quinta-feira, 17 de outubro de 2013

INESPERADA PRESENÇA

Eu devo estar realmente nostálgico a respeito de tudo. Não nego. Não contesto. A verdade é que você apareceu ali, em meus pensamentos banais, enquanto eu tamborilava os dedos no volante, na espera infinita para que as luzes deixassem de ser vermelhas e voltassem a ser verdes. 

Você apareceu, de repente, inesperadamente, e consigo trouxe um sorriso que ligou as minhas duas orelhas numa máscara insolúvel de saudade. 

Lembrei de quando um dia dissemos um ao outro que seria para sempre. Mas o que sabíamos nós, não é mesmo? Nós éramos duas crianças brincando de infinito. Sob aquele sol escaldante, que torrava a nossa pele universitária enquanto escolheríamos as nossas fantasias para a festa daquela semana. Eu seria um soldado, ou qualquer coisa próxima disso; você seria Branca de Neve. Não teria como ser outra fantasia.

Mas não me entenda errado. 

Não é "deste" tipo de saudade que estou falando. Nós vivemos a beleza de um momento efêmero, passageiro, lindo e que durou a extensão e a dimensão que deveria durar. Fomos felizes juntos, você e eu; no tempo que aquilo durou, e nos amamos para sempre, no tempo que aquilo durou. Nos ferimos, claro, eu sei. Eu feri você. E espero que esse pensamento ainda não lateje em suas memórias velhas - acredito que não. 

Porque eu não o fiz de caso pensado. Fiz de caso impensado. Criança brincando de homem - acho que nunca despi a fantasia. Mas amei você, de verdade, e durante a duração daquele nosso tempo, você foi a mulher mais linda e importante da minha vida. E me fez muito feliz.

É "desta outra" saudade que falo. 

Uma saudade de querer bem. Etérea. Nós não nos falamos mais hoje em dia e talvez seja melhor assim. Algumas pessoas precisam permanecer, outras cumprem seu papel e se vão. Vivem eternas, intocadas, como memória. 

Não nos falamos mais por um conjunto de coisas. Escolhas, distâncias, tempo, mágoas, aquela miríade de acontecimentos, uma colagem de pedaços, caleidoscópio de eventos que nos colocou em direções muito opostas. Geográficas até.

Mas hoje eu pensei em você. É o que importa, realmente. E não quis deixar que esse pensamento, tão leve, tão bonito, tão frágil, voasse por entre os meus dedos. Decidi escrever sobre você. Guardá-la aqui, escondida entre essas minhas palavras, quase cifradas. O que mais importa, a única coisa que importa, é saber que você está bem; que é feliz, que se encontrou e vive a vida que merece viver. 

Você nunca lerá esse texto, eu sei disso. Mas não tem a menor importância. 

Minha querida, minha amiga querida, descobri hoje - repentinamente - que você ainda habita o meu coração. E que há um pedaço de você em mim, vivo, até hoje.

E eu a amarei até o fim.

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