sábado, 8 de fevereiro de 2014

O "LOST IN TRANSLATION" DE SPIKE JONZE

"Her", do Spike Jonze é um filme importante. 

Eu poderia falar apenas isso, seria o suficiente. Mas ao mesmo tempo, há tanto a dizer sobre esse filme incrível; doloroso, melancólico e lindo. Este é, para mim, o "Lost in Translation" de Spike Jonze que, não por acaso, é ex-marido de Sofia Coppola e narra uma história de silêncios que bem poderia se passar em Tóquio e ser estrelada pelo Bill Murray - detalhe que o filme é, inclusive, co-estrelado por Scarlett Johansson.

Ok. Vamos lá. Em linhas gerais, porque nem sei o quanto quero entregar desse filme precioso. Essa é a história de Theodore, um escritor que ganha a vida produzindo cartas românticas numa empresa de comunicação de um futuro distante (mas não tão distante assim), onde as pessoas tem as suas vidas organizadas por um sistema operacional responsável por absolutamente tudo.

Nesse contexto, Theodore conhece Samantha, seu novo OS (basicamente, o seu novo computador). "Ela" é uma tecnologia de ponta que promete ser a última fronteira da inteligência artificial. Rapidamente, Samantha se "apodera" da vida de Theodore e inevitavelmente eles se "apaixonam". 

Theodore é um homem solitário, silencioso, que vem sobrevivendo a um divórcio há meses; e simplesmente não consegue sair do limbo das lembranças passadas (perdidas) e seguir em frente com a sua vida. É nesse cenário desolado que surge Samantha, como um raio de luz e esperança, que o faz perder a cabeça por ela que nada mais é que uma voz rouca, sussurrando em seu ouvido o dia inteiro; como uma consciência, eternamente presente, e em nenhum lugar a ser achada.

Será mesmo?

"Her" é um filme absurdamente belo, profundo, poético, filosófico, devastador pelas melhores razões. Uma obra de arte, uma obra prima, um questionamento maravilhoso sobre o que estamos fazendo das nossas vidas (e dos nosso relacionamentos). Uma metáfora que atingirá qualquer pessoa, sem exceção. Um convite agridoce a nos olharmos no espelho, sem roupa, sem pudor. 

Simplesmente perfeito. Além de perfeito. 

Como diria Samantha "são emoções que eu nem sei descrever; talvez não haja palavras para isso".

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

THE GRAND BUDAPEST HOTEL


Novo filme do Wes Anderson + Bill Murray. Eu nem precisava ter visto o trailer...

GIFS DA DEPRESSÃO

Então me pego pensando como será a minha vida amorosa no futuro...
Como - provavelmente - será...

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

EIS A PROVA...


...de que eles não passam de gatos gigantes...

domingo, 2 de fevereiro de 2014

O DESPERTAR DE MARIA

Maria despertou com um susto; engasgando com a sua própria saliva, o travesseiro num charco de suor. O pesadelo ainda estava vivo, flutuando sobre os seus poros abertos, e o silêncio da madrugada fazia aquelas imagens pulsarem em sua mente como coisa viva. 

De repente, de uma hora para outra, ela era uma mulher de meia idade, infeliz, aprisionada num casamento medíocre, numa vida sem finalidade, vivendo a eternidade de dias iguais, repetidos. Olhava o seu rosto no espelho, flácido; as mãos enrugadas, o cabelo seco, quebradiço. O corpo sem forma. 

"Quem é esta mulher no espelho?", perguntava-se em desespero.

O terror daquele sonho é que ela não tinha noção de que cadeia de eventos a tinha conduzido até ali. Nas suas memórias mais recentes, ela estava tomando banho de cachoeira com as suas melhores amigas. Os corpos na flor da idade, escondidos por roupas de banho minúsculas. Os beijos inocentes nos  meninos; as músicas, as danças, os cigarros roubados. Os braços de Michel, do lindo Michel, envolvendo o seu corpo enquanto atravessavam a rua, imprudentes. O seu cabelo desgrenhado, a camisa listrada, a alegria de ser jovem e irresponsável. Era aquela a sua vida.

Respirou fundo, numa tentativa de acalmar o seu peito. E caminhou lentamente até o banheiro, de olhos fechados, como num filme de terror. Tinha medo de abri-los e descobrir que não era um sonho. Acendeu a luz e então encarou a realidade. 

Um suspiro de alívio tomou conta do seu corpo, feito remédio.

Era ela. Ainda era jovem, linda, com uma vida inteira pela frente. Naquele quarto imenso, da casa dos seus pais, num emaranhado de vestidos e sapatos espalhados pelo chão; da noite anterior, antes de sair com as suas amigas. 

"Eu devo ter bebido demais", sussurrou para si mesma. 

Caminhou pelo quarto, ensaiando passos de dança, tomada por uma felicidade genuína; aquela sensação de eternidade que embriaga tanto quanto bebida. Maria tinha a vida pela frente, novamente, feito um milagre; para fazer as melhores e piores escolhas. E uma eternidade de anos que nunca passariam.

Mas havia algo estranho, que ela insistia em não admitir para si mesma.

Aquele não era o seu quarto.

Abriu os olhos com um susto. Olhou para o lado, para encontrar o seu marido num sono profundo. Pulou da cama e correu para o banheiro, acendendo as luzes com desespero. E se olhou, como se nunca tivesse visto o seu reflexo antes.

"Meu Deus, esta sou eu". 

Tocava o seu rosto, numa tentativa infantil de se beliscar para acordar. Em vão. A única coisa que conseguia era deixar suas bochechas vermelhas. Então percebeu a torrente de lágrimas que despencava do seu rosto, numa tempestade de tristezas; da constatação do inevitável. Ela era aquela mulher infeliz, de meia idade, aprisionada numa vida que já tinha passado.

"Por favor, Deus, por favor, me faça acordar".

Sentou-se no vaso, engasgando na sua angústia, sentindo um desespero esquizofrênico, repentino, que havia tomado-a de assalto. É como se ela tivesse percebido que não tinha registro da sua vida. Ela havia despertado para aquela constatação. 

"Por favor".

Caminhou cabisbaixa de volta para a cama; os pés arrastando no chão. O rosto ensopado de lágrimas e suor, o cabelo grudando no rosto; como se estivesse derretendo. Então sentiu uma mão em seu ombro, puxando-a com força. Virou-se como se a vida estivesse em câmera lenta e ficou cega por um milésimo de segundo, quando uma luz branca tomou conta de tudo ao seu redor. 

"Vovó, você estava tendo um pesadelo", a menina dizia ao pé da sua cama.

Maria abriu os olhos, lentamente, e se descobriu naquele quarto de tantas décadas; tomado por fotografias e cheiro de coisa envelhecida. Sentou-se, com dificuldade, e acariciou a menina no rosto. Lembrou de Michel, das cachoeiras, dos cigarros, da música, da dança. Suspirou, de olhos fechados, por alguns instantes.

Lembrou de tudo.

"Agora eu já despertei", respondeu. 

A menina estava certa. Tudo aquilo havia sido um pesadelo.

"Mas passou".

"Passou".

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A MÃE

Confesso que há algum tempo eu já não tenho mais muita paciência para "How I Met Your Mother". O show ficou monótono, repetitivo, sem graça - o que é uma pena, porque ele brilhava até a 5o temporada, com um texto afiado e situações que equilibravam riso e lágrima sem esforço. Acho que, no fim das contas, foi a tal vontade conhecer a bendita da Mãe que me fez seguir - e continuar até agora nesta reta final. E, como a maioria dos fãs, eu me surpreendi - negativamente - quando ela foi enfim apresentada. Quando nós, enfim, a conhecemos. "Então é ESSA a mãe por quem esperamos 9 anos?", todos se perguntaram em seus sofás. Mas então vem um episódio como este último, o 16, e tudo muda completamente. Ted nunca quis a mulher perfeita; nem a mais bonita. Ele apenas queria encontrar a sua metade, uma mulher de coração bom e alma leve, a mãe dos seus filhos, alguém com quem ele pudesse dividir a vida, desfrutar da companhia; alguém que o fizesse rir. E agora ficou claro que ela, contra todas as críticas, é tudo isso - e muito mais. E, após 9 anos, vem um sentimento feliz e reconfortante de enfim tê-la conhecido. Os dois merecem, muito, esse encontro.

FUMAÇA E ESPELHOS


Ela chegava, diante dos seus olhos apaixonados, coberta de luz; um ar inquestionável de mistério e divindade, os cabelos negros feito a noite cascateando sobre os ombros nus, brancos, sustentados por um corpo envolto num traje de couro e veludo. Uma rainha negra, uma bruxa, coisa etérea. 

Uma feiticeira.

E ele ficava ali, maravilhado, sentindo os seus olhos incrédulos, cobertos de lágrimas, a cada movimento, a cada passo, a cada passe de mágica. Tudo o que ela fazia era feitiço, equilibrismo, alquimia; e, pouco a pouco, virou uma doce obsessão. Sua musa, sua fotografia mental que não abandonava os seus pensamentos, aquela criatura de fogo e sombra, com quem ele sonhava acordado dioturnamente. Aquela mulher que havia roubado sua inocência, sua honestidade.

Aquela ilusionista.

Ele contava os dias em que conseguiria vê-la; aquelas aparições raras. E combatia o relógio em seu pulso, que teimava em impedir a chegada do aguardado momento. Aquele encontro de mudez, em que ele a veria novamente; em que ela estaria ali, ao alcance do toque dos seus dedos. Quando ela seria só sua. Hipnose, derretimento, fantasia, desejo, incompreensão. Aquela mulher estranha, aqueles olhos felinos, aquele corpo centauro, uma pulsão que corroia as suas entranhas, objeto de desejo. Sua harpia, sua medusa, sua rainha.

Até que algo aconteceu. Ele só não sabia ao certo o quê. Talvez ele tenha visto os animais escondidos nos fundos falsos dos seus truques de araque; os alçapões camuflados, as cortinas que já não guardavam tão bem os seus segredos. Talvez ele tenha enfim conseguido enxergar a farsa. 

Ou talvez ele simplesmente tenha amadurecido. A verdade é que depois que o mistério se desfez ela nunca mais foi a mesma. E pouco a pouco, lentamente, foi ele quem concretizou a maior ilusão de todas.

Fazê-la desaparecer.

Essa é uma triste história sobre o desapaixonamento.

Aquela mulher era somente fumaça e espelhos.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

TRAILER DE "A CULPA É DAS ESTRELAS"


O livro de John Green, "A culpa é das estrelas" (The Fault in our Stars), vai virar filme (com estreia prevista para junho). Uma história de amor que nasce onde já não se imaginava haver vida. Parece ser um espremedor de lágrimas. Esperar para ver.

O RELÓGIO PLANETÁRIO



O sensacional relógio da Van Cleef & Arpels, apresentado no Salão Internacional de Genebra e parte de uma coleção chamada "astronomia poética". Pela "bagatela" de quase 250 mil dólares, eis o relógio mais incrível deste mundo. E de qualquer outro.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

PARA VER E OUVIR: SARA BAREILLES ("BEAUTIFUL GIRL")


É um crime essa canção não ter entrado no "The Blessed Unrest".

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

ILUSTRANDO

As fotografias surreais - além de misteriosas (e fantasmagóricas) de Martin Vlach. Via Zupi.



quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

PARA VER E OUVIR: TEMA DE HANS ZIMMER PARA "MAN OF STEEL"


O poder de uma música. As primeiras notas me levam imediatamente para Jor-El e seu adeus comovente: "Adeus, meu filho; nossos sonhos e esperanças viajam com você". E é como se eu conseguisse acompanhar a jornada desta criança que foi enviada para caminhar na Terra como um Deus entre os homens. Até que a música ganha mais corpo; e a partir de 1:39, um arrepio toma conta de cada poro no meu corpo e eu ganho a certeza inquestionável de que verei, pela minha janela infantil, uma capa vermelha, dançando no vento feito uma flâmula, enchendo o meu coração com a segurança de que ele está cruzando os céus para nos proteger do mal. De que, simplesmente, ele está ali, em algum lugar.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

"SÓ É TUA A LOUCURA"

"Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só a metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças."

Miguel Torga, Diário XIII

PARA VER E OUVIR: SARA BAREILLES ("MANHATTAN")

PARA OS [ETERNOS] FÃS DE FRIENDS


Como eu.

domingo, 19 de janeiro de 2014

O QUE VOCÊ FARIA?

Vez ou outra eu esbarro num filme que mexe comigo. Melhor, vez ou outra eu sou ATROPELADO por um filme; uma história que me paralisa, me revira pelo avesso e eu preciso de minutos para me recuperar. Desta vez, o acidente de trânsito foi causado por "About Time", estrelado por Rachel McAdams (e grande elenco). Até agora estou tentando descobrir a placa. Enquanto isso, continuo aqui, no chão, esperando por socorro. 

Não sei se virá.

Vamos lá. E se você pudesse voltar no tempo, para corrigir os pequenos (e grandes) "erros" da sua vida? O que você faria? O que você faria diferente? E se você tivesse a chance de passar mais alguns minutos com alguém que já se foi? O que você faria? É essa a história de "About Time".

Mas não quero estragar surpresas; esse filme merece que você as tenha sem conhecimento prévio. Assim, fico somente com as linhas gerais que contam a vida de um rapaz que não é nenhum galã de cinema mas que o seu pai define muito bem: "um rapaz gentil, de coração bom, e um dos poucos homens que amo nesse mundo". Aliás, ninguém menos que Bill Nighy interpreta o pai - e de forma apaixonante.

Essa é a história deste rapaz bom que, não fosse uma pequena "qualidade", seria apenas mais um inglês comum, vivendo a sua vida. Mas acontece que ele pode viajar no tempo (para o passado, apenas), como todos os homens da sua família, e descobre que este dom lhe permite corrigir os pequenos erros do dia. Tudo que ele queria que é que isso o ajudasse a arrumar uma garota. Mas ele faz tanto mais.

E tanto, tanto mais...

Em resumo, é uma história sobre amor. Sobre saudade, nostalgia. Sobre o apego desesperado em viver os dias como se fossem os últimos. Essa é uma história absurda, fantástica e que nos conduz com tanta delicadeza pela sua trama surreal que é impossível não mergulhar de cabeça e se perder por completo. E de pensar, a cada segundo, "o que eu faria diferente?". 

Um filme lindo, lindo que chega a doer. Perfeito, do começo ao fim; comovente - desesperadamente comovente. E absolutamente imperdível. Um exercício atordoante, um convite a repensarmos as nossas próprias vidas - e os nossos erros - e a questionarmos o que de fato temos feito dos nossos dias. Antes que seja tarde demais.

É só isso que vou dizer. 

Apenas um conselho: tenha uma caixa de lenços de papel à mão. 
Confie em mim, será necessário.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

PARA VER E OUVIR: SARAH MCLACHLAN ("HOLD ON")


Eu esqueço, às vezes, de como amo as canções desta mulher. Mas basta ouvir uma canção como esta que tudo volta feito maremoto.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

TRAILER DA "MENINA QUE ROUBAVA LIVROS"


Torrente de arrepios.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

"S04"



"O povo sabe que eu sou o Rei; que a guerra está ganha!".

Pobre Rei Joffrey...
E que venha a S04 de Game of Thrones!

PARA VER E OUVIR: A SILENT FILM ("HARBOUR LIGHTS")

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

PARA VER E OUVIR: A SILENT FILM ("JULIE JUNE")

SIMETRIA

Vale 4+4 minutos do seu tempo (acredite!). Curta-metragem que narra a história de um rapaz que abandona a sua namorada para viver um caso com outra mulher. Mas não é só isso. Há uma brincadeira com a simetria (e com a física) em que o "abandonar" se converte magicamente no retorno. Linda direção, embalada por uma ótima trilha sonora e que brinca delicadamente com a nossa mente. Imperdível.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

ILUSTRANDO

As fotografias de Noell S. Oszvald. Via Zupi.



quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

ILUSTRANDO

O trabalho do artista plástico paulista Antonio Lee. Via Zupi.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

"ÁLBUM DE FAMÍLIA"


Quero ver, na lista já ("August: Osage County").

sábado, 4 de janeiro de 2014

AMOR PLATÔNICO

Alison Sudol, vocalista da Fine Frenzy (bandinha deliciosamente indie que descobri há pouco tempo). Centaura, essa criatura meio de outro mundo; um sorriso cheio de covas capaz de iluminar o mundo, um olhar melancólico, o cabelo vermelho, a voz doce, coisa profunda. Descobri essa ruiva por acaso e nunca mais consegui tirar os olhos dela. 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

domingo, 29 de dezembro de 2013

SE AO MENOS NÃO FOSSE TÃO GRAVE A GRAVIDADE

"Gravity", ficção científica de Alfonso Cuarón e estrelado (muito bem, aliás) por Sandra Bullock e George Clooney é, na falta de adjetivo melhor, um FILMAÇO completa e absolutamente imperdível. Suspense e adrenalina com qualidade primorosa no roteiro e direção. Sem sombra de dúvidas, um dos melhores (senão o melhor) sci-fi dos últimos anos. A prova, inquestionável, de que não são necessários monstros gosmentos e alienígenas invasores para deixarem o espaço assustador. Ele já o é, sozinho. 

Muito.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

FELIZ NATAL DO GRUPO ZAFFARI



Publicitários geniais fazendo coisas geniais... e fazendo bem ao mundo. Como essa propaganda de final de ano do grupo de supermercados Zaffari.

*baita cisco no olho aqui*

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

PARA VER E OUVIR: MISSA EM DÓ MENOR (KYRIE), DE W.A. MOZART


Mozart compôs esta missa especialmente para o seu casamento com Constanze que, segundo conta a história, solou ela mesma. O título vem do grego "Kyrie Eleison" ("Deus tende piedade de nós"). Entende-se a beleza etérea e absurda desta que, possivelmente, é uma das mais belas músicas já compostas pelo "homem". A verdade é que Deus deve sentir um misto de orgulho e profunda comoção até hoje por tamanha beleza em sua homenagem.

PARA VER E OUVIR: THE CRANBERRIES ("DREAMS")

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

PARA VER E OUVIR: CALVIN HARRIS ("SWEET NOTHING FR. FLORENCE WELCH")

QUEM SABE UM DIA...


Eu consigo agregar todas essas qualidades? Far-me-ia bem, sem dúvidas. 
Por enquanto, acredito responder bem por 50% (as duas primeiras).

Mas tá bom.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

MULHERES

O fascínio do venezuelano Carlos Pereira (19 anos) e a sua linda série de fotografias sobre mulheres. Lindo trabalho. Via Zupi.



PARA VER E OUVIR: BIRDY ("TERRIBLE LOVE")

"DIA DE SÃO CRISPIM"



"Entre nós não há homem tão vil que o dia de hoje não deixe a sua condição mais gentil".

Choro todas as vezes.

domingo, 1 de dezembro de 2013

PRETÉRITO IMPERFEITO

E então chega ele, majestoso, este mês, este soldado incansável, essa indústria de esperança que trabalha à exaustão, e que traz consigo a certeza inquestionável que "no ano que vem será melhor".

E muitas vezes é.

2012 foi trevas e, quando eu consegui nadar até a beirada da praia, com os pulmões já cheios de água e o corpo e alma em tantos pedaços que eu acreditava estar me desfazendo por completo, eis que encontrei Dezembro. E ele me deu a mão, me ajudou a levantar - ou pelo menos tirar o rosto da areia - e me disse "ano que vem será melhor".

E foi.

Porque eu era um gato doméstico, até 2012. Destes preguiçosos, gatos de janela, o dia inteiro a espera de algo para se esfregar, ansioso por carinhos sem fim. 2012 - pelas piores razões possíveis - matou para sempre o gato doméstico em mim; 2012 me converteu - numa alquimia negra - num gato selvagem, destes que erguem as presas para o vento. Apenas mágoa, apenas raiva, apenas vazio. 

Mas lá estava Dezembro, insistindo em que eu acreditasse - minto, clamando para que eu acreditasse. E, contra toda a minha desesperança, eu resolvi lhe dar mais uma chance. E assim foi 2013, desde o primeiro segundo, incansável, inquestionável, beirando o milagre; um ano em que tudo, tudo, absolutamente tudo, foi melhor. Infinitamente melhor. 

E chego a mais esse Dezembro, desta vez sem praia de náufrago; sem olhos inchados, mãos feridas, asas quebradas, sem o espírito tatuado por cicatrizes. Chego até ele orgulhoso, de cabeça erguida, vestindo meu melhor traje, e genuinamente feliz. E lá continua ele, esperando por mim.

"Obrigado meu amigo", então eu o digo. Com um sorriso no rosto. "Obrigado".

2012 me transformou numa ilha. 2013 me fez querer ser arquipélago.

Que 2014, então, me transforme em continente. 

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

MEMÓRIAS SEM MÉRITO

A chuva, às vezes, o fazia pensar nela. Ele ficava ali, olhando pela sua janela o movimento inerte da rua ensopada, a xícara de café aquecendo as suas mãos, o cheiro da grama molhada invadindo o seu nariz, deixando o seu corpo inteiro nostálgico.

Aquela saudade de dias que nunca existiram.
A melhor nostalgia de todas.

Ele não gostava de pensar nela, porém. Era uma alquimia cansativa, aquela de concatenar uma construção desordenada que envolvia desejo e decepção. Aquele somatório exaustivo de pensamentos tão artificiais... "Onde teria se perdido a menina dos seus olhos?", ele se perguntava; um sorriso torto, quase irônico, rasgava o canto do seu rosto. Suspirava.

Ela nunca havia existido. 

Havia algo salino naqueles pensamentos, ele não sabia bem o porquê. Um quê de tristeza, um quê de mágoa, aquelas memórias embaçadas, já sem forma nem mérito. 

She was his satellites. Set of lies.
She was his paradises. Pair of dices.

Ela simplesmente nunca existiu.

BROOKLYN NINE NINE

O que acontece quando as mentes por trás de "The Office" e "Parks & Recreation" decidem fazer um seriado sobre uma delegacia? Algo hilário e com - grande - potencial de clássico instantâneo. Comecei a ver "Brooklyn Nine Nine", ainda sem título no Brasil, e o seriado já me conquistou (ainda está na primeira temporada). Elenco interessante, misturando rostos novos e desconhecidos, e situações que, tradicionalmente, beiram o absurdo e a imbecilidade. Virei fã.

De quebra, já estou com uma quedinha pela Chelsea Peretti, que interpreta a louca (quíssima!) secretária do capitão. Até agora, são as melhores cenas e falas.


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

PARA VER E OUVIR: BIRDY ("1901")

PARA VER E OUVIR: SARA BAREILLES ("MANHATTAN")


Ah, essa linda... meu amor platônico irrecuperável.

sábado, 16 de novembro de 2013

"SÓ ELES DIRÃO QUE TU EXISTES"

Sem Palavras
(Florbela Espanca)

Brancas, suaves mãos de irmã
Que são mais doces que as das rainhas,
Hão de pousar em tuas mãos, as minhas
Numa carícia transcendente e vã.

E a tua boca a divinal manhã
Que diz as frases com que me acarinhas,
Há de pousar nas dolorosas linhas
Da minha boca purpurina e sã.

Meus olhos hão de olhar teus olhos tristes;
Só eles te dirão que tu existes
Dentro de mim num riso d’alvorada!

E nunca se amará ninguém melhor;
Tu calando de mim o teu amor,
Sem que eu nunca do meu te diga nada!...

PARA VER E OUVIR: A FINE FRENZY ("ALMOST LOVER")

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

PARA VER E OUVIR: TAYLOR DAVIS ("GAME OF THRONES THEME")


Fez meu coração nerd bater forte e causou arrepio nos ossos!

SUMMER IS COMING


Muito - mas muito - legal. 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

REINO E RUÍNA

Ele olhava para o teto do quarto, as sombras da noite projetando desenhos que faziam a sua imaginação voar pela janela. E ela dormia ali, nua, ao seu lado, a respiração leve, os cabelos esparramados no travesseiro. 

Procurava as linhas do seu corpo e sentia vontade de abraçá-la, acariciar as suas costas, correr os dedos entre as suas curvas, caminhos, reentrâncias, mas hesitava, guardava os movimentos para si, voltava ao baile das sombras. Sozinho.

É que ela estava além do seu toque, ela não pertencia a ele, e isso o deixava num limbo que misturava um desejo quase irrefreável de roubá-la, como nas histórias de capa e espada, e o desejo de pura e simplesmente ir embora dali, daquele quarto anônimo, e desaparecer para sempre.

"Eu poderia te roubar, te levar comigo, te reinventar"

Ele sorria.


Fechava os olhos, sem saber se estava dormindo, sem saber se estava acordado e imaginava que quando os abrisse nada estaria ali. Seria sonho. Mas ela estava, adormecida, há poucos centímetros dos seus dedos, entorpecida pelo cansaço do dia e da luta corporal que eles haviam travado pouco tempo antes. 

Ele se virou, de lado, e ficou ali, observando aquela mulher linda que era um abismo de perguntas sem resposta e que ele amava quase proporcionalmente à sua vontade de que nunca a tivesse conhecido. Ele gostaria de não gostar dela. Mas conformava-se diante desta impossibilidade. Afinal, não se faz esse tipo de escolha. 

Virou-se de costas para ela, como se estivesse de birra, cerrando os olhos, forçando-se a adormecer. Mas cada minuto daquela noite que ia escorrendo entre os ponteiros do relógio era um tempo sem volta, que ele deixaria de ter na companhia daquela mulher que era o seu reino e a sua ruína. E ele a queria de novo, a queria de volta, em todos os sentidos e formas imagináveis. Sem censura.

Manteve-se firme, num esforço solitário. "Esta será a última vez que você me verá", ele dizia para si mesmo, "amanhã eu terei outro nome, serei um homem avulso, um homem sem rosto, um homem mau, e você terá perdido o que nunca teve".

Mas sentia o cheiro dela, ali, inebriando os lençóis emaranhados. O cheiro adocicado, misturado ao aroma do seu cabelo desgrenhado, do seu hálito, do sabor do seu suor, as suas sardas, a textura do pêlo, o toque na pele, o gosto de todos os cantos do seu corpo. Uma sinfonia caótica, poesia e veneno, que o fazia afundar, sem rumo, sem controle; aquela mulher imantada, senhora da sua sanidade. 

"Eu me recuso a amar você".

Abraçou-se, como se fosse náufrago, agarrando-se à ideia de que ele deveria saltar daquela nau, nadar para longe, sobreviver. Ignorar aquela luz, aquele som, como um fugitivo de si mesmo. Ela deixaria de existir, e restaria somente o corte, o pulso, a cicatriz que ele ostentaria orgulhoso, como ferida de guerra.

"Eu venci você".


E no emaranhado daqueles pensamentos obstinados, ele sentiu uma perna escorrendo pela sua cintura, e um punhado de dedos delicados avançando pelas suas costas, ombros, pescoço. Ela vinha procurá-lo, sedenta, faminta, pela sua presa. E, naquele instante, as suas bocas se uniram, com sede e umidade, enquanto seus corpos se trancavam como chave e cadeado, mergulhando juntos num vórtice de calor, paixão, tato, suspiro, entrega, saudade.

Solidão.

Afastaram-se, mais uma vez, afundando os seus pensamentos na noite que banhava aquela cama anônima. 

E, enquanto ele ainda saboreava aquela mulher, sentindo-a viva ainda na ponta da sua língua, já não se lembrava mais dos seus planos de batalha. Perdido, esquecido, afogado, inebriado, adormecido.

Seu reino, sua ruína.

PARA VER E OUVIR: THE JESUS AND MARY CHAIN ("JUST LIKE HONEY")


Música com efeito pavloviano em mim: os primeiros acordes já transformam a minha garganta num emaranhado de nós...

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

PACTO


"Carn", curta de animação francês de Jeff Le Bars. A história de um pacto entre um menino, perdido na neve, e uma loba que, agonizante, precisa salvar seus filhos. Lindo, trágico, dark. E imperdível. Via Chongas.

PARA VER E OUVIR: DEATH CAB FOR CUTIE ("I WILL FOLLOW YOU INTO THE DARK")

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

"FOSTE TU QUE ME DESVENDASTE O AMOR QUE EU DESCONHECIA"


Texto de Raul Brandão ("Memórias", 1924)

Querida: estamos sozinhos à mesa nesta noite infinita em que a chuva cai lá fora com um ruido monótono de chôro. Estamos sós nesta noite de saudade e nunca foi maior a nossa companhia, porque cada vez me sinto mais perto dos mortos. Rodeiam-nos, chegam-se para mim e sentam-se ao nosso lume. São legião... Mais perto, que eu faço uma labareda que nos aqueça a todos. A velha mesa da consoada foi-se despovoando com o tempo, mas hoje estão aqui sentadas todas as figuras que conheço desde que me conheço... Tu, toda branca, e que mesmo através do túmulo me transmites sonho; tu, mais longe, mais apagada e sumida; e tu, que vens de volta, e encostas os teus cabelos brancos aos meus cabelos brancos, para me dizeres baixinho: -- Menino!--Pois ainda me chamas menino?! -- Outro acolá sorri e outro tenta falar... Dois vivos e tantos mortos sentados à roda desta mesa que veio de meu pai, foi de meu avô e pertenceu já a outras gerações desconhecidas, mas que estão aqui também comigo, escutando e sorrindo, enquanto as pinhas se transformam em flores maravilhosas e as vides que plantei se reduzem a cinza!... Nunca estive tão acompanhado como hoje nesta ceia religiosa de fantasmas, numa comunhão de saudade e de lágrimas, e sentindo que cada Natal volvido mais me aproxima dos mortos. Aumenta o silêncio húmido que nos isola do mundo... Dá-me as tuas mãos, querida, e deixa arder o lume, enquanto eu falo baixinho diante da legião que nos escuta, acompanhado pelo ruído de lágrimas que se ouve lá fora.

Um dia destes temos que nos separar, e é natural que seja eu, que sou mais velho, o primeiro a partir... Antes, porém, quero dizer-te que te devo o melhor da vida. Foste tu que me desvendaste o amor que eu desconhecia. A bondade e a ternura, que eu desconhecia. Não exerci talvez nenhuma influência na tua alma -- tu apaziguaste-me. O amor era em mim um simples impulso: criaste-o, e pouco a pouco essa força nas tuas mãos se transformou em sentimento religioso.

Olha para os meus cabelos todos brancos... Julgava que o amor ia diminuindo com o tempo -- e o meu amor não cessa de aumentar até à morte e para alem da morte. «Na ocasião em que escrevo estas linhas -- diz Alfieri nas Memórias -- na idade em que já desapareceram de todo as ilusões, sinto que a amo cada vez mais, à medida que o tempo destrói o brilho da sua passageira beleza. Ela tornou melhor, elevou e pacificou o meu coração -- e eu ouso dizer a mesma coisa do seu, que sustento e fortifico.»

É certo: cada ano que passa é um laço que nos prende e quanto melhor conheço a tua alma, mais me purifico ao seu contacto. Não só fazes parte do meu ser, mas da minha consciência. Chego às vezes a supor que tu és a minha consciência. Por isso esta separação vai ser dolorosa, ainda que eu creia que nos tornaremos a encontrar noutro mundo melhor. Não decerto para vivermos as horas que passamos juntos à beira do lume, penetrados um do outro e unidos pelo silêncio, mas numa vida superior que antevejo e numa paz mais profunda. Ainda assim tenho pena. Tenho pena das horas monótonas que correm -- do tempo que passa -- da brasa que se extingue...

Foste o fio que ligou a minha vida desordenada. Há em mim um ser desconhecido que me leva, se não estou de sobreaviso, a acções que detesto. Uma palavra tua me detém. Tenho passado o tempo a comentar-me e poucas almas me interessam como a minha. O que eu amo sobretudo é o diálogo com esse ser esfarrapado. Dêem-me um buraco e papéis e condenem-me à solidão perpétua. É-me indiferente... Isto é, um erro -- e tu fizeste-mo sentir. Sem mo dizeres -- compreendi que a nossa vida é, principalmente, a vida dos outros... Melhor: compreendi que a ternura era o melhor da vida. O resto não vale nada. Não é por a esmola da velha do Evangelho ser dada com sacrifício que é mais aceita no céu que o oiro do rico -- é por ser dada com ternura. O importante é a comunicação de alma para alma. A mão que aperta a nossa mão, o olhar húmido que procura o nosso olhar, o sorriso que nos acolhe, desvendam-nos o mundo. Às vezes é um nada que nos faz reflectir, é um momento, é uma figura que nos entra pela porta dentro e de quem nos sentimos logo irmãos...

Ainda não há muito que passei uma tarde no lagar, com os homens que assentavam os dornões, e achei um grande encanto àquela lide rude. Cheirava a mosto, e o cheiro pareceu-me mais penetrante que das outras vezes. É a quadra do ano em que caem as primeiras chuvas. Sente-se que vem aí o desabar imenso, nas noites que não têem fim --e aquela voz séria que nos faz reflectir. Há já um pique de frio, que sabe bem, e os ratos e as doninhas começam a levar para os buracos as primeiras folhas amarelecidas que caem das árvores. Tudo adivinha o inverno. A porta da adega comunica com a cozinha térrea da nossa pequena lavoura. Debruçada sobre o lar, a mulher deitava um feixe de sarmentos da poda sobre as brasas, e a fogueira lambia as paredes negras que relusem, iluminava os potes de ferro e o berço do filho ao lado do lume, a quem ela ia falando em-quanto fazia o caldo... Este pequeno quadro de interior humilde -- o homem que trabalha comigo na mesma vinha, o moço que o ajuda, a mulher e o berço, fizeram cismar... Aproximo-me cada vez mais -- outro inverno, ou a ideia da morte? -- da vida de todos os dias. Esta época do ano é a que melhor se harmonisa com a minha alma um pouco cansada e triste -- já resignada diante do fim. É agora que eu acho mais sabor à vida -- quando a sinto fugir-me. Cheira a folhas apodrecidas. As sombras mais frias, à espera de outras sombras geladas e eternas, trespassam-me de humidade. Anuncia-se o grande inverno no pio das aves, na cor das folhas que se arrepiam com a lufada do vento e caem uma a uma com um ruído tão leve como os passos da Morte...

O sentimento da vida humilde inspiraste-mo tu; este e outros de apaziguamento e verdade. Ligaste-me mais aos vivos e aos mortos. Aos que estão sentados ao nosso lado nesta noite sagrada e à legião infinita que tem sofrido no mundo, cumprindo a vida, aos desgraçados e aos humildes, aos pobres de pedir que caminham como dantes pela estrada. A chuva cai fora, com o ruído manso de quem se resigna e aceita a dor... Cheguemo-nos mais para o lar, que eu faço arder uma fogueira que nos aqueça a todos -- toros de carvalho duros como ferro que dão uma luz mortiça e um calor persistente; o pinheiro que arde, estala, flameja, numa grande labareda fugaz; as vides que plantei e já me aquecem há dois invernos e as pinhas que gosto de atirar uma a uma ao lume e que se transformam em maravilhosas flores de ouro, cujas pétalas só duram um instante... Cheguem-se todos os que no mundo me deram um bocadinho de ternura!

Tu, primeiro, de quem herdei a sensibilidade e esta paixão pelas árvores e pela água, e de quem sinto as mãos pousadas sobre a cabeça, trespassando-me de ternura; tu, tão velhinha, que me quizeste como a um filho, e vós todas de quem confundo as cabeças brancas. Sinto na mão um dedo nodoso que já não existe e a que a minha mão ainda se apega. Sinto as mãos que toquei durante a vida. Muitas já desapareceram, mas estão aqui entre as minhas -- as mãos de meu pai, as mãos de minha mãe, as mãos pequeninas das crianças. Não a mão material -- mas as mãos espirituais. As mãos quando a gente as aperta e as tem entre as suas dão-nos o ser inteiro pelo contacto. Destruídas pela morte fica a ternura que nos transmitiram.

Um momento, um só momento, um momento e lágrimas, um único momento para lhes fazer sentir também a minha ternura, redobrada pelos anos, aumentada pela saudade, amplificada pelo conhecimento da vida e da dor!...

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

INESPERADA PRESENÇA

Eu devo estar realmente nostálgico a respeito de tudo. Não nego. Não contesto. A verdade é que você apareceu ali, em meus pensamentos banais, enquanto eu tamborilava os dedos no volante, na espera infinita para que as luzes deixassem de ser vermelhas e voltassem a ser verdes. 

Você apareceu, de repente, inesperadamente, e consigo trouxe um sorriso que ligou as minhas duas orelhas numa máscara insolúvel de saudade. 

Lembrei de quando um dia dissemos um ao outro que seria para sempre. Mas o que sabíamos nós, não é mesmo? Nós éramos duas crianças brincando de infinito. Sob aquele sol escaldante, que torrava a nossa pele universitária enquanto escolheríamos as nossas fantasias para a festa daquela semana. Eu seria um soldado, ou qualquer coisa próxima disso; você seria Branca de Neve. Não teria como ser outra fantasia.

Mas não me entenda errado. 

Não é "deste" tipo de saudade que estou falando. Nós vivemos a beleza de um momento efêmero, passageiro, lindo e que durou a extensão e a dimensão que deveria durar. Fomos felizes juntos, você e eu; no tempo que aquilo durou, e nos amamos para sempre, no tempo que aquilo durou. Nos ferimos, claro, eu sei. Eu feri você. E espero que esse pensamento ainda não lateje em suas memórias velhas - acredito que não. 

Porque eu não o fiz de caso pensado. Fiz de caso impensado. Criança brincando de homem - acho que nunca despi a fantasia. Mas amei você, de verdade, e durante a duração daquele nosso tempo, você foi a mulher mais linda e importante da minha vida. E me fez muito feliz.

É "desta outra" saudade que falo. 

Uma saudade de querer bem. Etérea. Nós não nos falamos mais hoje em dia e talvez seja melhor assim. Algumas pessoas precisam permanecer, outras cumprem seu papel e se vão. Vivem eternas, intocadas, como memória. 

Não nos falamos mais por um conjunto de coisas. Escolhas, distâncias, tempo, mágoas, aquela miríade de acontecimentos, uma colagem de pedaços, caleidoscópio de eventos que nos colocou em direções muito opostas. Geográficas até.

Mas hoje eu pensei em você. É o que importa, realmente. E não quis deixar que esse pensamento, tão leve, tão bonito, tão frágil, voasse por entre os meus dedos. Decidi escrever sobre você. Guardá-la aqui, escondida entre essas minhas palavras, quase cifradas. O que mais importa, a única coisa que importa, é saber que você está bem; que é feliz, que se encontrou e vive a vida que merece viver. 

Você nunca lerá esse texto, eu sei disso. Mas não tem a menor importância. 

Minha querida, minha amiga querida, descobri hoje - repentinamente - que você ainda habita o meu coração. E que há um pedaço de você em mim, vivo, até hoje.

E eu a amarei até o fim.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

PARA VER E OUVIR: RYAN O'SHAUGHNESSY ("FIRST KISS")

ILUSTRANDO

A arte de Polly Forbes-Gower (via Zupi).




sábado, 12 de outubro de 2013

MOÇA INVISÍVEL

E no meio do caos que era aquele lugar, ele a encontrou. Disfarçada, escondendo-se nas sombras, onde a luz não a encontrasse, como um fantasma que deseja simplesmente se divertir. 

Ela não era especialmente bonita, nem especialmente bem vestida, nem queria chamar a atenção de ninguém, mas simplesmente o fato de ela se esforçar tanto em ser invisível foi o que capturou o olhar dele de forma incorrigível. 

Ela dançava sozinha, no mar de pessoas, mesclando-se, camuflando-se, como se coubesse atrás da garrafa que segurava na mão cheia de dedos compridos, ou do cabelo escuro e ondulado que guardava parte do seu rosto como uma máscara. 

Ele precisava saber quem era ela.

Os olhos fechados, o corpo sucumbindo ao transe da noite, da música, da multidão. O conforto daquela solidão anônima, onde ninguém se importa com o vapor, com o suor, com o choque de braços e pernas; de corpos exaustos de uma semana de trabalho que querem pura e simplesmente dançar.

E era tudo o que ela queria.

Ele se aproximou, vagarosamente, estudando-a de forma felina, sem querer assustá-la. Mas ela nem suspeitava daquela aproximação furtiva. E continuava, olhos cerrados, lábios acompanhando a música, cabeça ocasionalmente erguida sob as luzes frenéticas, entregando-se à melodia. 

E então, ao chegar bem próximo dela, ele percebeu a essência daquilo, o que a afugentava, a fazia buscar a sombra. O seu segredo. Uma cicatriz percorria o seu rosto, de um lado a outro, uma linha diagonal que narrava algum trágico momento de sua vida. E ela se esforçava tanto em escondê-la, sempre buscando escudos de cabelo para cobrir-se e voltar a ficar invisível.

Até que, num ato sem plano, destes em que o corpo age antes da mente ordenar, ele segurou a sua mão. Com delicadeza, percorreu os dedos pelo seu rosto, afastando o cabelo suado, comprido, os fios sedosos e escuros sendo cuidadosamente encaixados atrás de uma orelha pequenina. E ele podia sentir, na fisionomia assustada, nos olhos escancarando nudez, que ela fora pega de surpresa.

E antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele buscou os seus lábios entreabertos, preenchendo-os com silêncio. Abraçou o seu corpo, e ficaram ali, juntos, na eternidade da sucessão de melodias, dançando uma dança própria deles, alheios ao ritmo imposto pelo lugar. 

Ela apoiou a cabeça em seu ombro, envolvendo os braços frágeis em torno do seu pescoço, enquanto ele a embalava pela cintura. Pernas aqui, pernas ali, beijos sem planejamento, encontro de musculaturas, de pulsos, de sorrisos. Olhos fechados, música e batimentos cardíacos. Aquele cheiro de rosa e canela, que ainda habitava a sua roupa no dia seguinte.

De que importava aquela cicatriz, ele tentava dizer em seu ouvido, sem grande sucesso. Ao que ela respondia com um sorriso iluminado, um riso torto, de canto de boca, escondido como se fosse um tesouro para os mais audaciosos. Sua recompensa. 

A noite voava na carona dos ponteiros do relógio. E para ele, naquele seu momento mágico, ela era a mulher mais linda do mundo. O dia amanhecia, preguiçoso, enquanto ele se perguntava o que habitaria as portas por trás daquele encontro tão aleatório e especial. 

É que sempre lhe agradaram os seres quebrados. 

Como ele.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

VEM CHUVA POR AÍ...

"A menina que roubava livros" vai virar filme. Vem chuva por aí... 

DECLARAÇÃO DE AMOR



Um rapaz de Dublin decide revelar (ou quase isso!) uma paixão antiga (e secreta) por uma amiga, ao usar uma canção original, sua, para declarar o seu amor. Sem dúvidas, a audição mais emotiva que vi até hoje nesses vários programas de talento que existem por aí.

"Mas como ela vai saber que é para ela?", pergunta Simon Cowell, já que o rapaz reluta em revelar o nome da amada.

"Ela saberá", ele responde.

Lindo momento.

PARA VER E OUVIR: NITE JEWEL ("NOWHERE TO GO")


Como é que essa música não foi feita nos anos 80??

terça-feira, 8 de outubro de 2013

PARA VER E OUVIR: SLEIGH BELLS ("CROWN ON THE GROUND")

PEGADINHA GENIAL PROMOVE O NOVO FILME DE "CARRIE, A ESTRANHA"

ILHAS


Essa noite eu sonhei com você. 

Engraçado como isso se tornou algo tão rarefeito. Habitávamos duas ilhas vizinhas, pequeninas e solitárias, separadas por não mais do que algumas braçadas; mas havia algo em mim - algo íntimo - que não me fazia querer nadar. Eu entrava na água até a altura dos joelhos e fingia escutá-la, pondo uma mão atrás do ouvido. Você acenava do outro lado, como se me convidasse a imigrar. Mas eu permanecia no meu lugar, a água gelada lambendo a linha da minha cintura, observando o seu rosto que comunicava uma mistura de confusão e tristeza. 

Você acenava. 
E então acenava novamente. 

Mas a minha resposta final não deixava espaço para dúvida. Caminhei lentamente em direção ao meu lado, à minha praia, onde me deitei sob uma sombra, a areia fina arranhando a pele das minhas costas e o vento secando a água salina sobre o meu corpo. Até conseguia ouvir a sua voz à distância, longe, cada vez mais longe, como um barulho na rua que a gente ignora para voltar a dormir. 

Até não ouvir mais nada. 

Quando acordei entendi afinal o que eram aquelas ilhas. Bem como as braçadas de água que nos separavam.

Eu não gosto mais de você.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

PARA VER E OUVIR: SARA BAREILLES ("CHASING THE SUN")



"There's a history through her
Sent to us as a gift from the future, to show us the proof
More than that, it's to dare us to move
To open our eyes and to learn from the sky
From a cemetery in the center of Queens"

Ah, essa linda...