Por mero (e ignorante) preconceito eu deixei de assistir a "Crash", no tempo ideal. Nem os prêmios do Oscar (como melhor filme e roteiro) me convenceram. É um daqueles (tantos) casos em que antipatizamos gratuitamente com filme por nada, bobagem. Não sei. Não fui com a cara do pôster, acho (a gente não tem disso?), não simpatizei muito com o elenco e fiquei com a impressão de que era mais um daqueles filmes meio lentos, meio chatos, meio politizados demais (nada contra, alás - adoro filmes lentos, politizados e meio chatos). Coisa astral, quem sabe, de momento. A questão é que eu não quis saber muito de "Crash". Até ontem. Assisti esse filme com arrependimento, mágoa e até raiva de mim mesmo por não tê-lo visto antes. É precioso, primoroso, humano, visceral, comovente. Fiquei arrasado, tocado, impressionado por este filme que não apresenta absolutamente nada demais, nenhuma novidade. Na verdade, "Crash" fala do óbvio: de como estamos nos afastando uns dos outros, de como nos tornamos violentos, antipáticos, intolerantes, preconceituosos; de como sentimos raiva de graça, de como nos tornamos frios, de como simplesmente deixamos de nos importar. Através de uma rede belamente construída de histórias paralelas, de personagens que se cruzam e misturam suas vidas anônimas na passagem de apenas um dia. Não há muito a dizer, na verdade, sobre "Crash". É um filme belo, maravilhoso, obrigatório, que merece todos os elogios pela sua capacidade singular de nos expor no espelho, nus, e nos socar o estômago ao nos apresentar exatamente o que nos tornamos na cadência egoísta, ambiciosa e individualista das nossas existências. Mas é um filme também sobre amor, esperança e coragem. Por que no fim, como tudo na vida, as coisas podem dar errado, mas também podem dar certo. Como saber.
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