"Beijo roubado" (My Blueberry Nights) é um filme doce e melancólico, quase azedo e recheado de nuances, como uma boa fatia de torta de mirtilo. Esta, definitivamente, não é a torta mais popular de todas, por que não é deliciosamente óbvia como o cheesecake ou outra qualquer. E essa metáfora serve para este filme precioso do diretor Wong Kar-wai. Como um videoclipe, o filme não faz questão de ser linear, tampouco inflexível nos planos, distorções e enquadramentos, o que nos dá uma curiosa e original narração. No fim das contas, uma história de amor como todas as outras, marcada pelas idas e vindas da vida, em que tudo é circular, e que acabamos sempre voltando para onde partimos, como uma catarse de encerramento. Assim, acompanhamos a história de Elizabeth (bem interpretada pela estreante Norah Jones) que sai de Nova York, desiludida por um coração partido, e após se lançar na estrada e conhecer cidades americanas, trabalhando como garçonete em bares e restaurantes, cronicando seus passos com cartões postais sem endereço, volta para seu ponto de partida: um café sem pretensão, de um inglês (Jude Law) que, também ele, tem sua história de idas e vindas e corações partidos. A discussão dos dois sobre a jarra de chaves perdidas, esquecidas ou simplesmente abandonadas, é pura filosofia e devaneio. Ao longo das quase duas horas, temperos, sabores e sensações diversas vão fazendo deste filme uma receita (difícil, é verdade) mas diferente, de observação da vida como ela é, como uma construção de momentos variados, que se sobrepõem enquanto o tempo passa, marcando-nos com doce melancolia, decepções, alegrias fugazes e o desejo indomável de irmos a algum lugar, encontrar um destino. Nem que esse destino seja, justamente, onde já estamos.
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