A mulher que eu escolhi amar é idiossincrática. E estranha. E quebrada.
Como eu.
Ela não faz stand up paddle, não usa pau de selfie, não tira foto da comida. É fiel, parceira no crime, ela não mente; pelo menos não para mim, não há segredo entre nós dois. Para o resto do mundo a gente mente descaradamente. Sem vergonha.
Ela não é a mulher mais bonita do mundo, mas eu me sinto atraído por cada centímetro do seu corpo. Seu beijo interrompe o meu tempo, seu toque me magnetiza, sua voz me enfeitiça, seu carinho me faz adormecer. Não nos falta assunto - mesmo que não exista assunto algum; a mulher que eu escolhi amar é também a minha melhor amiga, e a única pessoa com quem eu me dou o trabalho de estar.
Ela trabalha, ela se esgota, ela chora, ela também tem vontade de desistir às vezes. Mas segue, enfrenta o peso que carrega nos ombros, e a gente se encontra ao final do dia, e eu beijo seu rosto, sentindo a temperatura da rua ainda estampada em sua bochecha e o cheiro de escritório impregnado em seu cabelo. E a gente se abraça, na soleira da porta, e fica tudo bem.
A mulher que eu escolhi amar não tem medo de ser chata, comum, banal. Não tem pudor de dizer não, de perder a paciência, de mostrar o seu gênio. Mas ela é boa, e o seu coração doce me estremece, me pacifica, me desmonta. O seu riso largo, escancarado, é como achar dinheiro no chão e o seu choro sincero, engasgado, me destrói em pedaços.
Ela fala línguas que eu não falo. E me conta de livros que eu nunca li e de filmes que eu nuca vi. E de músicas que eu nunca escutei e de comidas que eu nunca comi e de bebidas que eu nunca provei. E está tudo bem porque eu sou competente na contrapartida.
Ela me acorda, no meio da noite, para perguntar se eu estou dormindo. E insiste, me desperta, porque quer conversar. E a gente conversa, e perde a noção do tempo, e faz amor, e volta a dormir e a acordar, enquanto a janela começa a amarelar o quarto.
A mulher que eu escolhi amar não fala em casamento. Nem de bebês, em cachorros, em comprar toalhas e novos lençóis. Ela não tem paciência para intriga de mulheres - nem de homens - ela simplesmente não tem tempo. Ela saboreia o dia, ela me deixa em paz, e me pede para deixá-la em paz. Sem cerimônia.
Ela me mostra uma tatuagem nova, como criança mostra desenho. Ela queima a torrada, ela joga o texto fora sem me deixar ler. Ela tira fotografias de nós. Ela me faz rir. Ela segura a minha mão, por carinho, e mexe nos meus dedos, me passando recados no seu código morse; vamos embora; estou com medo; eu te quero.
A mulher que eu escolhi amar é forte e ela doce. Indecifrável, pergunta aberta na página, pessoa incomum. Ela é difícil quando quer ser, e me tira do sério sem esforço.
Mas ir trabalhar, e deixá-la, é como morrer um pouco todas as manhãs.
A mulher que eu escolhi amar é a minha prova irrefutável, diária, que eu estive errado todo esse tempo.
A minha única exceção.
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