianças se esforçam em não incomodar. Não há sentimentalismos tampouco há algum calor humano sob nenhuma perspectiva neste ambiente que - supostamente - se propõe a ser um microcosmos da Alemanha pré-I Guerra Mundial. Todos vivem uma existência bucólica, construída em torno do trabalho, da colheita, da escola e da igreja, sem grandes ambições ou perspectivas.

Que pessoas serão, no futuro, essas crianças tão reprimidas? Aí está o questionamento de Haneke

Eis que no centro desta vila pacata começam a surgir misteriosos acidentes e eventos violentos, marcados por morte, espancamento e tortura. Ninguém sabe ao certo o que se passa e as investigações não rendem grandes resultados. Atento a esses acontecimentos, vemos um jovem professor (que também é o narrador, já idoso) compreendendo que algo muito errado está acontecendo enquanto tenta, com esforço, se aproximar de uma babá por quem está apaixonado. Mas rapidamente ele se vê vencido por uma estrutura social rígida e que não aceita seus questionamentos e suposições sobre a possibilidade que as crianças sejam responsáveis pelas atrocidades. A fita branca, que dá título à história, é referência a um dos mecanismos repressores utilizados pelo pastor local, que amarra um laço no braço dos seus filhos para lembrá-los da pureza e da inocência. Uma metáfora poderosa para emoldurar a ideia de uma geração antiquada e violenta que, a partir de uma brutal repressão moral, social, sexual e religiosa, moldou com mãos habilidosas as jovens mentes alemãs que, décadas depois, levariam o nazismo ao poder. Lindo e horrendo filme. Difícil de recomendar. Ao mesmo tempo, é impossível não fazê-lo. 

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