sexta-feira, 9 de novembro de 2007

"O ESTADO JARDIM"


Ainda estou tentando entender ONDE o filme "Garden State" (Hora de Voltar/2004) me pegou. Eu sei que me pegou, isso é certo; só estou tentando descobrir exatamente onde. É uma daquelas situações em que somos tocados por algo (ou empurrados, se for o caso; atropelados até) e demoramos em compreender o quê nos causou essa impressão. O filme é o trabalho de estréia de Zach Braff ("Scrubs") que, com muita sensibilidade (beirando brilhantismo), atua, escreve e dirige o filme (além de compilar a excelente trilha sonora). "Garden State" é como os americanos chamam o estado de Nova Jérsey, um lugar de retorno para o personagem principal, entrar em sintonia com seu passado, sua origem, seu pai, amigos. Uma pausa em sua vida sem sentido para ele compreender que viver plenamente é uma possibilidade (onde entra Natalie Portman, como a apaixonante Sam). É um filme delicado, flertando educadamente com a possibilidade de ser meio cult, meio indie, mas sem sonhar ser pretensioso, com cenas e momentos inusitados e tocantes. Uma "comédia dramática", como definem esse gênero tão especial de filmes. A vida, afinal, é absolutamente drama e comédia. A cena da piscina, em especial, é comovente. A reflexão inevitável sobre "onde está o nosso lar". Um filme que lembra infância, inocência, beijos roubados, aventuras anônimas, tardes com chuva. Uma história sobre tantas coisas que compõem a nossa vida, misturando descoberta, perdão, aprendizado e saudade numa tela colorida que ficamos por horas observando, sem saber se desejamos sorrir ou chorar. No fim das contas, uma pequenina história de amor, como uma fotografia querida, que guardamos para sempre dentro de um livro especial, para que ela nunca se perca e possamos encontrá-la um dia, acidentalmente, como a um tesouro. "Hora de Voltar" não é o filme mais genial de todos os tempos e, honestamente, tampouco quer sê-lo. Pode ficar na mesma prateleira de outros filmes emblemáticos, como "Sideways", "Brilho eterno de uma mente sem lembranças", "Encontros e Desencontros" e, principalmente, "Elizabethtown". Com este último, o filme possui uma silenciosa cumplicidade. Ao final tive múltiplas sensações. Além da vontade de conversar um pouco com o próprio Zach Braff, quase consegui enxergar Andrew, Drew, Samantha e Claire, conversando por horas, em algum parque, pouco antes de o sol nascer, refletindo sobre que rumos a vida toma, por mais estranhos que possam parecer. Por fim, acho que compreendo onde o filme "Garden State" me atingiu em cheio: na percepção de que não devo tanto refletir sobre a vida. Apenas vivê-la.

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