terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

"EU TE DESAFIO... A ME AMAR"

Ocasionalmente - e com menos frequência do que eu gostaria - eu sou atropelado por um destes filmes que me reviram pelo avesso. Fico na lona, buscando a placa do caminhão, tentando entender a dimensão do atropelamento. É uma sensação deliciosa, esta de afundar na arte que comove e da maneira como o cinema mexe comigo.

Eis aqui um perfeito exemplo do que estou falando: "Jeux d'enfants" ("Love me if you dare" e "Amor ou consequência", no Brasil), maravilhoso filme estrelado por Guillaume Canet e a [ainda mais apaixonante] Marion Cotillard.

Céus... por ONDE começar para [tentar] falar deste filme?! Ok, vamos lá. 

Julien e Sophie se conhecem desde o tempo da escola e, rapidamente, desenvolvem uma amizade rara, um amor sincero e absurdo um pelo outro, que faz com que eles sejam inseperáveis. Mas não é uma amizade qualquer, baseada em brincadeiras banais e beijinhos escondidos. Os dois criam uma (estranha) cumplicidade em torno de um objeto que eles consideram mágico, como um tesouro: uma lata de biscoitos. E o cobiçado objeto é disputado de uma maneira bem peculiar. Eles desafiam um ao outro com prendas absurdas e o vitorioso tem o direito de ficar com a lata até ser desafiado mais uma vez. 

Julien e Sophie. Um amor antigo.

E assim eles vão "brincando", desenvolvendo uma engraçada [pelo menos para eles - e somente eles] cadeia de eventos que envolve ficar de castigo, punições escolares e todo o tipo de repreensão. "A vida é simples", nos diz Julian, "só é preciso uma caixa e uma linda garota".

Mas o tempo passa, mesmo para Sophie e Julien, e quando eles menos percebem já são dois jovens pré-universitários. E engana-se quem pensa que as prendas ficaram para trás. Bem o oposto. Com a "maturidade" também as prendas ficaram mais sofisticadas. E perigosas...
O cobiçado prêmio...

Com o tempo também vem a desilusão, a inquietude, a incompletude, o medo, o vazio e os dois vão descobrindo que aquela amizade, nascida na inocência de uma brincadeira de criança, acabou fundando neles um sentimento gigantesco, quase incompreensível.

Amor, amizade, cumplicidade. O que são Sophie e Julien um para o outro? Amigos, irmãos, amantes? Eternamente se desafiando, como duelistas incansáveis, eles sentem dificuldade em responder a esta pergunta. E, como dois duelistas, passam também a se ferir...

A complexa história de amor de Sophie e Julien. Os duelistas

A luta acaba afastando-os. É hora de crescer, parece. Abraçar a vida adulta, encerrar os jogos. Casamentos, contas, filhos, casas, empregos, consumo. Mas há algo, este algo sem nome, que une Sophie e Julien, feito gravidade. Então os dois colidem, de forma cada vez mais forte, ao ponto de nos questionarmos - angustiosamente - que rumo a história está terminando. Amor? Tragédia? O quê?!

E, quando menos percebemos, somos capturados pela deliciosamente perigosa brincadeira de Sophie e Julien que parecem não conseguir desvendar, de uma vez por todas, que são almas gêmeas, o amor - o único e verdadeiro amor - de suas vidas.

O jogo parece mais saboroso que a vitória fácil. Parece mais divertido testar, investigar até onde eles são capazes de ir, do que simplesmente abraçarem-se no meio do caminho, de uma vez por todas, e entenderem que foram feitos um para o outro e que precisam - PRECISAM - ser felizes juntos.

Só eles parecem não enxergar a mais óbvias de todas as verdades...

E assim vamos com eles, reféns destes dois amantes e incansáveis piadistas, sem a menor ideia de onde estamos sendo levados. Como se estivéssemos com uma venda nos olhos, pouco sabendo se vamos atravessar uma rua ou se seremos jogados do alto de um prédio. Estamos em suas mãos, não tem jeito.

E então, como todas as histórias - sejam elas lindas ou tristes / ou lindamente tristes - descobrimos afinal o desfecho da improvável (impossível?) história de amor de Sophie e Julien. Rara, como o amor inocente de um menino e uma menina e sólido feito concreto.

E eterno, como todas as histórias de amor devem ser...

Nenhum comentário: