Descobri um universo, profundo, sensível e delicado, por detrás da cortina colorida que cobre o - aparentemente inofensivo - filme "A pequena Miss Sunshine" (Little Miss Sunshine), cultuado filme indie que, recentemente, deu seu lugar ao sol ao também maravilhoso "Juno". Enfim. Há nesta pequena grande história um filme para cada um de nós. Para aqueles que buscam duas horas de entretenimento fácil e acesível, de um punhado de risadas óbvias e momentos especiais, o filme os tem em sobra. Para aqueles que desejarem colocar a história sob um microscópio irão se surpreender com a quantidade de temas ali discutidos com graça, leveza e absoluta sutileza. Trata-se de uma jornada em busca de ilusões, onde uma pequena brigada de Don Quixotes numa kombi branca e amarela partem, na caçada aos moinhos de vento. Um pai mal sucedido persegue o sucesso de um programa de motivação, um adolescente problemático e sua determinação nietzschiana em entrar na academia da aeronáutica (para isso se valendo de um voto de silêncio), um avô que se agarra aos últimos sopros de vida, uma mulher tentando achar "normalidade" (e o que é isso mesmo?!) para sua família em frangalhos, um tio homossexual com coração partido na sua tentativa sem sucesso de ser o tradutor da alma de Proust para o ocidente e, por fim, a pequena garotinha que deseja ser miss, mesmo estando fora dos "padrões" (novamente, o que é isso mesmo?). Por trás da deliciosa jornada familiar, na kombi caindo aos pedaços, há uma discussão da pura e sofrida humanidade: gordura, magreza, sucesso, riqueza, fracasso, velhice, adolescência, homossexualidade, beleza. E o que o filme nos mostra é um caminho de contorno a essa via que parecemos trafegar por obrigatoriedade. PARA O INFERNO COM AS CONVENCIONALIDADES! É o que nos diz o PODEROSO "Pequena Miss Sunshine". Por que não precisamos ser, ter, fazer, parecer NADA. Precisamos ser e viver como assim desejarmos, sem dever nada a ninguém, nenhuma satisfação que não seja a nossa própria felicidade. "Pequena Miss Sunshine" é simplesmente um doce manifesto em nome da tolerância e mais do que bem vindo num mundo (e numa indústria) de culto à superficialidade, à beleza fabricada, à ausência dos valores. É um filme sobre o amor da família, a cumplicidade inquestionável que nos torna quem somos. O amor de pessoas que estarão ao nosso lado até o fim, nem que isso signifique nos ajudar a perseguir nossos sonhos mais tolos. E que importa se nossos sonhos são tolos? Eles são NOSSOS e ninguém tem o direito de tirá-los de nós. Eis o que nos apresenta este filme tão especial: uma opção. Uma nova possibilidade, uma esperança que a felicidade é possível. E que está ao nosso alcance. E que tudo, tudo, estará bem.
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