E então chega ele, majestoso, este mês, este soldado incansável, essa indústria de esperança que trabalha à exaustão, e que traz consigo a certeza inquestionável que "no ano que vem será melhor".
E muitas vezes é.
2012 foi trevas e, quando eu consegui nadar até a beirada da praia, com os pulmões já cheios de água e o corpo e alma em tantos pedaços que eu acreditava estar me desfazendo por completo, eis que encontrei Dezembro. E ele me deu a mão, me ajudou a levantar - ou pelo menos tirar o rosto da areia - e me disse "ano que vem será melhor".
E foi.
Porque eu era um gato doméstico, até 2012. Destes preguiçosos, gatos de janela, o dia inteiro a espera de algo para se esfregar, ansioso por carinhos sem fim. 2012 - pelas piores razões possíveis - matou para sempre o gato doméstico em mim; 2012 me converteu - numa alquimia negra - num gato selvagem, destes que erguem as presas para o vento. Apenas mágoa, apenas raiva, apenas vazio.
Mas lá estava Dezembro, insistindo em que eu acreditasse - minto, clamando para que eu acreditasse. E, contra toda a minha desesperança, eu resolvi lhe dar mais uma chance. E assim foi 2013, desde o primeiro segundo, incansável, inquestionável, beirando o milagre; um ano em que tudo, tudo, absolutamente tudo, foi melhor. Infinitamente melhor.
E chego a mais esse Dezembro, desta vez sem praia de náufrago; sem olhos inchados, mãos feridas, asas quebradas, sem o espírito tatuado por cicatrizes. Chego até ele orgulhoso, de cabeça erguida, vestindo meu melhor traje, e genuinamente feliz. E lá continua ele, esperando por mim.
"Obrigado meu amigo", então eu o digo. Com um sorriso no rosto. "Obrigado".
2012 me transformou numa ilha. 2013 me fez querer ser arquipélago.
Que 2014, então, me transforme em continente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário