segunda-feira, 26 de novembro de 2007

VIAGEM À DARJEELING


Minha impressão sobre "Viagem à Darjeeling" (The Darjeeling Limited/2007) é dividida, um pouco confusa, não muito decidida, devo confessar. Aguardei ansiosamente pelo filme e fui ver já na estréia. Por fim, não atendeu às minhas expectativas (que tinha certeza que seriam superadas), tampouco me decepcionou. Acho que existe uma série de brilhantismos inegáveis e, por ser fã do trabalho do Wes Anderson, defendo que muito do filme merece ser celebrado. As câmeras lentas são belas e toda a idéia em torno do trem (o que é a grande metáfora do filme) é absolutamente genial. O filme já é "um trem andando" e cabe a nós embarcar ou não - o que certamente vai influenciar o quanto vamos apreciar (ou não) a história dos três irmãos na jornada existencialista pelo coração da Índia. A comovente cena com Adrien Brody chorando escondido no banheiro, após ler o conto do seu irmão, é encantadora. Uma outra questão crucial é a trilha sonora, muito fraca. Num filme como esses, a trilha exerce um papel fundamental, como quase coadjuvante, tocando as cenas, organizando as nossas emoções, marcando o compasso das seqüências. E nesse aspecto, o filme é extremamente falho, quase oco, o que faz com que muitas emoções se percam desnecessariamente (a seqüência dos funerais, por exemplo, com uma boa trilha teria sido inesquecível). No fim das contas, "Viagem à Darjeeling" é um filme de muitas coisas boas costuradas juntas, mas com falhas e buracos espalhados e perceptíveis, como uma colcha de retalhos costurada a 3 mãos (o que reflete o grande problema do filme: ter sido escrito por três pessoas). Por causa da multiplicidade de idéias, o filme perde um pouco a "essência do Wes Anderson", sempre "lost" e melancólico, com pitadas de humor e sátira. Existem idéias estrangeiras ali, que parecem comprometer a força do filme, sua identidade. Mas não é um trabalho perdido, longe disso. É uma jornada que merece ser tomada, seguida e aprecidada, que, como qualquer viagem, tem episódios que desejamos esquecer e lembranças que guardaremos para o resto da vida.

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