sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O AVISO QUE NINGUÉM QUIS ESCUTAR

De dentro de uma prisão, ainda nos anos 1920, Adolf Hitler escreveu um livro que até os dias de hoje é sinônimo de ódio e segregação: Mein Kampf (Minha Luta), a auto-biografia e programa político que dizia abertamente o que ele tinha em mente caso chegasse ao poder. Uma década depois, nomeado democraticamente chanceler da Alemanha, Hitler empreendeu cada um dos pontos defendidos no livro, como se seguisse um cronograma: a restrição dos direitos sociais, o rearmamento, a criação de um Estado policial, o belicismo, a tomada de territórios vizinhos, a invasão à União Sovitética e a perseguição e aniquilamento do povo judeu. E tudo isso foi anunciado anos antes, muito claramente. Por que ninguém fez nada? Ou melhor, por que o livro - apesar de ter sido um best-seller à época (e curiosamente até hoje!) - não fez com que os governos se mobilizassem contra o perigo latente e, assim, evitassem que a história fosse escrita da forma que foi, com a destruição das instituições, o extermínio de inocentes e a condução do mundo à guerra? Hitler foi lido, compreendido, e jamais escondeu as suas reais intenções. Documentou tudo neste livro que foi traduzido em todos os cantos do mundo. Ainda hoje, Mein Kampf é um livro carregado de dor, veneno e proibição, como se portasse uma maldição que muitos não querem tocar. No entanto, ainda bate recorde de vendas - sobretudo em países muçulmanos - criando dúvidas sem precedente: por que Hitler ainda desperta tanta curiosidade? Por que tantas pessoas ainda querem ler este livro? 
Quando ainda estava preso, Hitler destilou o ódio num livro que se tornou best-seller mundial. Ninguém parece ter levado-o a sério. E o resto é história

Antoine Vitkine tenta responder a esta e a muitas outras reflexões com seu livro "Mein Kampf: a história de um livro". Com um texto jornalístico e envolvente, Vitkine nos conduz por uma história que começa na prisão de Landsberg, na Alemanha dos anos 20, onde Hitler escreve o que viria a ser conhecido como "a Bíblia nazi". Contar a história de Mein Kampf leva, inevitavelmente, a contar uma história de guerra e morte num continente que jamais pode se dizer iludido pelos planos de Hitler. Ele sempre foi muito claro. O que espanta o autor - como a todos nós - é como este símbolo de totalitarismo e ódio ainda é tão cultuado em países que hoje tentam emular as circunstâncias que levaram o Nacional Socialismo ao poder, na década de 30. A crescente corrida por Mein Kampf e outras literaturas similares deixa muito claro que Hitler pode estar morto, mas suas ideias perduram como fantasmas que ainda demonstram vigor e sedução. O poder e o veneno das ideias destiladas no livro deixam claro que as sementes daquele movimento ainda estão vivas, ainda estão entre nós e ainda podem ser cultivadas. O perigo e a lição para que os mesmos erros não voltem a ser repetidos.

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