sexta-feira, 30 de julho de 2010
quinta-feira, 29 de julho de 2010
PARA VER E OUVIR: RADIOHEAD ("FAKE PLASTIC TREES")
Obs.: Não é o clipe oficial da música. Mas combinou com o dia, hoje.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
"O QUE NÃO PARECE VIVO, ADUBA. O QUE PARECE ESTÁTICO ESPERA"
Leitura
Adélia Prado
Era um quintal ensombrado, murado alto de pedras,
As macieiras tinham maçãs temporãs, a casca vermelha
de escuríssimo vinho, o gosto caprichado das coisas
fora do seu tempo desejadas.
Ao longo do muro eram talhas de barro.
Eu comia maçãs, bebia a melhor água, sabendo
que lá fora o mundo havia parado de calor.
Depois encontrei meu pai, que me fez festa
e não estava doente e nem tinha morrido, por isso ria,
os lábios de novo e a cara circulados de sangue,
caçava o que fazer pra gastar sua alegria:
onde está meu formão, minha vara de pescar,
cadê minha binga, meu vidro de café?
Eu sempre sonho que uma coisa gera,
nunca nada está morto.
O que não parece vivo, aduba.
O que parece estático, espera.
DEUS, OS GATOS E A IRRESISTÍVEL PIRRAÇA
Eu não tenho a menor dúvida - há um bom tempo - que os gatos são uma das melhores invenções de Deus. Ele estava muito inspirado no dia que os inventou, porque os muniu de personalidades incríveis, manias engraçadas e características físicas e de personalidade que fazem deles seres absolutamente adoráveis. Mas tenho para mim que o Criador, como nós, também não resistiu à tentação de pirraçar um pouco alguns pobres bichanos. As fotos abaixo falam por mim. Qualquer semelhança com um famoso ditador alemão seria mera coincidência? Ou o que Ele tinha em mente quando fez isso?
Tadinhos...
terça-feira, 27 de julho de 2010
segunda-feira, 26 de julho de 2010
IMPROVÁVEL FILME PERFEITO
Esses dias cheguei à conclusão que "Indiana Jones e a Última Cruzada" é o filme perfeito. Claro, adoro filmes cult, indie, metidos às filosofias; profundos, repletos de devaneios melancólicos; comédias inteligentes; filmes complexos, esquisitos e difíceis de entender. Adoro. Mas, para mim, ao final do dia, não dá para errar com "A Última Cruzada". Porque está tudo ali. Pelo menos, tudo o que é preciso para duas horas do mais puro, profundo e verdadeiro entretenimento (ajuda muito, também, ser fã das aventuras do famoso arqueólogo).
O famoso arqueólogo nascendo das estripulias de um escoteiro irresponsável
No primeiro ato, vemos o jovem Indy em uma de suas primeiras errâncias como escoteiro. Ao esbarrar, acidentalmente, em ladrões que acabam de encontrar uma relíquia "que deveria estar num museu" ele não pensa duas vezes em enfrentá-los de igual para igual. No percurso extremamente acidental, afunda num poço cheio de serpentes (referência à sua fobia maior no futuro), machuca o rosto com um chicote (duas referências imediatas à famosa arma e à cicatriz no queixo de Harrisson Ford) e acaba vencido por um homem que, entendemos, será para sempre uma referência central no imaginário de Indiana: um destemido aventureiro que tenta consolá-lo ao depositar seu próprio chapéu (mais uma referência) na cabeça do menino derrotado enquanto diz: "não é porque você perdeu hoje, garoto, que precisa se acostumar com isso". Com o pai - presente/ausente - estudando no escritório, naquele instante são formadas as bases do herói incrível que ele viria a se tornar: um menino solitário, órfão de mãe, que descobre em sua independência prematura o caminho não apenas da sua liberdade, mas da sua própria carreira.
Sean Connery e Harrisson Ford como uma das melhores duplas que o cinema já viu
Em seguida, já no tempo presente (década de 30), vemos o sempre assediado professor universitário diante de uma nova aventura: seu pai, o famoso professor Henry Jones (interpretado magistralmente por Sean Connery), desaparece enquanto investigava o mistério do Santo Graal, em Veneza. Indy recebe o diário de seu pai, com valiosas anotações de toda uma vida, e parte para a Itália em companhia do sempre adorável e desorientado Marcus Brody, que rende, mais adiante, uma cena simplesmente hilária. Em Veneza, os dois são recebidos pela charmosa femme fatale Elza Schneider, a professora alemã que ajudava o pai de Indiana Jones e a última pessoa que o viu antes do seu desaparecimento. Indiana e a perigosa loira naturalmente se envolvem amorosamente e partem para a Áustria onde, supostamente, o velho professor está sendo mantido prisioneiro. Mal sabe Indy que Elza está levando-o para uma armadilha já que ela, como era de se suspeitar, é uma agente do III Reich.
Indy sabia que não deveria confiar em ninguém em Veneza. Elza parecia "confiável".
Num castelo medieval Indy encontra seu pai, vivido por Sean Connery, e que é responsável pela maioria das cenas inesquecíveis do filme. Primeiro, ao arrebentar um vaso chinês na cabeça do filho (achando que ele era um nazi) e, mesmo com Indiana cambaleando pela dor, o velho fica radiante ao constatar que se tratava de uma imitação. Depois, na fuga de moto, seu rosto de orgulho ao ver o filho empunhar uma lança como um cavaleiro medieval. E, mais adiante, a famosa cena em que ele espanta pássaros na praia para derrubar um caça alemão que os perseguia. Feliz da vida, com o guarda-chuva nos ombros (como uma espada), ele completa sua atuação com a frase famosa de Carlos Magno: "que meu exército sejam as pedras no chão e os pássaros no céu". O deleite de ver Sean Connery e Harrisson Ford como pai e filho é impagável.
Indiana Jones frente a frente com ninguém menos que o próprio Adolf Hitler que, numa das cenas mais emblemáticas do filme, interpreta que Jones estava li apenas para pedir um autógrafo.
O terceiro ato começa com a fuga da Áustria. Não antes de Indy tentar despistar os nazis ao dizer que Marcus Brody, que "fala mais de 12 idiomas e conhece todos os costumes", já está há dois dias no Egito, provavelmente com o cálice em mãos. E eis que vemos o pobre Brody em Iskanderum, sendo assediado por vendedores de galinhas e perseguido por temíveis agentes da Gestapo. Indy quer ir ao seu encontro, mas seu pai o convence a voltar justamente para Berlim, no meio da boca do leão, para recuperar o seu diário onde ele anotou as respostas para os desafios do Graal. Na capital alemã, Indy se vê engolido por uma parada do orgulho ariano e inevitavelmente esbarra no próprio Hitler que, ao pegar o diário em mãos, pensa que Jones é mais um jovem oficial em busca de um autógrafo. É simplesmente bom demais para ser verdade.
Um cavaleiro espera por 700 anos para passar adiante a responsabilidade de proteger o Santo Cálice
Quando saem (ou melhor, fogem) de Berlim, Indiana Jones e seu pai tomam o caminho para o Oriente Médio onde, supostamente, está o Graal. No caminho, uma batalha aérea e uma corrida desesperada contra um tanque em pleno deserto: a famosa cena que culmina com a "morte" de Indiana Jones, que retorna para ver seu pai, Brody e Sallah, lamentando a perda em mais um momento engraçado e inesquecível. É o começo do ato final, em que todos chegam ao templo para enfrentar os três desafios mortais que aguardam quem tenta encontrar a taça utilizada por Jesus Cristo em seu último encontro com os apóstolos.
Já perdi as contas de quantas vezes vi esse filme e ele me emociona como na primeira vez, quando minha mãe me levou ao cinema para vê-lo em 1989. E nunca, em nenhum momento, o filme perde ritmo, fica chato ou sem propósito. Ele transpira, exala, esse humor inocente e o amor de atores que se entregam sem medo na tela. São os atores, as cenas, os diálogos memoráveis, a música emblemática, o conjunto perfeito, afinado como uma orquestra impecável, que me faz ver tudo aquilo, ali na tela, com um sorriso em 180 graus no rosto. Verei tudo - ou quase tudo - que surgir no cinema e que me pareça minimamente interessante. Choro, rio, me angustio e gargalho com filmes que me marcam, me marcaram e que ainda me marcarão no futuro. Mas, não tem jeito, é na "Última Cruzada" que encontro sempre a minha primeira opção quando quero, simplesmente, me perder para me achar numa sessão de cinema sem pretensão. Imperdível. Inesquecível.
sábado, 24 de julho de 2010
PARA VER E OUVIR: SARA BAREILLES ("AUGUST MOON")
Aos mais observadores, sim é um post (intencionalmente) repetido.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
A FITA E A SEMENTE DO ABSURDO
Por onde começar para falar deste filme tão inacessível? "A Fita Branca" (Das Weisse Band), de Michael Haneke, não é um filme fácil em nenhum sentido. É difícil falar sobre ele; explicá-lo; muito menos recomendá-lo. Na tela, vemos uma explosão silenciosa, letárgica, num preto e branco austero, gélido, onde um narrador conta eventos macabros que se passaram num vilarejo alemão do começo do século XX. A pequena vila vive sob o domínio de um barão, rico fazendeiro que emprega metade dos cidadãos e, por causa disso, é temido e respeitado como um senhor feudal. As mulheres são inexpressivas donas de casa, os homens respondem pelo trabalho braçal e as crianças se esforçam em não incomodar. Não há sentimentalismos tampouco há algum calor humano sob nenhuma perspectiva neste ambiente que - supostamente - se propõe a ser um microcosmos da Alemanha pré-I Guerra Mundial. Todos vivem uma existência bucólica, construída em torno do trabalho, da colheita, da escola e da igreja, sem grandes ambições ou perspectivas.
Que pessoas serão, no futuro, essas crianças tão reprimidas? Aí está o questionamento de Haneke
Eis que no centro desta vila pacata começam a surgir misteriosos acidentes e eventos violentos, marcados por morte, espancamento e tortura. Ninguém sabe ao certo o que se passa e as investigações não rendem grandes resultados. Atento a esses acontecimentos, vemos um jovem professor (que também é o narrador, já idoso) compreendendo que algo muito errado está acontecendo enquanto tenta, com esforço, se aproximar de uma babá por quem está apaixonado. Mas rapidamente ele se vê vencido por uma estrutura social rígida e que não aceita seus questionamentos e suposições sobre a possibilidade que as crianças sejam responsáveis pelas atrocidades. A fita branca, que dá título à história, é referência a um dos mecanismos repressores utilizados pelo pastor local, que amarra um laço no braço dos seus filhos para lembrá-los da pureza e da inocência. Uma metáfora poderosa para emoldurar a ideia de uma geração antiquada e violenta que, a partir de uma brutal repressão moral, social, sexual e religiosa, moldou com mãos habilidosas as jovens mentes alemãs que, décadas depois, levariam o nazismo ao poder. Lindo e horrendo filme. Difícil de recomendar. Ao mesmo tempo, é impossível não fazê-lo.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
CARTOLINA - BLOG DE AMARÍLIS LAGE
Lindo, lindo blog de ilustração, cultura e arte que esbarrei inusitadamente ao final do expediente de trabalho hoje. Fortuita descoberta quando tudo já parecia desenhado como um final de dia qualquer: Cartolina, blog de Amarílis Lage, editora da Revista Criativa, que "vive rodeada por papéis e canetas. Ganha a vida escrevendo e perde a noção do tempo desenhando". Merece ser visto, revisto e compartilhado. Sem pressa. Queria poder guardar esse blog no bolso.
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PARA VER E OUVIR: JOSÉ GONZALEZ CANTA "FAR AWAY" (TEMA DE RED DEAD REDEMPTION)
José Gonzalez canta "Far Away", parte da trilha sonora do aclamado jogo western "Red Dead Redemption", blockbuster da Rockstar para Playstation 3 e XBOX 360.
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Para ver e ouvir
PEQUENO FILME DE GRANDES CENAS
"The Last Station" ("A Última Estação") é um filme baseado na biografia do cultuado autor russo Leo Tolstoy. Mas, apesar de se propor a narrar os últimos momentos da vida do escritor, o grande triunfo deste pequeno filme é o seu elenco. Chrisopher Plummer interpreta Tolstoy com muita propriedade e Paul Giamatti convence como o seu melhor amigo, o perigoso Vladimir Chertkov. No entanto, Helen Mirren, como a esposa explosiva e possessiva (Condessa Sofya) e James Mcvoy, como o jovem aspirante a escritor, Valentin, é que brilham (e que, não por acaso, desenvolvem grande cumplicidade na trama). Pertencem a eles duas cenas que, sozinhas, são motivos para se assistir a esse filme. Na primeira, Valentin vai às lágrimas quando Tolstoy pergunta a ele sobre seus textos ("Eu sou um zé ninguém e você, Tolstoy, pergunta sobre o meu trabalho?"). Na segunda, Sofya consegue um raro momento de intimidade com o seu marido, o que rende uma cena engraçada e absolutamente adorável no quarto do casal.
Helen Mirren (Sofya) e James Mcvoy (Valentin) roubam o filme com atuações comoventes
Por fim, Tolstoy não é o que mais interessa no filme (e fiquei em dúvida se isso foi algo intencional ou não) porque "A Última Estação" é, primeiramente, sobre o amor e, consequentemente, sobre os seus complexos desdobramentos. O que o filme retrata, ao mostrar o círculo social dos meses derradeiros de Tolstoy, é uma rede de idealizações intermináveis: um rapaz que se apaixona por uma menina indomável. Um escritor que só tem olhos para o seu melhor amigo. Uma esposa que se sente abandonada e vive em busca de um marido ausente. Um amigo que enxerga Tolstoy como um profeta. Não são relações funcionais do ponto de vista da realidade mas, nem por isso, permitem que sejam estes casos de amor superficiais. Imagino que, justamente, o grande pecado cometido por todos eles, sem exceção, é o amor em excesso. Aqui está um filme muito discreto, dono de uma trilha sonora modesta e tocante e formado por um punhado de cenas memoráveis. Não é a estação final, absolutamente, mas uma parada bem vinda para respirar beleza e calor humano.
terça-feira, 20 de julho de 2010
domingo, 18 de julho de 2010
"OS MEUS LIVROS" - JORGE LUIS BORGES
Jorge Luis Borges ("A Rosa Profunda")
Os meus livros (que não sabem que existo)
São uma parte de mim, como este rosto
De têmporas e olhos já cinzentos
Que em vão vou procurando nos espelhos
E que percorro com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
Entendo que as palavras essenciais,
As que me exprimem, estarão nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Mais vale assim. As vozes desses mortos
Dir-me-ão para sempre.
Os meus livros (que não sabem que existo)
São uma parte de mim, como este rosto
De têmporas e olhos já cinzentos
Que em vão vou procurando nos espelhos
E que percorro com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
Entendo que as palavras essenciais,
As que me exprimem, estarão nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Mais vale assim. As vozes desses mortos
Dir-me-ão para sempre.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
FAMOUS LAST WORDS
Da janela do seu apartamento ele imaginou ter enxergado o diabo. Amanhecia lentamente e, ao acender mais um cigarro, ele percebeu que talvez estivesse alucinando. Não havia ninguém lá, apenas a rua, calma e deserta, com tons acinzentados gradualmente amarelando com as primeiras luzes, mais impertinentes, que começavam a preencher as sombras da madrugada.
Levou a mão à boca e tragou ainda mais lentamente, de olhos semi-cerrados, sentindo a fumaça cobrir o seu rosto por inteiro. Via pingos de luz como se estivesse escondido por detrás de uma cortina. Debruçou-se então sobre o parapeito e ansiou por reflexões de alguma relevância, mas foi como se abrisse uma gaveta vazia ou uma caixa de fotos insignificantes. Nada.
Sentou-se na janela, com os pés descalços voltados para rua e roçou-os com preguiça contra o muro de pedra fria. Havia um vento, um musgo, uma poeira e ele sentia aquela mistura lhe cobrindo os calcanhares de maneira irresistível. Pensou num punhado de pessoas e eventos passados; coisas perdidas no caminho, apostas mal sucedidas, amizades desfeitas e romances medíocres. Por alguns instantes sentiu saudade de sua família, mas também esse pensamento se mostrou rapidamente rarefeito. Não sentia saudade de ninguém.
Precisava se vestir para o trabalho. Mas era como se o seu corpo estivesse preso. Não se tratava de letargia ou preguiça. Pelo contrário. Ele não queria sair dali, não queria se levantar da janela. Queria permanecer ali, à mercê de si mesmo, contemplando o formigueiro urbano que gradualmente começava a se manifestar. Mexeu os pés para um lado e para o outro e se lembrou de quando era criança, com as pernas afundadas na grande piscina da casa de seus avós.
Para um lado e para o outro, para um lado e para o outro.
O vento ocasionalmente lhe desarrumava os cabelos. Passava a mão levemente sobre a cabeça, sempre pensando se haveria ali mais fios brancos. Mais um cigarro para aquecer o rosto e as mãos. Era uma manhã inesperadamente fria.
Havia algo, meio sem nome, dentro dele. Algo que parecia corroê-lo. Uma ânsia, uma raiva, uma mágoa que, misturadas, davam a sensação de que seu corpo poderia implodir, de dentro para fora, a qualquer momento. Lembrou, novamente, de pessoas e eventos passados. E brincou consigo mesmo de uma forma como há muito tempo não fazia. Imaginou-se com poderes mágicos. Fazê-los desaparecer. Não eram pensamentos de vingança. Não necessariamente.
Sorriu, deixando escapulir um último rastro de fumaça pelo canto da boca. Queria que aquelas pessoas o vissem naquele momento. Elas nunca iriam acreditar.
Ficou de pé no parapeito da janela. Abriu os braços em cruz. Fechou os olhos. Respirou profundamente.
E, então, voltou para o quarto fechando a janela atrás dele com um pensamento fixo em sua cabeça. Uma ideia resolvida.
"Decidi me tornar um homem mau".
quarta-feira, 14 de julho de 2010
FALANDO DE FUTEBOL
Passada a Copa na África do Sul, a copa HD, impossível não pensar, pelo menos um pouco, em futebol. Maracanã, final da Copa do Mundo de 1950. Tempo em que a vida ainda era analógica. Excêntrica saudade e nostalgia de um tempo que eu não vivi. Foto de José Medeiros (Acervo IMS).
segunda-feira, 12 de julho de 2010
"O QUE VOCÊ QUER SER QUANDO CRESCER?"
É com essa famosa reflexão infantil que começa "O Pequeno Nicolas" ("Le Petit Nicolas"), filme francês baseado no livro homônimo de René Goscinny. Ministros, ciclistas, empresários, bandidos, policiais. São inúmeras as opções que o pequeno Nicolas vislumbra para os seus colegas de classe. Ele, no entanto, não consegue responder a essa pergunta. Porque Nicolas quer ser exatamente quem ele é: filho único, um menino amado por seus pais carinhosos e que vive uma vida confortável e alegre em Paris. Nicolas não quer ser bombeiro, cowboy ou astronauta. Ele quer ser, para sempre, o pequeno Nicolas.
Nicolas quer ser exatamente ele mesmo quando crescer.
Essa premissa é mais do que suficiente para construir um filme absolutamente mágico e encantador, que se desenrola na tela como se estivéssemos ouvindo uma história de ninar. Mas eis que Nicolas suspeita que a sua realidade perfeita pode estar ameaçada: ele imagina que a sua mãe está grávida. A ideia de ganhar um irmão é absolutamente aterrorizante e Nicolas e seus amigos partem numa verdadeira cruzada para "resolver" esse problema com um arsenal de ideias que envolvem gangsters, intoxicação infantil, um cassino clandestino, entre inúmeros planos não muito bem sucedidos, mas que rendem situações absolutamente hilárias e improváveis.
Nicolas e sua trupe: criatividade para resolver o grave problema de se ganhar um irmão.
O filme é inteiramente construído de forma delicada e sutil, com muita dedicação em nos forçar a enxergar o mundo por olhos infantis: os planos baixos (com adultos gigantes), cenários exagerados para ilustrar a percepção sempre hiperbólica de uma criança e a deliciosa fantasia de que qualquer coisa no mundo é possível. "Le Petit Nicolas" consegue, ao mesmo tempo, manter esse tom infantil (quase bobo) sem jamais deixar de interessar os adultos. É uma linda história, sobre um tempo de inocências possíveis, onde meninos da década de 60 se divertem com pouco e fazem dos dias banais de escola aventuras inesquecíveis. Até que, enfim, entre tantas estripulias, Nicolas possa responder com muita convicção à pergunta impossível formulada por sua professora. Adorável, inesquecível e imperdível.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
O "BOM DIA" DE UM GATO
Essa é Magic, a maior gata do mundo (raça Savana), dando bom dia. Só quem tem gato sabe como é.
O EXPRESSIONISMO DE JOSEPH MINTON
"Decepção" (2007)
Joseph Minton é um pintor expressionista contemporâneo. Conhecido por linhas dramáticas e melancólicas, com uma arte muito inclinada ao dark e à fragilidade dos seres humanos. Não é uma beleza fácil de ser percebida e apreciada, mas ela surge vagarosamente na delicada costura de emoções que ele impõe aos seus quadros. Nascido em 1974, Minton é um autodidata que começou a pintar aos 18 anos. Sem nenhuma formação tradicional, desenvolveu suas próprias técnicas, que consistem em combinar cores semitransparentes em linhas grossas, com pouco interesse em movimentos precisos e controlados. Um reflexo das emoções condensadas que ele tenta demonstrar em suas obras. "A Tempestade" (2008)
"Dezembro" (2007)
"The Beckoning" (2008)
"O mundo não vai esperar" (2008)
"Mulher de cabelos vermelhos" (2008)
terça-feira, 6 de julho de 2010
6 DE JULHO DE 1907
Pintando "As duas Fridas", em 1939. Em lembrança do aniversário de Frida Kahlo. Se viva, completaria 103 anos hoje.
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domingo, 4 de julho de 2010
INSIGNIFICÂNCIAS IMPORTANTES
Confesso que me surpreendi bastante com o filme "Remember Me" ("Lembranças"), estrelado por Robert Pattinson e Emilie de Ravin. Talvez por implicância ou puro preconceito, mas a verdade é que assisti a esse filme esperando desistir dele na primeira meia hora. Não é nenhum filme especial ou memorável, absolutamente. É mediano em praticamente todos os sentidos, mas também é um filme honesto, bem intencionado e completamente despretensioso e, talvez por isso, eu tenha me deixado convencer.
"Lembranças", em verdade, é um diamante bruto. Falta lapidação, só isso. Poderia ter uma trilha sonora mais envolvente, uma fotografia mais elaborada, direção mais ousada. Mas o elenco é bom, dedicado, e consegue inflar muita energia à história. Robert Pattinson está muito bem (talvez sua melhor atuação até hoje) e raras foram as vezes em que lembrei do vampiro que o consagrou. Consegui enxergá-lo, realmente, como um rapaz da alta sociedade novaiorquina, perdido e indeciso sobre a sua própria vida. O mesmo vale para Emilie de Ravin, a famosa Claire de "Lost". Ela também me convenceu como uma garota especial, interessante e que luta para sobreviver a um grande trauma de infância. O elenco é o grande trunfo deste filme que, por muito pouco, não é um pequeno grande filme.
A história conta as vidas de um grupo de pessoas que, por um acaso urbano, acabam se entrelaçando. Tyler (Pattinson) é um rapaz solitário, reflexivo, e que não tem a menor ideia do que fazer da própria vida, apesar de, no fundo, ansiar muito em fazer 'algo'. Vive à sombra da morte prematura de seu irmão mais velho e se vê preso entre a necessidade de cuidar da sua irmã caçula e infernizar seu pai ausente e autoritário (interpretado muito bem por Pierce Brosnan). Tyler cita Gandhi, apropriadamente, quando diz que "tudo o que você fizer em sua vida será insignificante, mas é importante que você o faça mesmo assim". Ele conhece Ally (de Ravin), uma garota que perdeu a mãe tragicamente e que vive com seu pai (Chris Cooper), um policial que, anteriormente, havia prendido Tyler por causa de uma briga de rua.
Os dois se envolvem e os distantes mundos em torno de ambos começam a colidir, ora pacifica, ora caoticamente. Tyler e Ally pertencem a universos que dificilmente poderiam coexistir e isso determina uma série de eventos que, potencialmente, podem afastá-los. A grande beleza deste filme é acompanhar a trajetória de seus personagens centrais - e dos interessantes personagens secundários - enquanto eles vão desenhando as soluções, encontros e desencontros da difícil arte de existir. Tudo para que, num decisivo momento final, todos percebam que é preciso viver e seguir adiante, não importam os dramas individuais.
Mas que, nem por isso, é preciso esquecer.
sábado, 3 de julho de 2010
sexta-feira, 2 de julho de 2010
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