domingo, 9 de fevereiro de 2014

"HER" VS "LOST IN TRANSLATION"


É lógico que tive que ver "Her" mais uma vez - seria impossível não fazê-lo. E, ao rever o filme de Spike Jonze, comecei a elaborar uma "teoria da conspiração". Engraçado que "Her" me remeteu imediatamente ao "Lost in Translation", de Sofia Coppola. Há muitas semelhanças estéticas, de roteiro, fotografia, trilha sonora inclusive. Os filmes são sem dúvidas muito semelhantes - sob muitas perspectivas. Mas aí é que está a raiz da minha teoria: à primeira vista, "Her" me pareceu ser o "Lost in Translation" de Spike Jonze mas, em verdade, acho que o filme é uma resposta à Sofia Coppola.


Vamos lá.

A trama de "Lost in Translation" gira em torno do encontro entre Charlotte e Bob que se descobrem "perdidos na tradução" numa Tóquio caótica e lindamente melancólica. Charlotte vive um casamento decadente, com um marido fotógrafo e negligente (e certamente infiel). Ela então se vê sufocada num relacionamento viciado e infeliz, o que acaba sendo o gatilho para o seu "envolvimento" com Bob, um ator de meia idade, e igualmente infeliz, que vai ao Japão filmar um comercial de whisky. Na época, muitas pessoas disseram que o filme era uma crítica velada de Sofia Coppola ao seu ex-marido (Jonze) que tinha comportamento muito semelhante. E o que acabou levando os dois a se separarem.


Então observamos "Her", onde um homem - que não nega ser um negligente emocional - vive o drama de uma separação com uma mulher "que vem de uma família que sempre a cobrou muito", "uma artista que fez com que ambos se influenciassem mutuamente" e que, numa cena emblemática (o almoço de assinatura do divórcio) diz que "nunca seria uma típica esposa de Los Angeles". Será que é coincidência, ainda, que a atriz que vive a sua ex-mulher é magra, morena de ar melancólico?


Theodore reconhece todos os seus erros, todas as suas falhas como ser humano que, justamente, o tornaram incapaz de lidar com sentimentos reais (e acabaram levando-o a relacionamento surreal com Samantha, o seu computador). Theodore reconhece que foi um marido ruim, que fez sua mulher sofrer, que foi um marido ausente e negligente. E, nessa ótica, muito mais que uma "resposta", "Her" me parece um pedido de desculpas à Sofia. Consciente, ou não, mas isso pouco importa.

Seja lá o que for, ou mesmo que tudo isso não passe de conjecturas de um fã ardoroso de ambos os diretores, a verdade é que esses dois filmes são perfeitos, emblemáticos, inesquecíveis, que me marcaram profundamente a alma; e que, como inteligências paralelas, conversam, convivem, existem juntos num plano das ideias.

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