sábado, 31 de maio de 2008

MANTENDO ACESA A CHAMA


Cinema e música, na minha opinião, fazem o casamento perfeito: sintonia e cumplicidade totais, para emocionar, comover, tocar o coração. Cinema e música se completam, formando um festival de emoções. Imagem e som numa equação quase sempre precisa para nos fazer sentir alguma coisa. Por isso adoro o filme “Ainda muito loucos” (Still Crazy), que completa dez anos e continua sendo o máximo. Por alguma razão nos apaixonamos por esta banda dos anos 70, a Strange Fruit, que certamente nossos pais teriam gostado, mas que hoje é um grupo de cinqüentões, com muita nostalgia, doce decadência e tremendo apego ao tempo que passou. Adoramos as suas canções que, como toda boa música, ficam, são para sempre, atravessam as gerações. Cantarolamos os refrões e ficamos com aquela sensação de “gostaria muito de ter ido neste show”, ou coisa assim. Por alguns instantes nós temos a certeza de que aqueles caras, “ex-doidões”, realmente formam esta banda maravilhosamente fictícia, em tour pelos bares mais suspeitos da Holanda. “Ainda muito loucos” é, naturalmente, uma comédia sobre músicos que um dia foram famosos e que tentam sair da sombra que a vida os colocou na busca de uma nova chance, vinte anos depois. Isso é óbvio e, neste sentido, encontramos risadas óbvias no caminho. Mera superfície. Este é, na verdade, um filme humano, poético, imensamente comovente, sobre o nosso apego ao que marca as gerações (mesmo aquelas que sequer vivemos). É uma história sobre a misteriosa ligação espiritual que homens podem formar, seja na guerra ou numa banda de rock. Homens que se amam e se odeiam, mas que, por alguma razão, não deixam de seguir juntos, adiante. É um filme sobre esta mágica relação que temos com a música, sejamos músicos ou não, famosos ou não, por que ela narra nossa vida, acompanha nossa existência, expressa um pouco do que há dentro das nossas almas. Uma verdadeira (e despretensiosa) ode a esse amor, a esse amor múltiplo, que temos por quem modifica as nossas vidas, pela trilha sonora que nos acompanha, pelos momentos inesquecíveis que vivemos e que desejamos ter de volta. É um daqueles filmes que assistimos com um sorriso no rosto que se recusa a desaparecer. E quando menos esperamos, lá na frente, notamos que o sorriso é acompanhado por um nó na garganta que nos umedece os olhos sem esforço. E nem por isso comédia vira drama. Não precisa. É emoção genuína, mesmo, de quem assiste o melhor show da melhor banda do mundo (as nossas bandas são sempre as melhores do mundo, afinal). Aquela banda que sonhávamos um dia se reunir novamente. E nos créditos finais, ficamos com uma vontade acanhada de nos abraçar uns aos outros, enquanto procuramos um isqueiro para acender e acenar, em justa homenagem. Agradecendo pela chama, “que continua acesa”.


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