quarta-feira, 19 de junho de 2013

ELE ESTÁ DE VOLTA

Confesso que uma parte, pequena, muito pequena, de mim ainda guardava receios sobre o novo filme do Superman, "Man of Steel". Algo de incredulidade e de ciúmes - minha ira pelo desrespeito de fazerem mais um ator vestir o manto que Christopher Reeve usava como roupa, não como fantasia.

Mas então eu vi. Eu VI "Homem de Aço" e os arrepios e as lágrimas que tomaram conta do meu corpo pela curta duração deste filme que, para mim já é uma obra de arte, não deixaram mais nenhuma dúvida: Christopher Reeve, o Superman, nos deixou um dia, foi embora, para algum lugar que desconhecemos. Mas Henry Cavill o trouxe de volta.

Isto nunca foi uma fantasia. Isto foi sempre a sua roupa. Como substituí-lo?

Mas o Super Homem voltou para nós, não estamos mais sós, e, pela primeira vez em tantos longos anos, temos de volta a proteção incansável, a bondade, a esperança que são a matéria que constitui este super homem. E que estampam o seu peito, por meio da heráldica alienígena que enfim compreendemos...

Descobrimos a mesma história de sempre, mas com um olhar profundo, poético, que faz com que tudo pareça inédito ao mesmo tempo. E entendemos a complexidade da vida deste menino, este navegante das estrelas, tão desesperadamente amado por dois pais e por duas mães, e que, como Jonathan Kent  (muito bem feito por Kevin Costner) bem diz "veio até nós com um propósito e que, nem que isso lhe tome a vida, ele deve descobrir qual é".

Clark Kent é um cidadão errante, vagando pelo mundo, mudando de cidades, de trabalhos e deixando um rastro de feitos incríveis. Há sempre alguém que "viu o que Clark fez" e isso é o que permite que ele seja encontrado pela astuta Lois Lane.

Eu nunca imaginei que ele pudesse voltar, após Christopher Reeve ter nos deixado...

Em resumo, e para não estragar as várias surpresas, esta é uma história sobre a invasão da Terra, quando o General Zod, o antagonista de Jor-El (pai do Super Homem), lindamente vivido por Russel Crowe (dignamente à altura de Brando), vem ao nosso planeta em busca da última semente de Krypton, o filho que escapou à destruição: Kal-El. "Ele não é um de vocês", diz Zod em sua transmissão internacional, "entreguem-me Kal-El e a Terra será poupada".

Diante desta ameaça, Clark, que ainda está descobrindo as suas origens toma uma posição frente ao seu lar, ao seu país, ao seu planeta que inevitavelmente o considera um estrangeiro. E esta teia de eventos monta um caleidoscópio de explosões e emoções que fazem deste um filme - e uma atuação - dignos do nome.

Cavill é um novo Super Homem, não há sombra de dúvidas, com um novo traje, uma nova ótica em que a história de um dos mais amados super-heróis de todos os tempos é narrada. Mas também é respeitoso ao legado de Reeve em momentos delicados, sutis, quase subjetivos em que somos contaminados, contagiados, pela energia deste homem, deste "super homem", que talvez tenha no seu amor pela humanidade o seu maior poder, o seu atributo inquestionável.

E também a sua dor.

Na tela, efêmera, testemunhamos a glória e o caos deste Deus que escolheu caminhar entre nós. Sua solidão, sua abissal solidão, numa vida dedicada à onipresença.

Há uma poética, uma beleza absurda, uma força colossal nas mãos de um homem que é aço e ternura. E que é capaz de fazer girar um planeta com a mesma facilidade com que se ajoelha aos pés de uma mulher amada, indefeso, em busca de um abraço que possa acalmar seu sofrimento. Um homem invencível, ou quase invencível, mas que não está imune ao riso e à lágrima.

Um filme não de horas ou minutos preciosos. Um filme de SEGUNDOS preciosos. E que tive o prazer transcendental de ver numa sala de cinema que terminou a sua projeção com aplausos calorosos. Uma explosão coletiva, de vários nomes e idiomas anônimos, que parecia celebrar a mesma coisa:

Ele voltou.





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