Ela chegava, diante dos seus olhos apaixonados, coberta de luz; um ar inquestionável de mistério e divindade, os cabelos negros feito a noite cascateando sobre os ombros nus, brancos, sustentados por um corpo envolto num traje de couro e veludo. Uma rainha negra, uma bruxa, coisa etérea.
Uma feiticeira.
E ele ficava ali, maravilhado, sentindo os seus olhos incrédulos, cobertos de lágrimas, a cada movimento, a cada passo, a cada passe de mágica. Tudo o que ela fazia era feitiço, equilibrismo, alquimia; e, pouco a pouco, virou uma doce obsessão. Sua musa, sua fotografia mental que não abandonava os seus pensamentos, aquela criatura de fogo e sombra, com quem ele sonhava acordado dioturnamente. Aquela mulher que havia roubado sua inocência, sua honestidade.
Aquela ilusionista.
Ele contava os dias em que conseguiria vê-la; aquelas aparições raras. E combatia o relógio em seu pulso, que teimava em impedir a chegada do aguardado momento. Aquele encontro de mudez, em que ele a veria novamente; em que ela estaria ali, ao alcance do toque dos seus dedos. Quando ela seria só sua. Hipnose, derretimento, fantasia, desejo, incompreensão. Aquela mulher estranha, aqueles olhos felinos, aquele corpo centauro, uma pulsão que corroia as suas entranhas, objeto de desejo. Sua harpia, sua medusa, sua rainha.
Até que algo aconteceu. Ele só não sabia ao certo o quê. Talvez ele tenha visto os animais escondidos nos fundos falsos dos seus truques de araque; os alçapões camuflados, as cortinas que já não guardavam tão bem os seus segredos. Talvez ele tenha enfim conseguido enxergar a farsa.
Ou talvez ele simplesmente tenha amadurecido. A verdade é que depois que o mistério se desfez ela nunca mais foi a mesma. E pouco a pouco, lentamente, foi ele quem concretizou a maior ilusão de todas.
Fazê-la desaparecer.
Essa é uma triste história sobre o desapaixonamento.
Aquela mulher era somente fumaça e espelhos.
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