A água do mar batia preguiçosamente sobre as pedras enquanto eles se olhavam, de longe, sobre o comprido pier de madeira. Aquele mesmo pier onde, tantos anos antes, eles optaram por seguir caminhos distintos. O sol caía sobre os dois, com uma luz morna, doce, que fazia sorrir. E lá estavam eles, afinal, após todo aquele tempo. Aquela miragem.
Aquele amor de espera. Aquele amor nos tempos do cólera.
Caminharam, lentamente, ao encontro um do outro, permitindo-se que as mãos se encontrassem primeiro. Sorriam, dispensando palavras. Simplesmente sorriam, inebriados pelo som salino que os cercava, pelo vento que revoltava os cabelos compridos dela e ameaçavam trair o cumprimento do seu vestido de verão.
Aqueles lindos cabelos escuros, rasgados por um caleidoscópio de tons castanhos, negros, meio petróleo, meio cobre, algo de leoa, algo antigo, algo de lugar em que ele queria se perder para sempre. Aqueles olhos pequeninos, equilibrados sobre uma boca vermelha, entreaberta. E que ele beijaria, enfim.
Porque ela seria sua. E ele pertenceria a ela.
Beijou-lhe as pontas dos dedos, sem pudor em confidenciar a ela aquelas lágrimas felizes que vinham umedecer os cantos dos seus olhos. Ele queria dizer a ela da luta; e do caminho, daquele longo caminho, daquele caminho de volta até ali, mas sentia medo de gastar os segundos à toa. Segurando-a pela cintura, como se pudesse perdê-la, segredou, num pacto com a sua alma, que jamais a perderia de vista novamente.
Nunca mais.
Aquele amor de espera. Aquele amor nos tempos do cólera.
Caminharam, lentamente, ao encontro um do outro, permitindo-se que as mãos se encontrassem primeiro. Sorriam, dispensando palavras. Simplesmente sorriam, inebriados pelo som salino que os cercava, pelo vento que revoltava os cabelos compridos dela e ameaçavam trair o cumprimento do seu vestido de verão.
Aqueles lindos cabelos escuros, rasgados por um caleidoscópio de tons castanhos, negros, meio petróleo, meio cobre, algo de leoa, algo antigo, algo de lugar em que ele queria se perder para sempre. Aqueles olhos pequeninos, equilibrados sobre uma boca vermelha, entreaberta. E que ele beijaria, enfim.
Porque ela seria sua. E ele pertenceria a ela.
Beijou-lhe as pontas dos dedos, sem pudor em confidenciar a ela aquelas lágrimas felizes que vinham umedecer os cantos dos seus olhos. Ele queria dizer a ela da luta; e do caminho, daquele longo caminho, daquele caminho de volta até ali, mas sentia medo de gastar os segundos à toa. Segurando-a pela cintura, como se pudesse perdê-la, segredou, num pacto com a sua alma, que jamais a perderia de vista novamente.
Nunca mais.
Porque eles haviam passado por coisas de mais. Haviam vivido demais e, por fim, chegado a conclusão de que não se conformariam com nada menos que o máximo. "Agora ou nunca", seus olhos parlamentavam juntos, enquanto os dedos cimentavam-se apaixonadamente. Abraçaram-se, de olhos fechados, a luz do fim de tarde dando lugar às primeiras estrelas que já despontavam no horizonte.
* * *
Durante o café da manhã, em que gostavam de sentar juntos à varanda, ela se entretia em acompanhar o que o tempo vinha fazendo com ele. O cabelo dele ganhara tons prateados que lhe davam um ar de sabedoria. Mas ainda estava ali, quase escondido, o olhar do menino; do seu menino imperfeito, que havia escapado pelos seus dedos e que ela apanhara de volta; seu pássaro de asa partida. E o sorriso sincero e os braços que a envolviam com segurança. E que davam a ela a certeza de que ele estava ali e, enquanto estivesse, nada no mundo poderia fazê-la mal.
Seu amigo, seu amante, seu príncipe.
Ele olhava para ela com curiosidade, enquanto observava com atenção os seus caprichos, suas tarefas, o que roubava a sua atenção. Ela não era uma mulher de bordados, mas de mistérios e aventuras que não cessavam em surpreendê-lo. Vendo-a trocar de roupa, mesmo após tanto tempo, ainda a achava a mulher mais linda do mundo. Queria encontrar os defeitos, as marcas do tempo, as falhas. Não conseguia, era em vão. Seu rosto ganhara novas esquinas e ruelas, é verdade; eles não eram mais jovens. Mas ela conseguia vencer o tempo, assim ele compreendia, enquanto observava as curvas do seu corpo, aquelas curvas andinas, intactas. As sardas que brilhavam feito constelações ao redor do seu pescoço. Aquelas sardas tão beijáveis.
Sua amiga, sua amante, sua rainha.
Naquele pier histórico eles se deram as mãos, costuradas feito tapeçaria, para não se perderem. Para não cometerem o erro de novo. Para seguirem juntos, feito homem e mulher. E assim o fizeram. Viveram juntos a extensão de deliciosas décadas. Filhos, netos, cães, gatos, pés que pisaram continentes, caixas de fotografias, e apartamentos de metragem progressiva.
Viveram aquela vida restante juntos, aquela vida linda, em que ele, secretamente, esperou, a cada novo dia, que algo acontecesse para separá-los. Não porque ele fosse pessimista; bem o contrário disso. Mas porque a cada nova manhã em que ele acordava ao seu lado, ele custava a crer que a vida pudesse ser tão boa.
"Chegaria uma guerra", ele pensava. "Ou um asteróide". Haviam, afinal, lutado tanto contra o destino que os afastava feito ilhéus, feito náufragos, sem nunca chegar onde queriam. "Aconteceria algo", ele temia. E então a abraçava, beijando o seu rosto com saudade, e dizendo o quanto ela o fazia feliz.
***
A chuva despencava com melancolia na janela. Como sempre acontece em dias como aquele.
Deitado, ele estendeu a mão para tocá-la, ali sentada ao seu lado, havia tantas noites insones. Aqueles anos que haviam passado rápido demais. Mas ela sabia que havia chegado a hora. Deram um último beijo inocente, um abraço trêmulo, um olhar de despedida que, como tantos anos antes, não sentia necessidade de palavras.
Ela desenhou alguns carinhos em seu rosto, sorrindo; ao que ele, num último sopro de ar, ainda vivo em sua garganta, disse que a havia amado durante cada segundo da sua vida. E que ela havia feito dele um homem feliz.
E, com os olhos já marejados pela saudade, pensou, pela última vez, que "sabia que algo aconteceria".
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