Eis uma das minhas brincadeiras pessoais mais recorrentes. "Daqui há quatro anos, como estará a minha vida?". Tive essa reflexão, concretamente pela primeira vez, ao final da Copa do Mundo de 1994, que aconteceu nos Estados Unidos. O pensamento não tinha nenhuma relação com o esporte, mas com a idéia, puramente, que me ocorreu de imaginar como estaria a minha vida quatro anos depois ou seja, na Copa do Mundo seguinte. Mas chega de futebol. Em nada meus pensamentos se aproximam do futebol. Em verdade, acho que reflito sobre a passagem do tempo desde que existo (penso logo existo; existo logo sofro?). E por isso sinto tanta saudade - de tudo - e sou tão nostáligico sobre tantas coisas. Porque me desespera a idéia de ver os anos escorrendo por entre os dedos enquanto constato que os momentos, tão maravilhosos no presente (que inocentemente julgamos eternos), estão ficando para trás. Lembro de meus anos de capa de super-herói, em que minhas preocupações se resolviam na passagem natural das horas, porque nunca me faltou colo e barra de saia de mãe para me proteger de todas as angústias infantis. Mas mesmo então eu conseguia dizer para mim mesmo: "isso vai passar um dia". O momento presente parece eterno, porque é impossível visualizar a vida, anos adiante. Mas quando menos percebemos, o tempo passou e nos damos conta, às vezes com um susto, o quanto mudou, o quanto se perdeu daquilo que pareceria nunca acabar. Olho para o espelho, todos os dias, e toco o rosto com a sensação de primeira e última vez, porque o dia seguinte já me trará um rosto novo, com células novas, que vão delineando o meu envelhecimento. "O tempo está passando", reflito todos os dias, mesmo de forma inconsciente, porque o pensamento não me deixa; é tatuagem (e cicatriz) de alma. Não há nada que se possa fazer a respeito. E isso é, ora emocionante, ora aterrorizante. E me esforço em esquecer de tudo, das certezas inquestionáveis de que um dia tudo terá acabado. Eis meu maior pesadelo. E quando todas essas idéias se agrupam como uma parede sufocante, que parece desmoronar sobre mim, visto meu espírito com uma empoeirada capa de super-herói e, como nos velhos tempos, finjo que tudo será para sempre.
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
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