Certa vez me perguntaram sobre as coisas que eu escrevo. "Você gosta de escrever muito sobre o amor"; sim e não. Eu vivi um punhado razoável de paixões marcantes que me proporcionaram experiências incríveis e desilusões quase em proporções semelhantes; e isso se reflete nas ideias que eu coloco no papel. Ideias sóbrias, ideias ébrias; nostalgia, invenção. A forma como eu falo de amor é estrangeira - muitas vezes até para mim.
Não é que eu não acredite no amor; não é isso. Só não me considero um romântico - pelo menos não mais - e acredito verdadeiramente que o amor de cinema seja irreal. A vida me ensinou, me mostrou, cortando na carne, que não é assim que a coisa funciona. Portanto, gosto de falar em "amor possível". Este sim, existe, vive, une as pessoas como uma das forças mais fortes na nossa passagem breve pela terra.
Mas é um amor frágil, falho, imperfeito; recheado de oportunidades de ilusão e decepção. O amor que ninguém quer, porque ele não é de cinema. Muitas vezes nos apaixonamos pela "ideia da pessoa", não pela pessoa. E isso resulta, todas as vezes, numa imensa frustração no final da jornada. O equívoco está em amar aquilo que gostaríamos - que esperamos - e não o que nos é oferecido.
Não é uma coisa simples, em absoluto. Não é preto no branco. Amar é um jogo de adultos, uma negociação, uma venda. Todos querem mostrar suas melhores qualidades, deixar os defeitos neutralizados ou disfarçados; todo mundo quer ser um "bom partido". E nessa negociata, muitas vezes, o saldo é uma overdose de expectativa que nunca tem um final feliz.
O fato é que a gente não aprendeu muito bem a "amar apesar de". As pessoas se decepcionam umas com as outras, porque não foram muito bem treinadas para a parte ruim da troca. E quando você adiciona a esta receita as dificuldades da vida, muitos casais promissores percebem a promessa do "para sempre" se desfazer diante dos seus olhos.
Me tornei meio incrédulo, acho. Meio meio descrente; fico melancólico em ver que sou daqueles que enxerga de forma sarcástica o amor entre duas pessoas. Isso para mim não existe. Como também não acredito em amor à primeira vista, em destino, em alma gêmea. Fui embora da Terra do Nunca, há algum tempo, e vejo que "cresci" de forma irremediável. Ao pisar fora da ilha onde o tempo não passa, descobri-me amargo.
E triste ainda é ver que é um caminho sem volta.
Então, retomando o questionamento inicial. Sim, eu escrevo sobre amor. Mais, eu escrevo POR amor. Costuro lembranças - reais e inventadas - misturo corpos, mentes e almas. Crio e recrio a mulher dos meus sonhos com pedaços diferentes de memórias. Revivo, relembro, sonho.
Mas não se enganem. Eu posso até escrever sobre amor.
Mas meu negócio é ficção.
Um comentário:
Ótimo. Alguém que concorda comigo!
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